março 30, 2010

Mãe - Pearl S. Buck

"Nesta obra Pearl S. Buck descreve de um modo quase pictórico a vida simples e rude do povo chinês, numa época que é pouco conhecida. A narrativa vivida e pormenorizada permite que o leitor capte toda a simplicidade e intensidade dos tempos descritos em Mãe.
Ao penetrar no espírito da camponesa, Pearl S. Buck dá a conhecer os sentimentos mais profundos da mente e do coração de uma mulher e de uma mãe. Fá-lo de uma maneira comovente, enérgica e mesmo violenta. A personagem, sem qualquer dúvida estóica, assume uma grandeza sem par pela forma como encara e ultrapassa os obstáculos que a vida lhe coloca. Uma vida longa, árdua e solitária."

Neste livro ninguém tem nome, todos são tratados pelos parentescos que os unem à Mãe, a personagem central desta narrativa. No entanto, em vez de nos sentirmos distantes destas pessoas de quem não conhecemos o nome, sentimos, pelo contrário uma grande proximidade porque eles podem ser quem nós quisermos que sejam. Embora a história se passe na China profunda, esta Mãe poderia ser qualquer mulher, de qualquer lugar pois tem uma história igual à de tantas outras mulheres do mundo.

Neste livro, Pearl S. Buck transporta-nos até à casa de uma mulher, casada e com três filhos pequenos. A família vive, como quase todos nas aldeia, do trabalho na terra. Terra que não lhes pertence, pois é arrendada a um Proprietário a quem entregam parte do que produzem. Estamos numa época em que os casamentos são combinados, autênticos negócios entres as famílias envolvidas. Da mulher esperava-se que fosse saudável para poder ter muitos filhos, que soubesse cozinhar e costurar e, que cuidasse do homem, que lhe tivesse calhado em sorte, e de todos os familiares que com ele vivessem.
A Mãe da história não se queixava da sua sorte, amava de verdade o marido e fazia todas as tarefas que lhe estavam destinadas com afinco e verdadeiro prazer. Até que um dia o marido, vestido com o seu fato novo, azul como o céu, vai à cidade e nunca mais regressa, abandonando a família e as obrigações que nunca desejou. Fugiu para viver a vida que achava que merecia, sem rotinas e sem o trabalho cansativo no campo, sem a mulher e os filhos que na realidade nunca quis e que não conseguiu aprender a amar. A partir daqui vamos seguindo a vida desta Mãe e dos três filhos que, envergonhada por ter sido abandonada pelo marido, diz a todos que este arranjou trabalho longe e, mais tarde acaba por "matá-lo", tornando-se viúva, mantendo assim a imagem de mulher honrada e decente. No início, antes do marido se ter ido embora, a Mãe achava que era muito feliz, amava os filhos, o marido e a vida que levava. Depois de se ver sozinha, ela vai passar por muitas perdas e muitas desilusões, que a tornam amarga e menos benevolente para os que a rodeiam. Vai tomar decisões erradas pensando que age bem, vai sentir-se injustiçada mas, será ela própria injusta com os outros. É rancorosa, orgulhosa e egoísta. Não é tão boa mãe como julga ser, não escondendo a preferência pelo filho mais novo, tão parecido com o pai, ignora durante anos a progressiva perda de visão da filha, irritando-se muitas vezes por esta não lhe ser de grande ajuda nas tarefas e demonstra pouco afecto pelo filho mais velho que, com pouco mais que 5 anos, se viu na obrigação de ajudar a mãe no trabalho do campo, depois do marido os ter abandonado. Embora não seja sempre assim, acaba por ser uma pessoa muito inconstante nas suas emoções, passando da quase indiferença ao afecto e preocupação genuínas. Enfim, esta Mãe é tudo menos perfeita e, se calhar por isso, a sentimos tão humana, emprestando à história momentos verdadeiramente comoventes, sem que, no entanto, a história esteja escrita para apelar à emoção fácil.
Houve vezes em que fiquei muito incomodada pelo que esta mãe dizia e fazia e só me apetecia dar-lhe uns tabefes. Mas também fiquei emocionada e frustrada porque tudo lhe corria mal e, na verdade ela não merecia o que lhe acontecia porque, por mais defeitos que lhe possamos apontar ela era apenas humana, como dias bons e dias menos bons. Tinha sentimentos e desejos comuns a todas as mulheres e, por mais contraditórios e nefastos que fossem esses sentimentos e desejos, a verdade é que por vezes é necessário cair para podermos seguir em frente e, há coisas que não se controlam, limitam-se a acontecer.

A personalidade da Mãe é o ponto central da história, pois é através dela que vamos conhecendo o modo de vida das mulheres e o que se esperava delas, mas também dos homens que se viam obrigados a seguir uma vida que também não desejavam. O filho mais novo, e também o marido de uma forma menos honrosa, representam a vontade de mudança e o desejo de um mundo mais justo onde cada um poderá ter poder sobre o próprio destino. O filho mais velho representa a resignação e o respeito pelas regras instituídas, trabalhando e casando como é esperado que um homem de bem faça.

Mãe é uma história muito bonita e comovente onde, como no Há Sempre Um Amanhã, Pearl S. Buck nos mantém na constante expectativa de dias melhores para as personagens. Quando algo de bom lhes acontece acreditamos que desta é que é, mas na realidade algo acontece que só piora tudo. Embora os finais não sejam propriamente felizes, estes apontam para um futuro mais risonho onde o sol se vislumbra no meio das nuvens carregadas e acabamos o livro com o coração mais leve.

Mais uma boa historia desta autora que, neste livro, usa um escrita muito limpa e simples, pois simples são também as pessoas que fazem a história.

