Ano da edição original: 1938
Autor: Erico VeríssimoEditora: Edição "Livros do Brasil"
"Eugénio Fontes, moço de origem humilde, a custo se forma médico e, graças a um casamento por interesse, ingressa na elite da sociedade. Nesse percurso, porém, é obrigado a virar as costas para a família, deixar de lado antigos ideais humanitários e abandonar a mulher que realmente ama.
Sensível, comovente, Olhai os Lírios do Campo é um convite à reflexão sobre os valores autênticos da vida."
Olhai os Lírios do Campo é, como a sinopse diz, um convite à reflexão sobre os valores que realmente importam cultivar e passar às gerações futuras. É um livro sobre o amor e a influência que uma única pessoa pode ter na nossa vida, condicionando as nossas escolhas e tornando-nos, neste caso, melhores pessoas.
Eugénio cresceu numa família pobre, trabalhadora e humilde. Sempre foi um miúdo que se sentia de certa forma deslocado. Sentia vergonha do pai, que respeitava mas não amava, por este ser submisso e sem qualquer ambição. Nunca percebeu que para poder dar um futuro diferente aos filhos, ao pai de Eugénio não sobrava muito tempo para ambições próprias. A relação com a mãe, embora melhor não deixava de ser distante e, com o irmão Ernesto vivia num permanente conflito que acabou na saída deste de casa para nunca mais ninguém saber dele.
Eugénio cresce a querer ser médico para poder cuidar de gente como o pai, doente e sem condições para receber o melhor tratamento. Pretende melhorar a vida de toda a família. Quando se forma, Eugénio continua a querer melhorar a sua vida, mas já não inclui nos seus planos a família, da qual apenas lhe resta a mãe, nem tem qualquer pretensão de dedicar-se à medicina solidária.
Apaixonado por Olívia, acaba por se casar com Eunice por interesse, julgando vir a encontrar nessa união a felicidade e tudo aquilo que sempre sonhou.
Eugénio não é má pessoa, é covarde, sim, mas má pessoa não. Sofre de um complexo de inferioridade quase patológico e talvez venha daí a sua procura cega por uma vida diferente da dos pais. Uma vida submissa, de cabeça baixa, sentindo que não valiam nada, onde apenas existia espaço para o trabalho, sem direito a qualquer conforto ou bem-estar.
No entanto Eugénio não encontra a felicidade junto da riqueza, do luxo, das festas e das conversas cultas. É quando perde a pessoa que mais amou que ele se apercebe de que anda a desperdiçar a vida e decide mudar radicalmente de rumo. Eugénio encontra no trabalho honesto, na partilha com quem tem pouco, a humanidade que passou a vida toda a tentar afastar e encontra, finalmente, uma forma de ser feliz e, encontra sobretudo paz interior para poder apreciar tudo aquilo que na realidade sempre teve mas nunca soube apreciar. Finalmente pôde ser ele sem sentir pousados em si os olhos recriminatórios de uma sociedade à qual julgou querer pertencer.
Olhai os Lírios do Campo é um livro onde pouco ou nada acontece mas onde o pouco que acontece é muito e bastante para tornar este livro uma leitura obrigatória. :)
Confesso que estava à espera de outro tipo de livro. Do Erico Veríssimo apenas tinha lido o Um Certo Capitão Rodrigo - que faz parte da obra maior do autor, O Tempo e o Vento - já opinado aqui e, julguei que todos os livros dele seriam assim. Enganei-me mas não me senti enganada, antes pelo contrário. Gosto de autores que tenham a capacidade de escrever em vários registos e sempre com qualidade. E este é o caso de Erico Veríssimo, se não soubesse que os dois livros foram escritos pela mesma pessoa não teria forma de associar um ao outro. Viva a esquizofrenia dos escritores! :)
Recomendo como é evidente!
Boas leituras! ;)
Excerto:
"Os seus pensamentos eram um tumulto. Ele e o cachorro - as duas figuras centrais do Mundo naquele momento. O cachorro era mais bonito, mais bem cuidado e mais feliz do que ele. Eugénio Fontes, menos do que um cachorro. Gente pobre. Vida de cachorro. Meu pai e eu: olhos de cachorro. Cachorro escorraçado. (...) Ele fora tratado como um negro. Não era ninguém. Valia menos do que as formigas que caminhavam ali em cima das lajes, carregando folhas e gravetos, menos do que as formigas que o cachorro do inglês agora procurava lamber com a língua húmida e vermelha."
