abril 19, 2015

O Falador - Mario Vargas Llosa


Título original: El Hablador
Ano da edição original: 1987
Autor: Mario Vargas Llosa
Tradução: António José Massano
Editora: "Colecção BIIS" da Leya

"Romance de dois mundos e duas linguagens, O Falador, de Mario Vargas Llosa, é uma obra que de novo arrasta os leitores para o interior do universo de magia e exotismo próprio do grande escritor peruano. Trata-se de uma ficção que sistematicamente contrapõe os ambientes da selva e da cidade, espelhando desse modo duas atitudes opostas face à vida e aos seus valores. Um narrador moderno e racional e o contador de histórias de uma tribo amazónica asseguram e estruturam em alternância o desenvolvimento do relato."

Quando iniciei este livro, por causa da linguagem, senti que tinha regressado a casa. Aquela sensação que temos quando nos deparamos com algo que nos é familiar e querido. É o que acontece quando leio escritores portugueses, luso-africanos e também com os sul-americanos. Preparei-me para uma leitura compulsiva e para acabar o livro em dois tempos. Infelizmente, ao fim de umas páginas, estava a lutar com a história, ou melhor, com a forma como é contada a história de Mascarita e a sua obsessão por uma tribo amazónica, os Machiguengas. Mario Vargas Llosa é um daqueles escritores que tanto posso adorar como detestar. Não detestei este livro, mas dou por mim a pensar que raios está o homem para aqui a escrever... Nada faz muito sentido e confesso-me irritada com o autor.
A forma como ele complica o relato da vida de gente, aparentemente tão simples, tão próximos da natureza e afins, transcende-me.

O Falador é um livro que se centra essencialmente na tribo peruana, os Machiguengas, e na sua forma de ver o mundo, cheia de superstições, de realismo mágico e da ligação estreita que têm com a natureza e com os locais que escolhem para viver.
Questiona a presença e o trabalho das diversas instituições e organizações que, mesmo que com boas intenções, se mudam de armas e bagagens para junto destas tribos, para as ajudar. Dão-lhes ferramentas para fazer as coisas de maneira diferente, apresentam-lhes o conceito do trabalho remunerado e as vantagens de fixar as comunidades, deixando ser ser nómadas. Algumas destas organizações aproveitam para espalhar a palavra de Deus entre estas tribos, para que, pouco a pouco, se vão afastando das suas próprias crenças e encontrem o caminho certo, da salvação.
O que é que, como sociedade dita civilizada, lhes podemos ensinar? Queremos que estas tribos, estas comunidades, se tornem iguais a nós? Será que, na nossa boa vontade, não estamos a fazer com que percam a sua identidade e caminhem para a extinção? É possível que continuem fiéis a si próprias, que continuem a andar para impedir que o Sol caía e o mundo fique para sempre na escuridão? No fundo, a grande questão é, para que é que estas pessoas precisam de nós?

Enfim, no geral a mensagem é interessante, mas não posso dizer que tenha gostado do livro. Não me identifiquei com a forma como ele conta a história. Achei o livro confuso e pouco estruturado. Se este tivesse sido o primeiro livro que li do Mario Vargas Llosa, provavelmente não iria ler mais nada dele.

Boas leituras!

Excerto (pág. 35):
"Contou que, poucos dias antes, tinha havido uma discussão no Departamento de Etnologia. Saul Zuratas desconcertou-os a todos proclamando que as consequências do trabalho dos etnólogos eram semelhantes à acção dos seringueiros, madeireiros, recrutadores do Exército e demais mestiços e brancos que estavam a dizimar as tribos.
 - Disse que retomámos o trabalho onde o deixaram os missionários na época da colonização - acrescentou. - Que nós, com o paleio da ciência, como eles com o da evangelização, somos a ponta da lança dos exterminadores de índios."