Ano da edição original: 2008
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Tradução: Isabel Fraga
Editora: Dom Quixote
"Na Barcelona turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais. Com deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a amizade se conjugam num relato magistral."
Não sei bem o que dizer acerca deste livro. O que normalmente até é uma coisa boa, neste caso não é bem assim. Não sei o que dizer porque cheguei ao fim do livro sem qualquer nota mental acerca das coisas que gostaria de destacar ou que gostaria de não esquecer.
É claro que posso falar da história, posso até destacar uma ou outra passagem mas, a realidade é que o livro me pareceu... demasiado normal. Fui passando as páginas com algum interesse, mas ao mesmo tempo sentia que nada do que lia iria ganhar raízes na minha memória.
O livro lê-se bem, a escrita é fluída, a história é intrigante, as personagens criam alguma empatia com o leitor mas, não sabendo precisar o porquê, senti sempre alguma distância da minha parte relativamente ao que lia. Não sei se é por achar, como já tinha acontecido com o A Sombra do Vento (a minha opinião aqui), que as personagens e as suas acções não são credíveis, o tom dos diálogos e as expressões usadas pareceram-me muitas vezes inadequados para a época retratada e a linguagem pareceu-me dirigida a um público mais novo. No entanto, nas descrições a linguagem que Carlos Ruiz Zafón utiliza é extremamente rica e bem conseguida. É nos diálogos e na interacção das personagens que sinto alguma imaturidade e daí a sensação de que se dirige a um público mais jovem.
Acho que o autor se perdeu um pouco no final, não sabendo como por um ponto final e justificar todas as suspeitas que vai criando no leitor. Confesso que acabei por não perceber muito bem o objectivo de todo aquele desfilar de mortes violentas e de todas aquelas fugas e regressos de Daniel Martín, o protagonista. Não percebi bem o que, ou quem, era Corelli, o editor misterioso de Martín, e o final pareceu-me despropositado... :/
Enfim, não vale a pena continuar a dissertar sobre a estranheza que os livros de Carlos Ruiz Zafón me provocam. Até porque, não posso dizer que não gostei do livro, só não o achei nada de extraordinário. E isto é algo que me custa admitir, porque sei que este é um autor que tem seguidores acérrimos que defendem os seus livros com unhas e dentes. Sinto com Carlos Ruiz Zafón o mesmo que sinto por não conseguir apreciar Ernest Hemingway, simplesmente não percebo o que prende tanto os leitores... Falha minha? Provavelmente... :)
Mas, deixemos para trás os sentimentos menos positivos que este livro me despertou e vamos falar das coisas boas que, tanto neste O Jogo do Anjo, como no A Sombra do Vento, se podem encontrar! :)
Acho que um dos pontos mais positivos deste livro é a capacidade que o autor tem em criar ambientes sinistros, opressivos e soturnos. Não só Barcelona me parece assustadora como qualquer outro ambiente descrito no livro é arrepiante, quer seja uma rua, quer seja uma casa, ou simplesmente um sombra. Foi uma das coisas que mais gostei, neste livro e que é comum ao A Sombra do Vento.
Foi bom regressar ao Cemitério dos Livros Esquecidos e à familiar livraria dos Sempere, desta vez com o avô e o pai de Daniel Sempere, o jovem protagonista do A Sombra do Vento, à frente do negócio. Mais uma vez, gostei muito do Sempere pai, deste livro. E achei curioso conhecer um pouco da vida do pai de Daniel Sempere, por ter sido uma das personagens que mais gostei no A Sombra do Vento.
No início achei Daniel Martín, o protagonista deste livro, cativante mas, dei por mim, a páginas tantas, a achar que ele tinha perdido qualquer coisa pelo caminho. A determinada altura houve uma mudança demasiado brusca na sua personalidade que, na minha opinião o descaracterizou e me fez perder algum interesse por ele. Senti alguma confusão e, por momentos, pensei que tinha baralhado nomes,e que estava a confundi-lo com outra personagem. Curiosamente, acho que é com os protagonistas, que Carlos Ruiz Zafón tem mais dificuldade, sendo as personagens secundárias mais interessantes. Nisso, e em finalizar a história de forma mais ou menos coerente, sem que se fique com a sensação de que teve de acabar tudo à pressa por falta de tempo ou perda de inspiração... :/
Não vou falar da história propriamente dita porque acho que é um daqueles casos em que, ou contamos tudo ou o pouco que desvendamos parece insignificante e pouco apelativo. É uma história misteriosa que me manteve intrigada ao longo de quase todo o livro. Digo quase todo o livro, porque a revelação dos segredos não é tão bem conseguida como a montagem de toda aquela "conspiração".
Concluindo e baralhando: achei o livro banal, talvez porque é, na minha opinião, muito parecido com o A Sombra do Vento e, daí pouco original. Aliás o facto de o livro ser referido tantas vezes nesta minha opinião é sintomático das similaridades que fui encontrando ao longo da leitura. Se eu tivesse gostado mais do A Sombra do Vento, do que gostei na realidade, talvez me tivesse sabido bem regressar aos lugares e às personagens aí retratadas, como não foi esse o caso, achei o regresso um pouco cansativo.
