Título original: L'Amica Geniale - Infancia, Adolescenza
Ano da edição original: 2011
Autor: Elena Ferrante
Tradução: Margarida Periquito
Editora: Relógio D'Água Editores
Ano da edição original: 2011
Autor: Elena Ferrante
Tradução: Margarida Periquito
Editora: Relógio D'Água Editores
A Amiga Genial é a história de um encontro entre duas crianças de um bairro popular nos arredores de Nápoles e da sua amizade adolescente.
Elena conhece a sua amiga na primeira classe. Provêm ambas de famílias remediadas. O pai de Elena trabalha como porteiro na câmara municipal, o de Lila Cerullo é sapateiro.
Lila é bravia, sagaz, corajosa nas palavras e nas acções. Tem resposta pronta para tudo e age com uma determinação que a pacata e estudiosa Elena inveja.
Quando a desajeitada Lila se transforma numa adolescente que fascina os rapazes do bairro, Elena continua a procurar nela a sua inspiração.
O percurso de ambas separa-se quando, ao contrário de Lila, Elena continua os estudos liceais e Lila tem de lutar por si e pela sua família no bairro onde vive. Mas a sua amizade prossegue.
A Amiga Genial tem o andamento de uma grande narrativa popular, densa, veloz e desconcertante, ligeira e profunda, mostrando os conflitos familiares e amorosos numa sucessão de episódios que os leitores desejariam que nunca acabasse.
Elena e Lila vivem num bairro em Nápoles. Elena, filha de um porteiro municipal e Lila filha do sapateiro. Nunca saíram dos limites do bairro, apenas conhecem as pessoas do bairro e não fazem ideia de como é mundo para além do bairro.
Elena é uma miúda insegura, bonita e inteligente mas insegura. Lila é dura, muito inteligente, sem papas na língua, é rebelde e desafiadora. Parece não se importar com nada, não expressa sentimentos e não parece valorizar a amizade que Elena tem por ela.
Elena tem por Lila uma admiração sem limites e é a sua maior defensora. Vive e cresce, num carrossel de emoções, entre a felicidade de poder partilhar a vida com Lila e o medo que a amiga deixe de a achar interessante. O que a move é a aprovação de Lila, sentir que a amiga a admira ou até que a inveja. Lila obriga-a a sair da sua zona de conforto. Por causa de Lila continua a estudar para além da instrução primária, por Lila, é a melhor aluna do liceu. Por Lila, é capaz de tudo.
Lila é uma miúda que cresce franzina, meio revoltada e que desabrocha tarde. É muito inteligente, com capacidades acima da média mas, ao contrário de Elena, não consegue que os pais a deixem continuar os estudos e acaba por não conseguir sair da vida castradora do bairro, que a condiciona e limita. Torna-se numa bonita rapariga que atrai todos, especialmente os rapazes. Todos querem namorar Lila e ela não quer namorar ninguém. Mas, nem Lila consegue escapar às teias apertadas que constituem a vida no bairro.
A história passa-se nos anos 50, após o fim da 2ª Guerra Mundial e o bairro é uma pequena comunidade, autossuficiente, onde todos têm um oficio. São pobres, vivem com dificuldade e a Itália acabou de sair de uma guerra. Todos se conhecem, os filhos brincam na rua e mais tarde casam-se uns com os outros. Os negócios passam de pais para filhos. Os meninos aprendem um ofício e as meninas ajudam as mães nas tarefas domésticas até terem idade, elas próprias para casarem e constituírem a sua própria família.
É um sítio violento onde se vive em permanente tensão. Existem quezílias entre famílias, por motivos políticos e não só.
Os pais são pessoas secas, pouco habituadas a desmonstrações de afecto. Educam os filhos para serem trabalhadores, para ficarem junto deles e contribuírem para a economia da casa.
Só Lila parece destoar, quer ver o que existe para além das ruas do bairro, quer quebrar o ciclo de pobreza e Elena é arrastada pelas fantasias da amiga. Toma-as como suas. É por causa de Lila que provavelmente irá deixar o bairro para trás.
Tinha muitas expectativas para este livro. É um livro sobejamente conhecido que andou nas bocas de todo o mundo, adaptado à televisão pela Max (trailer aqui) e, embora tivesse muitas expectativas, a verdade é que, lá no fundo, sempre achei que talvez não fosse bem a minha praia.
Embora a envolvência seja interessante, com a descrição de Nápoles e com a caracterização das pessoas que habitam o bairro, que são, de certa forma, cativantes, no fim, não consegui sentir grande entusiamo pelo que me estava a ser contado.
A vida de Lila e Elena pareceu-me aborrecida, repetitiva, com acontecimentos redundantes e, embora o livro até seja grande, parece que nada acontece, nada evolui e a obsessão de Elena por Lila torna-se cansativa. Não sei, a escrita não me pareceu especialmente inspirada e dei por mim a pensar, isto em série ou filme até é capaz de funcionar, mas como livro, não me entusiasma.
A Amiga Genial segue a vidas destas duas miúdas até à adolescência. Para sabermos o que a vida lhes reserva existem mais três livros: História do Novo Nome, A História de Quem Vai e de Quem Fica e História da Menina Perdida.
Tenho pena de não ter achado nada de especial e, não sei se terei vontade de ler os outros três livros. Talvez me fique pela série.
Boas leituras!
Excerto:
"A nossa amizade começou no dia em que eu e Lila decidimos subir a escadas escuras que, degrau após degrau, lanço a pós lanço, iam até à porta do apartamento de dom Achille.
Lembro-me da luz violácea do pátio, dos odores de um entardecer ameno de Primavera. As mães estavam a fazer o jantar, eram horas de ir para casa, mas nós deixámo-nos ficar, dando provas de coragem ao desafio, sem dizermos uma palavra. Havia algum tempo que não fazíamos outra coisa, dentro e fora da escola. Lila enfiava a mão e o braço inteiro na escuridão de uma boca de esgoto, e eu fazia o mesmo logo a seguir, com o coração aos saltos, esperando que as baratas não me subissem pela pele e que os ratos não me mordessem.
Lila trepava até à janela do rés-do-chão da senhora Spagnoulo, pendurava-se da barra de ferro a que estava preso o arame da roupa, balançava-se e depois deixava-se cair para o passeio, e eu em seguida fazia o mesmo, embora com medo de cair e de me magoar. Lila espetava sob a pele o alfinete de segurança ferrugento que achara na rua sei lá quando, mas que guardava na algibeira como se fosse o presente de uma fada; eu observava a ponta de metal a abrir-lhe um túnel esbranquiçado na palma da mão, e depois, quando ela o retirava e mo estendia, fazia a mesma coisa.
A certa altura lançou-me um olhar dos dela, firme, de olhos semicerrados, e dirigiu-se para o prédio onde morava dom Achille. Gelei de medo. Dom Achille era o papão das histórias infantis, estava terminantemente proibida de me aproximar dele, de lhe falar, de olhar para ele, de o espiar, tinha de agir como se ele e a família não existissem."