tag:blogger.com,1999:blog-83237655939432741742024-03-14T06:19:16.433+00:00Quero Um Livro"Quero Um Livro" é resposta invariável à pergunta "O que queres para o Natal?", da minha família.:)
É também um blogue onde ponho em ordem as ideias sobre os livros que leio.N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.comBlogger370125tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-87390646967803255322024-03-10T00:28:00.002+00:002024-03-10T00:49:43.472+00:00O Acontecimento - Annie Ernaux <div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi65xFTyfy5Wn7vqX5PqfoJ4BrnaO3dITl9hP4iTfgFBmwiEeo1ho73Oqh5dXYsFU7B2BQMUq2Zcvcy_7rMB_TsvClSwqyOEESXwETAjzKBXnGj6MKIUo1fXIznYmzg58Y61JiMZUSbN1VKqCZSWm1kSAFKOlN1fZaE03NexOOiMKLCbEv5bHEsk8NKc6Gg/s772/O%20Acontecimento.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="772" data-original-width="500" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi65xFTyfy5Wn7vqX5PqfoJ4BrnaO3dITl9hP4iTfgFBmwiEeo1ho73Oqh5dXYsFU7B2BQMUq2Zcvcy_7rMB_TsvClSwqyOEESXwETAjzKBXnGj6MKIUo1fXIznYmzg58Y61JiMZUSbN1VKqCZSWm1kSAFKOlN1fZaE03NexOOiMKLCbEv5bHEsk8NKc6Gg/w129-h200/O%20Acontecimento.jpg" width="129" /></a></div>Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">L'événement</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2000</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Annie Ernaux</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Tradução:<span style="color: black; font-style: normal;"> Maria Etelvina Santos</span><br /></span></span><div style="text-align: left;"><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Livros do Brasil</span></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"Uma jovem de 23 anos, estudante universitária brilhante, descobre que está grávida. Tomada pela vergonha, consciente de que aquela gravidez representará um falhanço social para si e para a sua família, sabe que não poderá ter aquela criança. Mas, na França de 1963, o aborto é ilegal e não existe ninguém a quem possa acorrer. Quarenta anos mais tarde, as memórias daquele acontecimento continuam presentes, num trauma impossível de ultrapassar e cujas sombras se estendem para além da história individual. Escrito com uma clareza acutilante, sem artifícios, este é um romance poderoso sobre sofrimento, justiça e a condição feminina. Escrito por Annie Ernaux em 1999, foi adaptado ao cinema em 2021 por Audrey Diwan, num filme vencedor do Leão de Ouro em Veneza. "</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Primeira incursão pela, recentemente, Nobelizada <a href="https://www.annie-ernaux.org/" target="_blank"><i>Annie Ernaux</i></a> e, sem grandes expectativas, confesso.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-acontecimento-annie-ernaux/27119604?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Acontecimento</a></i> é um livro duro, onde é relatada a saga dantesca, levada a cabo por uma jovem de 23 anos que, perante a confirmação de uma gravidez não planeada e não desejada, encontra todo o tipo de obstáculos que a impedem de fazer um aborto seguro.</div><div style="text-align: justify;">Estamos em 1963, em França e, todos à sua volta encolhem os ombros, os médicos, todos homens, não a ajudam, talvez por medo de represálias, mas também porque acham que é dever das mulheres arcarem com essa responsabilidade. Os colegas e amigos também não lhe estendem a mão e não a acompanham nesta jornada.</div><div style="text-align: justify;">Ela, envergonhada pelo que lhe aconteceu, não conta aos pais que está grávida e desespera por tirar de dentro dela algo que não deseja, que vê como sendo um acontecimento que será um retrocesso na sua vida.</div><div style="text-align: justify;">Sozinha, em busca de uma solução, bate a todas a portas de que se lembra e, naturalmente, acaba por encontrar uma saída, igual à de tantas outras mulheres que se viram, e vêm, obrigadas a fazê-lo de forma clandestina e pouco segura.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tinha de ser assim? Hoje, mas também em 1963, sabemos que não, não tinha de ser assim. Hoje em alguns sítios do mundo já não tem de ser assim mas, na maioria do países, a mulher tem de carregar sozinha as consequências da decisão de querer fazer um aborto, seja porque motivo for, correndo todo o tipo de riscos, de saúde e legais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As liberdades e direitos de todos nós nunca estão garantidos, acho que nos vamos apercebendo cada vez mais disso e, num mundo que parece estar cada vez mais saudosista de tempos cinzentos e bolorentos, os direitos das mulheres serão os primeiros a ser revisitados. Não tenho qualquer dúvida disso. Por isso, no que estiver ao nosso alcance, vamos todos contribuir para uma sociedade mais empática e justa. Pode ser? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sobre o livro, :) não tenho a certeza se gostei da escrita ou da forma como relata os acontecimentos. É muito direta e muito assertiva e como o tema é difícil, parece que lhe falta sensibilidade. Mas, por outro lado pode ser que a ideia seja mesmo essa. Há, ainda, uma repulsa natural pelo que é relatado e que me deixou de certa forma desconfortável.</div><div style="text-align: justify;">Posto isto, acho que gostei mas ao mesmo tempo não gostei. Vou ter de ler mais livros dela. Tenho a sensação de que é uma daquelas que primeiro se estranha e depois se entranha. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág. 33)</span></b></div><div style="text-align: justify;"><i>"As raparigas como eu estragavam os dias aos médicos. Sem dinheiro e sem contactos - de outro modo não iriam, às cegas, desembocar neles -, elas traziam-lhes à memória a lei que os poderia mandar para a prisão e proibi-los de exercer para o resto da vida. Não ousavam dizer a verdade, essa de que não iriam arriscar perder tudo em nome dos belos olhos de uma rapariguinha estúpida ao ponto de ser deixar engravidar. A não ser que, sinceramente, preferissem morrer a infringir uma lei que deixava morrer as mulheres. Mas todos deveriam pensar que, ainda que as impedissem de abortar, elas acabariam por arranjar maneira de o fazer. Em face de uma carreira destruída, uma agulha de tricô na vagina não significava grande coisa. "</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-11443969114714822612023-12-10T16:14:00.001+00:002023-12-10T16:14:03.745+00:00[Ebook] A Coisa à Volta do teu Pescoço - Chimamanda Ngozi Adichie<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJSGz7zYV2OE3jUwIWKadHG-yr8LkLWOqTYTkGMGDeYw7x3gyNyh2X3r5bJzPsRMGTzkQA14y1Cgt-GocVEgdXjiTdWzs1XECSzx4jqnlYm0DMNH5PLGrUk6vpAVifZLfkqHSjbE51CV3JqITWxUyF7Y5SCQUnyvK3LRr2eIZ7UyY5lazuIo-xWbA0MU8V/s4624/a%20coisa%20%C3%A0%20volta%20do%20teu%20pesco%C3%A7o.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJSGz7zYV2OE3jUwIWKadHG-yr8LkLWOqTYTkGMGDeYw7x3gyNyh2X3r5bJzPsRMGTzkQA14y1Cgt-GocVEgdXjiTdWzs1XECSzx4jqnlYm0DMNH5PLGrUk6vpAVifZLfkqHSjbE51CV3JqITWxUyF7Y5SCQUnyvK3LRr2eIZ7UyY5lazuIo-xWbA0MU8V/w150-h200/a%20coisa%20%C3%A0%20volta%20do%20teu%20pesco%C3%A7o.jpg" width="150" /></a></div><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título: </span></span><span style="font-size: 14px;">The Thing Around Your Neck </span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2009</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Chimamanda Ngozi Adichie</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Tradução do Ingês:<span style="color: black; font-style: normal;"> Ana Saldanha</span><br /></span></span><div><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Publicações Dom Quixote (ISBN: 9789722054546)</span></div><p style="text-align: justify;"><b>"Depois de <i>Meio Sol Amarelo</i> (Orange Prize 2007) e <i>A Cor do Hibisco</i> (Commonwealth Writers’ Prize 2005), Chimamanda Ngozi Adichie regressa com doze histórias protagonizadas por heroínas memoráveis. Divididas entre dois continentes - África e América -, estas mulheres lutam por um lugar e uma identidade no mundo moderno mas também pela preservação dos valores da sua cultura de origem. Quer vivam no inferno de um país como a Nigéria ou num subúrbio aparentemente calmo dos Estados Unidos, elas não têm uma vida fácil. As ameaças que enfrentam podem ter origem na guerrilha ou no funcionamento de um forno microondas mas os seus dilemas contêm toda a história de um continente."</b></p><div style="text-align: justify;">Primeiro contacto com <a href="https://www.chimamanda.com/" target="_blank">Chimamanda Ngozi Adichie</a>, escritora nigeriana muito premiada e que tem andado no meu radar por causa de <i><a href="https://www.wook.pt/livro/meio-sol-amarelo-chimamanda-ngozi-adichie/19319202?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Meio Sol Amarelo</a></i>, que volta não volta aparece na minha vida e sempre com críticas muito boas. Decidi começar com um livro mais pequeno, para ter uma ideia da escrita e o tipo de histórias e, gostei muito. Gostei muito da escrita e das histórias.</div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-coisa-a-volta-do-teu-pescoco-chimamanda-ngozi-adichie/12940494?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Coisa à Volta do teu Pescoço</a></i>, traz-nos doze histórias protagonizadas por mulheres nigerianas. Algumas passam-se nos EUA outras na Nigéria, sendo que a Nigéria está omnipresente em todas histórias e, acima de tudo na vida destas mulheres. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">As mulheres destas histórias representam, de certa forma, todas as mulheres do mundo mas, acima de tudo, são um retrato da mulher africana, tendo de viver em sociedades patriarcais, muito religiosas e pouco tolerantes à ideia de a mulher ter outras ambições que não sejam as de ser esposa, mãe e cuidadora.</div><div style="text-align: justify;">Temos mulheres instruídas e inteligentes e temos mulheres menos instruídas e inteligentes. Temos em todas elas uma vontade de fazer diferente e de quebrar o ciclo de descriminação. Todas elas querem ser donas das suas vidas, quer seja a cuidar da família ou a construir uma carreira. </div><div style="text-align: justify;">Nestas histórias, existem vários tipos de homens, os orgulhosos da sua superioridade, de mente fechada, presos à tradições que apenas os favorecem a eles e, existem os homens que são verdadeiros parceiros e que não vêm na mulher uma ameaça e procuram ir equilibrando a balança. Mais dos primeiros e menos dos segundos mas, o importante é não desistir e, um dia todas, em todo o lado, seremos tratadas com igualdade e teremos as mesmas oportunidades.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei bastante, tanto que já comprei o <i><a href="https://www.wook.pt/livro/meio-sol-amarelo-chimamanda-ngozi-adichie/19319202?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Meio Sol Amarelo</a></i>. A escrita é bem-humorada, mesmo quando relata situações que de engraçado não têm nada. O tema é pertinente, hoje e sempre e por isso não hesito em recomendar!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"O teu tio na América, que tinha inscrito o nome de todos os membros da tua família na lotaria dos vistos americanos, disse que podias viver com ele até te orientares. (...) </i></div><div style="text-align: justify;"><i>Ris-te com o teu tio e sentiste-te à vontade na casa dele; a mulher dele chamava-te nwanne, irmã, e os seus dois filhos, em idade escolar, chamavam-te Titi. Falavam igbo e comiam garri ao almoço e era como em casa. Até o teu tio vir à cave atravancada onde dormias com caixotes velhos e embalagens e te apertar à força contra si, apertando-te as nádegas e gemendo. Ele não era verdadeiramente teu tio; na realidade, era irmão do marido da irmã do teu pai; não há laços de sangue. Depois de o empurrares, ele sentou-se na tua cama - ao fim e ao cabo, a casa era dele - e sorriu e disse que aos vinte e dois anos já não eras propriamente uma criança. Se tu deixasses, ele faria muitas coisas por ti. As mulheres espertas era o que faziam. Como é que julgavas que aquelas mulheres em Lagos com empregos bem pagos chegavam lá? Até mesmo as mulheres na cidade de Nova Iorque?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Fechaste-te às chave no quarto de banho até ele voltar lá para cima e na manhã seguinte foste embora, a pé pela longa estrada sinuosa, sentindo o cheiro a peixe que vinha do lago."</i></div></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-80186098050335871162023-11-05T23:49:00.001+00:002023-11-05T23:49:22.133+00:00[Ebook] Bichos - Miguel Torga <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8mPO8d1rSm78m7U5AaHhdipE4bQaMQv3J11NLPu_e-yGxf0slpErOoMA1Ht2iTggUK9_7ZmdeXn8tFyHhrclMCa9RTksKHB9Uf17V4zzoHGOv7ZQXxUM_KMduKhIPpQy16pZfzDAXyGSCZmQ3Iv53sbL0_iQKtGMoqC6_cOWn66du_m3v4rlgr4axEBWA/s4624/Bichos.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8mPO8d1rSm78m7U5AaHhdipE4bQaMQv3J11NLPu_e-yGxf0slpErOoMA1Ht2iTggUK9_7ZmdeXn8tFyHhrclMCa9RTksKHB9Uf17V4zzoHGOv7ZQXxUM_KMduKhIPpQy16pZfzDAXyGSCZmQ3Iv53sbL0_iQKtGMoqC6_cOWn66du_m3v4rlgr4axEBWA/w150-h200/Bichos.jpg" width="150" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Bichos</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 1940</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Miguel Torga</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Publicações Dom Quixote (Ebook ISBN: 9789722057004)</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"Uma nova edição pelos 75 anos de uma obra que tem acompanhado muitas gerações de leitores. Incluído no Plano Nacional de Leitura, <i>Bichos</i> é um dos mais lidos e famosos livros de Miguel Torga. A respeito desta obra dirigia-se ao leitor com as seguintes palavras: «São horas de te receber no portaló da minha pequena Arca de Noé. Tens sido de uma constância tão espontânea e tão pura a visitá-la, que é preciso que me liberte do medo de parecer ufano da obra, e venha delicadamente cumprimentar-te uma vez ao menos. Não se pagam gentilezas com descortesias, e eu sou instintivamente grato e correcto. Este livro teve a boa fortuna de te agradar, e isso encheu-me sempre de júbilo. [...] És, pois, dono como eu deste livro, e, ao cumprimentar-te à entrada dele, nem pretendo sugerir-te que o leias com a luz da imaginação acesa, nem atrair o teu olhar para a penumbra da sua simbologia. Isso não é comigo, porque nenhuma árvore explica os seus frutos, embora goste que lhos comam. Saúdo-te apenas nesta alegria natural, contente por ter construído uma barcaça onde a nossa condição se encontrou, e onde poderemos um dia, se quiseres, atravessar juntos o Letes [...].» "</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nunca tinha lido <a href="https://www.espacomigueltorga.pt/p70-miguel-torga-vida-e-obra-pt" target="_blank">Miguel Torga</a>. Admito que tenho um desconhecimento enorme sobre escritores portugueses do século XX, principalmente até aos anos 70, 80. E tenho, confesso, uma ideia errada da escrita, dos temas e do tipo de escritores que são. Na minha cabeça são chatos, complicados, cheios de palavras desnecessárias e pesados... Não sei quando e como é que este preconceito se instalou em mim mas acho que o estou a quebrar porque, na verdade, tenho tido grandes, e boas, surpresas quando os leio. </div><div style="text-align: justify;">Desconheço a maioria dos escritores da época e a verdade é que nos muitos anos de escola estes pouco ou nada são mencionados... Como é que só recentemente ouvi falar de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Judite_de_Carvalho" target="_blank">Maria Judite de Carvalho</a>?! Acho, sinceramente, que saímos todos a perder. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Decidi ler <i><a href="https://www.kobo.com/pt/pt/ebook/bichos-2" target="_blank">Bichos</a></i> depois de ter visto na RTP1, o episódio do <i>O Leproso</i>, que faz parte da mini série <i><a href="https://www.rtp.pt/programa/tv/p44465" target="_blank">Histórias da Montanha</a></i>, onde cada episódio é baseado num conto de <a href="https://www.espacomigueltorga.pt/p70-miguel-torga-vida-e-obra-pt" target="_blank">Miguel Torga</a>. Gostei imenso do que vi e intuí que muito do que tinha gostado era fruto da qualidade de <a href="https://www.espacomigueltorga.pt/p70-miguel-torga-vida-e-obra-pt" target="_blank">Miguel Torga</a> e não apenas da qualidade da produção. E não me enganei. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em <i><a href="https://www.kobo.com/pt/pt/ebook/bichos-2" target="_blank">Bichos</a></i>, <a href="https://www.espacomigueltorga.pt/p70-miguel-torga-vida-e-obra-pt" target="_blank">Miguel Torga</a>, presenteia-nos com contos sobre animais, sobre animais de duas patas mas principalmente sobre os outros animais. A maioria dos contos são contados na perspetiva dos próprios animais o que torna tudo mais interessante, curioso e muito divertido. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei muito da escrita, rica e cheia de vida, muito visual, sem ser excessivamente descritiva e adorei as histórias, muito bem estruturadas e criativas. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem reservas e, faço questão de ter uma cópia física deste <i><a href="https://www.kobo.com/pt/pt/ebook/bichos-2" target="_blank">Bichos</a></i>, e também dos <i>Contos da Montanha</i>. Acho que <a href="https://www.espacomigueltorga.pt/p70-miguel-torga-vida-e-obra-pt" target="_blank">Miguel Torga</a> merece um espacinho nas minhas estantes. :) </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Vejam a mini série na RTP. São cinco episódios e está disponível na plataforma RTP Play. Vale muito a pena. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"É difícil. Isto de começar num monturo, e só parar na crista dum castanheiro, tem que se lhe diga. É preciso percorrer um longo caminho. Embrião, larva, crisálida... Todas as estações do íngreme calvário da organização. Animada pelo sopro da vida, a matéria necessita do calor dum ventre. Antes dessa íntima comunhão, desse limbo purificador, não poderá ter forma definitiva. Custa. Mas a lei natural é inexorável. Exige consciência de cosmos antes da consciência de ser. O calor dá no ovo. Aquece-o e amadurece-o. A casca quebra. Depois... Ah, depois é essa descida ao húmus, essa existência amorfa, nem germe, nem bicho, nem coisa configurada. Largos dias assim. Até que finalmente em cada esperança de perna nasce uma perna, e cada ânsia de claridade é premiada com dois olhos iluminados. Cresce também uma boca onde a fome a reclama, e surgem as asas que o sonho deseja...</i></div><div style="text-align: justify;"><i>É difícil, mas vai. Desde que haja coragem dentro de nós, tudo se consegue. Até fazer parte do coro universal.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>- Já hoje ouvi a cigarra...</i></div><div style="text-align: justify;"><i>- É tempo dela.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Nenhuma palavra de apreço pela dureza do caminho andado. Paciência. O teatro do mundo tem palco e bastidores. As palmas da plateia festejam somente os dramas encenados. Que remédio, pois, senão a gente resignar-se e aceitar as sínteses leviana. Nascia do tempo. Muito bem. Ninguém mais ficaria a conhecer a fundura dos abismos em que se debatera. Protoplasma, lagarta, ninfa..."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-77451521406882890082023-11-05T01:08:00.001+00:002023-11-05T01:08:24.135+00:00[Ebook] Afirma Pereira - Antonio Tabucchi<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQvVFes_W1FXGzjsC47Zt4138dTktXEGFCyAS07zStL64-4H04gmdPeaJ8vGDXVYWOSpje0mL81xRpA5BNNU388nK8WS0DpN0_J1iuUFgGLvuUozPq17q6esqnW2cTzcALCHRmGLNlQLRJQGqOfScmjg-RwBwY-maeRXw19rRfXu_NwMqwg8d2NpJkEg/s4587/Afirma%20Pereira.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4587" data-original-width="3174" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQvVFes_W1FXGzjsC47Zt4138dTktXEGFCyAS07zStL64-4H04gmdPeaJ8vGDXVYWOSpje0mL81xRpA5BNNU388nK8WS0DpN0_J1iuUFgGLvuUozPq17q6esqnW2cTzcALCHRmGLNlQLRJQGqOfScmjg-RwBwY-maeRXw19rRfXu_NwMqwg8d2NpJkEg/w138-h200/Afirma%20Pereira.jpg" width="138" /></a></div>Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Sostiene Pereira</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2013</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Antonio Tabucchi</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Tradução:</span></span><span style="font-size: 14px;"> José Lima</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Leya (Ebook ISBN: 9789896603243)</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"Tendo por pano de fundo o salazarismo português, o fascismo italiano e a guerra civil espanhola, <i>Afirma Pereira</i> é a história atormentada da tomada de consciência de um velho jornalista solitário e infeliz. Antonio Tabucchi nasceu em Pisa (1943-2012), onde fez os seus estudos, primeiro na Faculdade de Letras e depois na Scuola Normale Superiore. Ensinou nas Universidades de Bolonha, Roma, Génova e Siena. Foi Visiting Professor no Bard College de Nova Iorque, na École de Hautes Études de Paris e no Collège de France. Publicou 27 livros, entre romances, contos, ensaios e textos teatrais. As suas obras estão traduzidas em mais de 40 países. Recebeu numerosos prémios nacionais e internacionais. Sozinho, ou com Maria José de Lancastre, traduziu para italiano a obra de Fernando Pessoa. Considerando que a sua pátria é também a língua portuguesa, escreveu um romance em português, <i>Requiem</i>, 1991. O seu teatro foi levado ao palco, entre outros, por Giorgio Strehler e Didier Bezace. <i>O Fio do Horizonte</i>, <i>Nocturno Indiano</i>, <i>Afirma Pereira</i> e <i>Requiem</i> foram adaptados ao cinema respectivamente por Fernando Lopes, Alain Corneau, Roberto Faenza e Alain Tanner."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pereira é um jornalista que, na verdade, já pouco faz de jornalismo.</div><div style="text-align: justify;">É responsável pela nova página Cultural do Lisboa, um jornal "<i>apolítico e independente</i>" o que, na verdade, significa que está completamente alinhado com a propaganda do Governo.</div><div style="text-align: justify;">Trabalha sozinho, num escritório só para si e o seu único contacto regular é com o Diretor do jornal, que parece estar sempre na termas em Cascais, e com a porteira do prédio onde tem o escritório, com quem Pereira não simpatiza e que acha que é uma informante da PIDE.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pereira é um homem solitário, com excesso de peso e que perdeu a mulher há uns anos. Nunca perdeu muito tempo a pensar sobre o mundo que o rodeia, não se interessa por política e os seus dias são passados entre idas ao escritório e os almoços no Café Orquídea, onde tenta resistir às omeletes, por indicação médica, e passa os dias a beber limonadas com açúcar, porque acha que assim vai perder peso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ultimamente pensa muito na morte e, é por isso que o artigo de um jovem filósofo, Monteiro Rossi, sobre o tema, lhe desperta a atenção. Num impulso que não consegue explicar, procura o nome dele na lista telefónica, liga-lhe e oferece-lhe trabalho. Pede-lhe que escreva o obituário de alguém conhecido, culturalmente relevante, e que ainda não tenha morrido, para que esteja pronto a publicar na nova página cultural quando a pessoa morrer.</div><div style="text-align: justify;">Para sua surpresa Rossi aceita de imediato, embora não seja escritor e a morte não o interesse por aí além. Está a passar por dificuldades e precisa de dinheiro.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Pereira é confrontado, pela primeira vez, em anos, com alguém que o obriga a estar atento ao mundo que o rodeia. Monteiro Rossi entrega-lhe um obituário que nada tem a ver com o que Pereira lhe pediu. Rossi recusa-se a escrever sobre figuras simpatizantes do regime e debate-se contra a neutralidade no conteúdo que Pereira lhe pede. E é nestas trocas que Pereira se vê, de repente, confrontado com alguém que se movimenta num meio que até então lhe era completamente desconhecido e, sem que perceba muito bem porquê, não consegue afastar-se. Sente, pelo contrário, uma atração pela agitação que Rossi e a namorada trazem à sua pacata vida. </div><div style="text-align: justify;">E é assim que Pereira se torna numa pessoa que, no verão quente de 1938, entra no radar da polícia política portuguesa. :) </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Embora não tenha sido propositado, li <i><a href="https://www.wook.pt/livro/afirma-pereira-antonio-tabucchi/12940508?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Afirma Pereira</a></i>, em Abril do ano passado, durante as comemorações do 25 de Abril. <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Tabucchi" target="_blank">Antonio Tabucchi</a>, um estrangeiro, com uma forte ligação a Portugal, que não viveu na ditadura, cujas referências são necessariamente diferentes, parece ter acertado na descrição da época e dos portugueses. <br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei muito da escrita bem humorada, do ritmo, da história e das personagens, que me pareceram muito credíveis, ao mesmo tempo que provocam uma certa estranheza.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/afirma-pereira-antonio-tabucchi/12940508?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Afirma Pereira</a></i> é um livro pequeno que se lê muito bem. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem qualquer hesitação e <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Tabucchi" target="_blank">Antonio Tabucchi</a> é, de certeza, um autor a repetir.