Título original: Marekors
Ano da edição original: 2003Autor: Jo Nesbø
Tradução do inglês: Maria João Freire de Andrade
Editora: Publicações Dom Quixote
"Oslo sufoca no calor de verão, quando uma jovem é assassinada no seu apartamento. Um dedo é-lhe cortado, e um minúsculo diamante vermelho com o formato de um pentagrama - uma estrela de cinco pontas - é encontrado debaixo da sua pálpebra. O detetive Harry Hole é designado para investigar o caso com Tom Waaler, um colega de quem ele não gosta e em quem não confia. Tom trabalha para um bando de traficantes de armas - e é o assassino da sua antiga parceira. Mas Harry, um alcoólico inveterado, mal consegue aguentar o seu emprego, e a sua única hipótese é aceitar o caso. Cinco dias depois, outra mulher é dada como desaparecida. Quando o seu dedo cortado é encontrado enfeitado com um diamante vermelho com a forma de uma estrela, Harry receia que haja um serial killer à solta. Determinado a encontrar o assassino e a expor o corrupto Tom Waaler, Harry descobre que as duas investigações se fundem de um modo inesperado. Mas perseguir a verdade tem um preço, e em breve Harry dá por si em fuga e forçado a tomar decisões difíceis acerca de um futuro que pode nem viver para ver. Jo Nesbø já foi comparado a Ian Rankin, Michael Connelly e Henning Mankell. Os seus romances são best sellers por toda a Europa"
Não conhecia este autor nórdico, Jo Nesbø mas fiquei agradada. Embora os policiais não sejam o meu género de eleição, gosto de os ler e tenho gostado especialmente dos que nos chegam vindos do norte. Não sei se é da escrita mais crua, a menor fantasia, não sei, mas identifico-me mais com estes do que com os americanos, por exemplo. :)
Este não foi a excepção, bem escrito com uma história bem estruturada e suportada.
Senti o típico desconforto causado pelo facto de, de certa forma, estar a entrar a meio da história, uma vez que Harry Hole é o protagonista da série de livros de Jo Nesbø e este A Estrela do Diabo é já o 5º volume da série. O desconforto de haver coisas que tenho a sensação de não estar a perceber completamente porque estará relacionado com o passado da personagem contado nos volumes anteriores.
Outra dificuldade típica nos livros de autores nórdicos é a questão dos nomes... São mulheres ou são homens? Por mais "tacanha" que seja a divisão que naturalmente fazemos entre géneros para organizar o mundo em que vivemos, a verdade é que me faz confusão como conseguem viver com uma linguagem que não distingue os géneros... Ainda por cima quando os nomes são todos tão parecidos... :)
Ultrapassadas as dificuldades iniciais, A Estrela do Diabo é, aparentemente apenas mais um caso na vida de Harry Hole - uma mulher é encontrada morta na banheira do seu apartamento, sem um dos dedos da mão e junto dela é encontrado um diamante vermelho, conhecido nalguns meios como a Estrela do Diabo.
Com o decorrer da leitura, vamo-nos apercebendo de que, na realidade, Harry Hole está a passar por uma fase má na sua vida, aparentemente relacionado com coisas que se passaram nos 4 volumes anteriores. Bebe cada vez mais e anda obcecado por desmascarar a índole duvidosa do colega Tom Waaler, com quem terá de trabalhar neste caso, que acaba por não ser um homicídio isolado e caminha para uma sucessão de assassínios em série. Para ajudar, devido ao seu comportamento inapropriado, esta será muito provavelmente a sua última investigação como detective e, para piorar ainda mais as coisas, a sua relação com Rakel não está a atravessar uma boa fase.
No entanto, nada disto parece perturbar a investigação dos homicídios que, acaba por ser um pouco secundária, sendo que a verdadeira história que acaba por ser contada aqui é a das suspeitas que Harry tem sobre Tom Waaler, o detective estrela lá do sítio, e a história de um Harry Hole que conheço em plena queda e acaba a redescobrir muitas coisas pelas quais ainda vale a pena viver.
De uma forma geral, não houve grandes surpresas no desfecho do livro porque todas dicas que foram sendo dadas, apontavam apenas para um caminho. Nesse aspecto, embora não goste de ser enganada, neste tipo de livros uma pequena surpresa no fim é sempre bem-vinda. Parece-me que este volume terá servido um pouco para reabilitar a personagem de Harry Hole e o seu objectivo não era ser apenas mais um policial. No entanto gostei, gostei da escrita, gráfica q.b. e bastante fluída. Gostei das personagens e, embora tenha achado Harry Hole um pouco estranho , a verdade é que é muito fácil gostar dele porque, é claramente um bom rapaz. :)
Por isto e mais algumas razões recomendo sem qualquer hesitação.
Boas leituras! :)
Excerto (pág. 11-12):
"A água não demorou muito tempo a encontrar um caminho através do chão, sob o soalho. Para além da infiltração em 1968 - no mesmo ano em que fora colocado o novo telhado sobre a casa -, os soalhos de madeira tinham permanecido imperturbáveis, a secarem e contraírem-se, de modo que a fenda entre as duas tábuas de sustentação interiores do chão tinham agora quase meio centímetro. A água pingava na viga por baixo da fenda, e continuava para oeste até à parede exterior. Aí infiltrava-se no estuque e na argamassa que fora misturada há cem anos, também a meio do verão, por Jacob Andersen, um mestre pedreiro e pai de cinco. Andersen, como muitos pedreiros da época em Oslo, misturava a sua própria argamassa e estuque para as paredes. Para além de ter a sua própria mistura de cal, areia e água, também tinha os seus ingredientes especiais: pêlo de cavalo e sangue de porco. (...) Alguns dos pedreiros consideravam aquilo imoral, outros pensavam que ele estava conluiado com o Diabo, mas a maior parte apenas se ria dele."
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