junho 04, 2016

Contos de São Petersburgo - Nikolai Gógol

Autor: Nikolai Gógol
Tradução do russo: Nina Guerra e Filipe Guerra
Editora: Biblioteca Editores Independentes

"Estão aqui reunidas as cinco «Histórias de Petersburgo» - Avenida Névski (1834), Diário de um Louco (1834), O Nariz (1836), O Retrato (1841) e O Capote (1841). Acrescentou-se A Caleche (1836), pequeno conto que alguns autores integram neste ciclo. Trata-se do chamado «segundo período» da obra do autor, que se seguiu ao período das histórias ucranianas - Noites na Granja ao pé de Dikanka e Mírgorod. Estes contos do fantástico-real (ou real-fantástico?), integrando o humor e a sátira inconfundíveis de Gógol, tiveram grande influência no ulterior desenvolvimento da prosa literária russa e, também, no de todas as literaturas ocidentais. A modernidade das propostas de Gógol continua mais viva do que nunca nestas histórias em que a personagem principal é a cidade de Petersburgo: mesquinha, sufocante, ridícula, irrisória e ilusória."

Nunca tinha lido nada de Nikolai Gógol e estes contos parecem ter sido uma boa iniciação à obra deste escritor ucraniano e russo.
 
Não sabia o que iria encontrar nestas pequenas histórias de Gógol, mas não estava a contar com histórias divertidas, absurdas até, escritas de uma forma descontraída e de certa forma moderna, se é que podemos falar de modernidade no que à literatura diz respeito.

Inconscientemente julgo que estava à espera de algo sério, pesado e profundo. Não sei de onde me terá ficado essa ideia. Se calhar por isso demorei algum tempo a deixar de estranhar as histórias. Dou por mim a pensar, que raio este homem não é bom da cabeça, que absurdo... porquê escrever sobre um homem que perde o nariz e sobre o mesmo do nariz que se passeia por São Petersburgo? Mas a verdade é que o conto é mesmo para ser absurdo e ridículo, como aparentemente era São Petersburgo naquela época. :) Deixados os preconceitos de lado, este é um livro cheio de humor inteligente, de passagens divertidas, de crítica social acutilante e, ao mesmo tempo cheio de fantasia e imaginação.

Concluindo, gostei muito desta introdução às obras de Gógol. 

Recomendo sem quaisquer reservas.

Boas leituras!

Excerto (pág.221):
"O próprio funcionário parace ter ficado comovido com a situação difícil de Kovaliov. Para lhe atenuar um pouco a amargura, achou conveniente exprimir a sua compaixão com algumas palavras simpáticas:
 - Acredite que lamento muito o ter-lhe sucedido um episódio destes. É servido de uma pitada? É bom para as dores de cabeça e a melancolia; até ajuda em caso de hemorróidas.
Dizendo isto, o funcionário ofereceu a Kovaliov da sua caixa de rapé, cuja tampa, ornada por um retrato de uma senhora com chapéu, abriu com bastante preciosismo.
Este procedimento nada premeditado esgotou a paciência de Kovaliov.
 - Não compreendo como é possível o senhor brincar com isto - disse indignado -, então não vê que me falta precisamente aquilo com que se toma a pitada? Que o leve o diabo, ao seu rapé! Nem o posso ver à frente, e não só o seu tabaco nojento, mas o melhor dos râpés!"

2 comentários:

  1. Hoje estreio-me em Tchékhov, que dizem ser o génio dos contos, Gogol ainda não chegou a vez, mas este é um dos livros que já pensei ler

    ResponderEliminar
  2. Li "O Nariz" e "O Retrato" e achei-os simplesmente geniais!

    ResponderEliminar