Sensível, comovente, Olhai os Lírios do Campo é um convite à reflexão sobre os valores autênticos da vida."
Olhai os Lírios do Campo é, como a sinopse diz, um convite à reflexão sobre os valores que realmente importam cultivar e passar às gerações futuras. É um livro sobre o amor e a influência que uma única pessoa pode ter na nossa vida, condicionando as nossas escolhas e tornando-nos, neste caso, melhores pessoas.
Eugénio cresceu numa família pobre, trabalhadora e humilde. Sempre foi um miúdo que se sentia de certa forma deslocado. Sentia vergonha do pai, que respeitava mas não amava, por este ser submisso e sem qualquer ambição. Nunca percebeu que para poder dar um futuro diferente aos filhos, ao pai de Eugénio não sobrava muito tempo para ambições próprias. A relação com a mãe, embora melhor não deixava de ser distante e, com o irmão Ernesto vivia num permanente conflito que acabou na saída deste de casa para nunca mais ninguém saber dele.
Eugénio cresce a querer ser médico para poder cuidar de gente como o pai, doente e sem condições para receber o melhor tratamento. Pretende melhorar a vida de toda a família. Quando se forma, Eugénio continua a querer melhorar a sua vida, mas já não inclui nos seus planos a família, da qual apenas lhe resta a mãe, nem tem qualquer pretensão de dedicar-se à medicina solidária.
Apaixonado por Olívia, acaba por se casar com Eunice por interesse, julgando vir a encontrar nessa união a felicidade e tudo aquilo que sempre sonhou.
Eugénio não é má pessoa, é covarde, sim, mas má pessoa não. Sofre de um complexo de inferioridade quase patológico e talvez venha daí a sua procura cega por uma vida diferente da dos pais. Uma vida submissa, de cabeça baixa, sentindo que não valiam nada, onde apenas existia espaço para o trabalho, sem direito a qualquer conforto ou bem-estar.
No entanto Eugénio não encontra a felicidade junto da riqueza, do luxo, das festas e das conversas cultas. É quando perde a pessoa que mais amou que ele se apercebe de que anda a desperdiçar a vida e decide mudar radicalmente de rumo. Eugénio encontra no trabalho honesto, na partilha com quem tem pouco, a humanidade que passou a vida toda a tentar afastar e encontra, finalmente, uma forma de ser feliz e, encontra sobretudo paz interior para poder apreciar tudo aquilo que na realidade sempre teve mas nunca soube apreciar. Finalmente pôde ser ele sem sentir pousados em si os olhos recriminatórios de uma sociedade à qual julgou querer pertencer.
Olhai os Lírios do Campo é um livro onde pouco ou nada acontece mas onde o pouco que acontece é muito e bastante para tornar este livro uma leitura obrigatória. :)
Confesso que estava à espera de outro tipo de livro. Do Erico Veríssimo apenas tinha lido o Um Certo Capitão Rodrigo - que faz parte da obra maior do autor, O Tempo e o Vento - já opinado aqui e, julguei que todos os livros dele seriam assim. Enganei-me mas não me senti enganada, antes pelo contrário. Gosto de autores que tenham a capacidade de escrever em vários registos e sempre com qualidade. E este é o caso de Erico Veríssimo, se não soubesse que os dois livros foram escritos pela mesma pessoa não teria forma de associar um ao outro. Viva a esquizofrenia dos escritores! :)
Recomendo como é evidente!
Boas leituras! ;)
Excerto:
"Os seus pensamentos eram um tumulto. Ele e o cachorro - as duas figuras centrais do Mundo naquele momento. O cachorro era mais bonito, mais bem cuidado e mais feliz do que ele. Eugénio Fontes, menos do que um cachorro. Gente pobre. Vida de cachorro. Meu pai e eu: olhos de cachorro. Cachorro escorraçado. (...) Ele fora tratado como um negro. Não era ninguém. Valia menos do que as formigas que caminhavam ali em cima das lajes, carregando folhas e gravetos, menos do que as formigas que o cachorro do inglês agora procurava lamber com a língua húmida e vermelha."
Já o li há muitos anos (houve uma telenovela brasileira baseada na obra) e gostei muito do livro.
