dezembro 10, 2023

[Ebook] A Coisa à Volta do teu Pescoço - Chimamanda Ngozi Adichie

Título: The Thing Around Your Neck 
Ano da edição original: 2009
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradução do Ingês: Ana Saldanha
Editora: Publicações Dom Quixote (ISBN: 9789722054546)

"Depois de Meio Sol Amarelo (Orange Prize 2007) e A Cor do Hibisco (Commonwealth Writers’ Prize 2005), Chimamanda Ngozi Adichie regressa com doze histórias protagonizadas por heroínas memoráveis. Divididas entre dois continentes - África e América -, estas mulheres lutam por um lugar e uma identidade no mundo moderno mas também pela preservação dos valores da sua cultura de origem. Quer vivam no inferno de um país como a Nigéria ou num subúrbio aparentemente calmo dos Estados Unidos, elas não têm uma vida fácil. As ameaças que enfrentam podem ter origem na guerrilha ou no funcionamento de um forno microondas mas os seus dilemas contêm toda a história de um continente."

Primeiro contacto com Chimamanda Ngozi Adichie, escritora nigeriana muito premiada e que tem andado no meu radar por causa de Meio Sol Amarelo, que volta não volta aparece na minha vida e sempre com críticas muito boas. Decidi começar com um livro mais pequeno, para ter uma ideia da escrita e o tipo de histórias e, gostei muito. Gostei muito da escrita e das histórias.
A Coisa à Volta do teu Pescoço, traz-nos doze histórias protagonizadas por mulheres nigerianas. Algumas passam-se nos EUA outras na Nigéria, sendo que a Nigéria está omnipresente em todas  histórias e, acima de tudo na vida destas mulheres. 

As mulheres destas histórias representam, de certa forma, todas as mulheres do mundo mas, acima de tudo, são um retrato da mulher africana, tendo de viver em sociedades patriarcais, muito religiosas e pouco tolerantes à ideia de a mulher ter outras ambições que não sejam as de ser esposa, mãe e cuidadora.
Temos mulheres instruídas e inteligentes e temos mulheres menos instruídas e inteligentes. Temos em todas elas uma vontade de fazer diferente e de quebrar o ciclo de descriminação. Todas elas querem ser donas das suas vidas, quer seja a cuidar da família ou a construir uma carreira. 
Nestas histórias, existem vários tipos de homens, os orgulhosos da sua superioridade, de mente fechada, presos à tradições que apenas os favorecem a eles e, existem os homens que são verdadeiros parceiros e que não vêm na mulher uma ameaça e procuram ir equilibrando a balança. Mais dos primeiros e menos dos segundos mas, o importante é não desistir e, um dia todas, em todo o lado, seremos tratadas com igualdade e teremos as mesmas oportunidades.

Gostei bastante, tanto que já comprei o Meio Sol Amarelo. A escrita é bem-humorada, mesmo quando relata situações que de engraçado não têm nada. O tema é pertinente, hoje e sempre e por isso não hesito em recomendar!

Boas leituras!

Excerto:
"O teu tio na América, que tinha inscrito o nome de todos os membros da tua família na lotaria dos vistos americanos, disse que podias viver com ele até te orientares. (...) 
Ris-te com o teu tio e sentiste-te à vontade na casa dele; a mulher dele chamava-te nwanne, irmã, e os seus dois filhos, em idade escolar, chamavam-te Titi. Falavam igbo e comiam garri ao almoço e era como em casa. Até o teu tio vir à cave atravancada onde dormias com caixotes velhos e embalagens e te apertar à força contra si, apertando-te as nádegas e gemendo. Ele não era verdadeiramente teu tio; na realidade, era irmão do marido da irmã do teu pai; não há laços de sangue. Depois de o empurrares, ele sentou-se na tua cama - ao fim e ao cabo, a casa era dele - e sorriu e disse que aos vinte e dois anos já não eras propriamente uma criança. Se tu deixasses, ele faria muitas coisas por ti. As mulheres espertas era o que faziam. Como é que julgavas que aquelas mulheres em Lagos com empregos bem pagos chegavam lá? Até mesmo as mulheres na cidade de Nova Iorque?
Fechaste-te às chave no quarto de banho até ele voltar lá para cima e na manhã seguinte foste embora, a pé pela longa estrada sinuosa, sentindo o cheiro a peixe que vinha do lago."