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"Pereira afirma que naquela noite a cidade parecia nas mãos da polícia. Estavam em todo o lado. Tomou um táxi até ao Terreiro do Paço e debaixo das arcadas viam-se camionetas e guardas com espingardas. Talvez temessem manifestações ou concentrações na rua, e por isso controlavam os pontos estratégicos da cidade. (...) Aqui desceu, afirma, e encontrou mais polícia. Desta vez teve de passar diante do pelotão, o que lhe provocou um ligeiro mal-estar. Ao passar ouviu um oficial dizer aos soldados: E lembrem-se rapazes que os subversivos estão sempre emboscadas, é melhor estar de olhos abertos. Pereira olhou à sua volta, como se aquele conselho lhe fosse dirigido, e não lhe pareceu que fosse preciso estar de olhos abertos. A Avenida da Liberdade estava tranquila, o quiosque dos gelados estava aberto e havia pessoas nas mesas a tomar o fresco. Seguiu num passo tranquilo pelo passeio do meio e nessa altura, afirma, começou a ouvir música. Era uma música suave e melancólica, de guitarras de Coimbra, e achou estranha aquela combinação de música e polícia. Pensou que vinha da Praça da Alegria e realmente assim era, pois à medida que se aproximava a música aumentava de intensidade. </i></div><div style="text-align: justify;"><i>Não parecia nada uma praça de uma cidade em estado de sítio, afirma Pereira, pois não se viam polícias, ou antes, viu apenas um guarda-nocturno que lhe pareceu ébrio e que dormitava num banco. A praça estava enfeitada com grinaldas de papel, com lâmpadas coloridas amarelas e verdes que pendiam de fios estendidos de uma janelas para outras. Havia umas quantas mesas ao ar livre e alguns pares dançavam. Reparou então numa larga tira de pano esticada entre duas árvores da praça com uma enorme inscrição: Viva Francisco Franco. E por baixo, em letras mais pequenas: Vivam os militares portugueses em Espanha. </i></div><div style="text-align: justify;"><i>Afirma Pereira que só nesse momento compreendeu que se tratava de uma festa salazarista, e por isso não precisava de ser vigiada pela polícia. Mas só então reparou que muitas pessoas vestiam a camisa verde e traziam um lenço ao pescoço. Deteve-se apavorado, e num segundo pensou em várias coisas diferentes. Pensou que talvez Monteiro Rossi fosse um deles, pensou no carroceiro alentejano que tinha manchado de sangue os seus melões, pensou no que diria o Padre António se o visse naquele sítio. Pensou em tudo isto e sentou-se no banco onde o guarda-nocturno dormitava, e deixou-se embalar pelos seus pensamentos."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-49176603536638202612023-06-18T01:24:00.001+01:002023-06-18T01:24:52.676+01:00O Peso do Coração - Rosa Montero<div style="text-align: justify;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQwLUZeFn8xVB3Epf4-AheUF6QkPb25E2Emv4CHROpTrr2g6raLVq2eMQq2raWh6-BEl5VczZcx0aFSSECdkkRkJYcZ5eH0aaLt71A8zHqLW68jSQExkQB3qU9HlQ4MuIOYEtcnjkCu8UFuNPOXcnlMOa3KrtcZh4Pq2TjfccZBP7hBZ_45cqkIUEJGQ/s463/o%20peso%20do%20cora%C3%A7%C3%A3o1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="463" data-original-width="300" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQwLUZeFn8xVB3Epf4-AheUF6QkPb25E2Emv4CHROpTrr2g6raLVq2eMQq2raWh6-BEl5VczZcx0aFSSECdkkRkJYcZ5eH0aaLt71A8zHqLW68jSQExkQB3qU9HlQ4MuIOYEtcnjkCu8UFuNPOXcnlMOa3KrtcZh4Pq2TjfccZBP7hBZ_45cqkIUEJGQ/w129-h200/o%20peso%20do%20cora%C3%A7%C3%A3o1.jpg" width="129" /></a></div></b><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">El Peso del Corazón</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2015</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Rosa Montero</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Tradução:<span style="color: black; font-style: normal;"> Helena Pitta</span><br /></span></span><div style="text-align: left;"><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Porto Editora</span></div><b><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div>"Três anos, dez meses e vinte e um dias.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>É o tempo que resta a Bruna Husky. A detetive replicante, que é uma sobrevivente capaz de tudo, continua a debater-se com a independência total e a necessidade desesperada de carinho, como uma fera aprisionada na jaula de uma existência a prazo.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Contratada para resolver um caso aparentemente simples e lucrativo, Bruna vê-se envolvida numa trama de corrupção internacional de tal forma sinistra e ameaçadora que pode comprometer a existência da própria Terra. Num futuro no qual os direitos, outrora considerados essenciais, se tornaram reféns do dinheiro, a replicante revela-se uma guerreira empenhada na luta contra esquemas de organização social baseados em preconceitos, regras rígidas e fanatismo, que põem em causa a existência de todos os seres.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b><i>O Peso do Coração</i> é um romance distópico que, a partir do debate claro e atual das consequências das opções do presente, reflete de forma madura sobre as condições de vida e da morte, e sobre aquilo que é, na essência, a própria definição de humanidade, constituindo um regresso extraordinário ao mundo fascinante de <i>Lágrimas na Chuva</i>."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tenho a estranha sensação de que cada vez mais as distopias me parecem mais realistas, menos improváveis e, por isso, mais perturbadoras. É o caso deste <i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-peso-do-coracao-rosa-montero/17342464?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Peso do Coração</a></i> de <a href="https://www.rosamontero.es/" target="_blank">Rosa Montero</a>, que se passa num futuro não tão longínquo, onde o Homem quase destruiu a Terra, conquistou o espaço, inventou Tecno-Humanos, batizou-os de Replicantes e, estes conquistaram direitos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">A Terra ainda existe, mas é um lugar diferente do que conhecemos e está em pleno processo de renascimento. A sociedade parece continuar assente numa lógica de dinheiro: quem o tem pode pagar qualidade de vida, quem não o tem, é como se não existisse. Pensando bem, afinal a Terra não é assim um lugar tão diferente. Talvez a diferença esteja no descaramento com que tudo é feito, sem dilemas morais porque, as coisas são como são. Uma questão de sobrevivência, a normalização da lei do mais forte, talvez.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os replicantes são uma espécie de androides muito evoluídos que coabitam com os humanos, convivem com os humanos e relacionam-se com os humanos. Parecem humanos, agem como humanos, parecem sentir como os humanos mas não são humanos. Tem um tempo predeterminado de vida e "morrem" de uma forma feia e humana. Quando se aproxima a data em que são desativados, as suas partes orgânicas começam a degradar-se, até que deixam de funcionar por completo na data que estava programada desde a sua criação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Bruna Husky é um replicante e, restam-lhe três anos, dez meses e vinte e um dias de vida e ela não consegue deixar de pensar nisso. Sente a toda a hora a sua finitude e o aproximar do seu fim. Bruna é um Replicante de combate e, desde que foi dispensada do serviço militar, é detetive.</div><div style="text-align: justify;">Bruna sempre foi diferente dos outros porque quem a criou, colocou em Bruna algumas das suas memórias pessoais, o que a tornou, se assim se pode dizer, mais humana, porque as memórias, para todos os efeitos, são reais. Não são dela, ela sabe que não lhe pertencem, mas a memória dos sentimentos que lhe foi implantada é real. Isto torna Bruna mais sensível, empática e até capaz de amar, romanticamente, os humanos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-peso-do-coracao-rosa-montero/17342464?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Peso do Coração</a></i> é o segundo livro que <a href="https://www.rosamontero.es/" target="_blank">Rosa Montero</a> escreveu com Bruna Husky, o primeiro é <i><a href="https://www.wook.pt/livro/lagrimas-na-chuva-rosa-montero/11219965?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Lágrimas na Chuva</a></i>. Não tendo lido o primeiro, não me senti deslocada no mundo de Bruna. Parece-me que podem perfeitamente funcionar de forma independente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste, Bruna vê-se envolvida numa investigação que coloca em risco os três anos, dez meses e vinte e um dias que lhe restam. Vê-se de volta às Zonas Zero, é mordida por uma miúda meio selvagem e, para lhe salvar a vida, aceita ficar responsável por ela, trazendo-a de volta consigo e, volta a trabalhar com Lizard, o polícia com quem tem um relação complicada, a todos os níveis.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tendo como pano de fundo a investigação de Bruna, vamos vendo, através dos seus olhos, o estado da humanidade, as consequências de todas as decisões de humanos pouco escrupulosos, baseadas no dinheiro, no poder efémero mas, também as decisões de humanos bem intencionados que não souberam fazer de outra forma. </div><div style="text-align: justify;">São interessantes os dilemas de Bruna, que vive torturada, sabendo que não é humana mas sentindo-se como uma. Capaz de amar, de sentir prazer e dor, de questionar as suas ações e as dos outros, de tomar decisões que vão para além do seu bem-estar. Não deixa, no entanto, de pensar até que ponto tudo o que sente não está programado e, por isso, Bruna é tão Replicante como os seus semelhantes?</div><div style="text-align: justify;">Até que ponto, nós humanos, não estamos também pré-programados? Até que ponto não somos apenas química e o que sentimos, não são apenas reações químicas, balanços energéticos que podem ser replicados num laboratório?</div><div style="text-align: justify;">É um livro que é mais do que a investigação, o entretenimento e a ação. Levanta algumas questões sobre as quais devemos todos refletir, que nos assustam, mas das quais não devemos fugir. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este é o terceiro livro que li de <a href="Rosa Montero" target="_blank">Rosa Montero</a>, e acho-os a todos muito diferentes uns dos outros e todos eles são muito bons e surpreendentes. Gosto muito da escrita dela, da forma como desenvolve as histórias e gosto dos temas. Gosto mesmo muito de <a href="Rosa Montero" target="_blank">Rosa Montero</a>. Para além do conteúdo dos livros, acho que têm dos títulos mais originais e bonitos e, adoro todas as capas que circulam por cá. É o pacote completo! :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem qualquer hesitação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras! :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág. 9)</span></b></div><div style="text-align: justify;"><i>"Os humanos são paquidermes, lentos e pesados, ao passo que os Replicantes são tigres rápidos e desesperados, pensou Bruna Husky, consumida pela impaciência de ter de esperar na fila. Recordou uma vez mais a frase de um autor antigo que, um dia, o seu amigo arquivista citara: «As ininterruptas idas e vindas do tigre diante dos barrotes da jaula para que não se lhe e escape o único e brevíssimo instante da salvação.» Impressionada, Bruna decorara-a. Ela era esse tigre, preso no minúsculo cárcere que era a sua vida. Os humanos, com as suas existências longuíssimas e velhice intermináveis, costumavam glorificar com vaidade as vantagens da aprendizagem; até das mas experiências, defendiam, se podiam tirar lições. Husky é que não tinha tempo a perder com tais tontices; como qualquer androide, só vivia uma década, que terminaria dentro de três anos, dez meses e vinte e um dias, e tinha a certeza de que havia saberes que não valia a pena interiorizar. Por exemplo, teria vivido feliz sem conhecer a imundície das Zonas Zero; no entanto ali estava ela no que parecia agora ser uma viagem inútil à miséria."</i></div></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-37874374733749131852023-06-03T14:39:00.001+01:002023-11-22T00:13:48.646+00:00A Breve Vida das Flores - Valérie Perrin<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-7UH045NJG4d0oARgDhPrijQEYoPrTK5x8zoK-DlNSaeN31ypxOv6JvMJQ-5pdsE5ra6L6pKuaAeaFB5z44kcgkc0n6L5rG1w7PK37O7ue7_f_-F-YncLVPu7-kqzzxKphG8eLGhKoVRMEBoxbD2q56up9XQtPeDCUm3wtK9CB-3EefAqjGWsHhg5bw/s4624/a%20breve%20vida%20das%20flores.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-7UH045NJG4d0oARgDhPrijQEYoPrTK5x8zoK-DlNSaeN31ypxOv6JvMJQ-5pdsE5ra6L6pKuaAeaFB5z44kcgkc0n6L5rG1w7PK37O7ue7_f_-F-YncLVPu7-kqzzxKphG8eLGhKoVRMEBoxbD2q56up9XQtPeDCUm3wtK9CB-3EefAqjGWsHhg5bw/w150-h200/a%20breve%20vida%20das%20flores.jpg" width="150" /></a></div>Título: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Changer l'eau des Fleurs</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2018</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Valérie Perrin</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Tradução:<span style="color: black; font-style: normal;"> Maria de Fátima Carmo</span><br /></span></span><div style="text-align: left;"><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Editorial Presença</span></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"Íntimo, poético e luminoso.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>O romance protagonizado por uma mulher que, contra tudo e contra todos, nunca deixa de acreditar na felicidade.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Violette Toussaint é guarda de cemitério numa pequena vila da Borgonha. A sua vida é preenchida pelas confidências - comoventes, trágicas, cómicas - dos visitantes do cemitério e pelos seus colegas: três coveiros, três agentes funerários e um padre. E os seus dias pareciam ser assim para sempre. Até à chegada do chefe de polícia Julien Seul, que quer deixar as cinzas da mãe na campa de um desconhecido.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>A história de amor clandestino da mãe daquele homem afeta de tal forma Violette, que toda a dor que tentou calar vem ao de cima. É tempo de descobrir o responsável pela tragédia que afetou a sua vida.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Atmosférico, tocante e - tantas vezes - hilariante, este é um romance de vida: dos que partiram e vivem em nós, da luz que se pode revelar mesmo na mais plena escuridão. Porque às vezes basta a simplicidade de um gesto, basta a frescura da água viva para nos devolver ao mundo, a nós mesmos e aos outros."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-breve-vida-das-flores-valerie-perrin/25838229" target="_blank">A Breve Vida das Flores</a></i> é um livro que tem andado nas bocas do mundo literário e do qual toda a gente fala. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não quero alongar-me muito sobre a história porque teria dificuldade em não contar demais. Corro o risco de estragar a vossa viagem pela vida de Violette Toussaint. Por isso, digo apenas que é um romance, cheio de tristezas, desgostos, lágrimas, desespero, de raiva e de dor mas, que ao mesmo tempo, está cheio de esperança, de bondade, amizade, aromas reconfortantes e cor. </div><div style="text-align: justify;">Tudo isto, tendo como pano de fundo, uma passagem de nível e um cemitério. Digamos que são os sítios menos prováveis para servirem de abrigo a todos estes sentimentos e, muito menos para serem os sítios onde há encontros e desencontros e onde se iniciam verdadeiras histórias de amor, que é o que este <i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-breve-vida-das-flores-valerie-perrin/25838229" target="_blank">A Breve Vidas das Flores</a></i> acaba por ser. Dos vários tipos de amor e não apenas o amor romântico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O livro está bem escrito, lê-se bem, não obstante ser um livro grande, lê-se rápido porque a escrita é fluida. A história é interessante e foge ao típico romance de mulher conhece homem perfeito, enfrentam desafios pelo meio e depois, vivem felizes para sempre. Achei que ia ser algo deste género e não é de todo esse tipo de romance.</div><div style="text-align: justify;">Agora que penso sobre o livro, acho que está mais para o drama, uma daquelas histórias da vida real, ficcionada, para ser mais comercial.</div><div style="text-align: justify;">Ou seja, Violette Toussaint, a ser real, poderia ser a convidada, de um qualquer programas das tardes televisivas, onde iria partilhar a sua história de superação e onde todos iríamos chorar muito. E acho que é por isso que, embora reconheça qualidades no livro, até alguma originalidade, não consegui gostar assim tanto dele. </div><div style="text-align: justify;">A verdade é que não me identifico com o género de história e, para além disso achei que às tantas, a história se tornou repetitiva.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não tinha grandes expectativas, por isso, não me sinto defraudada e não dou por perdido o tempo que passei a lê-lo. De todo. Como disse, lê-se bem, está bem escrito e é suficientemente interessante para que continuasse a passar à página seguinte.</div><div style="text-align: justify;"><div>É um livro que me vai ficar na memória? Provavelmente não. Mas se tudo o que lêssemos nos ficasse gravado na memória, não teríamos espaço para mais nada. :)</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo, porque dentro do género me pareceu bastante interessante e original.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág.10)</span>:</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>"Chamo-me Violette Toussaint, Era guarda de passagem de nível, agora sou guarda de cemitério.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Saboreio a vida, bebo-a em que pequenos goles como chá de jasmim com mel. E quando chega o final de tarde e os portões do meu cemitério se fecham e a chave se pendura à porta da minha casa de banho, fico no paraíso.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Não o paraíso dos meus vizinhos da frente, Não.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>O paraíso dos vivos; um trago de porto - colheita de 1983 -, que me traz José-Luís Fernandez todos os dias 1 de setembro. Um resto de férias vertido num cálice de cristal, uma espécie de verão extemporâneo que desarrolho por volta das sete da tarde, faça chuva, neve ou vento.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Dois dedais de líquido rúbi. O sangue das vinhas do Porto. Fecho os olhos. E saboreio. Um único trago basta para me alegrar o serão. Dois dedais porque adoro a embriaguez, mas não o álcool.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>José-Luís Fernandez põe flores na campa de Maria Pinto, nome de casada Fernandez (1956-2007), uma vez por semana, exceto em julho, que é quando faço eu o turno. Daí o porto, para me agradecer.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>O meu presente é um presente do céu. É o que digo a mim mesma todas as manhãs, quando abro os olhos.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Eu estava muito infeliz; aniquilada, mesmo. Inexistente. Vazia. Estava como os meus vizinhos, mas para pior. As minhas funções vitais mantinham-se, mas sem que eu estivesse no interior. Sem o peso da alma, que pesa, ao que parece, quer sejamos gordos ou magros, altos ou baixos, jovens ou velhos, vinte e um gramas.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Contudo, como nunca tive gosto pela infelicidade, decidi que isso não iria durar. É necessário que a infelicidade acabe, um dia."</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-75808751158020979242023-06-02T00:09:00.002+01:002023-06-02T23:44:41.115+01:00Vinte e Quatro Horas da Vida de uma Mulher - Stefan Zweig<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwDRRclkEyq00lMgi_AnS-aPUVgeogHppem_owukNs41MUI-n0r3ubcJfzfB0Gn37IntRIc83ZvsqDscu4D0Kxa-4ZBMLdT7gWgQLwJ7kYlzaDuqMibNgDfepSeCAHLFRtrF5kkmXwTd25X2TOHmgAzdCcqXfVrhbhMBazemGWRyZWLbLpVe0o8u8txg/s4624/vinte%20e%20quatro%20horas%20da%20vida%20de%20uma%20mulher.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwDRRclkEyq00lMgi_AnS-aPUVgeogHppem_owukNs41MUI-n0r3ubcJfzfB0Gn37IntRIc83ZvsqDscu4D0Kxa-4ZBMLdT7gWgQLwJ7kYlzaDuqMibNgDfepSeCAHLFRtrF5kkmXwTd25X2TOHmgAzdCcqXfVrhbhMBazemGWRyZWLbLpVe0o8u8txg/w150-h200/vinte%20e%20quatro%20horas%20da%20vida%20de%20uma%20mulher.jpg" width="150" /></a></div><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Vierundzwanzig Stunden aus dem Leben einer Frau</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 1927</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Stefan Zweig</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Tradução:<span style="color: black; font-style: normal;"> Alice Ogando</span><br /></span></span><div><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Publicações Europa-América</span><br /><p></p><div style="text-align: justify;"><b>"A rotina de um hotel na Riviera é abalada por uma notícia escandalosa. Uma mulher abandona o marido e as duas filhas, em nome de uma paixão por um jovem que havia acabado de conhecer. Este episódio despoleta uma acesa discussão entre os hóspedes do hotel e leva a Senhora C., uma aristocrata inglesa de sessenta e sete anos, a recordar um episódio secreto da sua vida que a tortura há mais de duas décadas. Vinte e quatro horas na vida de uma mulher é um relato apaixonante e intimista sobre a vida de uma mulher que se liberta das correntes do pudor e do preconceito social em nome de uma paixão avassaladora."</b></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Num hotel na Riveira, quando uma mulher abandona o marido e as filhas para fugir com um homem que tinha acabado de conhecer, todos ficam chocados e todos os hóspedes têm uma opinião sobre o assunto, sendo que a maioria é bastante crítica e intolerante com a mulher fugitiva. Nenhum deles a conhece, no entanto, todos eles não hesitam em classificar como inaceitável e vergonhoso o comportamento desta mulher.</div><div style="text-align: justify;">Apenas um jovem homem parece sentir necessidade de, de certa forma, apoiar a mulher fugitiva, tentando trazer para a discussão pontos de vista que vão para além dos argumentos do socialmente aceitável, para uma mulher casada e com filhos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A Senhora C., sexagenária, e uma das hóspedes, fica impressionada com a atitude deste jovem na defesa da mulher fugitiva. Talvez por isso julga ter encontrado, neste total desconhecido, o ouvinte perfeito para a sua história. Uma história, que aconteceu há vinte anos atrás, e que nunca partilhou com ninguém. Talvez se a partilhar, se a contar em voz alta, a alguém que não a julgue, consiga expurgar todos os sentimentos de culpa e de vergonha que a atormentam desde então.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há vinte anos atrás, a Senhora C., recentemente enviuvada e devastada por ter perdido o companheiro de uma vida inteira, sente-se perdida, por não saber como viver sem o marido, e solitária, com os filhos crescidos e ocupados nos seus afazeres. Decide, por isso, sair da cidade onde vive e ir até ao casino passar algum tempo entre desconhecidos. Foi algo que sempre gostou de fazer e o objetivo nunca foi jogar. O que a atrai é poder observar os jogadores, mais precisamente as suas mãos. É fascinada por mãos e, é impressionante aquilo que se consegue saber sobre desconhecidos, quando estes não se sabem observados, principalmente quando se encontram mais vulneráveis, como acontece num casino, a apostar muitas vezes tudo o que têm e o que não têm.</div><div style="text-align: justify;">É no casino que a Senhora C. repara num par de mãos como nunca tinha visto até então. Umas mãos delicadas, nervosas e agitadas e que espelham o turbilhão de emoções que habitam o homem a quem pertencem.</div><div style="text-align: justify;">Fascinada pelo que observa, quando o homem sai do casino, arruinado e claramente perturbado, a Senhora C., é incapaz de não sair atrás dele.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Toda a história começa aqui, na interação desta viúva, nos seus quarentas, com um desconhecido com metade da idade dela, que não consegue abandonar à sua sorte, embora não perceba muito bem porquê. Não percebe, ou não quer perceber, porque teria de admitir que o interesse que o homem desperta nela e parece ir além do instinto maternal. </div><div style="text-align: justify;">A vergonha e a perplexidade não a abandonam ao longo daquelas vinte e quatro horas mas, ao mesmo tempo não a retraem ou impedem de continuar e de não abandonar o homem.</div><div style="text-align: justify;">A vergonha e a perplexidade nunca a abandonaram durante os vinte anos que separam aquelas vinte quatro horas e a noite no hotel da Riviera em que decide partilhar a sua história com mais um desconhecido.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É um livro pequeno, que se lê num instante mas que está cheio de conteúdo e, está muito bem escrito, num tom meio irónico e leve. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não conhecia <a href="https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Stefan_Zweig" target="_blank">Stefan Zweig</a>, não me recordo porque entrou na minha lista de autores a conhecer. O mais provável é ter sido sugerido por alguém cujas opiniões valorizo mas, o que importa é que fiquei agradavelmente surpreendida e vou querer ler mais livros dele.