É um livro que recomendo, embora o meu preferido continue a ser o Há Sempre Um Amanhã! :)

março 25, 2010

Money - Martin Amis

"John Self sai de uma bebedeira para se meter noutra, apimentando-as com visitas a bordéis e sex shops, zaragatas, consumo desenfreado de pornografia e outras actividades semelhantes. O depravado John vai-nos sendo revelado pouco a pouco: é um calejado realizador de publicidade televisiva que se move entre Londres e Nova Iorque e ao qual é encarregada a realização de uma longa-metragem com as mais fulgurantes estrelas norte-americanas. Maltrata a sua namorada Selina, que está com ele apenas pelo dinheiro e que nem sequer se dá ao trabalho de o dissimular. O dinheiro está sempre presente: chega sem esforço e é desbaratado com maior facilidade."

Cheguei finalmente ao fim deste livro... Confesso que me custou imenso lê-lo. Não me identifiquei com a escrita, com o tema e com as personagens. Acho que só o li até ao fim porque queria saber como acabava a história, saber qual era o objectivo de tudo aquilo e se o final poderia salvar o livro para mim.

A verdade é que achei o livro desgastante, quase fisicamente desgastante, porque os temas abordados são pesados e porque a escrita de Martin Amis não me cativou nem um pouco. O mundo em que John Self vive é muito pesado, muito cansativo... John Self bebe, quase todos os dias até à inconsciência, divide os seus dias entre bares de reputação duvidosa e bordeis ou sex-shops. Fumador inveterado, viciado em comida de plástico, em pornografia e em dinheiro, o qual gasta sem qualquer critério ou ponderação. Tendo tanto e com expectativas de ganhar muito mais, gasta o dinheiro de forma obscena.
Martin Amis utiliza John Self como o narrador e protagonista da história. Ora, sendo John Self um homem que às vezes, perde da memória dias inteiros, tal é o seu estado de embriaguez, a escrita é por vezes tão confusa como a cabeça de John, com raciocínios incompletos e divagações cansativas, com parágrafos cheios de auto-comiseração e queixumes porque, na realidade John Self é patético e com muito pouca auto-estima. É um fraco e a personalidade dele irritou-me para além do aceitável... Que homem triste, inútil e burro. Não gostei dele e não criei qualquer espécie de empatia com ele, nem com as outras personagens, para ser franca. Por isso me foi penoso ler o livro, mas também porque os temas não me interessam por aí além: estrelas de cinema em decadência, dinheiro e pornografia.

Não vou falar da história em si, porque sei que muitos de vocês têm o livro em casa para ler e não quero estragar-vos uma leitura, que para vocês, poderá ser muito proveitosa. Eu própria, embora que não tenha gostado do livro, fiz questão de o acabar (saltando alguns parágrafos) porque existe algo neste livro que nos agarra. Não sei dizer bem o que é, mas há nele algo que me levou até ao fim. Um livro que me provoca este tipo de aversão, às personagens e ao que nele acontece, tem que ter algum mérito, até porque, sinto que o autor teve essa intenção. Acho que ele pretendia que acabássemos de ler o livro e nos sentíssemos sujos, como o dinheiro e todos os coitados que nele chafurdam, vivendo para ele, como se de uma droga se tratasse.
Consigo vislumbrar algumas qualidades do escritor, consigo até apreciar algumas passagens do livro e perceber a importância do que lá vem escrito, poderia estar aqui a divagar sobre a importância e a infeliz verdade que existe em tudo o que ele escreve, mas não consigo gostar da maneira como ele o faz. Por mais pertinentes que sejam os assuntos que ele aborda e por mais acertadas que sejam as reflexões que faz sobre a sociedade e a forma como lidamos com o dinheiro, se isto não vem acompanhado por uma escrita da qual goste, para mim não funciona.

Martin Amis, aparentemente não faz o meu género e, se voltar a ler alguma coisa dele será por mera distracção ou porque alguém muito persuasivo me convenceu do contrário... :s

Nota: Esta edição contém alguns erros, algumas gralhas e frases mal construídas. Isto também não ajudou a leitura já de si, difícil.

março 24, 2010

Bebé XXS - Maria João Lopo de Carvalho

"Com este livro, através de uma história e de ilustrações adequadas pretendemos por um lado, explicar, de uma forma simples ao universo infantil, sobretudo, aos irmãos mais velhos dos bebés prematuros, porque é que depois de terem nascido, estes tem que permanecer na maternidade – Explicar que este precisa de ganhar defesas para ser um menino(a) forte como o irmão(a).

Por outro lado, quisemos homenagear os irmãos mais velhos dos bebés que nascem “antes do tempo”, "atropelados" por novas rotinas familiares, impostas com a chegada de um bebé XXS. E que, nós pais, nem percebemos muitas vezes, o quão desatentos estamos às dúvidas e medos que surgem nestas cabecinhas."

Consideram-se bebés prematuros aqueles que nascem antes de completarem 37 semanas de gestação. Estes bebés, que nascem por vezes tão fragilizados fisicamente, têm necessidades que vão muito para além da presença e do afecto dos pais que todos os bebés necessitam e deveriam ter quando nascem. São bebés que, quando nascem, são afastados da mãe e levados para uma incubadora que será, às vezes durante meses, o "útero" que lhes permitirá lutar pela vida.
Uns nascem com tantas complicações físicas que, por mais que lutem e por mais que todos lutem para que fiquem bem, acabam por não resistir.
Outros há, que sendo pouco mais que um quilo de gente (às vezes bem menos) quando nascem, mostram tamanha tenacidade e vontade de viver e aprendem a respirar e a comer sozinhos, mostrando a toda a gente que o que querem é ir para casa e para o aconchego do colinho dos pais.

