Ano da edição original: 2016
Autor: Nuno Nepomuceno
Editora: Topbooks
"«Assim queira Deus, o Califado foi estabelecido e iremos invadir-vos como vocês nos invadiram. Iremos capturar as vossas mulheres como vocês capturaram as nossas mulheres. Vamos deixar os vossos filhos órfãos como vocês deixaram órfãos os nossos filhos.»
Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, 2014.
Em plena noite eleitoral, o novo primeiro-ministro português é encontrado morto. Ao mesmo tempo, em Istambul, na Turquia, uma reputada jornalista vive uma experiência transcendente. E em Lisboa, o pânico instala-se quando um autocarro é feito refém no centro da cidade. O autoproclamado Estado Islâmico reivindica o ataque e mostra toda a sua força com uma mensagem arrepiante.
O país desperta para o terror e o medo cresce na sociedade. Um grande evento de dimensão mundial aproxima-se e há claros indícios de que uma célula terrorista se encontra entre nós. Todas as pistas são importantes para o SIS, sobretudo, quando Afonso Catalão, um conhecido especialista em Ciência Política e Estudos Orientais, é implicado.
De antecedentes obscuros, o professor vê-se subitamente envolvido numa estranha sucessão de acontecimentos. E eis que uma modesta família muçulmana refugiada em Portugal surge em cena.
A luta contra o tempo começa e a Afonso só é dada uma hipótese para se ilibar: confrontar o passado e reviver o amor por uma mulher que já antes o conduziu ao limiar da própria destruição.
Com uma escrita elegante e o seu já tão característico estilo intimista e sofisticado, inspirado em acontecimentos verídicos, Nuno Nepomuceno dá-nos a conhecer A Célula Adormecida. Passado durante os 30 dias do mês do Ramadão, este é um romance contemporâneo, onde ficção e realidade se confundem num estranho mundo novo e aterrador que a todos nos perturba. Um thriller psicológico de leitura compulsiva, inquietante, negro e inquestionavelmente atual."
A sinopse diz quase tudo sobre a história e sobre o tema. Acho que não faz muito sentido alongar-me muito mais sobre isso. Para além de já não me lembrar muito bem dos pormenores, porque é uma leitura do tempo dos confinamentos, do início de 2021, posso correr o risco de falar demais e arruinar a leitura para alguns de vocês.
Portugal, na sua pacatez de espectador dos acontecimentos mundiais acorda, após uma noite de eleições legislativas, com a notícia de que o seu novo primeiro ministro, acabado de eleger, foi encontrado morto na sede de campanha do partido.
Mais ou menos na mesma altura, um autocarro de passageiros é sequestrado por um rapaz, de origem islâmica e que estava em Portugal, e a estudar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa. O ataque é considerado terrorista e é reivindicado pelo Autoproclamado Estado Islâmico.
Com o país num turbilhão, sem governo eleito e em choque com a presença do ISIS no seu território, Afonso Catalão, um especialista em Ciência Política e Estudos Orientais e, professor do rapaz que sequestrou o autocarro, acaba por se ver envolvido numa série de acontecimentos que colocam a sua vida, mas principalmente a vida de quem o rodeia em perigo.
O livro aborda o tema do terrorismo islâmico que, embora continue muito presente nas nossas vidas, nos tempos que correm, parece ser uma coisa do passado. Hoje em dia, até aquilo que nos assusta tem um ciclo de vida muito curto, há sempre qualquer nova a querer estar no topo das nossas preocupações e a competir para nos tirar o sono à noite...
Naturalmente, fazem parte da história o preconceito e a islamofobia, que encontram nestes acontecimentos a desculpa perfeita para saírem do armário de muito boa gente.
De uma forma muito resumida é isto.
Depois de ler O Espião Português (opinião aqui), de que gostei bastante, estava, naturalmente expectante quando comecei a ler A Célula Adormecida. Confesso que fiquei um pouco desiludida e que ficou aquém das minhas expectativas.
Achei a escrita um pouco forçada e o desenrolar da história pouco credível, cheio de clichés. Tudo acontecia às pessoas que Afonso Catalão conhecia. Nada lhe acontecia a ele, era sempre "salvo" por um golpe de sorte, pelo destino... E ele seguia com a sua vida, quase indiferente.
Houve um ou outro acontecimento em que Nuno Nepomuceno poderia ter arriscado em fazer diferente e dar outra dimensão à história e às personagens. Assim, todo o livro acabou por não ser particularmente original.
Irritou-me um pouco a divisão desnecessária dos capítulos, que tornou o ritmo da leitura estranho. Muitas vezes o capítulo seguinte era equivalente a um parágrafo.
Sinceramente estava à espera de mais depois de ter ficado tão bem impressionada com O Espião Português e, não consegui ultrapassar a sensação de que tudo era muito parecido com os livros do José Rodrigues do Santos, os da saga Tomás Noronha (é um trauma assumido por mim). Acho, no entanto, que é melhor em termos de diálogos e de construção das personagens.
Como disse, A Célula Adormecida é uma leitura dos confinamentos COVID, de 2021 e já não tenho muito presente os pormenores da história. Também não dá para reler porque foi um livro da biblioteca. O que mais me ficou na memória foram as ruas de Lisboa onde se desenrola a maior parte da história, porque conheço bem a zona. Digamos que tornou a história um pouco mais real para mim. Por outro lado, essa proximidade fez com que opções narrativas menos credíveis me causassem maior estranheza.
Não é um livro mau, de longe, mas foi suficientemente normal para que, até à data, não tenha voltado a ler mais nada dele. Confesso que, com tantos livros em fila de espera, esta leitura me deixou relutante e não tenho sentido o apelo de voltar ao Nuno Nepomuceno. Talvez um dia. ;)
Recomendo se vos interessa o tema. Para primeiro livro do autor, arriscaria a começar por um outro qualquer.
Boas leituras!
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