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem qualquer hesitação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Aproveitem a Feira do Livro de Lisboa para encontrarem os livros dele a preços mais convidativos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág. 63)</span></b></div><div style="text-align: justify;"><i>"Nunca, até esse momento (não me canso de o repetir), vira um rosto onde a paixão brotasse tanto a descoberto, tão bestial na sua impudica nudez, e fiquei para ali completamente entregue à contemplação fixa desse rosto... tão fascinada, tão hipnotizada pela sua loucura, como estava o seu olhar pelos movimentos palpitantes da bola em rotação.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>A partir desse momento, não vi mais nada na sala, tudo me parecia apagado, embaciado, tudo se me afigurava obscuro em comparação com o fogo que brotava daquele rosto; e, sem dar atenção a mais ninguém, observei, talvez durante uma hora, apenas aquele homem e cada um dos seus gestos. Um luz brutal iluminou-lhe os olhos, o novelo convulso das mãos foi bruscamente desfeito como por uma explosão, e os dedos alargaram-se com violência, frementes, mal o croupier empurrou, em sua direcção, vinte moedas de ouro.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Nesse momento, o seu rosto iluminou-se e rejuvenesceu por completo; as rugas desfizeram-se lentamente; os olhos começaram a brilhar; o corpo antes contraído, endireitou-se, tornou-se leve como um cavaleiro impelido pelo entusiasmo do triunfo; os dedos faziam tilintar com amor e vaidade as moedas redondas, obrigando-as a escorregar umas de encontro às outras, fazendo-as dançar e tinir como numa brincadeira. Depois, voltou de novo a cabeça com inquietação, percorreu o pano verde com as narinas dilatadas como um cãozinho de caça farejando a boa pista, e, a seguir, num gesto rápido e nervoso, atirou todas as suas moedas de ouro para um dos quadros.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E logo começou a mesma atitude de expectativa, a mesma hipertensão."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-86703067402881952842023-05-07T01:11:00.001+01:002023-11-05T01:48:51.753+00:00Um Dia Diferente - John Steinbeck<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQK0hnqj9875_065s1obeQaY0HLHdjOu2gUZo6STDBDE3271xVXP72BoTRssYCijZ4b_CyVdFGeRi4v3nJ0han4hz5scDsyJFc_itaaWlNL669I7GyKdCS2YTVLnXuK7E6U62e4FGFP7MlfoZBBpNrYW9exIRKRwaUrkyA0Ddlqwa8MNu3LkkmHZW-_g/s4104/um%20dia%20diferente.jpg" style="clear: left; display: inline; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="4104" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQK0hnqj9875_065s1obeQaY0HLHdjOu2gUZo6STDBDE3271xVXP72BoTRssYCijZ4b_CyVdFGeRi4v3nJ0han4hz5scDsyJFc_itaaWlNL669I7GyKdCS2YTVLnXuK7E6U62e4FGFP7MlfoZBBpNrYW9exIRKRwaUrkyA0Ddlqwa8MNu3LkkmHZW-_g/w169-h200/um%20dia%20diferente.jpg" width="169" /></a></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Sweet Thursday</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 1954</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> John Steinbeck</span><br style="text-align: left;" /><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic; text-align: left;">Tradução:</span><span style="font-size: 14px; text-align: left;"> João Belchior Viegas</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Livros do Brasil</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"Com o deflagrar da Segunda Guerra Mundial, o biólogo marinho que todos conhecem por Doutor é mobilizado. Não é exatamente o mesmo homem que volta a Cannery Row um par de anos mais tarde, mas Cannery Row não é também o mesmo bairro.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>O Laboratório Biológico tem a porta empenada pela humidade e o interior repleto de pó e bolor. Dora, a madame, morreu durante o sono, deixando o bordel nas mãos da sua irmã Fauna. Henri, o pintor, abandonou a cidade intempestivamente, e não foi o único.</b></div><p></p><p style="text-align: justify;"><b>Parece que só Mack ficou onde estava, procurando pôr as coisas em ordem. Em <i>Um Dia Diferente</i>, Steinbeck regressa ao <i>Bairro da Lata</i> e aos dramas quotidianos daquelas personagens unidas por um destino sem esperança, no centro das quais se encontra o Doutor. Após o absurdo da guerra, ele procura retomar a normalidade da vida dedicando-se à recolha e venda de animais marinhos. Até que da água lhe surge uma outra imagem de salvação: na figura da linda e impulsiva Suzy."</b><br /></p><p></p><div style="text-align: justify;">Regressar a Cannery Row é à comunidade de <i><a href="https://www.wook.pt/livro/bairro-da-lata-john-steinbeck/19198447?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Bairro da Lata</a></i> (a minha opinião <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2019/05/bairro-da-lata-john-steinbeck.html" target="_blank">aqui</a>) é quase como saber notícias de velhos conhecidos dos quais guardamos boas memórias e por quem temos carinho. São assim estes livros de <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/John_Steinbeck#" target="_blank">John Steinbeck</a>, <i><a href="https://www.wook.pt/livro/bairro-da-lata-john-steinbeck/19198447?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Bairro da Lata</a></i> e agora este <i><a href="https://www.wook.pt/livro/um-dia-diferente-john-steinbeck/19849501?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Um Dia Diferente</a></i> e, que foi companhia certa nas férias de Verão do ano passado. Estes dois são muito parecidos com <i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-milagre-de-sao-francisco-john-steinbeck/15327896?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Milagre de São Francisco</a></i> (a minha opinião <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2012/05/o-milagre-de-sao-francisco-john.html" target="_blank">aqui</a>) que também aconselho a lerem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como é dito na sinopse o Doutor é mobilizado para a 2ª Grande Guerra e, quando regressa, todo o bairro lhe parece diferente. A guerra acabou por afetar, mesmo que de forma indireta, todos e, sem o Doutor para os orientar, todos parecem estar meio à deriva.</div><div style="text-align: justify;">Não é só o bairro e as suas gentes que lhe parecem diferentes, o próprio Doutor se sente cansado, desiludido com a vida e cada vez mais sozinho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O regresso do Doutor é festejado por todos mas todos se apercebem que o homem que voltou não é o mesmo que partiu e ficam preocupados com o desalento que sentem ter tomado conta dos dias do homem que tanto admiram. É por isso que Mack e o seu grupo de inadaptados decidem que têm de fazer alguma coisa para animar e ajudar o Doutor.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Suzy é uma jovem mulher que aparece em Cannery Row, sozinha, à procura de algo que a faça feliz. Quer mudar de vida e vem de braços abertos, preparada para abraçar todos os desafios que a possam esperar. É inteligente e aguerrida e é por isso que chama a atenção de todos, sendo unânime para todos que Suzy é a mulher perfeita para acabar com a solidão do Doutor.</div><div style="text-align: justify;">Mack e todos em Cannery Row vão fazer tudo para que os dois se apaixonem e vivam felizes para sempre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E é mais ou menos isto, uma história de amor, de preconceitos e de desencontros e, mais uma vez, uma história de amizades improváveis, com gente boa, cheia de boas intenções.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É um livro divertido e bem escrito, com a qualidade certificada de <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/John_Steinbeck#" target="_blank">John Steinbeck</a>. :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E foi bom voltar a estas personagens e ao ambiente de Cannery Row.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem hesitações. Aconselho, no entanto a que leiam primeiro o <i><a href="https://www.wook.pt/livro/bairro-da-lata-john-steinbeck/19198447?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Bairro da Lata</a></i> para conhecerem as personagens melhor e este não vos pareça meio desenquadrado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág. 11)</span></b></div><div style="text-align: justify;"><i>"Quando a guerra chegou a Monterey e a Cannery Row todos lutaram mais ou menos, duma maneira ou doutra. Quando as hostilidades cessaram todos tinham as suas cicatrizes.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>As fábricas de conservas lutaram também a seu modo, desprezando as limitações impostas e pescando todo o peixe possível. Tudo por razões patrióticas, se bem que isso não voltasse a dar vida aos peixes. Exatamente como as ostras da Alice no País das Maravilhas, «comeram tudo». De resto, o mesmo nobre impulso devastou as florestas do Oeste e levou a que hoje em dia a água seja puxada à bomba das profundezas do subsolo da Califórnia em quantidades nunca comparáveis às que chovem do céu. Se o deserto alastrar, toda a gente ficará triste, tão triste como Cannery Row quando todas as sardinhas foram pescadas, enlatadas e comidas. As fábricas de chapa ondulada de um cinzento-pérola estavam envoltas em silêncio e toda a vida que tinham era a dum pacífico guarda. A rua, que estremecera com camiões, estava sossegada e deserta.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>De facto a guerra tocara a todos. O Doutro fora mobilizado. Deixara como encarregado do Laboratório Biológico Ocidental o seu amigo Old Jingleballicks e cumprira o seu serviço como sargento num posto antivenéreo.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>O Doutor encarou a situação com filosofia. Entretinhas as horas livres com uma quantidade apreciável de álcool fornecido pelo Governo, arranjou amizades e evitou ser promovido. Quando a guerra acabou foi mantido no serviço por gratidão do Governo a fim de destrinçar certos problemas menos claros de inventário, tarefa que lhe incumbia, aliás, por a ele se dever em grande parte a sua pouca clareza. Dois anos após a vitória, o Doutor foi finalmente desmobilizado com todas as honras."</i></div><p></p><p></p>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-24740754184970907492023-04-30T00:12:00.000+01:002023-04-30T00:12:48.559+01:00[Ebook] Born a Crime - Trevor Noah<div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6hifkwsSnv2Op4xfLrRTNQ-hYsQnjts7aTwEY5aJQY8fc6yZwC1k1BgZqwp_2HvxBGRLsKAD94Mlzx2QXRJUcDecxk0NfKyNMtC7x1EI9YvOwZiSaHMlsd4bONNhR_QT3H-Xfl-8rs91syd6Ffq6aJBluVqbVKz2F1Yhrf_u9ye7R5nluB8amNfutmQ/s4624/born%20a%20crime.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6hifkwsSnv2Op4xfLrRTNQ-hYsQnjts7aTwEY5aJQY8fc6yZwC1k1BgZqwp_2HvxBGRLsKAD94Mlzx2QXRJUcDecxk0NfKyNMtC7x1EI9YvOwZiSaHMlsd4bONNhR_QT3H-Xfl-8rs91syd6Ffq6aJBluVqbVKz2F1Yhrf_u9ye7R5nluB8amNfutmQ/w150-h200/born%20a%20crime.jpg" width="150" /></a></div>Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Born a Crime</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2016</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Trevor Noah</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> John Murray (Ebook ISBN: 9781473635319)</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"The compelling, inspiring, (often comic) coming-of-age story of Trevor Noah, set during the twilight of apartheid and the tumultuous days of freedom that followed.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>One of the comedy world's brightest new voices, Trevor Noah is a light-footed but sharp-minded observer of the absurdities of politics, race and identity, sharing jokes and insights drawn from the wealth of experience acquired in his relatively young life. As host of the US hit show The Daily Show with Trevor Noah, he provides viewers around the globe with their nightly dose of biting satire, but here Noah turns his focus inward, giving readers a deeply personal, heartfelt and humorous look at the world that shaped him. </b></div><div style="text-align: justify;"><b>Noah was born a crime, son of a white Swiss father and a black Xhosa mother, at a time when such a union was punishable by five years in prison. Living proof of his parents' indiscretion, Trevor was kept mostly indoors for the first years of his life, bound by the extreme and often absurd measures his mother took to hide him from a government that could, at any moment, take him away.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>A collection of eighteen personal stories, Born a Crime tells the story of a mischievous young boy growing into a restless young man as he struggles to find his place in a world where he was never supposed to exist. Born a Crime is equally the story of that young man's fearless, rebellious and fervently religious mother - a woman determined to save her son from the cycle of poverty, violence and abuse that ultimately threatens her own life.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Whether subsisting on caterpillars for dinner during hard times, being thrown from a moving car during an attempted kidnapping, or just trying to survive the life-and-death pitfalls of dating in high school, Noah illuminates his curious world with an incisive wit and an unflinching honesty. His stories weave together to form a personal portrait of an unlikely childhood in a dangerous time, as moving and unforgettable as the very best memoirs and as funny as Noah's own hilarious stand-up. Born a Crime is a must read."</b><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Contam-se pelos dedos de uma mão as biografias que li. Não é um género que me suscite curiosidade e não é o género em que penso quando penso em livros. Porquê então este <i><a href="https://www.kobo.com/pt/pt/ebook/born-a-crime-2" target="_blank">Born a Crime</a></i> de <a href="https://www.trevornoah.com/about" target="_blank">Trevor Noah</a>? Porque gosto da pessoa pública <a href="https://www.trevornoah.com/about" target="_blank">Trevor Noah</a>, porque gosto do profissional <a href="https://www.trevornoah.com/about" target="_blank">Trevor Noah</a>, porque fiquei curiosa com a história que ele tinha para contar e porque sou atraída para a temática do racismo. 🙂</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em <i><a href="https://www.kobo.com/pt/pt/ebook/born-a-crime-2" target="_blank">Born a Crime</a></i>, Trevor conta-nos a sua história e a história da mãe, que mais não é do que a história do Apartheid na África do Sul. A segregação e a discriminação racial e o que permaneceu, com o fim deste regime. </div><div style="text-align: justify;">Achei curiosa a imagem que ele passa de haver uma série de medidas que eram só muitos estúpidas, levadas a cabo por pessoas pouco inteligentes cuja única qualificação era terem nascido brancas. Temos tendência para pensar nestas coisas como sendo fruto de algo mais organizado e estruturado e por vezes o que acontece é que as coisas se mantêm por inércia, por hábito, por gerações e gerações que cresceram com alguém a dizer quem eram, o que podiam ou não ser ou fazer.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.kobo.com/pt/pt/ebook/born-a-crime-2" target="_blank">Born a Crime</a></i> é, entre outras coisas, uma homenagem que <a href="https://www.trevornoah.com/about" target="_blank">Trevor Noah</a> faz à mãe. A mãe de Trevor é fascinante. Pela forma como conseguiu sobreviver e prosperar contra todas as probabilidades. Desde a forma como escolheu quem seria o pai do seu primeiro filho, consciente de que iria dar à luz um mestiço, até à forma disruptiva como o educou. Educou-o para ser o que quisesse, preparando-o para um mundo que não tinha forma de saber que iria ser o mundo do filho, um mundo mais tolerante e justo. Ela só queria que ele estivesse preparado quando as oportunidades chegassem e que ele tivesse as ferramentas para quebrar o ciclo de pobreza e discriminação. </div><div style="text-align: justify;">É uma mulher inteligente e independente, cheia de defeitos e de incoerências. É, de acordo com o que o filho nos conta dela, uma mulher por inteiro com todas as suas qualidades e defeitos e que vive de acordo com todas as suas boas e más decisões.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei muito do livro. Gostei da forma honesta como ele expõe a sua história, não escondendo as coisas más e sem se vangloriar das boas.<br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei da escrita, simples e direta, do sentido de humor mas, sobretudo gostei da história, contada na perspetiva de uma criança e adolescente, que olha para o mundo à volta e tenta retirar algum sentido de tudo o que vê.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem reservas. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras! </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"During apartheid, one of the worst crimes you could commit was having sexual relations with a person of another race. Needless to say, my parents committed that crime. (...) </i></div><div style="text-align: justify;"><i>Humans being humans and sex being sex, that prohibition never stopped anyone. There were mixed kids in South Africa nine months after the first Dutch boats hit the beach in Table Bay. Just like in America, the colonists here had their way with the native women, as colonists so often do. Unlike in America, where anyone with one drop of black blood automatically became black, in South Africa mixed people came to be classified as their own separate group, neither black nor white but what we call "colored". Colored people, black people, white people, and Indian people were forced to register their race with the government. Based on those classifications, millions of people were uprooted and relocated. Indian areas were segregated from colored areas, which were segregated from black areas - all of them segregated from white areas and separated from one another by buffer zones of empty land. Laws were passed prohibiting sex between Europeans and native, laws that were later amended to prohibit sex between whites and all nonwhites."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-63432658699253672662023-04-15T00:52:00.001+01:002023-04-15T00:52:34.182+01:00A Célula Adormecida - Nuno Nepomuceno<span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhV2Eljb2t8Xbvx3oCNViHsqiPUlCyMEa6DDs-7o5GK8wy4o5gTPpmyNgWkbcy5_u3SHLdHDLD5LhRmp2YAnGd7YrFoyjgTKkXBDZkuZrHOt8Ut_Loa_tAje8eSDzcyMTO5vvYk7jpxEGKJ1-HJTU08HtNFSdlyyIFiunJn6gqiiYvEs-QvPBw9_Ma25w=s1920" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1920" data-original-width="1440" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhV2Eljb2t8Xbvx3oCNViHsqiPUlCyMEa6DDs-7o5GK8wy4o5gTPpmyNgWkbcy5_u3SHLdHDLD5LhRmp2YAnGd7YrFoyjgTKkXBDZkuZrHOt8Ut_Loa_tAje8eSDzcyMTO5vvYk7jpxEGKJ1-HJTU08HtNFSdlyyIFiunJn6gqiiYvEs-QvPBw9_Ma25w=w150-h200" width="150" /></a></div>Título: </span></span><span style="font-size: 14px;">A Célula Adormecida</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2016</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Nuno Nepomuceno</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Topbooks</span><div><br /></div><div><div style="text-align: justify;"><b>"«Assim queira Deus, o Califado foi estabelecido e iremos invadir-vos como vocês nos invadiram. Iremos capturar as vossas mulheres como vocês capturaram as nossas mulheres. Vamos deixar os vossos filhos órfãos como vocês deixaram órfãos os nossos filhos.»</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, 2014.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Em plena noite eleitoral, o novo primeiro-ministro português é encontrado morto. Ao mesmo tempo, em Istambul, na Turquia, uma reputada jornalista vive uma experiência transcendente. E em Lisboa, o pânico instala-se quando um autocarro é feito refém no centro da cidade. O autoproclamado Estado Islâmico reivindica o ataque e mostra toda a sua força com uma mensagem arrepiante.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>O país desperta para o terror e o medo cresce na sociedade. Um grande evento de dimensão mundial aproxima-se e há claros indícios de que uma célula terrorista se encontra entre nós. Todas as pistas são importantes para o SIS, sobretudo, quando Afonso Catalão, um conhecido especialista em Ciência Política e Estudos Orientais, é implicado.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>De antecedentes obscuros, o professor vê-se subitamente envolvido numa estranha sucessão de acontecimentos. E eis que uma modesta família muçulmana refugiada em Portugal surge em cena.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>A luta contra o tempo começa e a Afonso só é dada uma hipótese para se ilibar: confrontar o passado e reviver o amor por uma mulher que já antes o conduziu ao limiar da própria destruição.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Com uma escrita elegante e o seu já tão característico estilo intimista e sofisticado, inspirado em acontecimentos verídicos, Nuno Nepomuceno dá-nos a conhecer <i>A Célula Adormecida</i>. Passado durante os 30 dias do mês do Ramadão, este é um romance contemporâneo, onde ficção e realidade se confundem num estranho mundo novo e aterrador que a todos nos perturba. Um thriller psicológico de leitura compulsiva, inquietante, negro e inquestionavelmente atual."</b></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">A sinopse diz quase tudo sobre a história e sobre o tema. Acho que não faz muito sentido alongar-me muito mais sobre isso. Para além de já não me lembrar muito bem dos pormenores, porque é uma leitura do tempo dos confinamentos, do início de 2021, posso correr o risco de falar demais e arruinar a leitura para alguns de vocês.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Portugal, na sua pacatez de espectador dos acontecimentos mundiais acorda, após uma noite de eleições legislativas, com a notícia de que o seu novo primeiro ministro, acabado de eleger, foi encontrado morto na sede de campanha do partido.</div><div style="text-align: justify;">Mais ou menos na mesma altura, um autocarro de passageiros é sequestrado por um rapaz, de origem islâmica e que estava em Portugal, e a estudar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa. O ataque é considerado terrorista e é reivindicado pelo Autoproclamado Estado Islâmico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com o país num turbilhão, sem governo eleito e em choque com a presença do ISIS no seu território, Afonso Catalão, um especialista em Ciência Política e Estudos Orientais e, professor do rapaz que sequestrou o autocarro, acaba por se ver envolvido numa série de acontecimentos que colocam a sua vida, mas principalmente a vida de quem o rodeia em perigo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O livro aborda o tema do terrorismo islâmico que, embora continue muito presente nas nossas vidas, nos tempos que correm, parece ser uma coisa do passado. Hoje em dia, até aquilo que nos assusta tem um ciclo de vida muito curto, há sempre qualquer nova a querer estar no topo das nossas preocupações e a competir para nos tirar o sono à noite... </div><div style="text-align: justify;">Naturalmente, fazem parte da história o preconceito e a islamofobia, que encontram nestes acontecimentos a desculpa perfeita para saírem do armário de muito boa gente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De uma forma muito resumida é isto. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Depois de ler <i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-espiao-portugues-nuno-nepomuceno/24800540?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Espião Português</a></i> (opinião <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2020/05/kindle-o-espiao-portugues-nuno.html" target="_blank">aqui</a>), de que gostei bastante, estava, naturalmente expectante quando comecei a ler <i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-celula-adormecida-nuno-nepomuceno/24031097?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Célula Adormecida</a></i>. Confesso que fiquei um pouco desiludida e que ficou aquém das minhas expectativas.</div><div style="text-align: justify;">Achei a escrita um pouco forçada e o desenrolar da história pouco credível, cheio de clichés. Tudo acontecia às pessoas que Afonso Catalão conhecia. Nada lhe acontecia a ele, era sempre "salvo" por um golpe de sorte, pelo destino... E ele seguia com a sua vida, quase indiferente. </div><div style="text-align: justify;">Houve um ou outro acontecimento em que <a href="https://www.nunonepomuceno.com/" target="_blank">Nuno Nepomuceno</a> poderia ter arriscado em fazer diferente e dar outra dimensão à história e às personagens. Assim, todo o livro acabou por não ser particularmente original.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Irritou-me um pouco a divisão desnecessária dos capítulos, que tornou o ritmo da leitura estranho. Muitas vezes o capítulo seguinte era equivalente a um parágrafo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div>Sinceramente estava à espera de mais depois de ter ficado tão bem impressionada com <i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-espiao-portugues-nuno-nepomuceno/24800540?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Espião Português</a></i><i> </i>e, não consegui ultrapassar a sensação de que tudo era muito parecido com os livros do José Rodrigues do Santos, os da saga Tomás Noronha (é um trauma assumido por mim). Acho, no entanto, que é melhor em termos de diálogos e de construção das personagens.</div><div><br /></div><div>Como disse, <i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-celula-adormecida-nuno-nepomuceno/24031097?