Nascem cada vez mais bebés prematuros mas, felizmente também são cada vez mais os que sobrevivem e sem complicações graves. São cada vez mais os que se conseguem tornar crianças excepcionais e cheias de vida. É impressionante como seres tão pequeninos e frágeis nos conseguem transmitir tamanha força e energia e, nos enchem de orgulho ao coleccionarem vitórias tão importantes. São definitivamente uns lutadores, todos eles, mesmo os que não resistem...
Estes bebés só sobrevivem porque existem cada vez mais e melhores condições para os receber nas maternidades, com profissionais de saúde cada vez mais preparados para os ajudar e que são completamente dedicados a estas crianças.

Este livro, Bebé XXS, escrito pela Maria João Lopo de Carvalho, com ilustrações de Mónica Catalá e com prefácio do psicólogo Eduardo Sá, é um livro direccionado para os manos dos bebés prematuros que vêm, com a sua necessidade de cuidados extra, inevitavelmente, alterar a vida de toda a família. Mas é também, uma forma de podermos ajudar a XXS - Associação Portuguesa de Apoio ao Bebé Prematuro , uma vez que o valor do livro reverte na totalidade para esta associação.
A XXS - Associação Portuguesa de Apoio ao Bebé Prematuro trabalha, em coordenação com os profissionais de saúde, no apoio aos bebés prematuros e às suas famílias, para que sejam ultrapassados os momentos mais difíceis de uma jornada que é tantas vezes desgastante para todos os envolvidos. Ajudam na prevenção dos partos prematuros e na investigação científica realizada sobre o assunto. Mas, a ajuda mais visível será mesmo a que é prestada aos familiares pois é uma caminhada cheia de sobressaltos e de sustos mas também, pelo menos é o que se espera, cheio de alegrias e vitórias.

O livro está à venda nas lojas FNAC e custa 13€. Acho que não é assim tão fácil de o encontrar nas prateleiras, no entanto, se o virem porque não comprar? :) Eu como tia babada de duas meninas XXS agradeço e elas, bem como os amiguinhos XXS que fizeram na Neonatologia, agradecem como sabem, com muita ternura e muito riso. ;)

março 21, 2010

As primeiras leituras

Tenho alguma dificuldade em lembrar-me do meu primeiro livro. De uma forma ou de outra, os livros sempre estiveram presentes na minha vida, mas não consigo levar a minha memória para o dia e hora em que pela primeira vez folheei um livro. O que me levou a gostar tanto deles? Qual terá sido "o" livro que me levou a querer ler outro e mais outro e mais outro e... ? Não sei, o que sei é que existem uns quantos que me fizeram companhia enquanto crescia, alguns ainda os guardo, outros simplesmente desapareceram como num passo de mágica.

Os primeiros de que tenho memória são livros educativos, lembro-me de dois, um ensinava a ver as horas, o outro a fala dos animais. Ainda os guardo, conjuntamente com os livros da Lillibeth, da Anita e do Petzi (nham nham para as panquecas da Mãe Ursa). No entanto o que mais me marcou foi um que se chamava O Pequeno Polegar, li-o dezenas de vezes, sempre com a secreta esperança de que desta vez o Pequeno Polegar não fosse abandonado na floresta pelo pai. Tenho ainda na memória o Ogre, feio e assustador! Lembro-me também de ter alguma banda desenhada, da Mafaldinha, do Zé Carioca e da Disney. Hoje, a BD diz-me muito pouco...

Os primeiros livros que tinham mais texto que bonecos, se a memória não me falha, chamavam-se Uma Menina entre os Ladrões e A Filha do Sol e, eu devia ter uns 6 ou 7 anos, quando mos ofereceram. Espero que, nos esporádicos ataques de arrumação tenham sido salvos e colocados no caixote que está no sótão. Enquanto escrevo isto faço figas, porque não tenho certeza de que tenham sobrevivido à arrogância da adolescência... :s Um que sobreviveu, de certeza, porque estou a olhar para ele, foi A Princesinha, de Frances Burnett. Este nem bonecos tem... livro de gente crescida, portanto. :) Contava a história de Sara, uma criança deixada, pelo pai, num colégio para meninas gerido por uma mulher odiosa. Quando o pai morre, deixando-a sem familiares e sem dinheiro, Sara vai sofrer e muita nas mãos desta mulher. Triste, triste e triste... É claro que tudo acaba bem, mas a miúda sofre que se farta até vislumbrar um raio de sol.

Depois vieram os livros Uma Aventura, a incontornável Enid Blyton com Os Cinco e, os meus favoritos, Triângulo Jota. Lembro-me que a minha irmã tinha um da Suzy que eu adorava, não me lembro do nome, mas li-o mesmo muitas vezes... :p

Nos 7º e 8º anos tive como leituras obrigatórias A Pérola, do John Steinbeck, O Mundo em Que Vivi da Ilse Losa e O Velho e o Mar do Hemingway. Amei O Mundo em Que Vivi. Aliás aconselho a sua leitura a todos, petizes ou não petizes. :) Continuo a gostar muito deste livro... Na altura achei A Pérola um livro confuso e não gostei do O Velho e o Mar. Provavelmente não tinha maturidade para os perceber. Hoje adoro John Steinbeck e A Pérola. Quanto ao Hemingway, a sensação de desconforto manteve-se, embora tenha relido O Velho e o Mar.

Depois nós crescemos, os livros vão-se tornando maiores e mais complexos, mais adultos. Olhamos para eles de maneira diferente, tornamo-nos mais exigentes, analisamos cada frase e cada palavra, à procura de significados menos óbvios que, na maior parte da vezes não existem. No entanto, o que é comum às diferentes fases é o gosto pela leitura, é a ânsia de conhecer, através das histórias, outros mundos e outras pessoas. É o gosto pelo livro em si e pela companhia que nos faz quando não queremos companhia.
Alguns passaram-me ao lado, como o Princepezinho e a Alice no País das Maravilhas mas, a vantagem dos livros é que, regra geral, eles não vão a lado nenhum, esperam por nós até que estejamos preparados para pegar neles. Talvez daqui a uns anos pegue neles para uma leitura conjunta com as minhas sobrinhas. Quem sabe?

