Título original: O Luto de Elias Gro
Ano da edição original: 2015
Autor: João Tordo
Editora: Companhia das Letras
Autor: João Tordo
Editora: Companhia das Letras
"Numa pequena ilha perdida no Atlântico, um homem procura a solidão e o esquecimento, mas acaba por encontrar muito mais.
A ilha alberga criaturas singulares: um padre sonhador, de nome Elias Gro; uma menina de onze anos perita em anatomia; Alma, uma senhora com um coração maior do que a ilha; Norbért, um velho louco que tem por hábito vaguear na noite; e o fantasma de um escritor, cuja casa foi engolida pelo mar.
O narrador, lacerado pelo passado, luta com os seus demónios na local que escolheu para se isolar: um farol abandonado; à mercê dos caprichos da natureza - e dos outros habitantes da ilha. Com o vagar com que mudam as estações, o homem vai, passa a passo, emergindo do seu esconderijo, fazendo o seu luto e descobrindo, numa travessia de alegria e dor, a medida certa do amor.
O Luto de Elias Gro é o romance mais atmosférico de João Tordo, um mergulho na alma humana, no que ela tem de mais obscuro e luminoso."
O Luto de Elias Gro é o primeiro livro da "trilogia dos lugares sem nome". O primeiro lugar sem nome é uma pequena ilha no meio do Atlântico onde todos os seus habitantes são de certa forma peculiares. Alguns nasceram na ilha e nela viveram toda a sua vida, outros foram lá parar depois de algum acontecimento trágico nas suas vidas e por lá ficaram, lá viveram e morreram.
O narrador, personagem sem nome, desta história é um dos que foi para a ilha à procura do natural isolamento que um farol desactivado lhe poderia trazer. Procurava um sítio onde não tivesse de falar com outras pessoas, onde ninguém o conhecesse e onde ninguém estivesse interessado em conhecê-lo. Queria liberdade para poder afogar todas as suas mágoas e enfrentar todos os seus demónios sem ser julgado.
No entanto, nem todos os habitantes da ilha estão interessados em respeitar a vontade do novo inquilino do farol. O padre, que não é padre, Elias Gro, faz os possíveis para que ele se sinta acolhido, obrigando-o a participar na vida da pequena comunidade.
É desta forma que conhece Cecília, a filha de Elias Gro. Cecília é uma menina de onze anos, muito perspicaz e inteligente, que cresceu muito sozinha na ilha, sem mais crianças para brincar, embora frequente a escola no continente. É uma miúda sedenta de atenção e parece encarar o mau humor do nosso narrador, que chega a ser ofensivo e violento com a pequena Cecília, como um desafio. Percebemos logo que ele gosta muito da miúda, que a acha peculiar no bom sentido e divertida. A presença de Cecília faz-lhe bem, mas também lhe traz lembranças do seu passado com as quais ainda não consegue lidar.
Ao longo do livro vamos acompanhando o processo de luto do narrador. Vamos conhecendo o que o levou a procurar isolar-se do mundo, num farol perdido numa ilha perdida no meio do Atlântico. Descobrimos um homem que perdeu tudo e que não sabe lidar com isso. Refugia-se na bebida e torna-se uma pessoa desprezível. Quer afastar de si toda e qualquer manifestação de bondade, não se sente merecedor da compaixão dos outros. Quanto mais os habitantes da ilha o tentam incluir, mais ele os afasta. A única pessoa que parece conseguir, de alguma forma, criar brechas na barreira protectora que criou à sua volta, é Cecília.
Todos naquela ilha têm problemas, todos eles conhecem a perda e vivem com ela e, todos têm diferentes maneiras de fazer o luto. Todos eles encontraram formas de continuar a viver depois da morte. O nosso narrador também vai acabar por sair do buraco escuro e fundo para onde foi quando a vida lhe pregou uma partida. A viagem não será fácil e levará algum tempo até que ele consiga ver para além da sua própria dor.
O narrador, personagem sem nome, desta história é um dos que foi para a ilha à procura do natural isolamento que um farol desactivado lhe poderia trazer. Procurava um sítio onde não tivesse de falar com outras pessoas, onde ninguém o conhecesse e onde ninguém estivesse interessado em conhecê-lo. Queria liberdade para poder afogar todas as suas mágoas e enfrentar todos os seus demónios sem ser julgado.