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Célula Adormecida</a></i><i> </i>é uma leitura dos confinamentos COVID, de 2021 e já não tenho muito presente os pormenores da história. Também não dá para reler porque foi um livro da biblioteca. O que mais me ficou na memória foram as ruas de Lisboa onde se desenrola a maior parte da história, porque conheço bem a zona. Digamos que tornou a história um pouco mais real para mim. Por outro lado, essa proximidade fez com que opções narrativas menos credíveis me causassem maior estranheza.</div><div><br /></div><div>Não é um livro mau, de longe, mas foi suficientemente normal para que, até à data, não tenha voltado a ler mais nada dele. Confesso que, com tantos livros em fila de espera, esta leitura me deixou relutante e não tenho sentido o apelo de voltar ao <a href="https://www.nunonepomuceno.com/" target="_blank">Nuno Nepomuceno</a>. Talvez um dia. ;)</div><div><br /></div><div>Recomendo se vos interessa o tema. Para primeiro livro do autor, arriscaria a começar por um outro qualquer.</div><div><br /></div><div>Boas leituras!</div></div></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-13403610218238847952023-03-19T02:20:00.004+00:002023-03-19T02:20:55.482+00:00[Ebook] MaddAddam- Margaret Atwood <div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitDEarN_Bndxd_NVTnDC3k4OKLPV3Kx0JgdMJMm-El_VGypdKBAnNpWz9_CkVLKkPlPFzSol651TnKFVHLGQ5TK4wQKlRJuMFs2p_4WaYi7PGeNLh4eGSUUV-ufiihnAQPEvBOcxfAKDAQs6rbSpShDU6ZM-GoxKvWOBfbxHjZCsFdGdY5srnvJNx6TA/s4624/MaddAddam%20(2).jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitDEarN_Bndxd_NVTnDC3k4OKLPV3Kx0JgdMJMm-El_VGypdKBAnNpWz9_CkVLKkPlPFzSol651TnKFVHLGQ5TK4wQKlRJuMFs2p_4WaYi7PGeNLh4eGSUUV-ufiihnAQPEvBOcxfAKDAQs6rbSpShDU6ZM-GoxKvWOBfbxHjZCsFdGdY5srnvJNx6TA/w150-h200/MaddAddam%20(2).jpg" width="150" /></a></div>Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">MaddAddam</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2013</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Margaret Atwood</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Virago (Ebook ISBN: 9780748130191)</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"By the author of The Handmaid's Tale and Alias GraceToby, a survivor of the man-made plague that has swept the earth, is telling stories.Stories left over from the old world, and stories that will determine a new one. Listening hard is young Blackbeard, one of the innocent Crakers, the species designed to replace humanity. Their reluctant prophet, Jimmy-the-Snowman, is in a coma, so they've chosen a new hero - Zeb, the street-smart man Toby loves. As clever Pigoons attack their fragile garden and malevolent Painballers scheme, the small band of survivors will need more than stories."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.bertrand.pt/ebook/maddaddam-margaret-atwood/17225140" target="_blank">MaddAddam</a></i> é o terceiro e último livro da trilogia composta por <i><a href="https://www.bertrand.pt/ebook/oryx-and-crake-margaret-atwood/10832768" target="_blank">Oryx and Crake</a></i> e <i><a href="https://www.bertrand.pt/ebook/year-of-the-flood-margaret-atwood/10833455" target="_blank">The Year of the Flood</a> </i>(opiniões <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2021/06/kindle-oryx-and-crake-margaret-atwood.html" target="_blank">aqui</a> e <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2023/03/ebook-year-of-flood-margaret-atwood.html" target="_blank">aqui</a>), de <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Atwood" target="_blank">Margaret Atwood</a>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O livro começa exatamente onde o anterior acabou e, como não quero inadvertidamente, contar algo que possa estragar a vossa leitura, digamos que... Zeb e o seu pequeno grupo estão a reorganizar-se e continuam à procura de Adam One. Toby e mais uns quantos nossos conhecidos, que incluem um Jimmy doente, entre a vida e a morte, acabam por se juntar ao grupo de Zeb. Com Toby, ou melhor com Jimmy, vêm os Filhos de Crake, incapazes de se afastarem de Jimmy.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como Jimmy não está em condições de manter a tradição de contar histórias ao Filhos de Crake e porque estes são muito ciosos das suas rotinas e rituais, acaba por ser Toby a escolhida por eles para manter a tradição.</div><div style="text-align: justify;">Toby conta-lhes histórias de Crake, de Oryx, de Jimmy e do próprio Zeb que parece estar a tornar-se para eles uma espécie de Deus.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As histórias são inspiradas nas próprias memórias que Zeb partilha com Toby. Ficamos a conhecer a sua relação com Adam One, como chegou até ali e qual foi o seu papel em tudo o que aconteceu. Através dele conhecemos também o papel e a história de Adam One.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os Filhos de Crake são criaturas curiosas, em particular uma das crianças do grupo, a quem Toby ensina a escrever e a ler.</div><div style="text-align: justify;">É curiosa a forma como esta criança, que não tem qualquer passado e que desconhece muitos dos conceitos que para Toby e os outros humanos são dados adquiridos, começa a apreender tudo. A ironia para eles é desconhecida, não percebem o que é ler ou escrever, não têm maldade e a violência é-lhes dolorosa e incompreensível. </div><div style="text-align: justify;">É esta criança que mais tarde vai continuar a contar as histórias de Zeb, Crake, Oryx e Fuck (têm de ler para perceber) aos outros, quando Toby e Zeb já não estiverem entre eles. É é assim que a vida continua. E é assim que começa a nascer uma nova "humanidade", talvez melhor que a anterior, talvez apenas diferente da anterior. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.bertrand.pt/ebook/maddaddam-margaret-atwood/17225140" target="_blank">MaddAddam</a></i> é o livro que cola todas a pontas soltas e que tece um fio entre as vidas de todas as personagens que conhecemos nos livros anteriores.</div><div style="text-align: justify;"><div>É o livro de Toby e Zeb. É o livro dos Filhos de Crake, como nova espécie senciente no planeta Terra. Os que vão herdar o planeta e toda a história da humanidade que existiu antes deles.</div><div>É o livro da esperança e da continuidade.</div><div><br /></div><div>Esta é uma trilogia que vale muito a pena ler. Para além de estar muito bem escrita e de ter personagens que ficam connosco por algum tempo, levanta questões pertinentes e que nos fazem refletir. </div><div>Refletir sobre o percurso da humanidade, o que nos torna naquilo que somos, a necessidade quase inata de sabermos de onde viemos, de termos um passado, algo que nos ligue a este mundo e aos nossos semelhantes, a idolatria e a necessidade de nos sentirmos protegidos por algo superior a nós e que não conseguimos compreender completamente.</div><div><br /></div><div>Mais um que recomendo sem qualquer reserva. Leiam os três, não são livros que valham por si só.<br /></div><div><br /></div><div>Boas leituras!</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"They're preternaturally beautiful, thinks Toby. Unlike us. We must seem subhuman to them, with our flapping extra skins, our aging faces, our warped bodies, too thin, too fat, too hairy, too knobbly. Perfection exacts a price, but it's the imperfect who pay it.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Each of the Crakers has one hand on Jimmy. They're purring; the hum gets louder as Toby walks over to them.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'Greetings, Oh Toby', say's the taller of the two women. How do they know her name? They must have listened more carefully than she'd thought last night. And how should she reply? What are their own names, and is it polite to ask?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'Greetings', she says. 'How is Snowman-the-Jimmy today?'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'He is growing stronger, Oh Toby', says the shorter woman. The others smile. (...)</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'Snowman-the-Jimmy is coming closer to us', says the short woman. 'Then he will tell us the stories of Crake, as he always did when he was living in his tree. But today you must tell them to us.'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'Me?' says Toby. 'But I don't know the stories of Crake!'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'You will learn them', says the man. 'It will happen. Because Snowman-the-Jimmy is the helper of Crake, and you are the helper of Snowman-the-Jimmy, That is why.'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'You must put on this red thing', says the shorter woman, 'It is called a Hat.'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'Yes, a hat', says the tall woman. 'In the evening, when it is moth time. You will put this hat of Snowman-the-Jimmy on your head, and listen to this shiny round thing that you put on your arm.'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'Yes', says the other woman, nodding. 'And then the words of Crake will come out of your mouth. That is how Snowman-the-Jimmy would do it.'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'See?' says the man. He points to the lettering ond the hat: Red Sox. 'Crake made this. He will help you. Oryx will help too, if the story has an animal in it.'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'We will bring the fish, when it is getting dark. Snowman-the-Jimmy always eats a fish, because Crake says he must eat it. Then you will put on the hat and listen to this Crake thing, and say the stories of Crake.'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'Yes, how Crake made us in the Egg, and cleared away the chaos of bad men. How we left the Egg and walked here with Snowman-the-Jimmy, because there were more leaves for us to eat.'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'You will eat the fish, and then you will say the stories of Crake, as Snowman-the-Jimmy always did', says the shorter woman. They look at her with their uncanny green eyes and smile reassuringly. They seem entirely confident of her abilities.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>What are my choices? thinks Toby. I can´t say no. They may get disappointed, and go away by themselves, back to the beach, wheres the Painballers can grab them. They'd be easy prey, especially the children. How can I let that happen?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'All right', she says. 'I will come in the evening. I will put on the hat of Jimmy, I mean Snowman-the-Jimmy, and tell you the stories of Crake.'</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'And listen to the shiny thing', says the man. 'And eat the fish.' It seems to be the ritual.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>'Yes, all of that', says Toby.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Shit, she thinks. I hope they cook the fish."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-13833012408944712012023-03-11T01:18:00.002+00:002023-03-11T01:18:57.890+00:00[Ebook] The Year of the Flood - Margaret Atwood <div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgri0X5grplUOmXhoaLVamQ-lvf6cA2QQEuT-__jyXdm6spEuMv61QfA8pnbfYr6tPgjtak7Bok7TfiIMOJj2X5X_IoFuHUqW8FGDhv2t5PBhUqfo7YDCG9KKmY4DBHvRIIjyQusFHtuWqHVyCdkstREZKec5_gVJ3K_lo9oVDwBTlj4Uv3gOYAc8ujDQ/s340/the%20year%20of%20the%20flood.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="340" data-original-width="340" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgri0X5grplUOmXhoaLVamQ-lvf6cA2QQEuT-__jyXdm6spEuMv61QfA8pnbfYr6tPgjtak7Bok7TfiIMOJj2X5X_IoFuHUqW8FGDhv2t5PBhUqfo7YDCG9KKmY4DBHvRIIjyQusFHtuWqHVyCdkstREZKec5_gVJ3K_lo9oVDwBTlj4Uv3gOYAc8ujDQ/w200-h200/the%20year%20of%20the%20flood.jpg" width="200" /></a></div><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">The Year of the Flood</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2009</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Margaret Atwood</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Hachette Digital (Ebook ISBN: 9780748113378)</span><br /><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"By the author of <i>The Handmaid's Tale</i> and <i>Alias Grace. </i>The sun brightens in the east, reddening the blue-grey haze that marks the distant ocean. The vultures roosting on the hydro poles fan out their wings to dry them. the air smells faintly of burning. The waterless flood - a man-made plague - has ended the world. But two young women have survived: Ren, a young dancer trapped where she worked, in an upmarket sex club (the cleanest dirty girls in town); and Toby, who watches and waits from her rooftop garden. Is anyone else out there?"</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este é o segundo livro da trilogia de <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Atwood" target="_blank">Margaret Atwood</a>, o que se segue a <i><a href="https://www.bertrand.pt/ebook/oryx-and-crake-margaret-atwood/10832768" target="_blank">Oryx and Crake</a></i> (a minha opinião <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2021/06/kindle-oryx-and-crake-margaret-atwood.html" target="_blank">aqui</a>) e que nos leva para o ano 25, o ano do dilúvio seco, o ano da praga que dizimou quase toda a humanidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Passa-se no mesmo período de tempo que <i><a href="https://www.bertrand.pt/ebook/oryx-and-crake-margaret-atwood/10832768" target="_blank">Oryx and Crake</a></i>, dando-nos a perspetiva do lado de fora dos muros dos complexos tecnológicos. Mostra-nos como era a vida de quem estava de fora antes da misteriosa praga que parece ter poupado apenas duas mulheres, Toby e Ren.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Vamos conhecer os God's Gardeners, uma comunidade fundada por Adam One, cujos princípios assentam no respeito pela natureza e por todos os animais. Eram uma espécie de ativistas do clima e que lutavam para que todos percebessem que a terra não iria aguentar muito mais tempo se os humanos continuassem a comportar-se de forma predatória.</div><div style="text-align: justify;">Plantavam os próprios alimentos, não comiam carne e peixe. Na sua maioria eram cientistas, que trabalhavam nos Complexos, para os Corps e, que fugiram por não concordarem com os projetos e com as experiências que lá se faziam.</div><div style="text-align: justify;">Esta era, pelo menos, a face visível do grupo. Como em tudo, nem tudo é apenas aquilo que conseguimos ver e ouvir com os nossos olhos e ouvidos.</div><div style="text-align: justify;">Nesta comunidade todos eram bem-vindos, desde que respeitassem as regras e todos tinham um papel ou trabalho na comunidade em prol de todos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Conhecemos Toby que trabalhava no SecretBurger, para Blanko, um homem asqueroso de quem não conseguia fugir, até que é salva por Adam One que a leva para os God's Gradeners.</div><div style="text-align: justify;">É lá que conhece Zeb, o homem que passa a amar secretamente, e Pilar, que lhe ensina tudo sobre abelhas e sobre as propriedades das plantas e das ervas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ren é apenas uma pré-adolescente quando a mãe, Lucerne, abandona o pai e a arrasta com ela para ir atrás de Zeb, completamente apaixonada por ele. Juntam-se aos God's Gradeners, mas não são verdadeiras crentes nos ensinamentos de Adam One.</div><div style="text-align: justify;">Nos God's Gardner, Ren conhece Amanda, uma miúda divertida, segura de si, uma sobrevivente. As duas tornam-se inseparáveis no tempo que partilham no Edencliff Rooftop. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao longo do livro vamos viajando entre o passado e o ano 25 e ficar a conhecer o que levou cada uma destas personagens a estarem onde estavam quando a história começa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando a praga ataca, e todos começam a morrer, os God's Gardeners já quase não existem. Depois de Zeb se ter afastado de Adam One, em desacordo com a atitude pacifista do líder, o grupo acabou por se dividir e seguir caminhos distintos. </div><div style="text-align: justify;">Toby também acaba por se afastar e, quando tudo começa, está a trabalhar num salão de beleza, que oferece tratamentos estéticos. É lá que fica barricada, convencida que é a única sobrevivente. Os seus dias passam-se a dormir e a vigiar a sua horta para impedir que seja atacada pelos piggons e outras espécies, criadas nos Complexos e, que agora circulam livremente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ren, depois de ter regressado com a mãe para o Complexo de onde tinha fugido, e depois de terminar os estudos, está a trabalhar como bailarina exótica num bar de reputação duvidosa. Quando todos começam a morrer, Ren está fechada numa espécie de sala de pânico de onde não consegue sair, depois de todos lá fora terem morrido. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não quero contar-vos tudo e retirar-vos o prazer da descoberta, por isso, termino dizendo que Jimmy, o Snowman de <i><a href="https://www.bertrand.pt/ebook/oryx-and-crake-margaret-atwood/10832768" target="_blank">Oryx and Crake</a></i>, o guru dos Filhos de Crake, vai perceber que afinal não é o último Homem à face da Terra.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É um livro que se lê bem, embora tenha gostado mais do primeiro.</div><div style="text-align: justify;">Como o terceiro livro, <i><a href="https://www.bertrand.pt/ebook/maddaddam-margaret-atwood/17225140" target="_blank">Maddaddam</a></i>, começa onde este acabou, sem grandes preâmbulos, aconselho-vos a ler os três livros de seguida, como se fossem um só.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gosto dos livros de <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Atwood" target="_blank">Margaret Atwood</a>. São assustadoramente reais e realistas sendo ao mesmo tempo pura ficção. </div><div style="text-align: justify;">A escrita é boa, as personagens bem construídas e as histórias originais e interessantes. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Atwood" target="_blank">Margaret Atwood</a> sem qualquer hesitação. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"New people kept arriving among the Gardeners. Some were genuine converts, but other's didn´t stay long. They'd be there for a while, wearing the same baggy, concealing clothes as everyone else, working at the most menial tasks, and, if they were women, weeping from time to time. Then they´d be gone. They were shadow people, and Adam One was moving them around in the shadows. As he'd moved Toby herself.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>This was guesswork: it hadn´t taken Toby long to realize that the Gardeners did not welcome personal questions. Where you´d come from, what you'd done before - all of that was irrelevant, their manner implied. Only the Now counted. Say about others as you would have them say about you. In other words, notihing. (...)</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Then there was Zeb. Adam Seven. Toby didn´t believe Zeb was a true Gardener, any more than she was. She´d seen a lot of men of that general shape and hairiness during her SecretBurger days, and she´d bet that he had some game going; he had that kind of alertness. Now what was a man like that doing at the Edencliff Rooftop?"</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-62536544901853371102022-12-26T15:53:00.002+00:002022-12-26T15:57:13.731+00:00[Ebook] A Filha das Flores - Vanessa da Mata<div><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj32IHTnky-k8uf8j6MSDxOLQ6bsGZGfF3r2xZyiLr59S60hld9nEyCKXAMkAXEK5_lwDk3Ac9e3LeDUnBkNV0QMQhCcwii1piVkoSkDqIQRQLSqpKT_zhxG26sHpQcYBxQ8U9MtGwghKVhX5RDJq9JijdgsRu3jm_evm6TVeQmKDStakONfTSCcgLxHQ=s4624" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj32IHTnky-k8uf8j6MSDxOLQ6bsGZGfF3r2xZyiLr59S60hld9nEyCKXAMkAXEK5_lwDk3Ac9e3LeDUnBkNV0QMQhCcwii1piVkoSkDqIQRQLSqpKT_zhxG26sHpQcYBxQ8U9MtGwghKVhX5RDJq9JijdgsRu3jm_evm6TVeQmKDStakONfTSCcgLxHQ=w150-h200" width="150" /></a></div>Título: </span></span><span style="font-size: 14px;">A Filha das Flores</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2013</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Vanessa da Mata</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Quetzal Editores</span></div><div><span style="font-size: 14px;"><br /></span></div><div><span><b><div style="text-align: justify;">"Neste romance de estreia, Vanessa da Mata demonstra uma incrível destreza linguística e a capacidade de criar uma história atmosférica e magnética.</div><div style="text-align: justify;">Giza cresce numa pequena cidade brasileira e ajuda, com o seu trabalho, num negócio de flores muito especial gerido por Florinda e Margarida que a tratam como irmã.</div><div style="text-align: justify;">Aos 18 anos, Giza apaixona-se por Tito, mas Florinda apressa-se a pôr um fim à sua paixão.</div><div style="text-align: justify;">À medida que Giza vai crescendo, a vila parece ir diminuindo, o que faz com que ela comece a procurar novos territórios e encontre a "Vila" - um bairro periférico, detestado pela população em geral. Aí faz novos amigos que a iniciam na história secreta daquele lugar que se revela estar ligada à sua própria origem."</div></b></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;">Da <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Vanessa_da_Mata" target="_blank">Vanessa da Mata</a> conhecia apenas a música e tinha alguma curiosidade em ler <i><a href="https://www.bertrand.pt/ebook/a-filha-das-flores-vanessa-da-mata/15328328" target="_blank">A Filha das Flores</a></i>, o primeiro, e acho que até à data o único, livro que escreveu.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A sinopse resume bem a história. Giza é uma menina, pré-adolescente, que cresce numa cidade pequena, e vive com duas irmãs, Florinda e Margarida, a quem trata por Titias, embora não saiba o verdadeiro grau de parentesco que tem com elas. Giza é desajeitada, tem pouca auto-estima, acha-se feia e pouco interessante. Embora não saiba explicar porquê, sente que há qualquer coisa na vida dela e na sua história que não consegue encaixar. Sente-se deslocada, olhada de lado por toda a gente na cidade, como se todos lhes escondessem alguma coisa e sente-se pouco amada pelas duas irmãs com quem vive, algo que se vai tornando cada vez mais evidente, à medida que Giza vai crescendo e começa a despertar a atenção do sexo oposto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As pessoas na pequena cidade, começa a reparar Giza, são invejosas, mentirosas e maldosas, escondendo o que verdadeiramente sentem. Em público são simpáticas e sorridentes, como se tudo estivesse bem, mas revelam-se no que fazem e dizem quando pensam que ninguém as está a ver ou a ouvir.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tudo se precipita na vida de Giza quando, no dia em que faz 18 anos, conhece e se apaixona perdidamente por Tito. E quando vai, pela primeira vez à "Vila", um bairro nos arredores da pequena cidade e que é o oposto da cidade. Na "Vila" as pessoas são francas e alegres, não escondem os seus defeitos e vivem como querem sem qualquer preconceito. São afáveis e acolhedoras.</div><div style="text-align: justify;">A cidade e a "Vila" vivem de costas voltadas uma para a outra. Os habitantes da "Vila" não descem à cidade e os habitantes da cidade não sobem à "Vila", pelo menos, não de forma a que todos saibam. </div><div style="text-align: justify;">Giza, que não sabia da existência da "Vila", não percebe como é possível que, em toda a sua vida nunca ninguém lhe tenha falado daquele local? Sem que consiga perceber porquê sente-se em casa na "Vila", algo que nunca sentiu na cidade onde sempre viveu.</div><div style="text-align: justify;">Giza vai perceber que sempre esteve ligada aquele lugar, que todos os seus desconfortos, todas as suas impressões tinham um fundo de verdade. Giza vai descobrir quem é e de onde veio e, sabendo tudo isso, está preparada para conhecer o mundo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei do início e do meio da história, para o fim achei que ela se perdeu um bocadinho e depois acabou por se encontrar novamente. Acho que se nota que a <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Vanessa_da_Mata" target="_blank">Vanessa da Mata</a> não é uma escritora profissional. Percebe-se em alguns diálogos e em alguns acontecimentos menos interligados, no entanto, acho que acabou por resultar num livro interessante, com passagens muito bonitas e bem escritas e, com uma história diferente, que se lê muito bem. Gostei especialmente das personagens que me pareceram todas muito bem desenvolvidas e com quem conseguimos criar empatia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei e recomendo sem qualquer reserva.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"Havias duas buganvílias entrelaçadas que cruzavam a casa, foram plantadas de modo a agradar as vistas das titias. Cada uma de uma cor, ordenadas desde filhotes a passar de um lado ao outro e acimas das janelas dos quartos, eram de copas cheias e, quando floriam, pintavam a casa inteira de pequeninas formas. Infinitos pontos avermelhados e alaranjados causando nos olhos um furta-cor, como se fossem flores de papel - o começo de uma no final da outra, origamis de seda que se misturavam.