Para relembrar: Mistério Juvenil, de certeza que encontram aqui alguns dos que tanta companhia vos fizeram.

Boas leituras! :)

março 18, 2010

O Planalto e a Estepe - Pepetela

"Do encontro entre um estudante angolano e uma jovem mongol, nos anos 60, em Moscovo, nasce um amor proibido.
Baseada em factos verídicos, ficcionados pelo autor, esta história põe em evidência a vacuidade de discursos ideológicos e palavras de ordem, que se revelam sem relação com a prática. Política internacional, guerra, solidariedade e amor, numa rota que liga um ponto perdido de África a outro da Ásia, passando pela Europa e até por Cuba. Uma viagem no tempo e no espaço, o de uma geração cansada de guerra num mundo cada vez mais pequeno. Maravilhoso e comovente, este é um romance sobre o triunfo do amor, contra todas as vontades e todas as fronteiras."

Mais um grande livro do Pepetela. À medida que vou lendo mais livros dele, vou como que revalidando a minha opinião sobre ele. Gosto muito dos livros dele, gosto da escrita, gosto das histórias, gosto do sentido de humor e da forma divertida como vai falando de assuntos tão sérios como a guerra. O Planalto e a Estepe não foi excepção, gostei muito. Embora as histórias de amor não surjam frequentemente nos livros dele como tema central, a verdade é que ele escreve muito bem sobre o amor e, acho mesmo que este foi um dos melhores livros que já li dele.

Os olhos dele continham o céu do Planalto,
Na Huíla, Serra da Chela, Dezembro, quando o azul mais fere.
Nos olhos dela estavam gravadas suaves ondulações da Estepe
mongol. Tons sobre o castanho.
Entremos primeiro no azul.


Assim começa o livro.
Júlio é um rapaz angolano, branco de olhos azuis, que se vê a estudar economia em Moscovo, com o apoio do partido comunista russo. Em Moscovo para além dos rudimentos da economia é-lhe também ensinada a cartilha socialista. Cartilha essa onde é apregoada a igualdade entre os povos, valores de fraternidade e a lealdade para com a causa e países socialistas.
Sarangerel é originária da Mongólia, país socialista, e que se encontra em Moscovo também a estudar. Sarangerel tem nos seu olhos castanhos a beleza das estepes da Mongólia e a força e coragem dos criadores de cavalos do seu país.
Júlio conhece Sarangerel e o amor que nasce entre os dois é daqueles que duram um vida e que nem com a morte desaparece. Ele apaixona-se pela sua cara de lua cheia e pela serenidade dos seus olhos castanhos, ela perde-se nos seus olhos azuis que lhe dizem mais do que Júlio poderia alguma vez exprimir por palavras.
A causa socialista que permitiu que se conhecessem não tolerou, no entanto, que se amassem e Sarangerel acaba repatriada para a Mongólia onde o pai, um graduado militar, era Ministro da Defesa. Júlio vê-se impossibilitado de entrar em contacto com ela, foram-lhe negados vistos de entrada na Mongólia e autorizações para sair da Rússia. As cartas eram controladas e quem os tentasse ajudar corria perigo. Aparentemente a apregoada igualdade entre os povos tinha alguns limites...
Separado de Sarangerel mas sem nunca desistir dela, Júlio, após terminar o curso, é enviado para o sul da Rússia para combater no Mar Negro. Inicia-se aí uma carreira militar brilhante que termina em Angola onde lutou anos a fio pela independência do país, sempre com a sua Sarangerel no coração e a certeza de que se voltariam a encontrar. Este pensamento deu-lhe esperança e coragem para enfrentar os horrores da guerra e provavelmente salvou-lhe a vida umas quantas vezes.
Muitas mais coisas haveria a dizer sobre estes dois mas se vos contasse tudo, porque haveriam de ler o livro? :)

Pepetela usa a história de amor entre o Planalto e da Estepe para nos ir contando sobre as tensões políticas da época e sobre as contradições de uma ideologia que carecia de poder de concretização e carecia sobretudo de homens que realmente acreditassem nela. Fala também sobre a guerra, sobre o racismo, mas também sobre a amizade, pois também as há eternas como o amor de Júlio e Sarangerel. Existe também alguma crítica ao estado actual de África, em geral, e de Angola em particular. Angola está em paz mas corrupta e cada vez mais desigual: Pobre África, viramos as costas uns aos outros e quem lucra é o antigo colonizador. Pois segundo Júlio, e provavelmente segundo Pepetela, é mais difícil ver duas empresas africanas a cooperarem do que uma africana com uma europeia. África tem um longo caminho a percorrer mas nada se fará sem envolver as populações educando-as e fornecendo-lhes as ferramentas necessárias para prosperarem sem ajuda exterior. Talvez um dia, quem sabe...

O Planalto e a Estepe é recomendadíssimo!

Boas leituras. :)

março 12, 2010

Carne de Cão - Pedro Juan Gutiérrez

"Sentia dentro de mim um odioso cocktail de violência, agressividade, luxúria, sadismo, necessidade de álcool. Mas também sentia que o meu coração se endurecia. Cada dia mais e mais. Era o que queria: ter um coração de pedra. Assim diz o protagonista de Carne de Cão, que pretende ganhar distância, solidão e silêncio interior. Tenta afastar-se, fugir do descalabro e da loucura quotidiana de uma vida à beira do abismo. Mas à sua volta tudo se desmorona como um furação tropical insaciável e voraz que desgasta e corrói o nosso homem. Carne de Cão é provocadoramente autobiográfico e em carne viva. Como nos seus livros anteriores, aqui o escritor cubano faz um striptease enquanto sorri ironicamente e troça de tudo e de todos. Uma obra simultaneamente escrita com um ritmo desesperado e com mão de mestre."

