Título original: Prestuplénie i Nakazánie
Ano da edição original: 1866
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução do Russo: Nina Guerra e Filipe Guerra
Editora: Editorial Presença
Ano da edição original: 1866
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução do Russo: Nina Guerra e Filipe Guerra
Editora: Editorial Presença
"Com Crime e Castigo, a Editorial Presença inaugura a publicação da obra de um dos maiores escritores de sempre, numa nova e criteriosa tradução, feita directamente a partir do russo. Datado de 1866, este é o primeiro dos grandes romances que Dostoiévski escreveu já na plena maturidade literária, e provavelmente, a mais bem conhecida de todas as suas obras. Recriando um estranho e doloroso mundo em torno da figura do estudante Raskólnikov, perturbado pelas privações e duras condições de vida, é uma das obras por excelência fundadoras da modernidade. Pelo inexcedível alcance e profundidade psicológica, sobretudo no que implica a exploração das motivações não conscientes e a aparente irracionalidade nos comportamentos das personagens, este autor russo tornou-se uma referência universal na literatura, sem perda de continuidade até aos nossos dias. Esta nova versão em língua portuguesa das obras de Dostoiévski, cuja qualidade permite ao leitor fruir plenamente da extraordinária riqueza dos textos originais, é da responsabilidade de Nina Guerra e Filipe Guerra."
Sem grande inspiração para opinar sobre tão grande obra... Como é que vou dar a volta a isto? Esta é uma dificuldade que me assalta, normalmente quando sinto que me faltam capacidades (e tempo) para uma análise mais profunda de uma obra que de certeza o merecia. Depois penso, o que posso dizer sobre este clássico e que já não tenha sido dito? Dilemas e mais dilemas, piores só mesmo os que assaltam Raskólnikov durante todo o livro. :) Enfim, vamos manter isto simples.
Raskólnikov é um ex-estudante de direito, que deixou os estudos, aparentemente por falta de condições económicas para continuar a sua formação. Digo aparentemente, porque ao longo do livro o próprio Raskólnikov admite que se deixou cair numa prostração e falta de vontade, passando dias inteiros fechado no seu cubículo minúsculo e claustrofóbico, e que poderia ter continuando a pagar os estudos com as explicações que dava a acabou por abandonar.
Quando conhecemos Raskólnikov este já nos é apresentado como alguém com um feitio complicado, dado a explosões de raiva quando é contrariado, com súbitas mudanças de humor e, embora já nessa altura ande atormentado pela possibilidade de levar a cabo o plano monstruoso que traçou, a verdade é que esta é uma característica que todos os que lhe são próximos lhe atribuem, é temperamental e irritadiço. No entanto, também o conhecemos como uma pessoa desapegada dos bens materiais, que é capaz de dar a sua última moeda a desconhecidos apenas e só porque lhe parece a coisa certa de se fazer naquele momento. Posto isto, as razões que levaram este jovem a planear e executar o assassínio da "velha", uma agiota cujo negócio é a compra e venda de objectos de valor, são ainda menos racionais e objectivas. Embora possa parecer que o fez por dinheiro, a verdade é que, Raskólnikov não ficou mais rico e o medo de ser descoberto quase o matou.
Já aqui se disse que Raskólnikov era especial, tinha um temperamento difícil, vivia angustiado pela normalidade da sua vida e confessa, algures no livro, que o principal motivo para assassinar a velha foi o tentar perceber a que categoria de humanos pertencia, se era alguém superior, que ultrapassava limites e regras estabelecidas, sem ser apanhado e sem ser alterado por isso. Raskólnikov vivia obcecado com esta questão, seria ele capaz de cometer assassinato e conseguir escapar impune, vivendo o resto da sua vida sem qualquer arrependimento? Que tipo de pessoa é então Raskólnikov? Um ser extraordinário ou apenas uma pessoa normal? A verdade é que vi muito pouco arrependimento em Raskólnikov, vi muito medo de ser descoberto, vi muita frustração por não encontrar nele a capacidade de enganar os outros, de não conseguir controlar o seu temperamento. Vi essencialmente um Raskólnikov desiludido com o facto de ter chegado à conclusão de que afinal seria apenas uma pessoa "normal" e com enorme dificuldade em aceitar esse facto. Arrependimento pelo acto em si, nunca o senti da parte de Raskólnikov, pela morte da "velha" nunca, pela morte de Lizaveta a irmã da velha, talvez alguma pena pelo azar que a rapariga teve ao aparecer naquela altura. Por isso, Raskólnikov, para mim, estaria longe de ser uma pessoa "normal" e, embora tenha sido apanhado, mais por sua culpa que por habilidade dos que investigavam os crimes, a verdade é que, noutras circunstâncias, acredito que Raskólnikov teria conseguido viver com o facto de ter tirado a vida, de forma brutal, a duas pessoas.
Paralelamente surgem outras histórias e personagens que apenas tornam a acção de Raskólnikov ainda mais incompreensível. Idolatrado pela mãe e irmã, inteligente, com alguns amigos fiéis, enfim, com tudo para ser alguém na vida e ser feliz, é difícil perceber o que leva Raskólnikov a fazer o que faz, a pensar da forma que pensa Eu, na minha "normalidade" apenas consigo entender a necessidade de Raskólnikov e justificá-la se pelo meio houver referência a doença mental. De outra forma, o mundo seria um lugar demasiado assustador! :)
Concluindo, este é mais um grande livro do genial Dostoiévski, provavelmente o maior. Mais um grande livro sobre obsessões, paranóias, defeitos de carácter e personagens irracionais e desequilibradas na sua aparente normalidade. Mais um grande livro com uma escrita envolvente e uma história dos diabos! :)
Como é óbvio, recomendo. Mais do que recomendar, é de leitura obrigatória!
