Título original: The Boy in the Striped Pyjamas
Ano da edição original: 2006
Autor: John Boyne
Tradução do castelhano: Cecília Faria e Olívia Santos
Editora: "Colecção BIIS" da Leya
Autor: John Boyne
Tradução do castelhano: Cecília Faria e Olívia Santos
Editora: "Colecção BIIS" da Leya
"Bruno, de nove anos, nada sabe sobre a Solução Final e o Holocausto. Não tem consciência das terríveis crueldades que são infligidas pelo seu país a vários milhões de pessoas de outros países da Europa. Tudo o que ele sabe é que teve de se mudar de uma confortável mansão em Berlim para uma casa numa zona desértica, onde não há nada para fazer nem ninguém para brincar. Isto até ele conhecer Shmuel, um rapaz que vive do outro lado da vedação de arame que delimita a sua casa e que estranhamente, tal como todas as outras pessoas daquele lado, usa o que parece ser um pijama às riscas."
Bruno é um rapaz de nove anos, filho de um militar importante na estrutura criada por Hitler. Vive em Berlim, sem nunca ter conhecido outra realidade, protegido dos horrores que estão a ser perpetrados mesmo ao seu lado, contra os judeus. Quando o pai é promovido, pelo Führer, e é enviado para dirigir um dos campos de concentração mais infames do Holocausto, Auschwitz, decide levar toda a família, a mulher e os dois filhos, Bruno e Gretel. De um momento para o outro, todo o pequeno mundo de Bruno desaba. Fica perturbado com a ideia de abandonar a sua casa de cinco andares em Berlim e de não poder viver todas as aventuras que tinha planeadas para o Verão que se aproxima com os seus melhores amigos. Angustia-o não saber quanto tempo irá ficar longe de Berlim e nem sequer tem noção da distância que irá percorrer até Auschwitz, nome que nem sabe dizer, julgando todo o tempo que lá permanece que está em Acho-Vil.
Quando chegam a Acho-Vil, Bruno fica chocado com a sua nova casa, velha, muito mais pequena que a mansão de Berlim. Não tem vizinhos e por isso, aparentemente não tem nenhuma criança com quem brincar. Fica intrigado com a vedação que consegue ver da janela do seu quarto e com o facto de todos, com excepção dos militares, daquele lado da vedação vestirem pijamas às riscas. Não consegue perceber e sente-se pessoalmente atingido por ter de ficar deste lado da vedação sozinho, sem ninguém com quem brincar enquanto do outro lado existem tantas crianças, que de certeza têm imensas coisas para fazer e espaços para explorarem.
Um dia decide explorar a floresta que circunda a casa, caminhando junto à vedação. Nesse dia conhece Shmuel, um menino do outro lado da vedação, com a mesma idade de Bruno e, imagine-se a coincidência, que faz anos no mesmo dia de Bruno. A amizade entre os dois desenvolve-se e Bruno encontra em Shmuel alguém com quem partilhar as suas angústias ao mesmo tempo que tem alguma dificuldade em perceber as do amigo. Um dia surge a oprtunidade de Bruno conhecer o outro lado da vedação, algo que sempre pediu a Shmuel e que foi sempre recusado. O que o espera Bruno do outro lado terão de ser vocês a descobrir lendo o livro.
Há qualquer coisa que falha neste livro e não sei dizer bem o quê. Não sei se é o excesso de ignorância de Bruno sobre o mundo que o rodeia - um miúdo alemão, filho de um proeminente militar alemão - nunca ter ouvido falar em judeus não é credível. Ou em casa ou na escola, é praticamente impossível que não tivesse sido, de uma forma ou de outra, doutrinado nesse sentido. Acho que foi principalmente isso que falhou nesta história. A personagem de Bruno não é credível e como tal, pareceu-me até, algumas vezes ofensiva a falta de conhecimento, a falta de alcance em perceber que, nitidamente Shmuel não era feliz, passava fome e estava ali contra a sua vontade. Achei algumas vezes ofensiva esta falta de sensibilidade de Bruno, mais concentrado nos seus problemas e na sua vida, parecendo que Shmuel nada mais era do que uma distracção e um divertimento que o ajudava a ultrapassar a solidão que foi encontrar em Acho-Vil.
Não esqueço, no entanto, que O Rapaz de Pijama às Riscas é um livro direccionado para um público mais jovem e que assume aqui um carácter mais genérico, não sendo assumidamente uma história sobre o Holocausto. Diria que acaba por ser uma espécie de alegoria aos horrores da intolerância, da discriminação, da violência gratuita, por um lado e, colocando no seu oposto, a inocência de duas crianças que se aproximam independentemente da cor da pele, das crenças religiosas, da educação e das suas vivências actuais. Portanto, a mensagem que passa é muito bonita, é enternecedora. Não acho que a escrita de John Boyne tenha conseguido passar de forma clara esta mensagem, percebemo-la, mas não a sentimos. Não posso deixar de pensar que, esta mesma história escrita por Pepetela ou Mia Couto teria um impacto completamente diferente. Quem leu este e já leu um dos dois que refiro, perceberá o que quero dizer.