Este é o segundo livro que leio deste escritor, o primeiro foi o Trilogia Suja de Havana, e tal como com primeiro, voltei a ter alguma dificuldade em começar a leitura. Com o Trilogia Suja de Havana cheguei mesmo a pô-lo de lado, até porque não sou fã de contos mas, quando voltei a ele encontrei algum sentido e acabei por gostar bastante dele. Não são, no entanto, nem contos nem livros comuns os que Pedro Juan Gutiérrez escreve.

Este Carne de Cão é o último de cinco livros que Pedro Juan Gutiérrez escreveu sobre Cuba e as personagens bizarras, ou não, que habitam Havana e arredores. Fecha-se desta forma o que o autor chamou de o "Ciclo de Havana Central".
Talvez devesse ter lido estes livros na sequência certa, porque senti um salto muito grande entre o primeiro e o último, a personagem (supostamente o próprio autor) aparece aqui tão deprimido, tão amargurado e tão desencantado que me fez alguma confusão.
A semelhança do Trilogia Suja de Havana, o livro tem uma forte carga sexual, com mulheres tentadoras e desinibidas. A linguagem do escritor é crua, directa sem pudores e, se acreditarmos que escreve sobre si próprio, as situações acabam por nos parecer algo insólitas. :) Mas nem só de sexo vive o autor (aparentemente o clima de Cuba torna as pessoas ninfomaníacas) aliás, é bem provável que o sexo seja um pouco como o rum, que todos bebem em grandes quantidades, ajuda as pessoas a esquecerem os problemas e a vida miserável que levam. Bebem até à inconsciência tentando enganar a solidão e o desgosto. Pedro Juan Gutiérrez descreve-nos um país pobre, miserável mesmo e cada vez mais violento. Embora eu associe Cuba à cor, à música e à alegria das Caraíbas e o autor nos fale de um calor insuportável, do mar e da praia o cenário que imagino é cinzento e triste. As pessoas estão tão cansadas e deprimidas com a vida, que a paisagem envolvente como que se esbate. De certa forma é perturbadora esta imagem de Cuba, embora não totalmente inesperada mas, a ideia que ele passa e, sendo este o último livro da série, é que o país caminha para o suicídio lento, com o povo a perder o sentido de humor e a capacidade de enfrentar os problemas a rir. Não deixa de ser triste...

Embora eu não goste muito de ler contos, porque sou demasiado cusca e quero sempre saber mais, a verdade é que os de Pedro Juan Gutiérrez estão todos interligados e acaba por ser um livro "normal" com capítulos muito pequeninos. :)
Para quem possa sentir-se melindrado com alguma linguagem mais... hum, digamos que mais sexualmente explícita, este não será um livro aconselhável. Caso contrário poderá ser uma leitura interessante, embora a ache mais direccionada para leitores masculinos. Fez-me lembrar um pouco a série televisiva Californication com o David Duchovny, muitas mamocas e afins... Enfim, mais ao gosto dos homens. :)

Concluindo, com mamocas ou sem elas, vou querer ler os que me faltam deste "Ciclo de Havana Central". A escrita dele é divertida e até a linguagem que pode parecer, por vezes, exagerada e deslocada, acaba por ser estranhamente acertada. :)

março 10, 2010

A Ilha Debaixo do Mar - Isabel Allende

"Para quem era uma escrava na Saint-Domingue dos finais do século XVIII, Zarité tinha tido uma boa estrela: aos nove anos foi vendida a Toulouse Valmorain, um fazendeiro rico, mas não conheceu nem o esgotamento das plantações de cana, nem a asfixia e o sofrimento nos moinhos, porque foi sempre uma escrava doméstica. A sua bondade natural, força de espírito e noção de honra permitiram-lhe partilhar os segredos e a espiritualidade que ajudavam os seus, os escravos, a sobreviver, e a conhecer as misérias dos amos, brancos. Zarité converteu-se no centro de um microcosmos que era um reflexo do mundo da colónia: o amo Valmorain, a sua frágil esposa espanhola e o seu sensível filho Maurice, o sábio Parmentier, o militar Relais e a cortesã mulata Violette, Tante Rose, a curandeira, Gambo, o galante escravo rebelde... e outras personagens de uma cruel conflagração que acabaria por arrasar a sua terra e atirá-los para longe dela. Quando foi levada pelo seu amo para Nova Orleães, Zarité iniciou uma nova etapa onde alcançaria a sua maior aspiração: a liberdade. Para lá da dor e do amor, da submissão e da independência, dos seus desejos e os que lhe tinham imposto ao longo da sua vida, Zarité podia contemplá-la com serenidade e concluir que tinha tido uma boa estrela."

Que bom que foi voltar a Isabel Allende. Já sentia falta das histórias dela, carregadas de vida, de sentimentos e de pessoas reais. :) É tão agradável aprender História através da escrita de Isabel Allende, tudo fica tão bem ligado e é-nos fácil sentir que estamos em todos os locais e acontecimentos que relata.

