abril 04, 2013

Os Malaquias - Andréa del Fuego

Título original: Os Malaquias
Ano da edição original: 2010
Autor: Andréa del Fuego
Editora: Porto Editora
"Serra Morena. Um raio esturrica o casal, em luz e carne. Os filhos ficam órfãos, com destinos diferentes. António, o menino que não cresce. Nico, o patriarca engolido por um bule de café. Júlia, a menina em fuga permanente. Um lugar onde as sombras da terra e da água convivem. Onde a morte e a vida são o mesmo mundo. Um poema seco à humanidade de cada um de nós."

Já não sei muito bem porque é que decidi comprar este livro... Não me lembro de ter lido críticas especialmente elogiosas à obra de Andréa del Fuego. Estava, inclusive, convencida de que a senhora era colombiana ou algo parecido, não fazia ideia de que era brasileira. Isto apenas para reforçar o meu total desconhecimento sobre o livro. Acredito que deve ter sido a capa apelativa e o facto de ter ganho o Prémio Literário José Saramago de 2011 que me convenceu a comprá-lo. 
Esforços de memória à parte, a verdade é que veio parar-me às estantes e agora que foi lido... Bem, agora que foi lido, foi lido. :)

Os Malaquias começam por ser pai, mãe e três filhos, Adolfo, Donana, Nico, Antônio e Júlia. Passadas três páginas, os Malaquias são apenas os três filhos. Os pais são atingidos por um raio enquanto dormem descansados na sua cama e morrem "esturricados".
Nico o mais velho é acolhido pelo fazendeiro local que vê nele potencial para trabalhar. Antônio e Júlia são entregues a uma instituição de religiosas francesas que acolhe crianças para adopção. Júlia fica uns anos na instituição a receber educação para depois ser entregue a uma mulher muçulmana que a leva para sua casa como sua empregada/filha adoptiva. Antônio, o menino que não cresce, vai ficando junto das freiras, a quem se afeiçoa.
Os três irmãos crescem separados sem nunca se esquecerem uns dos outros, com Nico a lutar para que se possam voltar a  reunir.

Uns anos mais tarde, no dia de casamento de Nico, Antônio vai viver com o jovem casal e Júlia foge de casa da patroa/mãe adoptiva para ir ao casamento do irmão. Júlia nunca chega a Serra Morena. Parece que no seu destino não está escrito o seu regresso à terra onde nasceu. A sua vida nunca mais será a mesma...

Por essa altura a electricidade e a promessa do progresso chegam a Serra Morena, com a entrada em produção de uma barragem. Como consequência, Serra Morena irá ser inundada, e todos o seus habitantes e respectivas habitações têm de ser transferidos para um novo lugar, mais elevado. Um preço que quase todos estão dispostos a pagar. Quem não deseja o progresso e o desenvolvimento? A expectativa de todos é grande.

E sobre a história não sei muito bem que mais dizer. A verdade é que não achei o livro muito interessante... Costumo gostar de livros como este, com frases e capítulos muito curtos, com a presença de algum surrealismo e com personagens que tinham tudo para me cativarem. No entanto, neste caso pareceu não resultar para mim. Nem sei bem dizer porquê. Achei a história pouco desenvolvida, as personagens idem e os acontecimentos pouco interligados... No todo, o livro surgiu-me pouco coeso, demasiado fragmentado. Não sei se captei bem a mensagem que se quis passar, se é que havia alguma... 
As muitas reticências que usei ao longo deste post espelham bem o sentimento que o livro me deixou.

O livro lê-se bem, uma vez que os capítulos são pequenos e as personagens são-nos naturalmente simpáticas e, tal como a história, são até certo ponto intrigantes, mantendo-se a curiosidade que nos vai fazendo ler mais uma página.