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Percebi então, com os rasgos da parte nova da minha maioridade que quebrou, o que eu nunca quis tornar consciente: jamais tive uma grama da atenção delas. Antes achando que era pelo motivo da ignorância da infância, mas depois, crescida, vendo que era porque o que elas podiam me dar era, somente ou o bastante, um comportamento educado. Nada de dar beijo suado, exagerado e abraço demorado. Conversar o desnecessário ou chorar perto delas - isso era coisa de fracos, de impulsivos, mas entre elas havia o insuportável, elas estavam dispostas a essas manifestações humanas dentro de ambientes fechados, cuidadosamente controláveis.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Fui tomada por uma dor no peito que nem na época em que os meus seios irromperam sobre as costelas eu havia sentido, jamais achei que existia algum problema físico sério - a não ser a morte, é claro - que trouxesse uma dor tão insuportável. Pensei que poderia com todas elas, que era maior, e as dominaria se fosse necessário, mas entendi que aquela era a dor mais imponente, impiedosa, severa, indigesta e impossível de lidar para mim. Desnorteou toda a minha base, deixando descomandado o meu pensamento, desmantelado o resto do meu corpo. A dor que eu sentia não dava trégua, era permanente e me tomava da fronte aos pés, me envolvendo em um manto de chumbo de todos os sem-rumo e trazendo à tona os tristes e as tristezas do mundo inteiro. Tudo deitado em mim, como se ser adulto fosse isso: se encontrar, dentro de um feioso caixão, com a perda da infância e com o disparate da sua morte. A decepção é mesmo senhora do demônio, ainda mais quando o demônio está do nosso lado e se revela dissimulado durante tantos anos, dentro de um vestido bordado de bondade e amizade. Era muito tempo me construindo dentro de uma casa onde eu me inventava amada e querida e tudo se desmoronava, eu não me tinha mais. Me mastigava compulsivamente e, mesmo assim, não sentia um ínfimo gosto agradável depois de tidas as unhas arruinadas, restava apenas o fel no fundo do paladar.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Era possível ser de alguém, não sendo?"</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-42976092110307400392022-12-26T11:56:00.001+00:002022-12-26T11:56:24.664+00:00O Prisioneiro do Céu - Carlos Ruiz Zafón<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD5gCbhr9GrrwBZ_tDK9oCtD17de7Ih2nWnmYljLbTT7yccG5XjC7Vb7uy_Mn-3wj95-Ak721uaWNOrV4gVOjfxIr1eFQqPKVvim3cHN_P1RFRR3N9Ks164N4HmpbQrJ1J-4jbZ5ap7xqQl14aIuJ09Vkt33OqMGD63tGrfB11jvlCSA1u3gfFuB0GDw/s3318/o%20prisioneiro%20do%20c%C3%A9u.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3318" data-original-width="2322" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD5gCbhr9GrrwBZ_tDK9oCtD17de7Ih2nWnmYljLbTT7yccG5XjC7Vb7uy_Mn-3wj95-Ak721uaWNOrV4gVOjfxIr1eFQqPKVvim3cHN_P1RFRR3N9Ks164N4HmpbQrJ1J-4jbZ5ap7xqQl14aIuJ09Vkt33OqMGD63tGrfB11jvlCSA1u3gfFuB0GDw/w140-h200/o%20prisioneiro%20do%20c%C3%A9u.jpg" width="140" /></a></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">El Prisionero del Cielo</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2011</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Carlos Ruiz Zafón</span><br style="text-align: left;" /><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic; text-align: left;">Tradução:</span><span style="font-size: 14px; text-align: left;"> Sérgio Coelho</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Editorial Planeta</span></p><b>"Barcelona, 1957, Daniel Sempere e o amigo Fermín, os heróis de A Sombra do Vento, regressam à aventura, para enfrentar o maior desafio das suas vidas.</b><p></p><p style="text-align: justify;"><b>Quando tudo lhes começava a sorrir, uma inquietante personagem visita a livraria Sempere e ameaça revelar um terrível segredo, enterrado há duas décadas na obscura memória da cidade. Ao conhecer a verdade, Daniel vai concluir que o seu destino o arrasta inexoravelmente a confrontar-se com a maior das sombras: a que está a crescer dentro de si.</b></p><p style="text-align: justify;"><b>Transbordante de intriga e de emoção, <i>O Prisioneiro do Céu</i> é um romance magistral, que o vai emocionar como da primeira vez, onde os fios de <i>A Sombra do Vento</i> e de <i>O Jogo do Anjo</i> convergem através do feitiço da literatura e nos conduzem ao enigma que se esconde no coração do Cemitério dos Livros Esquecidos. Este romance de Carlos Ruiz Zafón é um verdadeira promessa de felicidade."</b></p><div style="text-align: justify;">Livro lido nas férias de Verão de há uns dois anos atrás. Os pormenores já se desvaneceram na memória, é certo mas, conservo a mística de Barcelona e as personagens que <a href="https://www.carlosruizzafon.com/novelas.php" target="_blank">Carlos Ruiz Zafón</a> tão bem sabia criar. Misteriosas e assustadoras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-prisioneiro-do-ceu-carlos-ruiz-zafon/13174065?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Prisioneiro do Céu</a></i>, traz-nos Daniel Sempere, à frente da livraria, casado, com um filho e feliz. Os dias passam sem grandes sobressaltos, para além dos que atormentam todos os donos de livrarias. Não serão os negócios mais rentáveis e estáveis do mundo. :)</div><div style="text-align: justify;">Um dia, um estranho homem, entra na vida do casal e, com ele traz a dúvida e o medo. Daniel Sempere descobre dentro dele sentimentos que não sabia serem possíveis. Torna-se um homem inseguro, desconfiado e agressivo. Fica obcecado por este homem que de repente tornou a sua vida num inferno.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E quem será este homem misterioso que parece trazer a desgraça para os Sempere? O que vamos conhecendo desta personagem e a sua história foi o que mais me cativou no livro. As descrições, o mistério, a dualidade - será bom? será mau?, foi o que mais me manteve interessada na leitura.</div><div style="text-align: justify;">Julgo que não é novidade que a personagem do Daniel Sempere, sempre me irritou um bocadinho. Essa impressão não se alterou, agora que é um homem adulto. :)</div><div style="text-align: justify;">Com a ajuda de Fermín, o amigo de sempre, e que parece estar, de alguma forma envolvido na história que o homem misterioso está a querer desenterrar, Daniel vai percorrendo as ruas e ruelas de Barcelona para tentar descobrir o que trouxe aquela personagem para a sua vida.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A história está bem escrita, outra coisa não seria de esperar do <a href="https://www.carlosruizzafon.com/novelas.php" target="_blank">Carlos Ruiz Zafón</a>. Consegue manter uma aura de mistério, quase terror, que nos mantém em suspenso até ao fim. Foi muto bom voltar a estar com Fermín. Acho que é uma das personagens mais bem conseguidas deste universo do Cemitério dos Livros Esquecidos.</div><div style="text-align: justify;">Para quem gosta de <a href="https://www.carlosruizzafon.com/novelas.php" target="_blank">Carlos Ruiz Zafón</a> e deste universo, <i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-prisioneiro-do-ceu-carlos-ruiz-zafon/13174065?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Prisioneiro do Céu</a> </i>é um livro que não podem não ler. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem reservas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág. 95)</span>:</b></p><div style="text-align: justify;"><i>"A cela era um rectângulo escuro e húmido, com um pequeno orifício aberto na rocha, por onde entrava ar frio. As paredes estavam cobertas de mossas e marcas gravadas pelos inquilinos anteriores. Alguns gravavam os seu nomes, datas ou deixavam algum indício de que haviam existido. (...)</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Fermín estava ali há meio hora, quando reparou, no outro extremo da cela, num vulto na sombra. Levantou-se e aproximou-se devagar, acabando por descobrir tratar-se de uma saca de serapilheira suja. O frio e a humidade haviam começado a penetrar-lhe nos ossos e, por mais que o cheiro emanado daquele fardo salpicado de manchas escuras não augurasse agradáveis conjecturas, Fermín pensou que talvez a saca tivesse uma farda de prisioneiro, que ninguém se dera ao trabalho de lhe entregar e, com um pouco de sorte, um cobertor para se aquecer. Ajoelhou-se em frente à saca e desatou o nó que atava uma das extremidades.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Ao abri-la, a iluminação das candeias que cintilavam trémulas no corredor revelou o que, por momentos, julgou tratar-se do rosto de um boneco, de um manequim como os que os alfaiates colocavam nas montras para exporem os fatos. O fedor e a náusea fizeram-no compreender que não se tratava de um boneco. Cobrindo o nariz e a boca com uma das mãos, retirou o resto do tecido e atirou-se para trás, contra a parede da cela.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>O cadáver parecia ser de um adulto de idade indeterminada, entre os quarenta e os setenta e cinco anos, que não deveria pesar mais do que cinquenta quilos. Os cabelos compridos e a barba branca cobriam-lhe uma boa parte do tronco esquelético. As mãos ossudas, de unhas compridas e retorcidas, assemelhavam-se às garras de uma ave. Tinhas os olhos abertos e as córneas pareciam ter-se-lhe enrugado, como frutos maduros. A boca estava entreaberta e a língua, inchada e enegrecida, ficara presa entre os dentes apodrecidos.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>- Tire-lhe a roupa antes que o levem - entoou uma voz de uma cela do outro lado do corredor. - A si, ninguém lhe vai dar outras roupas até ao próximo mês."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-25832909692741806432022-12-18T16:59:00.006+00:002023-01-01T17:05:54.145+00:00[Ebook] Um Detalhe Menor - Adania Shibli <div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMySLehWOUsvISlHgMWRNlGHwkAy7bfJZNrkHYG-5jmbu8FzDNXKksIWh5EcLl1G_xt0LDFtK0f3YG11jE4S0qMEI47cdULjjdNjSHJ1FmHMclKf-9wj3L6psINV85Nh9zLaVDW9wiwO52egII7yCGmx_FO5qHk3Hs3DnFTmaWDDbD_Ynb-Sns2LPi9Q/s800/um%20detalhe%20menor.webp" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="536" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMySLehWOUsvISlHgMWRNlGHwkAy7bfJZNrkHYG-5jmbu8FzDNXKksIWh5EcLl1G_xt0LDFtK0f3YG11jE4S0qMEI47cdULjjdNjSHJ1FmHMclKf-9wj3L6psINV85Nh9zLaVDW9wiwO52egII7yCGmx_FO5qHk3Hs3DnFTmaWDDbD_Ynb-Sns2LPi9Q/w134-h200/um%20detalhe%20menor.webp" width="134" /></a></div><div><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título original: </span></span>تفصيل ثانوي</div><div><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2020</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Adania Shibli</span><br style="text-align: left;" /><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic; text-align: left;">Tradução:</span><span style="font-size: 14px; text-align: left;"> Hugo Maia</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Publicações D, Quixote</span></div><b><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div>"No verão de 1949 - um ano depois da Nakba, a catástrofe que expulsou mais de 700 mil palestinianos das suas terras, e que os israelitas celebram como a Guerra da Independência -, uma unidade de soldados israelitas, ataca um grupo de beduínos no deserto do Negueve, dizimando-o. Entre as vítimas encontra-se uma adolescente que sobrevive ao massacre. É capturada e violada, e depois assassinada e enterrada na areia. É a manhã de 13 de agosto de 1949.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Muitos anos mais tarde, quase na atualidade, uma jovem mulher em Ramallah descobre acidentalmente uma breve menção a esse crime brutal. Obcecada com o assunto, não só devido à natureza macabra do caso, mas também devido ao detalhe menor de ter acontecido precisamente vinte e cinco anos antes de ela nascer, irá embarcar numa viagem para tentar desvendar alguns dos detalhes que envolvem o crime.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Adania Shibli sobrepõe magistralmente estas duas narrativas translúcidas para evocar um presente para sempre assombrado pelo passado. Com uma prosa inquietante e precisa, Um Detalhe Menor evoca a experiência palestiniana do apagamento, da expropriação e da vida sob a ocupação, ao mesmo tempo que revela a complexidade permanente de se juntar as peças de uma narrativa ocultada por fragmentos de linguagem."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O livro está dividido em duas partes. A primeira parte passa-se em 1949, quando uma unidade de soldados israelitas ataca um grupo de beduínos no deserto do <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Neguev" target="_blank">Negueve</a>. Uma adolescente sobrevive e é trazida pelos soldados para o acampamento, onde é violada por praticamente todos os soldados daquela unidade. A rapariga nunca baixa os braços, grita e luta até ao fim. Talvez por isso, porque percebem que ela nunca vai ser submissa e vergar-se às suas vontades, acaba por ser levada de volta para o deserto, onde é abatida e enterrada, sem qualquer demonstração de compaixão por parte dos seus carrascos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O relato destes dois, três dias é de certa forma sufocante e ao mesmo tempo entediante. <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Adania_Shibli" target="_blank">Adania Shibli</a> centra o relato na personagem do comandante da unidade e descreve, julgo que de forma propositada, de forma repetitiva, as rotinas do comandante, desde a higiene às saídas para patrulhar as áreas circundantes. Pelo meio, uma jovem é violada, o cão que nunca a deixou sozinha ladra incessantemente, a rapariga é arrastada para o deserto, é abatida a tiro e o comandante regressa para a sua tenda, lava o rosto, desinfeta a ferida que tem na perna, muda de camisa e segue com os seus deveres. </div><div style="text-align: justify;">Esta forma de nos contar o que se passou tem um efeito entorpecedor, como se o que é relatado não devesse afetar-nos. De certa forma desumaniza o que aconteceu e isso foi algo que me deixou, naturalmente desconfortável, porque eu deveria estar horrorizada mas, na verdade o que eu sentia era alguma indiferença. Aquela espécie de cantilena deixou-me adormecida. Faz sentido?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A segunda parte, passa-se muitos anos depois. Em <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Ramala" target="_blank">Ramallah</a>, no <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_da_Palestina" target="_blank">Estado da Palestina</a>, uma jovem mulher lê uma referência ao que aconteceu a esta rapariga em 1949 e, quando percebe que a rapariga foi morta no dia do seu aniversário, precisamente 25 anos antes de ela nascer, fica obcecada com o assunto. Sem conseguir esquecer a rapariga e com a certeza de que o que leu não é o mais fiel retrato do que se passou, porque foi escrito por um jornalista israelita, decide investigar ela própria o que aconteceu. Para isso tem de entrar em território de Israel. Não tem os documentos necessários para o fazer mas, acaba por ser ajudada por colegas de trabalho. Uma colega entrega-lhe o seu passe pessoal que lhe permite circular pelos territórios ocupados por Israel e um outro colega aluga-lhe o carro para a viagem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nesta segunda parte, mantém-se o mesmo ritmo de escrita, embora a cantilena seja menos evidente. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Impressiona a referência aos dois mapas que ela utiliza para se orientar, um pré-ocupação e o oficial de Israel. No primeiro faz-se referência a localidades, aldeias inteiras, que no segundo mapa pura e simplesmente não existem ou que foram destruídas e substituídas por colonatos. Embora as aldeias já não existam de facto, porque foram forçadas a deixar de existir, o não serem sequer mencionadas, é como se nunca tivessem existido. É como se todas as pessoas que lá nasceram, viveram e morreram, nunca tivessem existido.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Impressiona a paisagem que parece sempre igual, deserta, sem gente. Locais de onde as pessoas foram forçadas a sair mas que não foram reocupados, apenas destruídos e, todo e qualquer vestígio dos anteriores habitantes foi eliminado, literalmente eclipsado do mapa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div>E porquê? É a pergunta que me vai passando pela cabeça. Porquê?</div><div>Não tenho reposta, nem capacidade para procurar a resposta.</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Impressiona o carrossel emocional desta mulher, entre o medo de ser apanhada e a vontade, incompreensível, que tem de conhecer melhor a rapariga e as circunstâncias que levaram à sua morte em 1949.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Impressiona toda esta viagem, e o seu fim é, infelizmente, o único fim que fazia sentido. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há uma pergunta que não me deixa em paz desde que li este livro. Não consigo entender a relação que os Israelitas, povo que já habitava o território que acabou por ser oficialmente reconhecido como <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Israel" target="_blank">Estado de Israel</a>, depois do fim da 2ª Guerra Mundial, têm ou tinham com os Judeus perseguidos pelos Nazis? Tenho dificuldade em aceitar que estão relacionados. Como é que, um povo que passou pelo que passou, que foi dizimado e perseguido, consegue ocupar, de forma ilegal, território que não lhe pertence, e continuar, há décadas, a alimentar um conflito desigual, injusto e desumano. Não consigo perceber...</div><div style="text-align: justify;">Sei que tudo isto não é simples e que as coisas não são pretas ou brancas. Sei, no entanto que, muitas vezes as coisas são tão complexas quanto nós, ou alguém, por nós, quer que sejam. Simples, complexas é tudo uma questão de perspetiva.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei muito. É um livro pequeno que se lê muito rápido e que, julgo que vai ficar na minha cabeça por algum tempo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem hesitações.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto</b>:</div><div style="text-align: justify;"><i>"Não sei se já terei percorrido esta estrada anteriormente, como me pareceu ao início, ou não. A estrada que me era familiar até há uns anos era estreita e repleta de curvas, enquanto está é demasiado larga e reta. Além disso, o muro com cinco metros de altura que emerge de ambos os lados, é sucedido por imensos novos edifícios agrupados em colonatos, que não existiam antigamente ou quase que não se viam, enquanto a maioria das aldeias palestinianas que aqui havia desapareceram. </i></div><div style="text-align: justify;"><i>De cabeça erguida e olhos bem abertos, procuro quaisquer vestígios dessas aldeias e das suas casas que se enxameavam espontaneamente, à semelhança das rochas sobre as colinas, ligadas entre si por estreitos caminhos que vagarosamente serpenteavam. Mas em vão. Já não é possível avistar nenhuma. E quanto mais avanço, menos sei onde estou! Até que vislumbro, à esquerda da estrada, um outro caminho bloqueado, e é aí então que tenho a certeza de que já passei nesta estrada dezenas de vezes, pois este caminho secundário, que agora está barrado por uma pilha de terra e alguns vultos os blocos de betão, conduz até às aldeias de al-Jib. Paro o carro no entroncamento desse caminho, apeio-me e aproximo-me do monte de terra e betão que o bloqueia para me certificar que ele existe mesmo e que é impossível movê-lo, assim como é também impossível atravessá-lo com o meu carro ou com outro qualquer. É belo este caminho, que ziguezagueia ora para a direita, ora para a esquerda, passando por entre as colinas pontilhadas com oliveiras e pequenas aldeias envoltas em silêncio, até Beit Iksa. (...) Examino a zona junto à autoestrada n°1, que parece, de acordo com o que o mapa mostra, povoada principalmente de colonatos. As únicas duas aldeias palestinianas que aparecem são Abu Ghosh e Ein Rafá. Abro o mapa que reproduz a Palestina antes de 1948 e deixo o meu olhar percorrê-lo, movendo-se entre os numerosos nomes de aldeias palestinianas, que foram destruídas depois da expulsão dos seus habitantes nesse ano. Reconheço o nome de algumas, de onde alguns colegas meus e conhecidos são provinientes, como, por exemplo, Lifta, al-Qastal, Ein Kárim, al-Maliha, Jimzu e Deir Tarif. Mas a maioria são nomes que me parecem desconhecidos, a ponto de me causarem um estranho sentimento de melancolia. (...) Olho de novo para o mapa israelita. Um enorme parque, chamado Parque Canadá, cobre agora a área de todas estas aldeias. Fecho o mapa, ligo o motor do carro, e arranco pela autoestrada n°50, desta vez sem encontrar nenhum obstáculo, até que acabo por chegar à longa autoestrada."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-78566638059424658902022-12-17T01:11:00.001+00:002022-12-17T01:11:11.562+00:00Essa Puta Tão Distinta - Juan Marsé<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4bG0KPOhtYLkAOhOMzoDrTBJ9hwKDu2TCWa-HmmkVpxQjmkCT0mkh7aYLkKn1jI6Ae7A4Ar4NoBqiZpq536ZsnB_bG0UYhG97Yd3ChP-jQAFMSK6RsKCk6hXSlpHfNEEfAcPc1gkZU_OmUTKrp2-dKEMsEYqjjTo2Px4g76p6fGu2_pGU619_eppDrw/s758/essa%20puta%20t%C3%A3o%20distinta.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="758" data-original-width="500" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4bG0KPOhtYLkAOhOMzoDrTBJ9hwKDu2TCWa-HmmkVpxQjmkCT0mkh7aYLkKn1jI6Ae7A4Ar4NoBqiZpq536ZsnB_bG0UYhG97Yd3ChP-jQAFMSK6RsKCk6hXSlpHfNEEfAcPc1gkZU_OmUTKrp2-dKEMsEYqjjTo2Px4g76p6fGu2_pGU619_eppDrw/w132-h200/essa%20puta%20t%C3%A3o%20distinta.jpg" width="132" /></a></div><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Esa Puta tan Distinguida</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2015</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Juan Marsé</span><br style="text-align: left;" /><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic; text-align: left;">Tradução:</span><span style="font-size: 14px; text-align: left;"> Maria Manuel Viana</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Publicações D. Quixote</span></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></div><b>"Embora deteste a filmografia do realizador e produtor que contrata os seus serviços, um escritor célebre por retratar nos seus romances a ruína moral dos anos do pós-guerra aceita com relutância a encomenda para escrever um guião cinematográfico sobre um caso real da Barcelona dos anos 40. Trata-se de um crime que teve lugar no cinema Delícias, em cuja sala de projeção foi assassinada uma prostituta, estrangulada com uma tira de película de filme enquanto o público assistia à estreia de Gilda. Durante o processo de pesquisa o escritor irá verificar como, por vezes, na vida real os crimes carecem de sentido e os seus protagonistas nem sempre são heróis ou anti-heróis, algo que, na ficção, nem todos parecem dispostos a tolerar.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Neste magnífico romance, Juan Marsé, transmutado num escritor descrente e incapaz de se levar a sério, reflete sobre as armadilhas da memória e os limites da ficção, enquanto ajusta contas com aqueles que manipulam o nosso passado para gerar produtos de simples entretenimento, que pervertem a memoria histórica e banalizam a dor e a miséria de toda uma geração."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um escritor é contratado para escrever uma espécie de guião tendo como base a história real de um assassinato que ocorreu na cabine de projeção do <a href="http://barcelofilia.blogspot.com/2016/04/cine-delicias-travessera-de-gracia-224.html" target="_blank">cinema Delícias</a>, nos anos 40.</div><div style="text-align: justify;">Uma prostituta, Carol, foi assassinada pelo projeccionista, Sicart, enquanto na tela passa <i><a href="https://www.imdb.com/title/tt0038559/" target="_blank">Gilda</a></i>, com a sensual <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Rita_Hayworth" target="_blank">Rita Hayworth</a>, um filme polémico devido a algumas cenas mais quentes, pelo menos para a época. </div><div style="text-align: justify;">Sicart, confessou o crime e cumpriu a pena que lhe foi imposta, mas nunca conseguiu explicar porque é que o fez. Não se lembra do motivo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para tentar perceber melhor o que se passou, conhecer as pessoas envolvidas para além do que consta na documentação de investigação, da impressa da altura e do processo judicial, decide contratar o próprio Sicart. </div><div style="text-align: justify;">Sicart já saiu da prisão e vive agora como um homem livre, e aceita contar a sua história, ou, pelo menos aquilo de que se lembra.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E é pelas memórias de Sicart que visitamos e conhecemos a Barcelona dos anos 40, a Encarnita, a Puta cega e amiga de Carol Bruil, Ramon Mirt o franquista que as explora e, o próprio Sicart, um jovem de vinte e poucos anos que trabalha na cabine de projeção do Delícias e que gostava de ter companhia na cabine enquanto os filmes eram projetados na sala. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Paralelamente o escritor vai percebendo que a história que Sicart conta tem interesse apenas para si, porque o produtor e o novo realizador, não estão interessados em histórias mais ou menos profundas sobre política, sobre relações e até sobre o próprio crime e as possíveis motivações de Sicart. Ficam antes fascinados com o facto de Encarnita ser uma puta cega. :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei muito. A escrita de <a href="https://es.wikipedia.org/wiki/Juan_Mars%C3%A9" target="_blank">Juan Marsé</a> é natural e bem-disposta, o que torna a leitura muito fluida. Gosto das personagens e da ironia subjacente em todo o livro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem quaisquer reservas. <a href="https://es.wikipedia.org/wiki/Juan_Mars%C3%A9" target="_blank">Juan Marsé</a> é para continuar a conhecer.