A Ilha Debaixo do Mar é sobre a escravatura nos fins do século XVIII. O livro está dividido em duas partes, na primeira é-nos dado a conhecer a ilha de Saint-Domingue, actual Haiti, uma colónia francesa e um dos principais destinos dos escravos chegados de África, mais especificamente da Guiné. Na segunda parte, a acção desloca-se para Nova Orleães, antiga colónia francesa, depois espanhola e por fim entregue aos estadudinenses.
A história de Zarité serve de pretexto para visitar estes lugares, conhecer as pessoas e a forma como viviam e pensavam.
Com Zarité vivemos a angústia e a injustiça da escravidão, com ela sentimos a revolta e o choque por nos apercebermos que é no pior que existe em nós que mais nos assemelhamos:
Não há nada tão perigoso como a impunidade, meu amigo, é nessa altura que as pessoas enlouquecem e são cometidas as piores bestialidades; não importa a cor da pele, são todos iguais. Se o senhor visse o que eu vi, seria obrigado a questionar a superioridade da raça branca, que tanta vezes discutimos.
Com Zarité assistimos à revolta de milhões de negros, contra a escravidão, que ocorreu em Saint-Domingue e tornou o futuro Haiti no primeiro país do mundo a abolir a escravatura.
Com ela seguimos a consequente fuga dos brancos para Cuba e posteriormente para Nova Orleães, onde pensavam recomeçar a vida longe dos horrores vividos na ilha maldita.
Vivemos com Zarité o medo de que lhe vendam a filha, a preocupação que sente relativamente ao futuro e a ânsia de ser livre. Vivemos o sentimento de abandono de Zarité quando finalmente é liberta e não sabe o que fazer para se sustentar a si à filha. Por último sentimos com Zarité, que embora a sua z'étoile tivesse sido mais brilhante que a de muitas outras mulheres, a sua vida não tinha sido fácil e, por isso, alegramo-nos com o final tranquilo que autora lhe reservou.
Em Nova Orleães a autora dá um maior destaque à vida das mulheres no século XVIII, onde estas eram completamente controladas pelos homens. Sem acesso à educação a única saída que encontravam era o casamento. No caso das mulatas a ambição era o concubinato com algum homem branco que as sustentasse, pois desprezavam os negros e o casamento com brancos estava-lhes vedado por lei.

Isabel Allende encheu este livro de mulheres e de homens, escravos ou não, cheios de dúvidas, inseguranças e medos, tornando-os tão reais que os amamos a todos. Mesmo Valmorain, com todos os seus actos condenáveis, mais não era que o produto de uma época, não sabia ser de outra forma, fez o que se esperava dele porque só assim poderia garantir o seu futuro. Numa conversa que Valmorain tem com o Parmentier, médico e simpatizante da causa abolicionista, resume-se toda a mentalidade de uma época, onde se consideravam os negros como uma mercadoria, acreditando que estes não eram humanos como os brancos:
(...) Os negros têm constituição para trabalhos pesados, sentem menos dor e a fadiga, o seu cérebro é limitado, não sabem discernir, são violentos, desordeiros, preguiçosos, não têm ambição e sentimentos nobres.
- Poder-se-ia dizer o mesmo de um branco embrutecido pela escravidão, monsieur.
- Que argumento tão absurdo! - sorriu o outro, desdenhoso. - Os negros precisam de mão firme. E para que conste que me refiro a firmeza, não a brutalidade.
- Nisto não há meios-termos. Uma vez aceite a noção de escravatura, o trato vem a dar no mesmo - rebateu o médico.
- Não estou de acordo. A escravidão é um mal necessário, a única forma de tratar de uma plantação, mas pode ser feita de forma humanitária.
- Possui e explorar outra pessoa não pode ser humano - replicou Parmentier.

Embora o racismo e a exploração de homens e mulheres não sejam novidade, a verdade é que nunca deixará de me chocar. Há coisas que pura e simplesmente não consigo perceber e, tenho para mim, que é melhor assim. No dia em que vislumbrar algum sentido em sentimentos destes é porque perdi qualquer sentido de justiça, humanidade e moralidade e, por isso, façam o favor de me internar.

Enfim, é mais um livro excepcional da Isabel Allende. Só tive alguma dificuldade em seguir a cronologia dos acontecimentos porque a passagem do tempo era referida assim muito por alto. Mas nada que contamine a história, pelo menos para mim. Vale mesmo a pena ler A Ilha Debaixo do Mar! :)

P.S. Mais uma vez, para os interessados, a entrevista dada pela autora ao programa da RTPN, Conversas de Escritores.

março 05, 2010

Na Corda Bamba - Joanne Harris

"Forçada pelas circunstâncias a procurar refúgio com a sua jovem filha na remota abadia de Saint Marie-de-la-Mer, a actriz Juliette reinventa-se como Sóror Auguste sob a tutela de uma bondosa abadessa. A pouco e pouco, Juliette adapta-se a tão grande mudança: ao colorido das viagens e constantes descobertas da sua vida de actriz seguem-se as novas exigências de uma existência em semi-clausura. Mas os tempos estão a mudar: o assassinato de Henrique IV transforma-se num catalisador para a sublevação em França, e a nomeação de uma nova abadessa, cuja ânsia pela Reforma não conhece limites, rapidamente destrói tudo aquilo que Juliette começara a amar na sua nova vida. Mas o pior está ainda para vir... A abadessa, Isabelle, é uma criança de onze anos, vinda de uma família nobre e corrupta, e faz-se acompanhar de um fantasma do passado de Juliette: disfarçado de clérigo, eis um homem que ela tem todas as razões para temer..."

"Tratando com subtileza um tema delicado - a religião como subterfúgio, como manobra de evasão face às dolorosas realidades da existência - Joanne Harris constrói uma história bem ao seu jeito, tocante e vívida, apaixonante desde a primeira página."