Embora para mim tenha sido uma leitura pouco memorável, não posso deixar de o recomendar porque tenho perfeita consciência que a minha dificuldade com os livros de Carlos Ruiz Zafón é a mesma que tenho com Ernest Hemingway, não me identifico com a escrita nem com a forma que têm de contar uma história. É apenas e só uma questão de gosto pessoal e nada mais, por isso, leiam e quase de certeza que vão gostar. :)
Boas leituras!
Excerto:
"O táxi subia lentamente até aos confins do bairro de Gracia, em direcção ao solitário e sombrio recinto do Park Güell. A colina estava pontilhada de casarões que já tinham visto melhores dias assomar no meio de um arvoredo que se agitava ao vento como água negra. Vislumbrei no alto da ladeira a grande porta do recinto. (...) Esquecido e abandonado, o jardim de colunas e torres fazia agora lembrar um éden maldito. Fiz sinal ao motorista para que parasse diante do gradeamento da entrada e paguei-lhe a corrida.
- O senhor tem a certeza de que quer sair aqui? - perguntou o motorista, com o credo na boca. - Se quiser, posso esperar uns minutos por si...
- Não é preciso.
O ruído do táxi perdeu-se colina abaixo e fiquei sozinho com o eco do vento entre as árvores. As folhas caídas arrastavam-se à entrada do parque e redemoinhavam aos meus pés."
Olá
ResponderEliminarBem, eu gostei imenso do livro. Aliás gosto de todos os livros do autor que já li (incluindo os juvenis que li em espanhol e gostei bastante).
Mas achei piada ao teu post porque me parecia estar a ouvir uma amiga minha que não consegue perceber porque raio eu gosto tanto de Zafón. Enfim, nem todos podem gostar do mesmo. nem teria piada.
olha, li aqui a tua opinião sobre os livros Millenium. Por acaso já viste os filmes? gostei imenso e agora ando com vontade de ler os livros.
´Boas leituras
Patricia: Tenho pena de não gostar assim tanto de Zafón, porque acho que ele tem uma forma de escrever muito bonita (excepto nos diàlogos...). É como dizes, não podemos gostar todos do mesmo. ;)
ResponderEliminarQuanto à trilogia Millenium, pelo que percebi, já viste os filmes, que são muito fieis aos livros, tirando um ou outro pormenor, claro. Acho que se gostaste dos filmes vais gostar de certeza de ler os livros porque te ajudam a enquadrar algumas coisas nos filmes que não são tão bem explicadas.
Eu li o primeiro livro e gostei. Depois vi os três filmes e também gostei bastante. Só há pouco tempo li os restantes livros e, gostei bastante do segundo mas, o terceiro já não me prendeu tanto, tal como o filme, aliás. :)
Experimenta ler o primeiro que foi editado em formato de bolso. Se não não perdes muito dinheiro. :)
Ohhhhh, é um dos meus preferidos! =)
ResponderEliminarEste livro realmente superou minhas expectativas, confesso que tive um certo preconceito no início, achei q n fosse ser tão bom qto a sombra do vento, mas achei muito mais intrigante, me fez pensar mais sobre toda a história, pq sempre tinha q recorrer aos fatos anteriores pra poder fazer ligações q explicassem os fatos posteriores. É um verdadeiro quebra cabeças, penso até em ler pela segunda vez para tomar parte de todos os detalhes minunciosamente, pois ainda tenho dezenas de dúvidas...recomendo a todos, sob o conselho de sempre ficarem atentos aos menores detalhes, pois aí estão os segredos de Zafón.
ResponderEliminarAdorei este livro, até tenho adiado a leitura do livro:"A Sombra do vento" com medo de me desiludir. Tenho pena que não tenha sido a leitura favorita. Quem sabe se "Mariana" não te vai surpreender;)
ResponderEliminarBeijinhos.
Boa leitura
Leitora: Caramba! Começo a sentir-me meio ET por não achar os livros nada de especial... :/
ResponderEliminarPessoalmente gostei mais do "A Sombra do Vento", mas achei os dois muito parecidos e, talvez por isso, tenha achado "O Jogo do Anjo" um pouco repetitivo. :)
Vamos lá ver se é o "Marina" que me vai convencer. :)
Boas leituras!
Gosto, é questão de gosto mesmo.
ResponderEliminarVocê por exemplo, amou "O Mundo Segundo Garp". E eu já estou com ele na mão 2 meses arrastando, porque nunca, deixo para traz um livro.
Esse livro sim, triste, gosto de sofrer, mas vou terminar. Nunca pensei que o mesmo escritor de "As Regras da Casa da Sidra". Pudesse escrever algo tão ruim.
Abç
Orquidea
Orquídea: Ainda bem que não gostamos todos do mesmo! :) Espero que "As Regras da Casa de Sidra" sejam mais do teu agrado. :)
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