Resumindo e baralhando, não é que não tenha gostado, como disse a mensagem subjacente é pertinente e ao envolver duas crianças no contexto em que viveram, teria de ter um coração de pedra para dizer categoricamente que não gostei. No entanto, é por envolver duas crianças, que nunca se deveriam ter conhecido com aquela vedação a separá-los que sinto que faltou alguma coisa a este livro.
Recomendo pelo tema e porque acaba por ser uma leitura interessante.
Boas leituras!
Quando chegam a Acho-Vil, Bruno fica chocado com a sua nova casa, velha, muito mais pequena que a mansão de Berlim. Não tem vizinhos e por isso, aparentemente não tem nenhuma criança com quem brincar. Fica intrigado com a vedação que consegue ver da janela do seu quarto e com o facto de todos, com excepção dos militares, daquele lado da vedação vestirem pijamas às riscas. Não consegue perceber e sente-se pessoalmente atingido por ter de ficar deste lado da vedação sozinho, sem ninguém com quem brincar enquanto do outro lado existem tantas crianças, que de certeza têm imensas coisas para fazer e espaços para explorarem.
Um dia decide explorar a floresta que circunda a casa, caminhando junto à vedação. Nesse dia conhece Shmuel, um menino do outro lado da vedação, com a mesma idade de Bruno e, imagine-se a coincidência, que faz anos no mesmo dia de Bruno. A amizade entre os dois desenvolve-se e Bruno encontra em Shmuel alguém com quem partilhar as suas angústias ao mesmo tempo que tem alguma dificuldade em perceber as do amigo. Um dia surge a oprtunidade de Bruno conhecer o outro lado da vedação, algo que sempre pediu a Shmuel e que foi sempre recusado. O que o espera Bruno do outro lado terão de ser vocês a descobrir lendo o livro.
Há qualquer coisa que falha neste livro e não sei dizer bem o quê. Não sei se é o excesso de ignorância de Bruno sobre o mundo que o rodeia - um miúdo alemão, filho de um proeminente militar alemão - nunca ter ouvido falar em judeus não é credível. Ou em casa ou na escola, é praticamente impossível que não tivesse sido, de uma forma ou de outra, doutrinado nesse sentido. Acho que foi principalmente isso que falhou nesta história. A personagem de Bruno não é credível e como tal, pareceu-me até, algumas vezes ofensiva a falta de conhecimento, a falta de alcance em perceber que, nitidamente Shmuel não era feliz, passava fome e estava ali contra a sua vontade. Achei algumas vezes ofensiva esta falta de sensibilidade de Bruno, mais concentrado nos seus problemas e na sua vida, parecendo que Shmuel nada mais era do que uma distracção e um divertimento que o ajudava a ultrapassar a solidão que foi encontrar em Acho-Vil.
Não esqueço, no entanto, que O Rapaz de Pijama às Riscas é um livro direccionado para um público mais jovem e que assume aqui um carácter mais genérico, não sendo assumidamente uma história sobre o Holocausto. Diria que acaba por ser uma espécie de alegoria aos horrores da intolerância, da discriminação, da violência gratuita, por um lado e, colocando no seu oposto, a inocência de duas crianças que se aproximam independentemente da cor da pele, das crenças religiosas, da educação e das suas vivências actuais. Portanto, a mensagem que passa é muito bonita, é enternecedora. Não acho que a escrita de John Boyne tenha conseguido passar de forma clara esta mensagem, percebemo-la, mas não a sentimos. Não posso deixar de pensar que, esta mesma história escrita por Pepetela ou Mia Couto teria um impacto completamente diferente. Quem leu este e já leu um dos dois que refiro, perceberá o que quero dizer.
Resumindo e baralhando, não é que não tenha gostado, como disse a mensagem subjacente é pertinente e ao envolver duas crianças no contexto em que viveram, teria de ter um coração de pedra para dizer categoricamente que não gostei. No entanto, é por envolver duas crianças, que nunca se deveriam ter conhecido com aquela vedação a separá-los que sinto que faltou alguma coisa a este livro.
Recomendo pelo tema e porque acaba por ser uma leitura interessante.
Boas leituras!
Excerto (pág. 157):
"- Quer dizer que não sabes? - perguntou ela.
- Não - disse Bruno. - Não percebo porque é que não podemos passar para o outro lado. Que mal é que nós fizemos para não podermos ir para o outro lado brincar?
Gretel olhou-o e, de repente, desatou a rir, só parando quando reparou que Bruno estava a falar a sério.
- Bruno - disse ela num tom de voz infantil, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo -, a vedação não está ali para nos impedir de passar para o outro lado. É para os impedir a eles de passarem para este.
Bruno pôs-se a pensar naquilo, mas continuava a não perceber.
- Mas porquê? - insistiu.
- Porque eles têm de os manter juntos - explicou Gretel.
- Com as suas famílias, queres tu dizer?
- Bem, sim, com as sua famílias. Mas também com os da sua espécie.
- O que queres dizer com «os da sua espécie»?
Gretel suspirou e abanou a cabeça.
- Com os outros judeus, Bruno. Não sabias? É por isso que eles têm de os manter todos juntos. Eles não se podem misturar connosco.