Voltei a este livro, que já tinha lido há uns anos atrás, porque não me apetecia ler nada do que tinha aqui em casa, e voltar a ler Joanne Harris, para mim é sempre um prazer - já perdi conta às vezes que reli Cinco Quartos de Laranja... Escolhi este, porque me lembro que, dos livros das Joanne Harris, foi aquele que menos me encantou. Na altura culpei a forma como o tinha lido, muito à pressa, talvez não na melhor altura. Por isso estava na hora de lhe dar uma segunda oportunidade. :)
Li-o como se fosse a primeira vez, embora me lembrasse dos traços gerais da história. Foi muito bom voltar a ele porque achei-o melhor que da primeira vez. No entanto, o que me tinha incomodado aquando da primeira leitura continuava lá: a personagem feminina, Juliette, é muito diferente do tipo de mulheres que a autora costuma criar, mulheres fortes, corajosas e decididas. Esta Juliette, filha de artistas itinerantes, ela própria uma actriz e especialista do trapézio é, na minha opinião, cobarde e crédula demais, chegando a ser incoerente. Para além da personalidade de Juliette, mas também por causa dela, voltei a não gostar muito do final onde, a já conhecida imaginação da autora passou alguns limites que tornaram o final um bocadinho esquisito... :)

A história do Na Corda Bamba, decorre no ano de 1610, ano da morte de Henrique IV, rei francês conhecido pela sua tolerância religiosa tendo em conta os tempos que se viviam, em plena inquisição e consequente caça às bruxas. Onde conhecer ervas e plantas e as suas aplicações era perigoso e tudo o que fosse contra as regras instituídas pela igreja era motivo para segregação social. Sempre num tom leve, de crítica despretensiosa, a autora vai-nos dando uma ideia de como devem ter sido deprimentes aqueles tempos.
Mulheres subjugadas que, para fugirem à triste realidade da suas vidas entravam para o convento, abdicavam de tudo, inclusive dos filhos gerados no pecado. No entanto, não era por entregarem a vida a Deus que se tornavam pessoas melhores, menos frustradas e menos rancorosas. Crianças educadas para serem santas e dessa forma imortalizarem o nome da família. Tempos onde vale tudo para agradar a Deus. Aliás, vale tudo para em nome de Deus agradarmos a nós próprios sem consideração por quem é pisado no caminho. Infelizmente ainda não evoluímos o suficiente para conseguirmos erradicar da face da terra o fanatismo religioso e provavelmente nunca o conseguiremos enquanto houver tanta ignorância e falta de respeito pelo outro.

À parte dos pequenos pecados referidos, vale a pena ler o livro porque a escrita é muito boa. É fluída e divertida e a história levanta algumas questões pertinentes sobre o fanatismo religioso e os protagonistas da religião. Para além disso a Joanne Harris possui uma capacidade enorme de criar histórias e enredos que nos vão mantendo presos até ao fim, revelando apenas o necessário para nos manter interessados enquanto leitores embora, não sejam, de todo, livros de suspense. É difícil descrever a escrita e as histórias da Joanne Harris, são muito próprias e só lendo se consegue apreender todo o seu encanto.
Este não é, no entanto, o melhor livro para se iniciarem na autora. Eu aconselho Cinco Quartos de Laranja, Xeque ao Rei (surpreendente) e A Praia Roubada. :)

Agora vou-me agarrar ao A Ilha Debaixo do Mar, da Isabel Allende, que a minha linda e espectacular (eu sei que eventualmente vais ler isto :p) mana me ofereceu!

Boa Leituras!

março 03, 2010

Selos

Recebi este selo da Ana C. Nunes, do blogue Floresta de Livros. Muito obrigada Ana. :)

Aparentemente esta coisa dos selos tem regras que, neste caso, são:
- Dizer 7 coisas sobre mim mesma;
- Repassar para 7 blogueiros.

Ora bem, 7 coisas sobre mim:
1º Sou extremamente positiva. Para mim o copo está, na maioria das vezes meio cheio;
2º As pessoas dizem que sou ingénua. Mas para mim só faz sentido ser assim, acredito nas pessoas e nas suas capacidades;
3º Adoro os dias frios que vêm acompanhados por um céu azul e um sol resplandecente;
4º Adoro andar a pé;
5º Pertenço ao grupo de mulheres que sentem dificuldades em estacionar. Desculpem, mas não conheço nenhum homem que tenha esta dificuldade. :p
6º Amo de paixão as minhas sobrinhas, as que já cá estão e a que vem a caminho. :)
7º Adoro tirar fotografias, de sítios e das pessoas que gosto, porque tenho pavor de me esquecer das coisas e das pessoas quando for mais velhinha.

Suponho que isto é do género passa a outro e não ao mesmo, por isso os 7 blogues são:
- Os Meus Livros
- Bibliomigalhas
- Tons de Azul
- Cozinha das Letras
- Viver a Leitura
- N Livros
- Não Compreendo as Mulheres

março 01, 2010

Não faço ideia do que quero ler neste momento...

Caramba... Olho para os meus livros que ainda não li e não me apetece pegar em nenhum deles. Odeio estar em contingência financeira, porque dizer que não faço ideia do que quero ler neste momento não é totalmente verdade. Se pudesse estaria neste momento a comprar um livro da Isabel Alllende, não leio nada dela há algum tempo e agora estou cheia de vontade de voltar a ela, mesmo que fosse um repetido, como A Casa dos Espíritos ou A Filha da Fortuna, mas não os tenho. Devia ter assaltado a estante da minha irmã ontem...
Era mais que bom se o novo da Joanne Harris já andasse pelas livrarias, também sinto falta dos livros dela, talvez vá reler um deles, que os dela tenho-os todos bem bonitinhos ali na estante...
Embora deva estar possuída por alguma escritora/leitora de literatura cor-de-rosa (só assim se justifica que esteja a olhar de lado para tudo que tenho aqui em casa para ler) dava tudo para ter aqui um livrinho do John Irving. Acho que nenhum escritor me diverte como ele...
Já pensei em reler alguma coisa do Camilo Castelo Branco, mas não sei se me apetece ler tragédias amorosas onde há sempre alguém a morrer tuberculoso, doença de que se morria no século XIX se a pessoa que amávamos não pudesse ser nossa... :)
O que é que eu faço? Odeio esta sensação, igual aquela que temos quando olhamos para o armário e não nos apetece vestir nada do que lá temos...
Desconfio que este tempo maluco me deu a volta ao miolo... semanas a fio sem sol deixaram-me melancólica e nostálgica.

