Título original: Chanson Douce
Ano da edição original: 2016
Autor: Leïla Slimani
Ano da edição original: 2016
Autor: Leïla Slimani
Tradução: Tânia Ganho
Editora: Alfaguara (ISBN: 978-989-665--372-9)
Editora: Alfaguara (ISBN: 978-989-665--372-9)
"Mãe de duas crianças pequenas, Myriam decide retomar a actividade profissional num escritório de advogados, apesar das reticências do marido. Depois de um minucioso processo de selecção de uma ama, o casal escolhe Louise. A ama rapidamente conquista o coração dos pequenos Adam e Mila e a admiração dos pais, tornando-se uma figura imprescindível na casa da jovem família.
O que Myriam e Paul não suspeitam - ou não querem ver - é que a sua pequena família é o único vínculo de Louise à normalidade. Pouco a pouco, o afecto e a atenção vão dando lugar a uma interdependência sufocante, com o cerco a apertar a cada dia, até desembocar num drama irremediável.
Com um olhar incisivo sobre esta pequena família, Leila Slimani aponta o foco para um palco maior: a sociedade moderna, com as suas concepções de amor, educação e família, das relações de poder e dos preconceitos de classe. Com uma escrita cirúrgica e tensa, eivada de um lirismo enigmático, o mistério instala-se desde a primeira página, um mistério que é tanto sobre as razões do drama como o das profundezas insondáveis da alma humana."
Canção Doce, ao contrário do que o título possa levar a pensar nada tem de doce, de terno ou de alegre. É um livro angustiante, que começa sem rodeios e sem qualquer vislumbre de esperança, com duas crianças mortas, assassinadas pela sua ama Louise. Não há qualquer possibilidade de uma reviravolta, as crianças estão mortas e Louise é a culpada.
Por isso, Canção Doce é a história de Louise, de como conheceu aquela família, de como ganhou a confiança daqueles pais e o que a levou a fazer o que fez sem que ninguém o conseguisse prever.
É uma história triste, cinzenta, chega a ser fisicamente tensa. Há sempre uma espécie de confrangimento nas interações com Louise que, é um amor e está sempre disponível, mas que provoca em quem a rodeia retraimento, quase repulsa.
Claramente ama os miúdos e gosta daquela família, à sua maneira. O que a leva a cometer um acto tão extremo e tão inesperado?
Não sei se chegamos ao fim e temos uma resposta mas, vamos acompanhando o crescente desequilíbrio de Louise, a obsessão por aquela família, e conhecemos um pouco da Louise antes de ter entrado na vida deles.
Gostei da escrita, simples e sem floreados. Gostei da forma como nos vai dando a conhecer Louise e a sua crescente loucura.
Senti, não sei se é propositado, que há uma crítica subliminar à mãe, que "abandona" os filhos nas mãos de uma desconhecida, para ir atrás de uma carreira, porque não quer ser apenas uma mãe e uma esposa. Esta espécie de culpa que parece cair sobre a mãe, fez-me retrair um pouco e não me deixou muito confortável. Mais ainda porque me pareceu, pela forma como nos são relatados os acontecimentos, que não há nada a apontar àquela mãe.
Sensações à parte, gostei da história, gostei da escrita e, é natural que volte a Leïla Slimani.
Boas leituras!
Excerto:
"A mãe encontrava-se em estado de choque. Foi o que disseram os bombeiros, o que repetiram os polícias, o que escreveram os jornalistas. Ao entrar no quarto onde jaziam os filhos, ela soltou um grito, um grito saído das profundezas, um uivo de loba. As paredes tremeram. A noite abateu-se sobre aquele dia de Maio. Ela vomitou e a polícia encontrou-a assim, com a roupa suja, agachada no quarto, a soluçar como uma possessa. Berrou quase até rasgar os pulmões. Um dos paramédicos fez um sinal discreto com a cabeça e ergueram-na, apesar da sua resistência, dos seus pontapés. Levantaram-na devagar e uma jovem estagiária do SAMU administrou-lhe um calmante. Era o seu primeiro mês de estágio.
A outra também, também tiveram de a salvar. Com o mesmo grau de profissionalismo, com a mesma objectividade. Ela não soube morrer. Não soube acolher a morte, sõ soube infligi-la. Cortou os pulsos e espetou a faca na garganta. Desmaiou aos pés da cama de grades. Endireitaram-na, mediram-lhe as pulsações e a tensão. Instalaram-na na maca e a jovem estagiária manteve a mão no pescoço dela.."