maio 17, 2012

A Trilogia de Nova Iorque - Paul Auster

Título original: The New York Trilogy
Ano da edição original: 1985 e 1986
Autor: Paul Auster
Tradução: Alberto Gomes
Editora: Edições ASA

"A Trilogia de Nova Iorque continua a ser, tantos anos depois, o livro mais emblemático de Paul Auster. São três fascinantes histórias de mistério, centradas no submundo da grande cidade norte-americana, em que o leitor, tal como as personagens, se torna prisioneiro dos irresistíveis enredos, dos puzzles alucinantes, dos quais o autor é mestre incontestado.
Cidade de Vidro, Fantasmas e O Quarto Fechado constituem os três andamentos de uma sinfonia única, em que Paul Auster demonstra, mais uma vez, porque é hoje considerado um dos grandes nomes da literatura mundial."

Este livro de Paul Auster não é um livro fácil de se ler. As três histórias que o constituem estão cheias de coisas e acontecimentos que não fazem muito sentido, as personagens têm comportamentos difíceis de aceitar, inesperados e auto-destrutivos. Nada de muito novo no que diz respeito aos livros de Paul Auster. :)

A Trilogia de Nova Iorque é um livro ainda mais estranho e irreal que os restantes que já li do autor. As três histórias aparentemente nada têm a ver umas com as outras, a não ser o tom e o facto de todas serem sobre homens, solitários, perdidos e esquecidos numa cidade gigante, alienados do que os rodeia, ignorados e extremamente infelizes. Nada mais parece ligar estes homens que desistem da vida que levam, para vigiarem a vida de outros homens e serem completamente absorvidos pelas vidas e rotinas da pessoa que vigiam obsessivamente.

Na primeira história, A Cidade de Vidro, conhecemos Daniel Quinn, um escritor de policiais bem sucedido, que deixou de escrever poemas no dia em que perdeu a mulher e o filho pequeno. Quinn vive sozinho, ocupa o seu tempo entre um livro e outro, a vaguear por Nova Iorque, sem destino pré-definido, gosta de andar e deixar de se sentir na sua pele, ser absorvido pela multidão e conseguir não pensar. Uma noite a sua rotina é interrompida por um estranho telefonema de um homem que lhe pede ajuda, julgando que Quinn é Paul Auster, um detective privado. :)A partir deste telefonema a vida de Quinn muda e nunca mais será como era.
Gostei muito desta história e da forma como Auster nos conta a crescente loucura e alienação de Quinn. À medida que este se vai perdendo, a sua história torna-se cada vez menos credível e temos dificuldade em distinguir o que é real e o que não será bem o que aparenta.

A segunda história, Fantasmas, é uma história estranha sobre um detective privado, Blue, que é contratado por White para vigiar um outro homem, Black. Estranho? Sim, mas não são apenas os nomes das personagens que são diferentes. Blue, instala-se num apartamento em frente ao apartamento de Black e passa os dias em frente à janela a vigiar os movimentos de Black. Depois de um tempo, está de tal forma sintonizado com as rotinas de Black, que já nem precisa de vigiar, simplesmente sabe o que o outro está a fazer. Será mesmo assim? É o que nos vai sendo contando ao longo desta história, mais uma vez cheia de solidão e infelicidade.
Embora existam semelhanças entre esta e a primeira história, não tive a sensação de que estava a ler mais do mesmo. Gostei, mais uma vez, da forma como Auster parece conhecer o que é ser umas destas personagens, sozinhas e desligadas do resto do mundo.

A terceira e última história, O Quarto Fechado, é talvez a mais confusa das três. Um crítico literário, escritor frustrado, de quem não sabemos o nome, recebe notícias de um amigo de infância, Fanshawe que, aparentemente desapareceu sem deixar rasto.
Fanshawe é uma personagem completamente atípica, um homem extremamente inteligente e escritor talentoso, embora nunca tenha publicado uma única obra. É admirado por todos os que o conhecem e o narrador foi o seu melhor amigo na infância. Antes de desaparecer, Fanshawe deixou indicações precisas sobre o que deveria ser feito às suas obras por publicar, caso algo lhe acontecesse. O narrador, por razões que este não entende, foi o escolhido para ser o depositário da obra deixada pelo amigo. Vê-se de um dia para o outro na posse de um espólio de valor incalculável e com a responsabilidade de a publicar.
Durante este percurso vão-se dando algumas mudanças no carácter do narrador, que numa espécie de insanidade temporária, subverte as suas noções de moralidade e honestidade.
Mais uma de que gostei. :)

Na terceira história são referidas personagens que são também personagens nas outras duas histórias. A única diferença entre estas parece residir apenas no facto de não se detectar nelas nenhuma da escuridão que vivem na histórias respectivas, como personagens principais.
Fazendo uma ligação entre a cidade de Nova Iorque e os temas transversais às três histórias, a sensação como que fiquei foi a da indiferença que todos sentimos nos outros e em nós próprios, principalmente se vivemos em grandes cidades, como Nova Iorque. É como se as personagens, absorvidas pelos seus dilemas pessoais não se apercebessem de quão normais podem parecer para o vizinho do lado, absorvido pelos seus próprios problemas. Não sabemos, nem queremos saber, dos problemas das pessoas que se cruzam connosco na rua e se sentam ao nosso lado nos transportes. Nem nos passa pela cabeça a possibilidade de os nossos medos poderem ser comuns e, portanto, partilhados, divididos e esvaziados de algum do drama. :)

Paul Auster é um escritor genial! Numa escrita leve, na forma e não no conteúdo, fala de desilusão, abandono, loucura, alienação, solidão, perda e de tristeza com uma propriedade e conhecimento que assusta. As personagens são complexas e credíveis ao mesmo tempo, com as quais nos conseguimos identificar, de alguma forma. E não poderia ser um livro de Paul Auster se não estivesse repleto de histórias dentro da história e cheio de referências a outros livros. :)

Gostei mesmo muito e, por isso, recomendo sem quaisquer reservas!

Boas leituras!

Excerto: Este livro não é dado a excertos, além disso... a opinião já vai longa! ;)

4 comentários:

  1. Olá,
    Este é um dos livros que tenho lá por casa e que ainda não li. Tenho que o subir na lista para ler.
    Nesta feira do Livro comprei o "A ofensa" que tinha ficado na minha lista deste a tua opinião. Infelizmente não havia nenhum dos outros dois (foi num alfarrabista). Depois venho cá dar a minha opinião.
    Boas leituras

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  2. O único livro que li do autor e que lembro-me de ter gostado, muito embora tenha sido complexo.
    Este é mais um dos que gostaria de voltar a ler algo mais.

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  3. É um livro que tenciono ler, confesso que não fiquei a morrer de amores por Invisível, o único livro que li do autor.

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  4. Tiago M. Franco: Nunca li o "Invisível" que referes. Os que já li do autor não me desiludiram. Gosto de Paul Auster. :)

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