No entanto, nem todos os habitantes da ilha estão interessados em respeitar a vontade do novo inquilino do farol. O padre, que não é padre, Elias Gro, faz os possíveis para que ele se sinta acolhido, obrigando-o a participar na vida da pequena comunidade.
É desta forma que conhece Cecília, a filha de Elias Gro. Cecília é uma menina de onze anos, muito perspicaz e inteligente, que cresceu muito sozinha na ilha, sem mais crianças para brincar, embora frequente a escola no continente. É uma miúda sedenta de atenção e parece encarar o mau humor do nosso narrador, que chega a ser ofensivo e violento com a pequena Cecília, como um desafio. Percebemos logo que ele gosta muito da miúda, que a acha peculiar no bom sentido e divertida. A presença de Cecília faz-lhe bem, mas também lhe traz lembranças do seu passado com as quais ainda não consegue lidar.
Ao longo do livro vamos acompanhando o processo de luto do narrador. Vamos conhecendo o que o levou a procurar isolar-se do mundo, num farol perdido numa ilha perdida no meio do Atlântico. Descobrimos um homem que perdeu tudo e que não sabe lidar com isso. Refugia-se na bebida e torna-se uma pessoa desprezível. Quer afastar de si toda e qualquer manifestação de bondade, não se sente merecedor da compaixão dos outros. Quanto mais os habitantes da ilha o tentam incluir, mais ele os afasta. A única pessoa que parece conseguir, de alguma forma, criar brechas na barreira protectora que criou à sua volta, é Cecília.
Todos naquela ilha têm problemas, todos eles conhecem a perda e vivem com ela e, todos têm diferentes maneiras de fazer o luto. Todos eles encontraram formas de continuar a viver depois da morte. O nosso narrador também vai acabar por sair do buraco escuro e fundo para onde foi quando a vida lhe pregou uma partida. A viagem não será fácil e levará algum tempo até que ele consiga ver para além da sua própria dor.
Já há algum tempo que não lia João Tordo e confesso que me estava a fazer alguma falta. :)
O Luto de Elias Gro é de certa forma diferente do que tenho lido do João Tordo. Os anteriores estavam envoltos em mistério, em segredos por desvendar. Este é definitivamente mais introspectivo. Procura provocar em quem lê, alguma da dor, raiva, tristeza, angústia e impotência que o narrador sente nos diversos estágios do seu luto.
Embora pareça e, de certa forma, seja um livro pesado, está escrito com algum sentido de humor que aligeira um pouco a atmosfera mais negra da história.
Resumindo e baralhando, gostei da história e das personagens e gosto sobretudo da forma como João Tordo nos conta esta história.
Só posso recomendar!
Boas leituras! :)
Excerto (pág.168):
"Eu respirava com dificuldade, alguma coisa parecia ter-se alojado na minha traqueia. A memória das vozes ao telefone e da vigília afrontava-me; dentro de mim, um animal ferido raspava ferozmente o chão de gravilha com unhas retrácteis, e uivava, procurando sair da toca.
Tenho pena é das lesmas, disse Cecília. E das lagartas. Não têm como se proteger.
As lagartas fartam-se de ser lagartas e fazem uma casinha nojenta de baba, disse eu. E depois transformam-se em borboletas, e toda a gente gosta de borboletas. Nunca vi ninguém fazer mal a uma borboleta. Quando muito, espalmam-nas no meio das páginas de um livro, para sempre. É uma vida bestial. Muito melhor do que a nossa.
As lagartas esvaziam o estômago e segregam uma enzima que forma uma crisálida, disse Cecília, em tom de correcção.
És muito esperta, ripostei. Aposto que te dizem isso na escola. Lembras-te dessas coisas todas, nada te escapa, pois não?
A diferença é que nós, ao contrário das lagartas, somos muito mais como os cães. Vida de cão, é assim que se diz. Sabes porquê? Porque a nós ninguém nos dá nomes em latim nem nos espalma entre as páginas de um livro, para que a nossa beleza fique preservada para sempre. Não existe filatelia humana.