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág. 112)</span>:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>" - Foi informadora da polícia, não se esqueça.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Ó homem, será que não percebe?! Foi tudo uma invenção daqueles malparidos da Brigada Social! - Acalmou-se, logo a seguir. - Bom, e se alguma vez fez uma coisa desse tipo, foi obrigada por aquele cabrão. Equivocada ou não, tudo o que a Carol fez, primeiro pelo marido, depois pelo filhinho doente e por ela mesma, foi sempre com a melhor das intenções...</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Eu percebo. Mas diga-me uma coisa. Parece-lhe lógico que depois do que ocorreu mantivesse uma relação com o Mir, um tipo repugnante?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Não sei que dizer. Nunca me atrevi a perguntar-lho.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Acha que pode tê-lo feito como... uma forma de expiação?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Sicart abanou a cabeça, confuso.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - O que é que quer dizer? Ouça, eram tempos muito difíceis e era preciso aguentar de qualquer maneira. Se fosse preciso vender a alma para sair da miséria, vendia-se. Se a Carol acabou por ter uma ligação com aquele filho da puta, fê-lo para sair da miséria. E pelo filho. Tenho a certeza. Foi sempre o que pensei.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Eu tinha muitas dúvidas, mas não lhe disse nada, porque percebi que a suspeita também o angustiava. Com toda a certeza, no coração daquela mulher só podia haver restos amargos de sexo e remorso. Quanto a falangista Mir, estaria a viver com ela uma panóplia de amores furtivos e luzeiros apagados..."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-21339927310847709922022-11-19T19:11:00.001+00:002022-11-19T19:11:46.389+00:00Índice Médio de Felicidade - David Machado <div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwC6MX_KaqTpdSiKiZFl1CNQp_tAC72IESSyrg-RW9tVLaASKJ8TMm7M_S35M2pMvj0QtU2DoS5N3SkFIEzSNJhMZyya53akrByDy6AR9gGIFIT3_Y-70_VX0GJUg2mRkeAW_6uDP2zaIrDxHkIBg5opunbQz33r503zJRpwsM8Wq9j5VstYIBSPqO9Q/s2547/%C3%ADndice%20m%C3%A9dio%20de%20felicidade.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2547" data-original-width="1689" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwC6MX_KaqTpdSiKiZFl1CNQp_tAC72IESSyrg-RW9tVLaASKJ8TMm7M_S35M2pMvj0QtU2DoS5N3SkFIEzSNJhMZyya53akrByDy6AR9gGIFIT3_Y-70_VX0GJUg2mRkeAW_6uDP2zaIrDxHkIBg5opunbQz33r503zJRpwsM8Wq9j5VstYIBSPqO9Q/w133-h200/%C3%ADndice%20m%C3%A9dio%20de%20felicidade.jpg" width="133" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Índice Médio de Felicidade</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2013</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> David Machado</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> "Colecção BIIS" da Leya</span></div><br /><b>"Daniel tinha um plano, uma espécie de diário do futuro, escrito num caderno. Às vezes voltava atrás para corrigir pequenas coisas mas, ainda assim, a vida parecia fácil - e a felicidade também.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>De repente, porém, tudo se complicou: Portugal entrou em colapso e Daniel perdeu o emprego, deixando de poder pagar a prestação da casa; a mulher, também desempregada, foi-se embora com os filhos à procura de melhores oportunidades; os seus dois melhores amigos encontram-se ausentes: um, Xavier, está trancado em casa há doze anos, obcecado com estatísticas e profundamente deprimido com o facto de o site que criaram para as pessoas se entreajudarem se ter revelado um completo fracasso; o outro, Almodôvar, foi preso numa tentativa desesperada de remendar a vida. Quando pensa nos seus filhos e no filho de Almodôvar, Daniel procura perceber que tipo de esperança resta às gerações que se lhe seguem.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>E não quer desistir. Apesar dos escombros em que se transformou a sua vida, a sua vontade de refazer tudo parece inabalável. Porque, sem futuro, o presente não faz sentido.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Índice Médio de Felicidade é um romance admirável e extremamente actual sobre um optimista que luta até ao fim pela sua vida e pela felicidade daqueles que ama. Dramático e realista, mas com momentos hilariantes, confirma o talento de David Machado como um dos melhores ficcionistas da sua geração."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Daniel é um a agente turístico e é muito bom naquilo que faz. É um homem feliz, ama a mulher e os filhos, ama o trabalho e tem um caderno onde escreveu uma espécie de Plano de vida. Nada de megalómano, apenas pequenas coisas que o ajudam a manter o foco naquilo que ele acha importante.</div><div style="text-align: justify;">No Plano não existia nada sobre ficar desempregado aos 37 anos, no meio de uma das maiores crises que Portugal já atravessou e, onde arranjar um novo emprego na mesma área parece tarefa impossível.</div><div style="text-align: justify;">Em dificuldades, a mulher e os filhos saem de Lisboa, e vão viver para perto dos sogros, onde não pagam casa e ela consegue trabalhar. Ele fica, não está pronto pata desistir do Plano que tinha traçado para todos. Acha que vai conseguir um emprego novamente e, quando isso acontecer voltam a estar todos juntos, e felizes como antes. É o que pensa e é o que lhes diz quando se despede deles. Daniel acha que se partir com eles está a desistir, que nunca mais voltarão a estar juntos na casa de todos e que ele nunca mais trabalhará na área que gosta e na qual sente que é mesmo bom. É só um contratempo, pensa, tudo vai acabar por correr bem.</div><div style="text-align: justify;">Tem de se manter focado no Plano, mesmo que já tenha entregue a casa ao banco, viva atualmente no seu carro e não haja qualquer perspetiva de conseguir um emprego nos próximos tempos. Mesmo assim continua otimista. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao mesmo tempo um dos seus melhores amigos, Almodôvar está preso por ter assaltado um estação de serviço e, desde que foi preso que se recusa a falar com toda a gente. Não recebe visitas, não atende as chamadas. Almodôvar deixou a mulher e o filho adolescente completamente desamparados e Daniel acaba por ser arrastado para a vida do miúdo, que começa a envolver-se com as pessoas erradas. Este é, para Daniel mais um motivo para não poder sair de Lisboa e juntar-se à família. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O outro amigo dos tempos de escola, Xavier, não sai de casa há anos e, com a prisão de Almodôvar que era quem acompanhava Xavier e apaziguava as suas tendências suicidas, Daniel sente-se, agora ainda mais responsável por Xavier. Xavier, o amigo que Daniel nunca compreendeu e que de certa forma nunca conheceu realmente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com todas estas responsabilidades e enredado numa teia de acontecimentos bizarros, alguns cómicos, Daniel acaba por ir ajudando todos à sua volta. Muitas vezes parece que o faz contrariado, apenas por sentir que é a sua obrigação. Como se o mundo fosse desabar se ele parasse dois segundos para pensar em si, na sua vida e nas suas necessidades. Sente que é indispensável na vida de todas aquelas pessoas que o rodeiam e que não pode abandoná-los e aos seus problemas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De peripécia em peripécia, Daniel vai descobrindo o seu número que representa o seu grau de satisfação com a sua vida e que é refletido no índice médio de felicidade. Este número começa estranhamento alto, tendo em conta a confusão em que estava a sua vida, e vai descendo para níveis mais baixos, mas de certa forma mais realistas. O que nos parece é que, um nível mais baixo, no caso de Daniel, não é necessariamente pior, só o torna mais sintonizado com a sua realidade e melhor preparado para mudar a sua vida e subir na Índice Médio de Felicidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Daniel faz parte daquele grupo de pessoas que são otimistas inveterados. O mundo pode estar a desabar mas ele consegue sempre ver o copo meio cheio. Mas, será que é mesmo assim? Na verdade depois de conhecer Daniel, acho que ele é mais teimoso do que otimista. Acho até que o que ele tem é medo de não saber o que o espera, de não conseguir colocar no seu caderno quais os passos que se seguem. Refazer todos os seus planos de vida é assustador e é por isso que acho que ele resiste tanto em desistir do que estava escrito no seu caderno e começar do zero, junto da mulher e dos filhos. Uma nova carreira, uma nova cidade, um futuro cheio de possibilidades e de imprevistos. Acho que Daniel não é um otimista. Acho que ele é humano e está cheio de medo do desconhecido. Escuda-se nos outros para não ter de pensar na merda em que a sua vida se tornou. Habituado a ser o pilar, o homem que tinha sempre a solução, sente-se perdido por precisar de ajuda, por não estar a conseguir olhar para o Plano no caderno e delinear um caminho alternativo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=417" target="_blank">David Machado</a> tem uma escrita que é muito empática. É clara, concisa, divertida e muito oral. Gosto muito dos livros que li, até agora dele. São livros que podem ser lidos por quase todos. São histórias para adultos e adolescentes sem que ninguém sinta que está deslocado e, há sempre uma lição subjacente, uma oportunidade para pensarmos no mundo que nos rodeia. No entanto, não é de todo um livro com lições de moral ou condescendente do tipo, já que aqui está, vamos lá ensinar-te alguma coisa. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/indice-medio-de-felicidade-david-machado/15091963?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Índice Médio de Felicidade</a></i> não é a exceção que confirma a regra. Tem alguma passagens um pouco inverosímeis, mas que não me fizeram perder o gosto pela leitura. É divertido, está bem escrito e gostei muito da história, das personagens, do Daniel claro, mas de todas as outras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo <a href="https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=417" target="_blank">David Machado</a> quase de olhos fechados. Sou capaz de recomendar um livro mesmo sem o ter lido, acho que não é possível odiá-lo porque da escrita e das histórias dele emanam muito boas vibrações e a boa disposição é uma garantia. :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág.23)</span>:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"Quero responder ao questionário.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Força, desafiou o Xavier. E acendeu outro cigarro.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Como é que é a pergunta?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Numa escala de 0 a 10, quão satisfeito se sente com a vida no seu todo? Depois acrescentou: Não sejas precipitado a responder, Daniel.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Eu tentei pensar em tudo: a Marta e os miúdos, o meu desemprego, o dinheiro que se acabava, o meu Plano, a minha imagem refletida no espelho nessa manhã. Por fim, disse: 8.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>O Xavier olhou para mim surpreendido. Perguntou:</i></div><div style="text-align: justify;"><i>O que é isso?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>A minha resposta. 8.0.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Eu disse para não te precipitares.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Não me precipitei.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Estiveste calado três minutos e depois disparaste um número que, supostamente, representa o teu grau de satisfação com a vida.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>É o meu número.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E, em três minutos, passaste em revista toda a tua existência, contabilizaste tudo, ponderaste todas as variáveis?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Sim. Acho que sim. Quanto tempo é que tu demoraste?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Foda-se, Daniel, eu estou nisto há duas semanas e mesmo assim ainda sinto que não estou a pensar em tudo.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Duas semanas, Xavier? Isto não é um problema de matemática.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Na verdade, até é. Mas, antes disso, é a tua vida. Não podes resolvê-la em três minutos. Repito: a maior parte das pessoas não percebe nada de felicidade.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>A tua resposta é 4,4 e eu é que não percebo nada de felicidade.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Estás a interpretar-me mal. Eu não disse que não sentias felicidade. Sentes, apenas não a percebes.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E tu percebes?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Eu percebo a minha felicidade. É uma equação como outra qualquer que tive de preencher com variáveis e constantes e ponderadores e depois ligar tudo com os sinais certos.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Variáveis? Quais variáveis?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Amigos. Amor. Tempo. Sonhos. Sede. Dores de barriga. Esperança. Inveja. O sabor da comida. Esse género de merdas.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Eu ri-me.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Não podes quantificar isso, disse-lhe.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Se podes quantificar a felicidade, podes muito bem quantificar as saudades que tens de teres oito anos ou o medo de beijares alguém. Claro que algumas dessa variáveis só poderão ser encontradas resolvendo outras equações primeiro. É um sistema, na verdade. É complicado. Mas a vida é complicada, Daniel.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>A sério, Almodôvar, a lata daquele cabrão."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-80514902144651367762022-09-06T17:24:00.003+01:002022-09-06T17:24:58.797+01:00A Morte de Jesus - J. M. Coetzee<div><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnM0m_PwCsDm3QdFSprEcAe1bBqQcyfKZKRK-zi2udIw3QefiWuyb-sPVo19ewop1LoBPZUJPRn_GMjhZxllg-zwa8cfypsIKJ4epmBra6I2nkNQOyK9JujA01L2bwFlCJ0WQA4WfcDJB4Ndm3pUBe8B-JD_jfVUmxEOrJyhf8fDblRtlc7ZgQ9-v_Kw/s2160/A%20morte%20de%20jesus.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2160" data-original-width="1368" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnM0m_PwCsDm3QdFSprEcAe1bBqQcyfKZKRK-zi2udIw3QefiWuyb-sPVo19ewop1LoBPZUJPRn_GMjhZxllg-zwa8cfypsIKJ4epmBra6I2nkNQOyK9JujA01L2bwFlCJ0WQA4WfcDJB4Ndm3pUBe8B-JD_jfVUmxEOrJyhf8fDblRtlc7ZgQ9-v_Kw/w127-h200/A%20morte%20de%20jesus.jpg" width="127" /></a></div>Título original: </span></span><span style="font-size: 14px;">The Death of Jesus</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2019</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> J. M. Coetzee</span><br /><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic;">Tradução:</span><span style="font-size: 14px;"> J. Teixeira de Aguilar</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Publicações D. Quixote</span></div><div><span style="font-size: 14px;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><b>"Em Estrella, David cresceu, tornando-se um rapaz de dez anos com um talento inato para o futebol e que adora jogar à bola com os amigos. O seu pai, Simón, e Bolívar, o cão, assistem habitualmente aos jogos, enquanto a mãe, Inés, trabalha numa boutique. David continua a fazer muitas perguntas, desafiando os pais e qualquer figura de autoridade que surja na sua vida. Nas aulas de dança da Academia de Música, David dança a seu bel-prazer. Recusando-se a fazer somas e não lê livros algum a não ser o Dom Quixote. </b></div><div style="text-align: justify;"><b>Um dia, Julio Fabricante, o diretor de um orfanato, convida David e os amigos para formarem uma equipa de futebol a sério. David decide deixar Simón e Inés para ir viver com Julio no orfanato, mas passado pouco tempo sucumbe a uma misteriosa doença.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Depois de <i>A Infância de Jesus</i> e <i>Jesus na Escola</i>, J. M. Coetzee completa a sua inquietante trilogia com uma nova obra-prima, <i>A Morte de Jesus</i>, onde continua a explorar o significado de um mundo destituído de memória mas transbordante de perguntas."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E chegamos ao último livro desta trilogia. Em <i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-morte-de-jesus-j-m-coetzee/24737745?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Morte de Jesus</a></i>, após todo o drama vivido em <i><a href="https://www.wook.pt/livro/jesus-na-escola-j-m-coetzee/19319246?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Jesus na Escola</a></i>, vamos reencontrar David, agora com dez anos, basicamente igual a si próprio. Cheio de perguntas, obsessões e com muita dificuldade em perceber quem é, porque está ali e de onde veio.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Parece, no entanto mais bem integrado. Joga à bola com os amigos e todos parecem ter por ele uma admiração muito grande. David é um líder nato, chega a parecer-nos uma espécie de Messias infantil, que todos adoram e seguem sem grandes questões ou reservas. Simón parece ser o único que o vê apenas como uma criança de dez anos, inteligente, é verdade, mas apenas uma criança.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">É nos jogos com os amigos que conhece Julio Fabricante, o dono de um orfanato, que o convida a fazer parte da equipa de futebol do orfanato. Já sabemos que David tem uma tendência para gravitar junto de personagens meios estranhas e de cuja bondade muitas vezes duvidamos e, neste caso, não é muito diferente. De um dia para outro, e porque parece nunca estar bem junto de Simón e Inés, decide ir viver para o orfanato para junto de Julio Fabricante. Simón e Inés não o conseguem contrariar e permitem que ele fique no orfanato.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um dia David adoece e ninguém consegue perceber que doença o afeta. Fica internado enquanto os médicos tentam perceber o que se passa com ele e, à medida que o tempo passa, David vai definhando e tem muitas conversas com Simón sobre a morte, sobre vidas passadas e vidas futuras.</div><div style="text-align: justify;">Simón e Inés ficam desesperados com a situação de David, frustrados por não conseguirem fazer nada por ele, incapazes de proteger David dos males do mundo e das pessoas que gravitam junto dele e que, embora digam que querem o bem dele, temos dificuldade em perceber quais as suas reais intenções. Põem em causa a parentalidade de Simón e Inés, que na verdade não são os pais de David, por forma a isolá-lo cada vez mais da "normalidade" que só Simón e Inés lhe podem dar. Os únicos que o amam sem esperar nada em troca.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-morte-de-jesus-j-m-coetzee/24737745?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Morte de Jesus</a></i> é um livro mais triste que os outros dois, com uma maior profundidade emocional nos diálogos. É o livro mais pequeno, dos três, tem poucas páginas e lê-se muito rápido.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Podemos ler <i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-infancia-de-jesus-j-m-coetzee/15222288?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Infância de Jesus</a></i> e não lermos <i><a href="https://www.wook.pt/livro/jesus-na-escola-j-m-coetzee/19319246?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Jesus na Escola</a></i> e <i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-morte-de-jesus-j-m-coetzee/24737745?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Morte de Jesus</a></i>, o livro vale por si e não necessita propriamente de continuação para fazer sentido. No entanto, acho que a leitura dos outros dois é importante para efetivamente conhecermos David e os seus pais adotivos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei bastante desta trilogia. São livros muito curiosos, peculiares e que nos deixam a pensar. Há uma permanente estranheza em todos eles que me agrada muito. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei muito e recomendo!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras! :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág.115)</span>:</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>"- O Juan Sebastián disse-me que o David tem estado doente, de modo que vim ver com os meus próprios olhos - diz Alma. - Trouxe fruta da quinta, Há tanto tempo que não te via, David! Temos saudades tuas. Tens de nos fazer uma visita assim que estiveres melhor.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Vou morrer, de modo que não posso ir visitar-vos.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Não me parece que devas morrer, meu rapaz. Será um desgosto para demasiadas pessoas. Será um desgosto para mim, e para Simón, tenho a certeza, e para a tua mãe, e para Juan Sebastián, e isso será apenas o princípio. Além disso, não te lembras da mensagem de que me falaste, da mensagem importante? Se morreres, não poderás transmiti-la, e nenhum de nós saberá alguma vez o que era a mensagem. Portanto acho que deves dedicar toda a tua energia a restabeleceres-te.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - O Simón diz que eu sou o número cem, e o número cem tem de morrer.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Ele, Simón, intervém.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Eu estava a falar de estatísticas, David. Estava a falar de percentagens. As percentagens não são a vida real. Tu não vais morrer, mas mesmo que fosses morrer não seria por seres o número cem ou o número noventa e nove ou qualquer outro número.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>David ignora-o.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - O Simón diz que na próxima vida eu posso ser outra pessoa, que não tenho de ser este rapaz e não tenho de ter uma mensagem.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Não gostaste de ser este rapaz?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Não.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Se não gostaste de ser este rapaz, quem preferias ser, David, na próxima vida?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Preferia ser normal.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Que desperdício seria! - Ela poisa-lhe a mão na cabeça. Ele fecha os olhos; o seu rosto assume uma expressão de intensa concentração. - Quem me dera que na próxima vida tu e eu nos pudéssemos encontrar de novo e continuar estas nossas conversas! Mas, como tu dizes, na próxima vida seremos provavelmente outras pessoas. Que pena! Bem, está na altura de me despedir. Tenho de apanhar o autocarro. Adeus, jovem. Não vou certamente esquecer-te, nesta vida."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-64300815910169413602022-09-05T01:15:00.002+01:002023-01-01T17:17:38.539+00:00Jesus na Escola - J. M. Coetzee<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEieqlOEaKzdhOseY0wCxYySiKsrGQ7MC2zmYM9JV0v0Y_bGrMcQzGoAqXqZxLdmhQh72j1vsJVOLSE8jbXr3JX-Z76z6PvOvpjy9HTV7YMnMRzK1hFZGOrjzmyr2SoznewwaJz4g69IipL9OT3LNwIfk4LRb5HWJ5RgSsTF2-B0izbY8As3kju5yIIK8A=s3468" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3468" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEieqlOEaKzdhOseY0wCxYySiKsrGQ7MC2zmYM9JV0v0Y_bGrMcQzGoAqXqZxLdmhQh72j1vsJVOLSE8jbXr3JX-Z76z6PvOvpjy9HTV7YMnMRzK1hFZGOrjzmyr2SoznewwaJz4g69IipL9OT3LNwIfk4LRb5HWJ5RgSsTF2-B0izbY8As3kju5yIIK8A=w200-h200" width="200" /></a></div><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título original: </span></span><span style="font-size: 14px;">The Schooldays of Jesus</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2016</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> J. M. Coetzee</span><br /><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic;">Tradução:</span><span style="font-size: 14px;"> J. Teixeira de Aguilar</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Publicações D. Quixote</span><div><br /><div style="text-align: justify;"><b>"David é um rapazinho que está sempre a fazer perguntas. Simón e Inés ficam encarregados dele na nova cidade em que vão habitar, Estrella. O rapaz está a aprender a língua e começou a fazer amizades. Tem o seu grande cão Bolívar para olhar por ele. Mas vai fazer sete anos e tem se ir para a escola. Assim, tendo em conta as indicações das três irmãs proprietárias da quinta onde Simón e Inés trabalham, David é matriculado a Academia de Dança. É aí, com as suas novas sapatilhas de dança douradas, que aprende a chamar os números do céu. Mas é também aí que vai fazer descobertas perturbantes sobre aquilo de que os adultos são capazes. Nesta hipnotizante história alegórica, Coetzee lida habilmente com as grandes questões do crescimento e do que significa ser "pai", com a batalha constante entre o intelecto e a emoção, e com a maneira como optamos por viver as nossas vidas.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Jesus na Escola</i> é a inquietante sequela de <i>A Infância de Jesus</i>, dando continuidade à jornada de David, Simón e Inés."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O primeiro volume - <i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-infancia-de-jesus-j-m-coetzee/15222288?