ResponderEliminarLi-o na adolescência e adorei. Contudo, estou já muito distanciada do livro, e teria do ler outra vez para poder dar uma opinião mais sustentada.
ResponderEliminarAinda bem que gostaste do livro. Pena que em Portugal se leia pouca literatura brasileira.
Tenho de ler para português um livro de um escritor de expressão portuguesa. Dentro da lista este foi um dos que gostei mais. Curioso que o tenhas lido nesta altura, agora já sei que o vou escolher :)
ResponderEliminarRedonda: É um livro com um ritmo muito próprio e que se muito bem. Gosto bastante da escrita de Erico Veríssimo. :)
ResponderEliminarOlinda: Não sei se lê muita ou pouca literatura brasileira. Pessoalmente não leio, é verdade... Mas julgo que a situação deve ser idêntica do outro lado do oceano relativamente à literatura portuguesa. :) Deste autor gosto muito!
Jacqueline: Acho uma boa escolha e espero que gostes. Fico a aguardar a tua opinião. :)
Erico Verissimo é um autor do nosso modernismo brasileiro, mais especificamente da segunda geração - a do regionalismo, juntamente com outros grandes autores: Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, entre outros. Seu filho, Luís Fernando Veríssimo, é outro escritor nato, exímio cronista, muito bom, deixo a dica: vale a pena conhecer. Realmente pouco se difunde, apesar da globalização, nossa literatura em Portugal, e vice-versa. Acho que ganharíamos mais se houvessem iniciativas dos governos lusofanos para unificar a literatura lusófona, muito ganharíamos com certeza. De Portugal, só li obras do Saramago, do Lobo Antunes, do José Peixoto e do Pessoa. Amei todos, e sinto falta de mais.
ResponderEliminarCuriosamente não é através da literatura que a cultura brasileira chega até nós. Consumimos mais a música e as telenovelas. De Erico Veríssimo gosto muito. É pena que não seja muito fácil encontrar livros dele (e de outros da mesma época) nas livrarias. Acabamos por estar dependentes das vontades das editoras... Vou anotar o nome de Luís Fernando Veríssimo ,de quem nunca tinha ouvido falar, para "investigar". 😀
EliminarFaça isso, ficaria muito feliz, ele é um excelente escritor, muito bom. Bom, agora despertei minha curiosidade, permita-me algumas perguntinhas: quais são os tipos de músicas brasileiras que são tocadas além-mar, em Portugal? E se nossas telenovelas agradam ao povo português? Conto com a sua sinceridade, hein. Desde já peço-lhe desculpas pelo incômodo.
ResponderEliminarDo Érico Verissimo, recomendo também "Ana Terra", "Caminhos cruzados" e "Incidente em Antares". Tenha absoluta certeza de que não irá se arrepender em lê-los.
EliminarAs novelas brasileiras fazem parte da nossa vida televisiva desde que me lembro... Hoje em dia não acompanho telenovelas (nem brasileiras nem portuguesas) mas acredito que as brasileiras continuam com a qualidade que me recordo. Os actores brasileiros são muito acarinhados por estes lados. :)
EliminarQuanto à música julgo que se ouve um pouco de tudo... Ney Matogrosso, Adriana Calcanhoto, Maria Rita, Ivete Sangalo talvez sejam os nomes que primeiro me vêm à cabeça e os mais sonantes, mas julgo que se ouve mesmo um pouco de tudo, até porque, temos muito brasileiros a viver em Portugal que naturalmente trazem com eles muitas referências culturais. Não escapámos, por exemplo, ao fenómeno Michel Teló! :)
Ah, já que chegamos à música, gostaria de fazer uma breve divulgação, a cantora Vanessa da Mata lançou um romance - A Filha das Flores -, lançado aqui pela editora Companhia das Letras, aí em Portugal, se não estou enganado, acho que será lançado pela Quetzal (desculpe-me se a grafia estiver errado). O célebre Agualusa deu um parecer favorável à obra, estou divulgando porque sou muito fã da Vanessa da Mata. Irei fazer um mais um comentário totalmente sem nexo (um comentário de um amante da literatura, por isso acho que você irá entender, N. Martins): hoje fiquei muito feliz, ganhei um exemplar de "A Paixão Segundo G.H." de Clarice Lispector, uma das nossas expoentes quanto à literatura, a qual também sou um fã! :-)
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