Boas leituras!
Excerto:
"De repente, parou; uma questão nova, inesperada e extremamente simples fê-lo perder o tino e espantou-o amargamente: «Se tudo aquilo foi feito conscientemente, e não por estupidez, se foi de facto um desígnio teu determinado e firme, porque não abriste ainda o porta-moedas e não sabes sequer quanto te rendeu o acto tão vil, tão abominável e tão abjecto que cometeste conscientemente? Não quiseste até atirá-lo à água, o porta-moedas, juntamente com os outros objectos que também ainda mal viste?... Como é então?»"
Raskólnikov é um ex-estudante de direito, que deixou os estudos, aparentemente por falta de condições económicas para continuar a sua formação. Digo aparentemente, porque ao longo do livro o próprio Raskólnikov admite que se deixou cair numa prostração e falta de vontade, passando dias inteiros fechado no seu cubículo minúsculo e claustrofóbico, e que poderia ter continuando a pagar os estudos com as explicações que dava a acabou por abandonar.
Quando conhecemos Raskólnikov este já nos é apresentado como alguém com um feitio complicado, dado a explosões de raiva quando é contrariado, com súbitas mudanças de humor e, embora já nessa altura ande atormentado pela possibilidade de levar a cabo o plano monstruoso que traçou, a verdade é que esta é uma característica que todos os que lhe são próximos lhe atribuem, é temperamental e irritadiço. No entanto, também o conhecemos como uma pessoa desapegada dos bens materiais, que é capaz de dar a sua última moeda a desconhecidos apenas e só porque lhe parece a coisa certa de se fazer naquele momento. Posto isto, as razões que levaram este jovem a planear e executar o assassínio da "velha", uma agiota cujo negócio é a compra e venda de objectos de valor, são ainda menos racionais e objectivas. Embora possa parecer que o fez por dinheiro, a verdade é que, Raskólnikov não ficou mais rico e o medo de ser descoberto quase o matou.
Já aqui se disse que Raskólnikov era especial, tinha um temperamento difícil, vivia angustiado pela normalidade da sua vida e confessa, algures no livro, que o principal motivo para assassinar a velha foi o tentar perceber a que categoria de humanos pertencia, se era alguém superior, que ultrapassava limites e regras estabelecidas, sem ser apanhado e sem ser alterado por isso. Raskólnikov vivia obcecado com esta questão, seria ele capaz de cometer assassinato e conseguir escapar impune, vivendo o resto da sua vida sem qualquer arrependimento? Que tipo de pessoa é então Raskólnikov? Um ser extraordinário ou apenas uma pessoa normal? A verdade é que vi muito pouco arrependimento em Raskólnikov, vi muito medo de ser descoberto, vi muita frustração por não encontrar nele a capacidade de enganar os outros, de não conseguir controlar o seu temperamento. Vi essencialmente um Raskólnikov desiludido com o facto de ter chegado à conclusão de que afinal seria apenas uma pessoa "normal" e com enorme dificuldade em aceitar esse facto. Arrependimento pelo acto em si, nunca o senti da parte de Raskólnikov, pela morte da "velha" nunca, pela morte de Lizaveta a irmã da velha, talvez alguma pena pelo azar que a rapariga teve ao aparecer naquela altura. Por isso, Raskólnikov, para mim, estaria longe de ser uma pessoa "normal" e, embora tenha sido apanhado, mais por sua culpa que por habilidade dos que investigavam os crimes, a verdade é que, noutras circunstâncias, acredito que Raskólnikov teria conseguido viver com o facto de ter tirado a vida, de forma brutal, a duas pessoas.
Paralelamente surgem outras histórias e personagens que apenas tornam a acção de Raskólnikov ainda mais incompreensível. Idolatrado pela mãe e irmã, inteligente, com alguns amigos fiéis, enfim, com tudo para ser alguém na vida e ser feliz, é difícil perceber o que leva Raskólnikov a fazer o que faz, a pensar da forma que pensa Eu, na minha "normalidade" apenas consigo entender a necessidade de Raskólnikov e justificá-la se pelo meio houver referência a doença mental. De outra forma, o mundo seria um lugar demasiado assustador! :)
Concluindo, este é mais um grande livro do genial Dostoiévski, provavelmente o maior. Mais um grande livro sobre obsessões, paranóias, defeitos de carácter e personagens irracionais e desequilibradas na sua aparente normalidade. Mais um grande livro com uma escrita envolvente e uma história dos diabos! :)
Como é óbvio, recomendo. Mais do que recomendar, é de leitura obrigatória!
Boas leituras!
Excerto:
"De repente, parou; uma questão nova, inesperada e extremamente simples fê-lo perder o tino e espantou-o amargamente: «Se tudo aquilo foi feito conscientemente, e não por estupidez, se foi de facto um desígnio teu determinado e firme, porque não abriste ainda o porta-moedas e não sabes sequer quanto te rendeu o acto tão vil, tão abominável e tão abjecto que cometeste conscientemente? Não quiseste até atirá-lo à água, o porta-moedas, juntamente com os outros objectos que também ainda mal viste?... Como é então?»"
Olá :)
ResponderEliminarPois, leitura obrigatória.
Tenho mesmo de me decidir a tirar o meu livro da estante! :)
Boas leituras!
Olá! Este é dos que pedem para ser lidos. Não é quando queremos, é quando ele quer! :)
EliminarBoas leituras!