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Infância de Jesus</a></i> (opinião <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2021/11/a-infancia-de-jesus-j-m-coetzee.html" target="_blank">aqui</a>) - acabou com Simón e Inés, a saírem da cidade com David para que o menino não fosse obrigado a ir para a escola oficial e convencional que ensina os números, a fazer contas, ensina as letras e a ler. David diz que já sabe ler porque aprendeu com o livro de Dom Quixote de La Mancha, o livro que traz sempre consigo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na nova cidade, Estrella, é cada vez mais evidente que David necessita de algum tipo de educação para além da que Simón e Inés conseguem dar. A criança está a tornar-se cada vez mais desobediente e cada vez é mais difícil para os dois responder a todas as perguntas do miúdo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Depois de muito ponderarem acabam por inscrevê-lo na Academia de Dança. Embora o currículo não seja convencional, não aprendem a ler nem a contar de forma convencional, a verdade é que David não é uma criança convencional. </div><div style="text-align: justify;">Simón não é grande fã da Academia, convive mal com coisas que não sejam concretas e palpáveis e tenta contrariar David, sempre que pode, para que a criança tenha uma visão mais normal do que o rodeia. Inés vive angustiada com a ideia de que David não goste dela e não a reconheça como sua mãe. Não tem, dentro dela, a capacidade de fazer melhor e isso frustra-a.</div><div style="text-align: justify;">Embora tenham ambos muita dificuldade em perceber o que se ensina na Academia e se aquilo é positivo ou não para o futuro de David, para Simón e Inés, o importante é que David se sinta feliz.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">David, por seu lado, parece encontrar na Academia coisas que o mantêm interessado, embora nem sempre o que interessa David seja necessariamente positivo. Desenvolve uma paixão pela dona da Academia e professora de dança, Ana Magadlena e vive fascinado por Dimitri, o contínuo da Academia, uma personagem sinistra que parece ter hipnotizado David.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste segundo volume, David aparece-nos ainda mais estranho que no volume anterior. É claramente uma criança muito inteligente mas, ao mesmo tempo é altamente desajustada, a roçar a sociopatia. É mimado, obcecado, pouco empático e narcisista, tudo isto embrulhado na candura natural de uma criança de sete anos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/jesus-na-escola-j-m-coetzee/19319246?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Jesus na Escola</a></i> é um livro por vezes perturbador, onde <a href="https://en.m.wikipedia.org/wiki/J._M._Coetzee" target="_blank">Coetzee</a> aprofunda, de uma forma alegórica, os meandros obscuros do crescimento e as dificuldades que se encontram na educação das crianças.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gostei bastante, como seria de esperar de um livro de <a href="https://en.m.wikipedia.org/wiki/J._M._Coetzee" target="_blank">J. M. Coetzee</a> e recomendo a leitura da trilogia. Não se fiquem apenas pelo primeiro volume, <i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-infancia-de-jesus-j-m-coetzee/15222288?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Infância de Jesus</a></i>, que podendo ser lido por si só, ganha se completarmos a história de David com os segundo e terceiro volumes - <i><a href="https://www.wook.pt/livro/jesus-na-escola-j-m-coetzee/19319246?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Jesus na Escola</a></i> e <i><a href="https://www.wook.pt/livro/a-morte-de-jesus-j-m-coetzee/24737745?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">A Morte de Jesus</a></i>. Estes dois últimos só fazem sentido se tivermos lido o primeiro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág. 43)</span>:</b></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>"- Deviam inventar uma máquina para colher azeitonas. Nessa altura tu e a Inés não teriam de trabalhar.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Isso é verdade. Mas se inventassem uma máquina para colher azeitonas, os apanhadores de azeitonas como nós não teriam trabalho e por conseguinte não teriam dinheiro. É uma velha discussão. Há pessoas que estão do lado das máquinas e outras que estão do lado dos apanhadores manuais.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Eu não gosto do trabalho. O trabalho é aborrecido.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Nesse caso, tens sorte em ter pais que não se importam de trabalhar. Porque sem nós morrerias à fome, e não havias de gostar disso.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Eu não vou morrer à fome. A Roberta há-de dar-me comida.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Sim, sem dúvida... Como tem bom coração, há-de dar-te comida, Mas queres mesmo viver assim, da caridade dos outros?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - O que é a caridade?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - A caridade é a bondade dos outros, a generosidade dos outros.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>O rapaz olha para ele de uma maneira estranha.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Não se pode depender eternamente da bondade dos outros - prossegue ele. - Tem de se dar e receber, senão não há igualdade, nem justiça. Que género de pessoa queres tu ser: o género que dá ou o género que recebe? Qual é o melhor?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - O género que recebe.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Palavra? Acreditas mesmo nisso? Não será melhor dar do que receber?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Os leões não dão. Os tigres não dão.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - E tu queres ser um tigre?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Eu não quer ser um tigre. Estou só a dizer-te. Os tigres não são maus.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - E também não são bons. Não são humanos, de maneira que estão fora da bondade e da maldade.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Bem, eu também não quero ser humano.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Eu também não quero ser humano.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Relata a conversa a Inés.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Incomoda-me quando ele fala assim - diz ele. - Teremos cometido um grande erro ao tirá-lo da escola, ao educá-lo fora da sociedade, ao deixá-lo correr por aí à solta com outras crianças?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Ele gosta de animais - volve Inés. - Não quer ser como nós, que ficamos para aqui a apoquentar-nos com o futuro. Quer ser livre.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Não me parece que seja isso que ele quer dizer quando diz que não quer ser humano - retruca ele. Mas Inés não está interessada."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-75336192427910294662022-09-04T23:41:00.003+01:002023-01-01T17:21:28.359+00:00[Ebook] A Minha Avó Pede Desculpa - Fredrik Backman<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrx3eU_1WICyPiyOyoRWy1vWIUNJN2cUmgrU8gF4liB6NjiVQ3rkLK5nJ2CYSETahGOnfIoEnrs66Xqc_82Tv4fz5rtHmlqHrvfXRANlT6P9zf0LRuxQWgYLDDz6Z76Ru_fCX35jHlf2yxv2UH-YWuYVWxZytKdAR6QlMZSa8pHTX4SjUwpjBmH4DjYA/s2526/a%20minha%20av%C3%B3%20pede%20desculpa.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2526" data-original-width="2189" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrx3eU_1WICyPiyOyoRWy1vWIUNJN2cUmgrU8gF4liB6NjiVQ3rkLK5nJ2CYSETahGOnfIoEnrs66Xqc_82Tv4fz5rtHmlqHrvfXRANlT6P9zf0LRuxQWgYLDDz6Z76Ru_fCX35jHlf2yxv2UH-YWuYVWxZytKdAR6QlMZSa8pHTX4SjUwpjBmH4DjYA/w173-h200/a%20minha%20av%C3%B3%20pede%20desculpa.jpg" width="173" /></a></div><div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Min Mormor Hälsar Och Säger Förlat</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2013</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Fredrik Backman</span><br style="text-align: left;" /><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic; text-align: left;">Tradução:</span><span style="font-size: 14px; text-align: left;"> Elsa T. S. Vieira</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Porto Editora</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>"Elsa tem sete anos de idade, quase oito, e é diferente. Para já, tem como melhor - e única - amiga a avó de setenta e sete anos de idade, que é doida: não levemente taralhoca, mas doida varrida a sério, capaz de se pôr à varanda a tentar atingir pessoas que querem falar sobre Jesus com uma arma de paintball, ou assaltar um jardim zoológico porque a neta está triste. Todas as noites, Elsa refugia-se nas histórias da Avozinha, cujo cenário é o reino de Miamas, na Terra-de-Quase-Acordar, um reino mágico onde o normal é ser diferente.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Quando a Avozinha morre de repente e deixa uma série de cartas a pedir desculpa às pessoas que prejudicou, tem início a maior aventura de Elsa. As cartas levam-na a descobrir o que se esconde por detrás das vidas de cada um dos estranhíssimos moradores de um prédio muito especial, mas também à verdade sobre contos de fadas, reinos encantados e a forma como as escolhas do passado de uma mulher ímpar criam raízes no futuro dos que a conheceram.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b><i>A minha avó pede desculpa</i> é uma belíssima história, contada com o mesmo sentido de humor e a mesma emoção que o romance de estreia de Fredrik Backman, o bestseller internacional <i>Um homem chamado Ove</i>."</b></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta é a história de Elsa, uma menina de quase oito anos, que tem na avó, Avozinha, a sua única amiga. É uma criança diferente dos meninos da sua idade. Gosta das palavras e de ler, é muito inteligente e tem uma imaginação muito fértil. Não deixa, no entanto, de ser uma menina com sete anos, quase oito, que se sente desenquadrada do mundo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A Avozinha, por seu lado, é... meio louca. É desbocada e destemida, e não gosta lá muito de cumprir regras. Anda com a neta para todo o lado, envolve-a nas suas aventuras e partilha com a criança um mundo inventado, o reino de Miamas, cheio de personagens estranhas, que parecem ter passado, não se sabe bem como, para o mundo real. Vamos percebendo ao longo da história que a avó só quer a neta seja feliz e que perceba que ser diferente não é ser pior é só sermos quem somos sem vergonha.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Demorei algum tempo a sentir-me envolvida, talvez porque as descrições do Reino de Miama e dos outros reinos e costumes me distraiam e, honestamente, achei a Avozinha um bocado irritante. A verdade é que o livro estará, provavelmente, direcionado para leitores mais jovens. :)</div><div style="text-align: justify;">No entanto, dei por mim, ao fim algum tempo a sentir-me mais próxima de todas aquelas pessoas e a achar normal toda aquela esquisitice.</div><div style="text-align: justify;">Há qualquer coisa na forma como <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Fredrik_Backman#Bibliography" target="_blank">Fredrik Backman</a> escreve que torna os livros dele muito... aconchegantes. Será a palavra certa? Toca-nos no coração sem que haja lamechice. Não sei se tem a ver com o humor ou com o facto de as personagens serem todas muito fora da caixa. Não sei, só sei que é o que acontece. São personagens que ficam connosco para além da última página e ficam não porque são marcantes, ou porque fazem parte de uma história extraordinária que não conseguimos esquecer. Ficam porque são personagens que gostaríamos que existissem de facto e que fossem todos nossos vizinhos. Porque são pessoas boas, divertidas e que fazem falta ao mundo! Acho que é por isso, queríamos tê-los a todos nas nossas vidas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Embora tenha gostado, não achei tão interessante como o <a href="https://www.bertrand.pt/ebook/um-homem-chamado-ove-fredrik-backman/17991841" style="font-style: italic;" target="_blank">Um Homem Chamado Ove</a> (opinião <a href="http://queroumlivro.blogspot.com/2021/07/kindle-um-homem-chamado-ove-fredrik.html" target="_blank">aqui</a>). Acho que não me identifiquei tanto com a temática e este pareceu-me mais para um público mais juvenil. Não destronou Ove (que continua a fazer-me sorrir só de pensar nele) mas deu para perceber que vou ler todos os que já tem escrito e todos os que vier a escrever.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem qualquer reserva.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"Todas as crianças de sete anos merecem ter um super-herói. É mesmo assim. Quem não concordar precisa de um exame à cabeça.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Pelo menos, é o que acha a Avozinha de Elsa.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Elsa tem sete anos, a caminho dos oito. Sabe que não é lá muito boa nisto de ter sete anos de idade. Sabe que é diferente. O diretor da escola diz que ela tem de «entrar na linha» para poder alcançar «uma melhor integração com os seus pares». Alguns adultos descrevem-na como sendo «muito madura para a idade». Elsa considera que isso é apenas outra maneira de lhe chamar « terrivelmente chata para a idade»: regra geral, só lho dizem quando ela os corrige por pronunciarem mal déjá vu ou por não saberem a diferença entre «há» e «à». Isto costuma acontecer normalmente com os que têm a mania de que são espertos e daí o comentário «madura para a idade» acompanhado do sorriso forçado na direção dos pais dela. Como se Elsa tivesse uma deficiência mental ou os humilhasse por não ser completamente burra aos sete anos. É por isso que não tem amigos além da Avozinha - todas as outras crianças de sete anos da sua escola são tão idiotas como as crianças dessa idade costumam ser. Na escola, Elsa é a única criança diferente."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-25762597075686839352022-07-02T16:59:00.000+01:002022-07-02T16:59:01.258+01:00O Meças - J. Rentes de Carvalho<div><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgTrz-OWd8HF1qqU8tvb33VisgBVo24C1qkQDGggYZDO7h3fBXUa52NFaHEaAiu68EbpA5dbRdMAuYWvJtnBEEwyu4wloYx9zEwpSMQIEd7yAtt7QrY3H0OBujlRTyjruYmimw0r8njv3MWyYaQE7QwRaplkp2qVgRWB9Fn5T3jCY0lf9xuCSiud6BnUA=s470" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="470" data-original-width="300" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgTrz-OWd8HF1qqU8tvb33VisgBVo24C1qkQDGggYZDO7h3fBXUa52NFaHEaAiu68EbpA5dbRdMAuYWvJtnBEEwyu4wloYx9zEwpSMQIEd7yAtt7QrY3H0OBujlRTyjruYmimw0r8njv3MWyYaQE7QwRaplkp2qVgRWB9Fn5T3jCY0lf9xuCSiud6BnUA=w127-h200" width="127" /></a></div>Título: </span></span><span style="font-size: 14px;">O Meças</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2016</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> J. Rentes de Carvalho</span><br /><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Quetzal Editores</span></div><div><span style="font-size: 14px;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><b>"Romance inédito que conta a história de António Roque, homem atormentado, possesso do demónio de funestas memórias. As imagens do passado que regularmente se apoderam dele transformam-no num monstro capaz dos piores actos. Mas a obscura história da irmã e do homem abastado que se servia dela e que, apesar de morto, continua a instigar-lhe um ódio devastador não é exatamente como ele pensa que se lembra.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Depois de anos emigrado na Alemanha, o Meças regressa à sua aldeia de origem. Com ele vivem o filho (a quem detesta) e a nora (a quem deseja, mas inferniza a vida), atemorizando de resto a todos os que com ele se cruzam.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Uma história de violência, em que a progressiva definição dos contornos da memória revelará novas e dolorosas verdades."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O Meças não esquece o passado, vive com ele diariamente. Regressado da Alemanha depois de anos emigrado, à aldeia onde nasceu e cresceu e onde o passado lhe parece estar ainda mais presente.</div><div style="text-align: justify;">O Meças é um homem violento, de fraco carácter, que sentimos ser muito revoltado, com tudo e com todos. Odeia o filho que, entretanto veio viver com ele. Aparentemente odeia a nora, mas tem com ela uma relação doentia, com comportamentos completamente inadmissíveis.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tudo em Meças é desrespeito, possessão, chantagem, violência, agressividade e raiva. </div><div style="text-align: justify;">Quando conhecemos o passado do Meças, conseguimos contextualizar, de alguma forma, estas atitudes, no entanto, nada justifica aquilo em que Meças se transformou.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-mecas-jose-rentes-de-carvalho/17342493?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Meças</a></i> é um livro violento em muitos aspetos e tem muito do que é comum a outros livros de <a href="http://tempocontado.blogspot.com/" target="_blank">J. Rentes de Carvalho</a>, a crítica social, a forma de viver em Portugal, num Portugal rural, pouco instruído e com alguma tendência para a violência.</div><div style="text-align: justify;">Mais uma vez <a href="http://tempocontado.blogspot.com/" target="_blank">J. Rentes de Carvalho</a> leva-nos para uma pequena localidade onde toda a gente se conhece e onde, toda a gente sabe da vida de toda a gente mas ninguém se mete na vida de ninguém. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Estranhei um pouco a forma como está escrito, que me deixou confusa no início, mas gostei bastante embora não seja um livro muito fácil de ler.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo! </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras! </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág. 66)</span>:</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>"A história alheia pode ser agradável leitura, à leitura da minha só me dou quando como agora as circunstâncias obrigam, pois me faz encarar o que prefiro esquecer e leva a juízos que, sei-o de antemão, apenas servem para tornar mais espessa a carapaça com que me guardo dos outros.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Não é caso de que vá alargar-me em confidências ou detalhes, pois nem os factos são sempre como se contam ou o que parecem, e dentro da família, nas relações que mantemos, o que sentimos e mostramos ou não, as palavras que nos saem da boca, tudo é sujeito a incompreensíveis mudanças. A realidade de hoje vemo-la amanhã como tonta fantasia, mostra-se de pechisbeque o que pareceu genuíno.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Talvez parte da tragédia da vida se deva a que nenhum artista iguala o tempo no mudar de ângulos e perspectivas, no fundir dos coloridos, nenhum como ele nos leva por tão enganosos bastidores ou cria máscaras de perfeição igual."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-5141376349120246012022-05-29T01:30:00.001+01:002022-05-29T10:21:06.294+01:00Se o Passado Não Tivesse Asas - Pepetela<div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiuM_B9GRxz2U5M1E41tl3TIagRF6lIC7-rejbiJasIJvYBAbnwHcMTK11VgeqwlUTp3tQcxGzS5A2WYTIQxLQdYLgIn1jf9mNTB12D7vVlfa-mmWFJLp5IuUSZntoW1rKplkm6a2c-DFCl8YnpE_mAn5pu6DaHOBDLwKb9mMzB_UNoha9k-_G8VPw0Qg=s4624" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiuM_B9GRxz2U5M1E41tl3TIagRF6lIC7-rejbiJasIJvYBAbnwHcMTK11VgeqwlUTp3tQcxGzS5A2WYTIQxLQdYLgIn1jf9mNTB12D7vVlfa-mmWFJLp5IuUSZntoW1rKplkm6a2c-DFCl8YnpE_mAn5pu6DaHOBDLwKb9mMzB_UNoha9k-_G8VPw0Qg=w150-h200" width="150"></a></div>Título: </span></span><span style="font-size: 14px;">Se o Passado Não Tivesse Asas</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original: </span>2016</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Pepetela</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic;">Editora:</span><span style="font-size: 14px;"> Publicações Dom Quixote</span></div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;"><b>“A terrível luta diária pela sobrevivência dos meninos de rua, em plena guerra, contrasta com a fartura desmesurada dos jovens da nova burguesia de Luanda.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Himba, treze anos acabados de fazer, durante a fuga do Planalto Central para Luanda, motivada pela guerra, perde-se do resto da família, vendo-se de repente sozinha no mundo. Sem outros meios que não sejam a sua inteligência, consegue chegar à capital, onde conhece Kassule, um menino de dez anos que perdeu uma perna devido a estilhaços de uma mina. Ambos órfãos vítimas da guerra, sem teto e dependendo do lixo dos restaurantes, unem-se para conseguirem subsistir, lutando pela sobrevivência dia a dia. Assim nasce uma bela amizade.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Sofia, que há muito aguarda uma oportunidade para mudar de vida, descobre que tem um sentido muito apurado do gosto. Numa aposta arriscada, aceita gerir um restaurante, onde dá conselhos sobre temperos. À medida que o restaurante vai ganhando clientes da classe alta de Luanda, também a ambição de Sofia vai sendo alimentada. E está disposta a agarrar todas as oportunidades que lhe garantam uma vida melhor, a ela e ao irmão Diego, um artista de rua que sonha expor em galerias.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br></b></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Se o Passado não Tivesse Asas</i> cruza duas histórias, duas grandes personagens femininas, numa narrativa original com um desfecho imprevisível, que retrata os últimos vinte anos da história de Angola.”</b></div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/se-o-passado-nao-tivesse-asas-pepetela/17905085?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Se o Passado Não Tivesse Asas</a></i> é um livro duro, sobre a infância num país em guerra, num país pobre e desigual e sobre os adultos que são o resultado de crescer nestas circunstâncias.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">Quando a guerra se aproximou da povoação onde Himba vivia, a família decidiu que estava na altura de fugirem. Himba tinha treze anos quando se viu, na fuga e após um ataque ao autocarro onde seguia com a família, perdida e sozinha. Com o ataque, afastou-se dos pais e nunca mais os conseguiu encontrar. Com algum esforço conseguiu chegar à cidade, na esperança de que os pais lá estivessem à espera dela, tão desesperados por encontrá-la como ela estava por voltar a vê-los. </div><div style="text-align: justify;">No entanto, o que Himba encontra na cidade grande é barulho, confusão, indiferença e mais miséria. Vê-se obrigada a dormir na rua, junto de outras crianças, também elas vítimas da guerra, perdidos das suas famílias, vagueiam pelas ruas a pedir, a roubar a fazer o que é necessário para sobreviverem mais um dia.</div><div style="text-align: justify;">É lá que conhece Kassule, um menino mais novo que ela e que está na rua há mais tempo que Himba. Kassule não tem uma perna, perdeu-a quando pisou uma mina, no entanto, é um miúdo cheio de energia, com boa disposição e muito honesto. Percebendo que ela está com dificuldades em adaptar-se à nova realidade, acolhe-a sob a sua alçada e os dois acabam por se tornar inseparáveis.</div><div style="text-align: justify;">Pouco tempo depois, os dois decidem, deixar a cidade e partem para uma zona costeira, onde a competição por comida, na teoria, será menor. E é lá que vivem o melhor e o pior das suas curtas vidas. Conhecem o amor e o ódio, a paz e a violência, riem e choram. </div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">Paralelamente conhecemos a história de Sofia e Diego, dois irmãos a viver em Luanda, num país que já não está em guerra. </div><div style="text-align: justify;">Sofia trabalha num restaurante, onde é responsável principalmente pela cozinha e por toda a comida que é servida aos clientes. Tem um dom inigualável para os temperos e uma intuição que vai tornando o restaurante, pouco a pouco, numa referência, que começa a atrair a atenção da classe mais alta de Luanda. É inteligente e ambiciosa e, embora não seja de todo uma má pessoa, é uma sobrevivente que tem uma visão, por vezes um pouco distorcida do que é correto ou não fazer para se atingirem determinados objetivos.</div><div style="text-align: justify;">Diego, por outro lado, é um artista. Pinta quadros e ganha algum dinheiro a vendê-los na rua aos turistas. Tem a noção de que não é muito bom naquilo que faz, mas vive uma vida despreocupada. Não é ambicioso e parece ter até alguma aversão ao dinheiro. Quer ganhar apenas o suficiente para viver o dia-a-dia. </div><div style="text-align: justify;">Os dois vivem juntos e, embora sejam muito diferentes um do outro, a vida vai correndo com alguma normalidade.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/se-o-passado-nao-tivesse-asas-pepetela/17905085?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Se o Passado Não Tivesse Asas</a></i> talvez fosse possível deixar para trás aquilo que nos tornou em adultos menos simpáticos, menos capazes e menos seguros. Se fosse possível apagar da nossa história aquilo que nos prende, que não nos permite avançar, voar e sermos mais felizes, aposto que muito pouca gente escolheria manter esse passado presente nas suas vidas. Por vezes o passado torna-nos melhores pessoas, outras vezes só nos torna menos capazes.