"Nana é uma das obras mais conhecidas do célebre romancista francês Émile Zola. A personagem central, que dá nome ao romance, chama-se precisamente Nana. Filha de pai alcoólico e de uma lavadeira, Nana, medíocre artista de teatro, mas com um corpo de Vénus e uma sexualidade desequilibrada e vulcânica, torna-se no tipo perfeito da prostituta de luxo, da cortesã da sociedade francesa dos tempos do Segundo Império. Personalidade contraditória, atinge a riqueza à custa do comércio carnal, sobretudo na alta-roda da aristocracia e da finança, e reina, no seu palacete da Avenida de Villiers, entre móveis de laca branca e no meio de um «perfume perturbante», como a força voluptuosa e brutal, sem inteligência e sem amor (embora não totalmente deserta de sentimentos humanos), que irresistivelmente atraí, corrompe e arruína, até morrer, como um destroço, numa decomposição antecipada. Zola supera, no entanto, o âmbito da história individual, para nos apresentar, num quadro profundamente realista, a corrupção dourada das classes francesas mais elevadas da época de Napoleão III."
Desde que li o Germinal (já opinado aqui), também escrito por Émile Zola, que fiquei muito curiosa de ler mais livros deste autor francês. Nana, embora diferente do que estava à espera, não deixou de ser uma leitura interessante. :)
Nana é um mulher surpreendentemente bela, fisicamente irresistível cujo menear de ancas incendeia a plateia do Variedades, sala de teatro onde representa de forma sofrível Vénus, a Deusa do Amor e da Beleza. Não existe homem que lhe consiga resistir e são poucas as mulheres que não a invejam. Desta forma, Nana torna-se na prostituta de luxo mais requisitada de Paris. Vive à custa dos seus amantes, enganando-os com o seu rosto de anjo emoldurado por uns cabelos doirados como o sol, quando lhes promete fidelidade e exclusividade, assim o façam por merecer, pagando de forma exuberante pelos seus serviços.
Nana é uma mulher infantil, temperamental, com súbitos ataques de fúria e frustração seguidos de enternecimentos sinceros, mas breves, pelos problemas dos que a rodeiam. Sente um desprezo enorme por todos os homens que rastejam aos seus pés e, por isso humilha-os de todas as formas que consegue. Nem assim eles a abandonam, completamente dependentes dos seus carinhos e da atenção que esta lhes dispensa. Enfeitiçados pela sua beleza, esbanjam as suas fortunas com ela, comprando-lhe palacetes ricamente decorados, roupas luxuosas, pagando todas as suas despesas e satisfazendo todos os seus caprichos.
Os homens neste livro são dos seres mais desprezíveis que já vi descritos na literatura. Não escapa nem um, são animais com cio, sem qualquer amor próprio, irresponsáveis e burros. Nana, embora não deva nada à inteligência, faz deles o que quer, gritando e exigindo, outras vezes ronronando e iludindo. É uma personagem irritante, por ser emocionalmente tão inconstante e por me fazer lembrar tanto uma criança insuportável e birrenta que consegue sempre o que quer. Mas embora seja irritante, é uma personagem fortíssima de quem cheguei a sentir alguma pena, porque me parecia que ela estava presa numa rede da qual não conseguia escapar, embora o tenha tentado mais que uma vez.
Embora tenha sido diferente do que estava à espera, estava à espera de algo mais parecido com o Germinal, talvez algo mais revolucionário, gostei do livro. Gostei principalmente mais para o fim, onde finalmente reconheci a escrita de Zola, com as suas descrições espantosamente realistas, nomeadamente na descrição da corrida de cavalos, o Grande Prémio de Paris e porque, mais para o fim, há um ritmo alucinante onde todos os que rodeiam Nana começam a ser destruídos, consequência de todos os seus actos irreflectidos na ânsia de cair nas boas graças da cortesã. E Nana exulta com esta destruição à sua volta, como que sentido-se vingada pois, uma rapariga, filha de pai alcoólico e mãe lavadeira, pôs a alta sociedade a rastejar aos seus pés, destruindo-os, ou melhor, deixando que se destruíssem a si próprios, deixando que chafurdassem na sua imoralidade e falta de princípios.
Recomendo, mais que não seja por ser do Zola. :p