Lepidopterologia.
O quê?
Filatelia é coleccionar selos. Lepidopterologia é como se chama à ciência dos insectos.
E que tal coleccionar borboletas? Serve-te? Ou precisas de saber dezenas de palavras impronunciáveis das quais te irás esquecer assim que começares a crescer?
Cecília desviou o olhar para a janela. Parecia magoada. Irado, eu escutava o meu próprio tom de voz, a roçar a violência, e percebi que estava fora de mim. Aquela versão chegara com a força e imprevisibilidade das tempestades: quanto mais olhava para a rapariga, mais desejava anulá-la. (...) Olhava para Cecília e via uma outra, que não era Cecília, alguém de que ainda não vos falei (porque não consigo, não sou capaz); alguém que não existe e, todavia, é a figura central destas páginas. O fantasma de Banquo sentado à mesa real."
O Luto de Elias Gro é de certa forma diferente do que tenho lido do João Tordo. Os anteriores estavam envoltos em mistério, em segredos por desvendar. Este é definitivamente mais introspectivo. Procura provocar em quem lê, alguma da dor, raiva, tristeza, angústia e impotência que o narrador sente nos diversos estágios do seu luto.
Embora pareça e, de certa forma, seja um livro pesado, está escrito com algum sentido de humor que aligeira um pouco a atmosfera mais negra da história.
Resumindo e baralhando, gostei da história e das personagens e gosto sobretudo da forma como João Tordo nos conta esta história.
Só posso recomendar!
Boas leituras! :)
Excerto (pág.168):
"Eu respirava com dificuldade, alguma coisa parecia ter-se alojado na minha traqueia. A memória das vozes ao telefone e da vigília afrontava-me; dentro de mim, um animal ferido raspava ferozmente o chão de gravilha com unhas retrácteis, e uivava, procurando sair da toca.
Tenho pena é das lesmas, disse Cecília. E das lagartas. Não têm como se proteger.
As lagartas fartam-se de ser lagartas e fazem uma casinha nojenta de baba, disse eu. E depois transformam-se em borboletas, e toda a gente gosta de borboletas. Nunca vi ninguém fazer mal a uma borboleta. Quando muito, espalmam-nas no meio das páginas de um livro, para sempre. É uma vida bestial. Muito melhor do que a nossa.
As lagartas esvaziam o estômago e segregam uma enzima que forma uma crisálida, disse Cecília, em tom de correcção.
És muito esperta, ripostei. Aposto que te dizem isso na escola. Lembras-te dessas coisas todas, nada te escapa, pois não?
A diferença é que nós, ao contrário das lagartas, somos muito mais como os cães. Vida de cão, é assim que se diz. Sabes porquê? Porque a nós ninguém nos dá nomes em latim nem nos espalma entre as páginas de um livro, para que a nossa beleza fique preservada para sempre. Não existe filatelia humana.
Lepidopterologia.
O quê?
Filatelia é coleccionar selos. Lepidopterologia é como se chama à ciência dos insectos.
E que tal coleccionar borboletas? Serve-te? Ou precisas de saber dezenas de palavras impronunciáveis das quais te irás esquecer assim que começares a crescer?
Cecília desviou o olhar para a janela. Parecia magoada. Irado, eu escutava o meu próprio tom de voz, a roçar a violência, e percebi que estava fora de mim. Aquela versão chegara com a força e imprevisibilidade das tempestades: quanto mais olhava para a rapariga, mais desejava anulá-la. (...) Olhava para Cecília e via uma outra, que não era Cecília, alguém de que ainda não vos falei (porque não consigo, não sou capaz); alguém que não existe e, todavia, é a figura central destas páginas. O fantasma de Banquo sentado à mesa real."
Cheguei a este blogue via Rentes de Carvalho. Gostaria de voltar a João Tordo depois de ler o LDHSL e o Bom Inverno, contudo estou na dúvida entre a Biografia e as Três Vidas. Pode ajudar? Obrigado
ResponderEliminarDos que refere, apenas li As Três Vidas, que foi o primeiro que li dele. Acredito que qualquer um dos dois será uma boa escolha.
EliminarBoas leituras!