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">Gostei muito deste livro, porque está muito bem escrito e porque as personagens são difíceis de esquecer. Este foi leitura das férias de Verão do ano passado (estou muito atrasada nas minhas opiniões aqui no blogue, eu sei) e, tendo passado quase um ano, ainda guardo na memória, com carinho a Himba, o Kassule, a Sofia e o Diego. A minha memória não é grande coisa, por isso, para mim, o facto de ainda os ter tão presentes diz muito sobre o livro.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Pepetela" target="_blank">Pepetela</a>, mais uma vez, a não desiludir. Acho até que este está no meu top três dos livros do <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Pepetela" target="_blank">Pepetela</a>.</div></div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">Recomendo sem qualquer reserva.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;"><br></div><div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág.246)</span>:</b></div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;"><i>“Não sentia dores, mesmo se o sangue não parava de sair do nariz por causa das chapadas. O corpo estava feito para ser torturado, por isso era indiferente doer ou não doer, qual era a diferença? Quando a dor é constante, deixa de ser sentida. E assim queria ficar, imune à dor, física e à outra, a da perda. Já tinha perdido tudo ou quase, pois lhe restava Kassule. Era pouco?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Era imenso.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Mas também queria mais. Mentira. Agora já não desejava mais nada, ficava satisfeita com o que tivesse, só tinha de andar, andar, evitar pensar, evitar fazer comparações com outras vidas, o passado se enterrava automaticamente, inútil fazê-lo ressuscitar, pois só trazia sofrimento, saudade, angústia. Devia agradecer cada minuto de vida e viver assim, cada minuto de sua vez.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>O futuro não existe para gente como nós, só o minuto em que ainda cá estamos.”</i></div></div><div><br></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-84705714370656222312022-05-29T00:37:00.001+01:002022-09-04T23:45:36.273+01:00[Kindle] Cinco Esquinas - Mario Vargas Llosa<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoFxnyQeNe-8b6N8Qm-L3gEcDVC0GaXYu4gpAnAKteGIiHk0Q7P5N5hwoIlruoa2qUcwTJjzRVwcn7jxZIVkiM-7JhxSI-VkdkaAmuZn-mOTId1Is6b5XH_J-nFDogdTp5ywmvTuBYjB7ZLUaVVQKrfN9CJu48yQav9ARAtq9dXkXVAeBSPrEgeETxOg/s475/cinco%20esquinas.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="305" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoFxnyQeNe-8b6N8Qm-L3gEcDVC0GaXYu4gpAnAKteGIiHk0Q7P5N5hwoIlruoa2qUcwTJjzRVwcn7jxZIVkiM-7JhxSI-VkdkaAmuZn-mOTId1Is6b5XH_J-nFDogdTp5ywmvTuBYjB7ZLUaVVQKrfN9CJu48yQav9ARAtq9dXkXVAeBSPrEgeETxOg/w128-h200/cinco%20esquinas.jpg" width="128" /></a></div><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título original: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">Cinco Esquinas</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2016</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Mario Vargas Llosa</span><br style="text-align: left;" /><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic; text-align: left;">Tradução:</span><span style="font-size: 14px; text-align: left;"> Cristina Rodriguez e Artur Guerra</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Quetzal Editores</span><br /><p></p><p style="text-align: justify;"><b>"À conversa, sem os maridos, e desatentas da hora do recolher obrigatório, Chabela e Marisa terão de pernoitar juntas. O que aconteceu na cama nessa noite passará a ser um grande e saboroso segredo. Chabela é mulher de um advogado de renome; Marisa, de uma das figuras cimeiras da exploração mineira. O mundo perfeito em que vivem - não fora a constante ameaça dos guerrilheiros e sequestros - será fortemente abalado por um escândalo. Após tentativa de chantagem por parte de Rolando Garro, diretor do pasquim Destapes, a participação do engenheiro Enrique Cárdenas numa orgia será tornada pública em todos os seus pormenores mais sórdidos. Segue-se um assassínio brutal. Mas a relação de tudo isto com o poder político, nomeadamente com o homem que na verdade governa de forma corrupta e autoritária o país, o Doutor, braço direito do presidente, será trazida à luz: curiosamente pela coragem e fibra da redatora principal do referido tabloide que usa o <i>nom de plume</i> «La Retaquita»."</b></p><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/cinco-esquinas-mario-vargas-llosa/17651771?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Cinco Esquinas</a></i> daria uma boa novela. Tem tudo aquilo que é comum encontrar neste tipo de produto televisivo: dinheiro, sexo, crime e gente famosa. Temos gente muito rica, bonita e bem-sucedida; temos gente pobre, remediada e outros que fazem de tudo para subir na escala social. Pessoas sem escrúpulos que acabam por fazer algumas coisas bem, mesmo que pelos motivos errados. Como pano de fundo, mas com um papel muito ativo na vida de todas as nossas personagens, temos um governo autoritário e repressor que controla todo o enredo e todas estas personagens, mesmo que elas achem que não.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De forma muito resumida é isto. :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não conhecia a veia erótica de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Vargas_Llosa#Fic.C3.A7.C3.A3o" target="_blank">Vargas Llosa</a>, porque nenhum dos livros que já tinha lido dele era deste género. Confesso, por isso que, durante uma boa parte do livro, me senti confusa. </div><div style="text-align: justify;">Com muita pena minha, a confusão não se deveu apenas às descrições das cenas de sexo, mas sim pela qualidade, duvidosa, das mesmas e porque a escrita, em geral, me pareceu muito menos bem conseguida. Tenho memória de ter gostado bastante dos outros livros que li dele (<a href="#">A Festa do Chibo</a>; <a href="#">Lituma nos Andes</a>; <a href="#">O Falador</a>) e este pareceu-me francamente inferior. Talvez a história possa não ser tão interessante. Não sei, mas não fiquei particularmente impressionada e, se não tivesse já lido outras coisas de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Vargas_Llosa#Fic.C3.A7.C3.A3o" target="_blank">Vargas Llosa</a>, muito provavelmente não regressaria a ele.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i><a href="https://www.wook.pt/livro/cinco-esquinas-mario-vargas-llosa/17651771?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Cinco Esquinas</a></i> acaba por ser um romance mais levezinho e, não há nada de errado com isso. Sou da opinião de que os escritores devem escrever sobre o que lhes apetecer, da forma que quiserem. Sinto, no entanto que, este <i><a href="https://www.wook.pt/livro/cinco-esquinas-mario-vargas-llosa/17651771?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">Cinco Esquinas</a></i> e outros que <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Vargas_Llosa#Fic.C3.A7.C3.A3o" target="_blank">Vargas Llosa</a> tenha escrito do mesmo género, quase merecem um pseudónimo, para que, facilmente eu conseguisse distinguir que tipo de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Vargas_Llosa#Fic.C3.A7.C3.A3o" target="_blank">Vargas Llosa</a> tenho entre as mãos. :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Não sendo um livro mau, não faz o meu género e quando decido ler <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Vargas_Llosa#Fic.C3.A7.C3.A3o" target="_blank">Vargas Llosa</a> procuro outro tipo de histórias e de personagens e, por isso, com este tenho alguma dificuldade em dizer se recomendo ou não. Ficam por vossa conta e risco. ;)<div><br /><div style="text-align: justify;"><b>Excerto:</b></div><div style="text-align: justify;"><i>"Quando os seus olhos se acostumaram à escuridão do compartimento, entre as figuras que a povoavam avistou numa das paredes pintalgadas uma inscrição a giz, em letras grandes, onde pôde ler:</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: center;"><i>«E quando esperava o bem,</i></div><div style="text-align: center;"><i>Sobreveio o mal;</i></div><div style="text-align: center;"><i>Quando esperava a luz, veio</i></div><div style="text-align: center;"><i>A escuridão.»</i></div><div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i>Era uma inscrição bíblica? Estava encolhido de terror, mas, isso sim, muito consciente de que aquele recinto estava impregnado por uma pestilência que o enjoava - fedia a muitas coisas, mas, sobretudo, a excremento, suor e urina - e que fervilhava de homens, alguns seminus, uns sentados no tosco poial de cimentos e outros acocorados ou deitados no chão.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Ninguém falava, mas Quique intuía que, das sombras que o rodeavam, dezenas de olhos estavam cravados nele, o último recém-chegado àquela cave, calabouço, quarto de torturas ou fosse lá o que fosse."</i></div></div></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-32956871999328495102022-01-15T01:36:00.002+00:002022-03-05T11:00:38.480+00:00A Noite Em que o Verão Acabou - João Tordo<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjYelWgnwRIRf3upVTIJIxWcFpFSzghzszV0Np2GjpZnusujuAaWdMNhRIlw9A-m8NKPWDThieQuxpaa95KS-MezoHydHW96Y2UF2QesfMHJnELG5IcQqt4JfjGHSfGuAhkTnhAx5SdbLiIbBQy7Xt6McfYdTC2S-m9bDEjMXjKZMm29vplT80jxdXrqA=s4624" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjYelWgnwRIRf3upVTIJIxWcFpFSzghzszV0Np2GjpZnusujuAaWdMNhRIlw9A-m8NKPWDThieQuxpaa95KS-MezoHydHW96Y2UF2QesfMHJnELG5IcQqt4JfjGHSfGuAhkTnhAx5SdbLiIbBQy7Xt6McfYdTC2S-m9bDEjMXjKZMm29vplT80jxdXrqA=w150-h200" width="150" /></a></div><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Título: </span></span><span style="font-size: 14px; text-align: left;">A Noite em que o Verão Acabou</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 2019</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> João Tordo</span><br style="text-align: left;" /><span style="font-size: 14px; text-align: left;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Companhia das Letras</span></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></div><b>"14 de Setembro de 1998. O dia em que Chatlam, uma pequena vila americana, acordou em choque com o homicídio de Noah Walsh. O principal suspeito: a sua filha de dezasseis anos.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>No Verão de 1987, o adolescente Pedro Taborda apaixona-se por Laura Walsh, a filha mais velha de um magnata nova-iorquino. Ela e Levi - uma criança misteriosa - passam férias com os pais no Lagoeiro, uma pacata cidade algarvia. Rica e moderna, a família Walsh tem tudo para dar muito nas vistas no sul de Portugal. Inebriado pelas formas perfeitas e pelos modos ousados de Laura, Pedro encontra na rapariga americana o seu primeiro amor. Mas quando o Verão acaba, a família Walsh regressa aos Estados Unidos e o destino fica por cumprir.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Dez anos depois, Pedro, decidido a tornar-se escritor, vai estudar para Nova-Iorque. Fascinado com Gary List, antigo prodígio das letras americanas, chega aos Estados Unidos determinado a perseguir os sonhos da juventude. Ao reencontrar Laura, está longe de suspeitar que esse acaso o mergulhará no crime mais falado dos anos noventa, o homicídio do milionário Noah Walsh.</b></div><div style="text-align: justify;"><b>Com um segundo homicídio a atrapalhar a investigação e uma corrida para salvar Levi, de apenas dezasseis anos, acusada de matar o pai, Pedro e Laura enredam-se irremediavelmente na teia de segredos que envolve a família Walsh, desde os anos quarenta do século XX até ao impensável desfecho nas primeiras décadas do novo milénio.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Porque em Chatlam - e neste thriller imparável - nada é o que parece."</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A sinopse é clara quanto à história. Pedro Taborda, em 1987, é um adolescente a passar férias no Algarve com a família. Laura é uma adolescente americana que também está de férias no Algarve.</div><div style="text-align: justify;">As duas famílias acabam por criar laços durante aqueles dias intermináveis de verão e a entrada de Laura na vida de Pedro vai marcá-lo para a vida, não só porque o primeiro amor é algo que dificilmente se esquece, mas também porque os Walsh são exuberantes e pouco convencionais.</div><div style="text-align: justify;">Após as férias de verão, os dois mantém contacto durante algum tempo, até que a vida acaba por espaçar as cartas que, um dia, findam de vez. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Anos mais tarde, Pedro vai estudar para os Estados Unidos e reencontra Laura. Pouco tempo depois do reencontro, o pai de Laura é encontrado morto em casa e tudo indica que terá sido assassinado pela irmã mais nova de Laura, a estranha Levi. Laura não acredita que a irmã seja culpada e enquanto decorrem as investigações oficiais, Laura "arrasta" Pedro numa corrida contra o tempo para encontrar o verdadeiro culpado e provar a inocência de Levi.</div><div style="text-align: justify;">Como seria de esperar, a investigação desenterra histórias do pai, algumas antigas, outras mais recentes. Nenhuma delas muito abonatória para o pai.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Basicamente, em termos de fio condutor do livro, é isto - a relação de Pedro com Laura, a investigação que iniciam os dois e que nos leva a conhecer melhor a história dos Walsh e, por fim, o desvendar do mistério que envolve a morte de Noah Walsh.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pessoalmente não acho que seja este o género em que <a href="https://joaotordo.com/work" target="_blank">João Tordo</a> mais brilhe, embora a forma como ele aborda o género também não seja a mais convencional.</div><div style="text-align: justify;">O mistério dos assassinatos até está bem conseguido e a forma como se vão desvendando as coisas é interessante. É engraçado não ser uma investigação policial típica, tem uma velocidade diferente e o foco acaba, até por ser outro. O livro é muito mais do que uma investigação desenfreada ou uma corrida contra o tempo. Talvez por isso tenha alguma dificuldade em classificá-lo como policial e menos ainda como um thriller. O que não é uma coisa má, apenas pode ser enganadora para quem vai ler o livro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Achei que o livro poderia ser bem mais pequeno. Dispensava, a maioria das páginas dedicadas à vida de Pedro. Não sinto que tenham acrescentado alguma coisa à história e eram, muitas vezes, completamente irrelevantes para a mesma. Sou sincera, não achei o Pedro uma personagem muito interessante e tudo o que o envolvia apenas a ele era só aborrecido... Desculpa <a href="https://joaotordo.com/work" target="_blank">João Tordo</a>. :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não amei mas também não detestei. Só não me vai ficar na memória por muito tempo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A minha opinião sobre o talento de <a href="https://joaotordo.com/work" target="_blank">João Tordo</a>, não ficou, em nada, beslicada. Acho até saudável ele não ter problemas em experimentar novas abordagens e, no fundo, escrever o que lhe apetece, sem se sentir na obrigação de seguir uma cartilha. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recomendo, porque dentro do género é um livro que pode ser interessante. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se nunca leram <a href="https://joaotordo.com/work" target="_blank">João Tordo</a>, não comecem por este ou outros do género. O primeiro que li dele foi o <i><a href="https://www.wook.pt/livro/as-tres-vidas-joao-tordo/12850847?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">As Três Vidas</a></i> (opinião <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2011/01/as-3-vidas-joao-tordo.html" target="_blank">aqui</a>) e fiquei fã. No entanto, de todos os que já li dele, aqueles que mais me dizem são os da "Trilogia dos lugares sem nome" - <i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-luto-de-elias-gro-joao-tordo/16343180?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Luto de Elias Gro</a></i> (opinião <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2018/01/o-luto-de-elias-gro-joao-tordo.html" target="_blank">aqui</a>); <i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-paraiso-segundo-lars-d-joao-tordo/16992496?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Paraíso Segundo Lars D</a>.</i> (opinião <a href="https://queroumlivro.blogspot.com/2019/11/o-paraiso-segundo-lars-d-joao-tordo.html" target="_blank">aqui</a>) e <i><a href="https://www.wook.pt/livro/o-deslumbre-de-cecilia-fluss-joao-tordo/19288201?a_aid=617c7488acdf6" target="_blank">O Deslumbre de Cecília Fuss</a></i>, que ainda não li. Têm muito por onde escolher. :)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Boas leituras!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág.14)</span>:</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>"Na tarde em que comecei a chorar, a cadela trazia a boneca na boca, mordendo-a com a força dos seus caninos de bicho ainda jovem.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Chorei todas as noites durante uma semana, a boneca caída no relvado da casa de férias dos meus pais. Tornou-se o brinquedo de Niki até o meu pai a guardar na garagem. Era a única memória física que me restava de Laura e de Levi, que regressaram aos Estados Unidos no final de Agosto; uma coisa velha feita de trapos, com dois botões a servirem de olhos, cabelo ruivo e uma boca infeliz. A seguir - porque aos treze anos recuperamos com facilidade dos choques emocionais - , distraí-me com o ténis, a exploração do terreno dos lagartos e as parvoíces da minha irmã e esqueci-me temporariamente da ausência das raparigas americanos no Lagoeiro.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>No anos seguinte, Laura e Levi não voltaram como prometido (...)"</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8323765593943274174.post-9354058454143925502022-01-03T23:07:00.002+00:002022-12-01T01:12:24.881+00:00A História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar - Luís Sepúlveda<div><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj_h1KBgALyyyCtvGKanmXB3YXlkRRJjOyOkcyRsakB6uFt1hDifg_YW1yl2Zwkyc4hg-cfOzfDK_PjCP0B4j-H0rm450dThqCL4HsMQwDxqO-K-y6xHOIMV3QyYWQe1pC6UpAfEX-HGFVGcCL0mBTT203CijXDoNuu8PJ3ppMmtr9tZD9Y6j4mEY61-w=s4624" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4624" data-original-width="3468" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj_h1KBgALyyyCtvGKanmXB3YXlkRRJjOyOkcyRsakB6uFt1hDifg_YW1yl2Zwkyc4hg-cfOzfDK_PjCP0B4j-H0rm450dThqCL4HsMQwDxqO-K-y6xHOIMV3QyYWQe1pC6UpAfEX-HGFVGcCL0mBTT203CijXDoNuu8PJ3ppMmtr9tZD9Y6j4mEY61-w=w150-h200" width="150"></a></div>Título original: </span></span><span style="font-size: 14px;">Historia de una Gaviota Y del Gato que le Enseño a Volar</span><br><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Ano da edição original:</span> 1996</span><br><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Autor:</span> Luís Sepúlveda</span><br><span style="color: #3366ff; font-size: 14px; font-style: italic;">Traduzido do espanhol (Chile):</span><span style="font-size: 14px;"> Pedro Tamen</span><br><span style="font-size: 14px;"><span style="color: #3366ff; font-style: italic;">Editora:</span> Edições ASA</span></div><div><br></div><div><div style="text-align: justify;"><b>"Esta é a história de Zorbas, um gato grande, preto e gordo. Um dia, uma formosa gaivota apanhada por uma maré negra de petróleo deixa ao cuidado dele, momentos antes de morrer, o ovo que acabara de pôr.</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Zorbas, que é um gato de palavra, cumprirá as duas promessas que nesse momento dramático lhe é obrigado a fazer: não só criará a pequena gaivota, como também a ensinará a voar. Tudo isto com a ajuda dos seus amigos Secretário, Sabetudo, Barlavento e Colonello, dado que, como se verá, a tarefa não é fácil, sobretudo para um bando de gatos mais habituados a fazer frente à vida dura de um porto como o de Hamburgo do que a fazer de pais de uma cria de gaivota…</b></div><div style="text-align: justify;"><b><br></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Com a graça de uma fábula e a força de uma parábola, Luis Sepúlveda oferece-nos neste seu livro já clássico uma mensagem de esperança de altíssimo valor literário e poético."</b></div></div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">Uma bonita história de amizades improváveis e de aceitação do que não conhecemos ou que é diferente de nós. </div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">Uma história de compromissos e promessas, onde a palavra tem valor.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">A bonita utopia de que não existem impossíveis quando todos remamos para o mesmo lado. </div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">Uma triste história de atentados ambientais que, eram já uma preocupação de <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Luis_Sep%C3%BAlveda" target="_blank">Sepúlveda</a>, nos anos 90.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;">Foi muito bom voltar a ele com um clássico que ainda não tinha tido a oportunidade de ler.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi9xLY9w4FSmqEClglANOKzmAQ6NBptchQSccrT6O765ADkOfOfqPEqMPaposGZnBZIea0IpGJvQA0Uvup1WdLk2vxbh2aGzZu5VEXDV1TYF2Vw-zpxaP061WW98PX2Ob2d8muQ9ByeZAD1xLReJ0I_N1LSTwgjFtSoPTMgGtoFEHC7-8sZFtyq3HnbbQ=s1280" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="845" data-original-width="1280" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi9xLY9w4FSmqEClglANOKzmAQ6NBptchQSccrT6O765ADkOfOfqPEqMPaposGZnBZIea0IpGJvQA0Uvup1WdLk2vxbh2aGzZu5VEXDV1TYF2Vw-zpxaP061WW98PX2Ob2d8muQ9ByeZAD1xLReJ0I_N1LSTwgjFtSoPTMgGtoFEHC7-8sZFtyq3HnbbQ=w200-h132" width="200"></a></div>Esta edição, mais antiga, comprei-a na <a href="https://www.boutiquedacultura.org/livraria-solid%C3%A1ria" target="_blank">Livraria Solidária de Carnide</a>, um espaço muito giro e acolhedor. Fui lá para entregar alguns livros que já não faziam muito sentido nas minhas estantes. O objetivo era ganhar algum espaço nas estantes, mas saí de lá com mais alguns debaixo do braço. Não me lembro se o saldo foi positivo para as estantes, mas para mim foi de certeza! ;) </div><div style="text-align: justify;">Se tiverem oportunidade de passar por lá não deixem de o fazer. Vale muito a pena.</div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;"><b>Excerto <span style="font-size: x-small;">(pág.29)</span>:</b></div><div style="text-align: justify;"><br></div><div style="text-align: justify;"><i>"O gato grande, preto e gordo estava a apanhar sol na varanda, ronronando e meditando acerca de como se estava bem ali, recebendo os cálidos raios pela barriga acima, com as quatro patas muito encolhidas e o rabo estendido.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>No preciso momento em que rodava preguiçosamente o corpo para que o sol lhe aquecesse o lombo ouviu o zumbido provocado por um objecto voador que não foi capaz de identificar e que se aproximava a grande velocidade. Atento, deu um salto, pôs-se de pé nas quatro patas e mal conseguiu atirar-se para um lado para se esquivar à gaivota que caiu na varanda.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Era uma ave muito suja. Tinha o corpo impregnado de uma substância escura e malcheirosa. (...)</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Vou pôr um ovo. Com as últimas forças que me restam vou pôr um ovo. Amigo gato, vê-se que és um animal bom e de nobres sentimentos. Por isso, vou pedir-te que me faças três promessas-~. Fazes? - grasnou ela, sacudindo desajeitadamente as patas numa tentativa falhada de se pôr de pé.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Zorbas pensou que a pobre gaivota estava a delirar e que com um pássaro em estado tão lastimoso nunguém podia deixar de ser generoso.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Prometo-te o que quiseres. Mas agora descansa - miou ele compassivo.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Não tenho tempo para descansar. Promete-me que não comes o ovo - grasnou ela abrindo os olhos.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Prometo que não te como o ovo - repetiu Zorbas.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Promete-me que cuidas dele até que nasça a gaivotinha.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Prometo que cuido do ovo até nascer a gaivotinha.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - E promete-me que a ensinas a voar - grasnou ela fitando o gato nos olhos.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Então Zorbas achou que aquela infeliz gaivota não só estava a delirar, como estava completamente louca.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Prometo ensiná-la a voar. E agora descansa, que vou em busca de auxílio - miou Zorbas trepando de um salto para o telhado.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Kengah olhou para o céu, agradeceu a todos os bons ventos que a haviam acompanhado, e justamente ao exalar o último suspiro, um ovito branco com pintinhas azuis rolou junto do seu corpo impregnado de petróleo."</i></div>N. Martinshttp://www.blogger.com/profile/10249727445159921878noreply@blogger.com0