Devia ser tão fácil como é para a Magali decidir se quer comer ou não! :p

Feminino Singular - Sveva Casati Modignani

"Martina: uma figura de mulher "singular". Amada por uns e criticada por outros, toda a sua vida esteve sob o olhar inquisidor das gentes de Vertova, incluindo o das suas próprias filhas... No decurso da sua existência, dos anos quarenta aos nossos dias, através das mais complicadas vicissitudes, ela tentará encontrar o caminho para atingir a sua autêntica vocação de mulher - gerar a vida. Terá três filhas, de três homens diferentes, sem desposar nenhum deles. A sua morte súbita, nas vésperas do Natal, provocará um tremendo choque no seio familiar, e será Vienna, a sua mãe, a desvendar os mais íntimos segredos dessa mulher tão enigmática. Através do seu relato, descobriremos que afinal elas têm mais em comum do que pensavam: todas são mulheres atraentes e independentes, que amaram e se deixaram amar, e que decidiram, sobretudo, enfrentar os cânones sociais em prol de um bem maior - a maternidade."

Andava cheia de vontade, quase uma necessidade física, de ler um bom romance dito para mulheres. Tendo em conta a contenção de despesas a que estou sujeita, sujeitei-me ao que havia aqui em casa por ler, ou seja, só havia este Feminino Singular da Sveva Casati Modignani... Este não é o meu género de literatura, nunca foi e por isso as opções não foram opções, foram antes, amanha-te com o que tens! :)
Continuo insatisfeita... Achei que a autora iria ser ideal para esta minha súbita e incompreensível necessidade por romances mais cor-de-rosa, mas a verdade é que não foi assim. Li há uns anos o Baunilha e Chocolate, da mesma autora, e lembro-me que gostei. A história era divertida, sem dramas, bem contada e pensei que este Feminino Singular fosse na mesma onda. Mas achei-o um pouco sem sal, demasiado previsível, aliás previsível não será o mais correcto porque os mistérios da família são revelados logo nos primeiros capítulos, o resto livro apenas liga os acontecimentos. Isto torna a história pouco interessante.
Quando Martina, rebelde, começa a andar muito com Bruno Biffi, sabemos que irá engravidar e ter a sua primeira filha Giuliana. Quando Sandro Montini começa a fazer a corte a Martina apenas temos curiosidade para saber quando vai ela ficar grávida de Maria, a sua segunda filha. Por último quando o Professor Oswald Graywood surge na vida de Martina, é automática a associação entre o nome deste homem e o nome da terceira filha de Martina, Osvalda... Não nos enganamos, ele será o pai desta menina. Sabemos logo nos primeiros capítulos que com quem ela acabará os seus dias é com Leandro, o seu amigo de infância, por quem sempre foi apaixonada mas do qual a vida afastou devido a alguns mal-entendidos.

Os homens neste romance mais não são que bonecos nas mãos destas mulheres, personagens sem alma e sem personalidade... Acho que foi isso que me fez falta neste livro, homens fortes, com mais conteúdo. Achei o livro demasiado feminista. Dá a entender, durante quase todo o livro, de que as mulheres vivem perfeitamente bem sem homens, que estes apenas são necessários para procriar, mas nem para participar na educação das filhas eles servem. O pai de Giuliana nunca soube da sua existência, o pai de Maria morreu antes de saber que Martina estava grávida e o pai de Osvalda foi o único a poder conhecer a filha e Sveva caracteriza esta filha de Martina como a mais conservadora e a menos tolerante aos desvarios da mãe.
Giuliana, por seu lado, também tem uma filha, Camilla. Decide criar a filha sózinha, decidindo pelo pai da criança que este não estaria preparado para ter uma filha. Mas tudo isto começa na própria concepção de Martina, filha gerada de um amor arrebatador, o único verdadeiro neste livro, entre Vienna e Bruno Cepi. O problema é que Vienna era casada, mas não com Bruno Cepi... :)
No fim, todas as filhas de Martina assumem amores antigos e aparentemente viverão felizes para sempre ao lado dos seus homens. :)
No fundo a autora acaba por deixar a mensagem que de todas as experiências que vivemos se podem tirar ensinamentos e coisas positivas e que o importante é ser-se feliz, sozinha ou com uma pessoa que nos faça sorrir todos os dias, quer seja nosso filho, nosso companheiro ou ambos.

Estava à espera de mais deste livro, porque para além do excessivo feminismo da história cujo final acaba por contradizer tudo o que foi dito durante todo o livro, tinha outra lembrança da escrita da Sveva Modignani, julgava-a mais envolvente. Não gostei da maneira como me apresentou a história e a própria história em si é muito repetitiva porque, claramente, Martina precisava de saber umas quantas coisas sobre contraceptivos... :) Mesmo relativamente à crítica social e ao escândalo que era Martina ter três filhas de três homens diferentes sem nunca ter casado com nenhum deles, me pareceu pouco aprofundada, sem real influência na história. Martina nunca foi verdadeiramente importunada por isto, no entanto vivia numa pequena aldeia... Talvez o ser rica, linda como o sol e a bondade em pessoa atenuassem as recriminações... :)
Embora o tenha lido rápido, os capítulos são pequenos e acabamos por ler muito de cada vez, li sempre com uma sensação de urgência em o acabar, porque já estava cansada da história e só pensava no que iria ler a seguir que satisfizesse esta estranha vontade de ler livros cor-de-rosa. Bem, continua sem saber qual se seguirá, mas enquanto decido, vou voltar a algo que me preencha mais enquanto leitora. Talvez Pepetela? Não sei...

P.S. Para os interessados fica aqui o link para uma entrevista dada pela autora ao programa Conversas de Escritores do José Rodrigues dos Santos.