dezembro 12, 2012

A Montanha da Água Lilás - Pepetela

Título original: A Montanha da Água Lilás
Ano da edição original: 2000
Autor: Pepetela
Editora: "Colecção BIIS" da Leya

"«O avô Bento, em noites de cacimbo à volta da fogueira, nos contou, fumando o seu cachimbo que ele próprio esculpiu em pau especial. Dizia a estória se passou aqui mesmo, nas serras ao lado, mas pode ser que fosse trazida de qualquer parte de África. Até mesmo do Oriente, onde dizem também há água lilás. Se virmos bem, em muitos lados pode ter uma montanha semelhante. Eu só escrevi aquilo que o avô nos contou, não inventei nada.»"

Que livro delicioso... Pepetela não pára de me surpreender e é cada vez mais um daqueles escritores que acreditamos não consegue escrever um livro mau. :)
A Montanha da Água Lilás é uma pequena fábula, um livro de "faz de de conta" com uma história que surpreende por ser tão certeira, tão séria e ao mesmo tempo tão divertida.

No tempo em que os animais falavam existia uma montanha onde habitavam os lupis. Os lupis viviam separados dos outros animais da planície e alimentavam-se dos frutos que colhiam das muitas árvores da montanha. Eram umas criaturas pequenas e reconchudas, com o corpo coberto de pêlo cor de laranja. Uma espécie de macacos, com características que nos levam a pensar neles como os antepassados longínquos dos Homens.
Os lupis distinguiam-se uns dos outros pela inteligência e pelo tamanho. Os mais inteligentes eram os cambutinhas, os mais pequenos dos lupis, era deles que partiam todas as ideias. Os mais trabalhadores eram os Lupões, maiores e menos dados às coisas do pensamento, eram fisicamente mais capazes do que os cambutinhas.
Os lupis viviam felizes, comiam a muita fruta da montanha e viviam pacificamente, sem motivos para discutir. Por um acaso da evolução, algumas das crias lupis começam a crescer mais do que os seus progenitores. Estes novos lupis para além de serem fisicamente maiores eram também muito preguiçosos e violentos. Eram completamente incapazes de sobreviver sozinhos, porque não conseguiam subir às árvores para colher fruta e aproveitavam-se da boa vontade dos seus semelhantes (parece-vos familiar?), para se alimentarem. Não contribuíam em nada para a vida na montanha, a única coisa que sabiam fazer era perturbar a paz na montanha. Por serem tão diferentes dos restantes lupis começaram a ser chamados de jacalupis, porque até na maneira como expressavam o seu estado de espírito eram diferentes dos outros lupis.
Embora os jacalupis tenham vindo complicar um pouco a vida simples que até aí se vivia na montanha, os lupis foram-se adaptando às novas circunstâncias e aceitaram, estes seus semelhantes de forma pacífica.
A vida seguia sem percalços, comiam a fruta das árvores e, os momentos de lazer continuavam a ser passados no vale da poesia em contemplação da natureza.
Um dia, para surpresa de todos, da montanha que habitavam desde que se lembravam, começa a brotar uma espécie de água, de cor lilás e com um perfume inebriante que deixa quem se aproxima dela mais feliz. Os lupis ficam, naturalmente, muito intrigados com a água lilás e os lupis cientistas começam logo a investigar as potencialidades de tão extraordinário líquido. Será que se pode beber? Será que se pode tomar banho nela? Se apenas cheirá-la os deixa tão felizes... O aparecimento de um bem a que mais nenhum animal tem acesso e, ainda por cima, um que parece ter potencialidades infinitas, vai alterar a vida dos lupis para sempre. O lupão comerciante começa logo a conceber planos para rentabilizar o precioso líquido, os jacalupis tornam-se ainda mais violentos e preguiçosos, e o cambutinhas começam a parecer-se cada vez mais com escravos, embora estejam em maioria.
Acho que não é difícil perceber onde esta fábula de Pepetela quer chegar. :)

Depois de um livro tão extenso como Os Pilares da Terra, do Ken Follett, que embora me tenha dado muito gozo ler, quando comparado com este pequeno livro de Pepela, acaba por parecer tão pretensioso...

Soube-me mesmo muito bem voltar a Pepetela com este A Montanha da Água Lilás e é óbvio que o recomendo!

Boas leituras! :)

Excerto:

"De repente do sítio de onde saiu a pedra, brotou muito timidamente um líquido escuro. O lupi-poeta inclinou-se para ver melhor e sentiu então o perfume que saía daquele líquido lilás. Era um perfume muito doce. Pôs o dedo no líquido e levou-o ao nariz. Que maravilha! Os odores de todas as flores estavam reunidos naquele cheiro único que logo o encheu de enorme alegria, ele que momentos antes quase explodia de irritação. Ajoelhou no chão e cavou à volta, alargando o buraquinho. O líquido começou a brotar em maior quantidade e o perfume intensificou-se. A alegria também. Ficou ali sentado no chão, ao lado da fonte, aspirando o perfume, todo feliz, esquecido mesmo de fazer o poema à Lua."

4 comentários:

  1. De Pepetela apenas li O Planalto e a Estepe. É um autor que quero voltar a ler.

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  2. Olá N.Martins
    Li este livro já faz muito tempo mas recordo que gostei muito.
    Boas leituras e um feliz Natal.

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  3. Pepetela é um dos grandes da literatura Angolana. A sua forma subjetiva de exprimir a burocracia, a ambição, o tribalismo nas sua obras é super! O Cão e os Calús, A Montanha da Água Lilás, Jaime Bunda - O Agente Secreto... São obras com todos os componentes possíveis!

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    1. Adoro Pepetela e adorei "A Montanha da Água Lilás". Ainda não li "O Cão e os Calús". Vou tomar nota para que seja o próximo a comprar do escritor.
      Boas leituras!

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