- Judeus - disse Bruno, experimentando a palavra. Gostava bastante da maneira como soava. - Judeus - repetiu ele. - Todos os que vivem daquele lado da vedação são judeus.
- Sim, é isso - disse Gretel.
- E nós, somos judeus?
Gretel ficou boquiaberta, como se tivesse acabado de levar um estalo na cara.
- Não, Bruno - disse ela. - Não, claro que não somos. E tu nem sequer devias dizer uma coisa dessas.
- Mas porquê? Então, o que é que nós somos?
- Somos... - começou Gretel, mas depois teve de parar e pensar antes de responder: - Somos... - repetiu ela, mas não estava muito certa de qual seria a resposta a esta pergunta. - Bem, nós não somos judeus - disse ela por fim.
- Eu sei que não - disse Bruno frustrado. - O que eu quero saber é: se não somos judeus, então o que é que somos?
- Somos o oposto - respondeu Gretel muito depressa, parecendo bem mais satisfeita com esta resposta. - Sim, é isso mesmo. Somos o oposto.
- Está bem - disse Bruno, satisfeito por ter finalmente tudo esclarecido na sua cabeça. - Os opostos vivem desta lado da vedação e os judeus vivem daquele.
- Isso mesmo, Bruno.
- Então os judeus não gostam dos opostos?
- Não, estúpido, somos nós que não gostamos deles. (...)
- Então, porque é que nós não gostamos deles? - perguntou ele.
- Porque eles são judeus - disse Gretel.
- Estou a ver. E os opostos e os judeus não se dão muito bem.
- Não, Bruno - disse Gretel."
"- Quer dizer que não sabes? - perguntou ela.
- Não - disse Bruno. - Não percebo porque é que não podemos passar para o outro lado. Que mal é que nós fizemos para não podermos ir para o outro lado brincar?
Gretel olhou-o e, de repente, desatou a rir, só parando quando reparou que Bruno estava a falar a sério.
- Bruno - disse ela num tom de voz infantil, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo -, a vedação não está ali para nos impedir de passar para o outro lado. É para os impedir a eles de passarem para este.
Bruno pôs-se a pensar naquilo, mas continuava a não perceber.
- Mas porquê? - insistiu.
- Porque eles têm de os manter juntos - explicou Gretel.
- Com as suas famílias, queres tu dizer?
- Bem, sim, com as sua famílias. Mas também com os da sua espécie.
- O que queres dizer com «os da sua espécie»?
Gretel suspirou e abanou a cabeça.
- Com os outros judeus, Bruno. Não sabias? É por isso que eles têm de os manter todos juntos. Eles não se podem misturar connosco.
- Judeus - disse Bruno, experimentando a palavra. Gostava bastante da maneira como soava. - Judeus - repetiu ele. - Todos os que vivem daquele lado da vedação são judeus.
- Sim, é isso - disse Gretel.
- E nós, somos judeus?
Gretel ficou boquiaberta, como se tivesse acabado de levar um estalo na cara.
- Não, Bruno - disse ela. - Não, claro que não somos. E tu nem sequer devias dizer uma coisa dessas.
- Mas porquê? Então, o que é que nós somos?
- Somos... - começou Gretel, mas depois teve de parar e pensar antes de responder: - Somos... - repetiu ela, mas não estava muito certa de qual seria a resposta a esta pergunta. - Bem, nós não somos judeus - disse ela por fim.
- Eu sei que não - disse Bruno frustrado. - O que eu quero saber é: se não somos judeus, então o que é que somos?
- Somos o oposto - respondeu Gretel muito depressa, parecendo bem mais satisfeita com esta resposta. - Sim, é isso mesmo. Somos o oposto.
- Está bem - disse Bruno, satisfeito por ter finalmente tudo esclarecido na sua cabeça. - Os opostos vivem desta lado da vedação e os judeus vivem daquele.
- Isso mesmo, Bruno.
- Então os judeus não gostam dos opostos?
- Não, estúpido, somos nós que não gostamos deles. (...)
- Então, porque é que nós não gostamos deles? - perguntou ele.
- Porque eles são judeus - disse Gretel.
- Estou a ver. E os opostos e os judeus não se dão muito bem.
- Não, Bruno - disse Gretel."
Eu não li o livro, mas vi o filme e gostei bastante.
ResponderEliminarVi o personagem Bruno como um miúdo que foi protegido de tal forma pela família que realmente vivia num mundo dele e alheado de tudo o resto. Se não estou em erro, ele passava os dias em casa e não frequentava a escola. Daí uma maior ausência de informação exterior.
Boas leituras!
Não vi o filme, mas no livro Bruno, em Berlim, frequentava a escola. Só quando se mudam para Auschwitz é que deixa de ir à escola. Nem sei se o meu problema foi com a ignorância excessiva de Bruno. Creio que se o livro estivesse escrito de uma forma menos normal, talvez a questão da credibilidade de Bruno não se colocasse.☺
EliminarBoas leituras!
Não gostei deste livro porque não consegui acreditar nos diálogos, nos personagens, nos seus actos e no final.
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