Não sei se voltarei a ler alguma coisa dela. É provável que não. Tenho a sensação de que Andréa del Fuego é uma candidata a constar na minha lista de escritores que, embora lhes reconheça mérito, simplesmente não consigo criar a química necessária para gostar deles. Nesta lista estão escritores como Ernest Hemingway, Ken Follett, Martin Amis e Agustina Bessa-Luís, entre outros. 

Posto isto, recomendo, porque sei que a química que cada leitor cria com o livro que está a ler é muito subjectiva e tão pessoal que a minha opinião vale o que vale. ;)

Boas leituras!

Excerto:
"Um gato esticou as pernas, as paredes se retesaram. A pressão do ar achatou os corpos contra o colchão, a casa inteira se acendeu e apagou, uma lâmpada no meio do vale. O trovão soou comprido até alcançar o lado oposto da serra. Debaixo da construção a terra, de carga negativa, recebeu o raio positivo de uma nuvem vertical. As carga invisíveis se encontraram na casa dos Malaquias. 
O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta se fecha. Com a via contraída, a descarga não pôde atravessá-los e aterrar-se. Na passagem do raio, pai e mãe inspiraram, o músculo cardíaco recebeu o abalo sem escoamento. O clarão acendeu o sangue em níveis solares e pôs-se a queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração, cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo."

5 comentários:

  1. Vim directa para o final porque ainda não li o livro.
    Sobre a química com os escritores, comigo isso veio a acontecer com livros diferentes do mesmo autor, ou seja,por exemplo, com o primeiro que peguei do Ken Follett (não gostei e só li as primeiras páginas) mas depois adorei os dois 1ºs da trilogia do Século XX.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu não gostei do primeiro que li dele e gostei dos Pilares da Terra, mas continuo a não gostar da maneira como escreve. O que, para mim, distinguiu Os Pilares da Terra do primeiro que li dele é mesmo a qualidade da história, que acaba por se sobrepor à escrita menos bem conseguida. É por saber que tem histórias muito boas que vou voltar a lê-lo. :)

      Eliminar
  2. Oh, sim! Cheguei aqui pelo Facebook onde li a notícia da premiada do Saramago. Gostei de vos ler, e,aqui me entorno um cadinho de nada. Eu penso que a leitura de um livro tem sempre de valer o tempo perdido nele (Aparte. Apanhei uma mosca com a mão, quando penso matá-la mudo de opinião, abro a porta da rua e liberto-a.) porque a vida é uma gracinha efémera. Eu desconfio muito dos prémios pq vejo no futebol como os árbitros beneficiam desavergonhadamente enquanto são televisionados. Depois, aprendi que as pessoas da cultura são muito sensíveis mas fáceis de corromper, pouco sérias. Os livros bons que nos podem fazer crescer, nem sempre são fáceis de ler como a Montanha Mágica de Thomas Mann. Mas existem outros livros bons como Wanderer of the Wasteland, Zane Grey, que são muito fáceis de ler para quem ama a ligação homem natureza. Eu li este livro em português e agora ando a lê-lo em english. E bem, leiam este poema, deixem-se levar e só critiquem no fim: http://sohpoesia.blogspot.pt/2007/07/o-nada-de-nenhures.html?view=snapshot

    ResponderEliminar
  3. Gostei do livro, é muito bom e recomendo a todos que gostem de frases simples e curtos capítulos

    ResponderEliminar
  4. Gostei da crítica. Cheguei a este blog pela pesquisa do nome da Autora que também pensara não ser brasileira. Confesso que a premiação Saramago me fez cogitar lê-lo. O único porém é que todos os exemplares da edição brasileira estão esgotados e só encontro em livrarias de Portugal (preço em Euros).

    Pelo pouco das críticas que li, embora tenha bastante de realismo fantástico, o roteiro me pareceu-me bem verossímil nos rincões do Brasil. É interessante que até um conto pequeno que não acabo tem semelhanças.

    Só resta agora saber se terei a oportunidade de comprar uma nova edição ou um exemplar vendido em Lisboa.

    ResponderEliminar