Título original: No Meu Peito Não Cabem Pássaros
Ano da edição original: 2011
Autor: Nuno Camarneiro
Editora: Publicações Dom Quixote
Autor: Nuno Camarneiro
Editora: Publicações Dom Quixote
"Que linhas unem um imigrante que lava vidros num dos primeiros
arranha-céus de nova iorque a um rapaz misantropo que chega a Lisboa num
navio e a uma criança que inventa coisas que depois acontecem? Muitas.
Entre elas, as linhas que atravessam os livros.
Em 1910, a passagem de
dois cometas pela Terra semeou uma onda de pânico. Em todo o mundo,
pessoas enlouqueceram, suicidaram-se, crucificaram-se, ou simplesmente
aguardaram, caladas e vencidas, aquilo que acreditavam ser o fim do
mundo.
Nos dias em que o céu pegou fogo, estavam vivos os protagonistas deste romance - três homens demasiado sensíveis e inteligentes para poderem viver uma vida normal, com mais dentro de si do que podiam carregar.
Apesar de separados por milhares de quilómetros, as suas vidas revelam curiosas afinidades e estão marcadas, de forma decisiva, pelo ambiente em que cresceram e pelos lugares, nem sempre reais, onde se fizeram homens. Mas, enquanto os seus contemporâneos se deixaram atravessar pela visão trágica dos cometas, estes foram tocados pelo génio e condenados, por isso, a transformar o mundo. Cem anos depois, ainda não esquecemos nenhum deles.
Escrito numa linguagem bela e poderosa, que é a melhor homenagem que se pode fazer à literatura, No Meu Peito não Cabem Pássaros é um romance de estreia invulgar e fulgurante sobre as circunstâncias, quase sempre dramáticas, que influenciam o nascimento de um autor e a construção das suas personagens."
Nos dias em que o céu pegou fogo, estavam vivos os protagonistas deste romance - três homens demasiado sensíveis e inteligentes para poderem viver uma vida normal, com mais dentro de si do que podiam carregar.
Apesar de separados por milhares de quilómetros, as suas vidas revelam curiosas afinidades e estão marcadas, de forma decisiva, pelo ambiente em que cresceram e pelos lugares, nem sempre reais, onde se fizeram homens. Mas, enquanto os seus contemporâneos se deixaram atravessar pela visão trágica dos cometas, estes foram tocados pelo génio e condenados, por isso, a transformar o mundo. Cem anos depois, ainda não esquecemos nenhum deles.
Escrito numa linguagem bela e poderosa, que é a melhor homenagem que se pode fazer à literatura, No Meu Peito não Cabem Pássaros é um romance de estreia invulgar e fulgurante sobre as circunstâncias, quase sempre dramáticas, que influenciam o nascimento de um autor e a construção das suas personagens."
Nuno Camareiro é o vencedor do Prémio Leya de 2012, o que me deixou simultaneamente curiosa e de pé atrás. Os critérios para a atribuição de um prémio literário são, naturalmente, muito racionais. Dá-se mais importância à técnica e menos aos sentimentos, subjectivos e pessoais, que uma história pode despertar no leitor. As críticas positivas que li a este autor acabaram por me convencer de que valeria a penas dar uma espreitadela aos livros dele. Além disso, acho o título deste No meu Peito Não Cabem Pássaros bonito e às vezes é tão fútil quanto isso, um livro ter um título bonito pode ser a razão pela qual vem connosco para casa... ;)
No Meu Peito Não Cabem Pássaros é um livro repleto de imagens bonitas, de frases que transmitem mais do que aquilo que está escrito no papel. A escrita de Nuno Camarneiro é poética, sem ser etérea. É palpável e próxima. É um livro construído de suspiros, sobressaltos, de olhares, de pensamentos, de interrogações, de imaginação. Uma reinvenção do mundo como o vemos no nosso dia-a-dia. Num livro cujos três protagonistas foram inspirados em três dos escritores menos óbvios do século passado não é de se esperar outra coisa.
Nuno Camarneiro pegou no Checo Kafka, no nosso Pessoa e no Argentino Borges, e contou-nos um pouco da vida dos três, a infância, a passagem para a vida adulta e a descoberta da escrita como forma de entenderem o mundo.
Não é um livro fácil, embora a escrita não seja complicada, por não ser o típico romance, com uma narrativa estruturada de forma clássica, exige alguma concentração extra. Os capítulos pequenos permitem que se seja uma leitura dinâmica e que consigamos imprimir o ritmo mais pausado que a escrita impõe.
Gostei, essencialmente porque a escrita é refrescante e achei curioso que as três personagens sejam tão diferentes uns dos outros, embora sejam mais ou menos contemporâneos. A única característica que os une é mesmo a imaginação e a vontade de escrever, por razões diferentes, como forma de recriar a própria vida. Os três muito marcados por episódios da infância, pela educação e costumes de cada país.
Gostei! É um escritor a manter debaixo de olho.
Recomendo!
Boas leituras!
Excerto:
De Karl - "Sente-se um silêncio impossível, um silêncio que desafia a cidade inteira. Há eléctricos parados no meio da rua e os passageiros espalhados à volta de cabeça no ar. Durante alguns minutos ninguém se mexe, a cidade está parada. De repente um miúdo remendado decide romper o impasse com um salto e despudor, a bolsa de uma senhora desatenta é um pretexto como outro qualquer, ela desce o olhar e grita desapossada, mas o rapaz já vai longe. Gritos, comentários, alguém que chama a Polícia. A cena dessacraliza os olhares e há agora quem descubra que é tarde e faz frio, que não é a primeira vez que o céu arde e a humanidade ainda por cá anda, com a fome de sempre e outras coisas em que pensar."
De Fernando - "Os homens multiplicam-se a cada cruzamento, os homens são assim. Caminho para aqui, caminho por ali, uma direcção na vida e outra no pensar. Quatro cruzamentos são dezasseis homens, vinte são um milhão, quarenta e oito mil, quinhentos e setenta e seis homens. Gabardine ou sobretudo, café curto ou cheio, a pé ou de eléctrico, almoço no escritório ou no Alves, dezasseis homens. Passou um meio dia e é já difícil encontrar mesa onde sentar tanta gente, acabe o dia, venha outro, uma semana, um mês, um ano, e nem na China cabem os homens que saem de um homem."
De Jorge - "Por fim, lá se chega à idade de ver a vida pelo que não chegou a ser. O presente é terrivelmente condicionado pelo passado e por tantas leviandades cometidas sobre o tempo. Tudo a que um dia se brincou acaba por ser só memória e caminho, degrau de uma escada sempre a estreitar. Depois um homem senta-se à mesa e escreve por vingança contra si mesmo - para viver outras vidas, como dizem alguns."