Título original: o apocalipse dos trabalhadores
Ano da edição original: 2008
Autor: valter hugo mãe
Editora: Alfaguara Portugal
Ano da edição original: 2008
Autor: valter hugo mãe
Editora: Alfaguara Portugal
"A resistência de maria da graça e de quitéria, duas mulheres-a-dias e carpideiras profissionais que, a braços com desilusões e desconfianças várias acerca dos homens, acabam por cair de amores quando menos esperam. Com isso, mudam radicalmente o que pensam e querem da vida. Este é um romance sobre a força do amor e como ela se impõe igual a uma inteligência para salvar as personagens das suas condições de desfavor social e laboral.
Passado na recôndita cidade de Bragança, este livro é um elogio à força dos que sobrevivem, dos que trabalham no limiar da dignidade e, ainda assim, descobrem caminhos menos óbvios para a mais pura felicidade."
Passado na recôndita cidade de Bragança, este livro é um elogio à força dos que sobrevivem, dos que trabalham no limiar da dignidade e, ainda assim, descobrem caminhos menos óbvios para a mais pura felicidade."
Maria da Graça é uma mulher nos seus quarentas, casada com o único pescador de Bragança, cidade sem mar, pelo que o marido passa a maior parte do ano fora, embarcado. É uma mulher frustrada, confusa, trabalhadora e sem nunca ter conhecido o amor, nem do marido nem de ninguém, vive na ilusão de que o que sente pelo patrão é amor. No entanto, não deixa de o odiar. O patrão é um homem mais velho e culto que se acha no direito de a "atacar" sempre que quer e pode. O Sr. Ferreira parece ter o necessário para ser feliz mas vive ele próprio com os seus fantasmas que o impedem de olhar a vida de frente. Maria da Graça vive atormentada por esta relação e todas as noites sonha que está às portas do céu, onde vai parar depois de o patrão a ter morto e onde São Pedro lhe recusa a entrada, noite após noite.
Maria da Graça aparece-nos como uma mulher inteligente e dividida. Dividida entre o que gostaria de ser o que lhe permitem ser. Dividida entre o amor e o ódio pelo patrão. Dividida entre o desespero e a esperança de dias melhores. Dividida entre as lágrimas e a gargalhada.
Quitéria é a melhor amiga, e vizinha, de Maria da Graça. É uma mulher livre, despreocupada e de certa forma feliz. Não é casada e tem uma verdadeira obsessão por homens mais novos. Não procura o amor, apenas a satisfação sexual. Sem saber como vê-se enamorada de Andryi, um dos seus jovens amantes, imigrante ucraniano, trabalhador da construção civil, com uma história familiar difícil. Quitéria surge aqui como a protectora de Maria da Graça e também de Andryi. É efectivamente uma mulher de bem com a vida, despudorada e imensamente bem disposta. Segue à risca o ditado "se vida te dá limões faz limonada".
Andryi é um jovem de vinte e tal anos, que veio para Portugal, como tantos dos seus compatriotas à procura de uma vida melhor. Deixa na Ucrânia os pais e vive em Portugal angustiado com o destino dos dois. Sem se conseguir adaptar ao nosso país e a nós, vive calado, fechado sobre si mesmo. Tenta ser um robot, uma máquina de trabalho que nada sente e nada vê. Quer apenas ganhar dinheiro para enviar aos pais. Com Quitéria inicia uma relação, ao princípio meramente física, depois desconfiada e magoada, que acaba por se transformar numa espécie de amor. Encontra em Quitéria compreensão e alguma da ternura deixada na Ucrânia.
Há qualquer coisa que me incomoda neste livro e não consigo dizer o quê. Não senti grande empatia com as personagens, nem com os seus problemas. Não achei credíveis as vidas de Maria da Graça e Quitéria, talvez porque não as consegui encaixar nas vidas das empregadas domésticas que conheço, que também nada têm a ver com os estereótipos que muitas vezes lhes estão associados. Consigo identificar-me com o tema, com a vida dura e sem grande perspectiva que muitas destas mulheres têm, uma vida de trabalho fisicamente desgastante e pouco valorizado.
Acho interessante e valorizo a escolha dos protagonistas improváveis, mulheres a dias e imigrantes do leste, não sei é se valter hugo mãe os terá conseguido caracterizar da melhor forma. Neste sentido o livro acabou por não estar à altura do que esperava, porque uma das características mais interessantes de valter hugo mãe é a capacidade que tem de encarnar as vivências das suas personagens, como se tivesse efectivamente passado pelas mesmas experiências, e transmitir na escrita todas as emoções e sensações vividas.
Embora esteja longe de ser um livro mau, não foi, para mim, uma leitura marcante. Esperava mais, ou diferente, de valter hugo mãe e é por ser de valter hugo mãe que o recomendo sem reservas.
Maria da Graça aparece-nos como uma mulher inteligente e dividida. Dividida entre o que gostaria de ser o que lhe permitem ser. Dividida entre o amor e o ódio pelo patrão. Dividida entre o desespero e a esperança de dias melhores. Dividida entre as lágrimas e a gargalhada.
Quitéria é a melhor amiga, e vizinha, de Maria da Graça. É uma mulher livre, despreocupada e de certa forma feliz. Não é casada e tem uma verdadeira obsessão por homens mais novos. Não procura o amor, apenas a satisfação sexual. Sem saber como vê-se enamorada de Andryi, um dos seus jovens amantes, imigrante ucraniano, trabalhador da construção civil, com uma história familiar difícil. Quitéria surge aqui como a protectora de Maria da Graça e também de Andryi. É efectivamente uma mulher de bem com a vida, despudorada e imensamente bem disposta. Segue à risca o ditado "se vida te dá limões faz limonada".
Andryi é um jovem de vinte e tal anos, que veio para Portugal, como tantos dos seus compatriotas à procura de uma vida melhor. Deixa na Ucrânia os pais e vive em Portugal angustiado com o destino dos dois. Sem se conseguir adaptar ao nosso país e a nós, vive calado, fechado sobre si mesmo. Tenta ser um robot, uma máquina de trabalho que nada sente e nada vê. Quer apenas ganhar dinheiro para enviar aos pais. Com Quitéria inicia uma relação, ao princípio meramente física, depois desconfiada e magoada, que acaba por se transformar numa espécie de amor. Encontra em Quitéria compreensão e alguma da ternura deixada na Ucrânia.
Há qualquer coisa que me incomoda neste livro e não consigo dizer o quê. Não senti grande empatia com as personagens, nem com os seus problemas. Não achei credíveis as vidas de Maria da Graça e Quitéria, talvez porque não as consegui encaixar nas vidas das empregadas domésticas que conheço, que também nada têm a ver com os estereótipos que muitas vezes lhes estão associados. Consigo identificar-me com o tema, com a vida dura e sem grande perspectiva que muitas destas mulheres têm, uma vida de trabalho fisicamente desgastante e pouco valorizado.
Acho interessante e valorizo a escolha dos protagonistas improváveis, mulheres a dias e imigrantes do leste, não sei é se valter hugo mãe os terá conseguido caracterizar da melhor forma. Neste sentido o livro acabou por não estar à altura do que esperava, porque uma das características mais interessantes de valter hugo mãe é a capacidade que tem de encarnar as vivências das suas personagens, como se tivesse efectivamente passado pelas mesmas experiências, e transmitir na escrita todas as emoções e sensações vividas.
Embora esteja longe de ser um livro mau, não foi, para mim, uma leitura marcante. Esperava mais, ou diferente, de valter hugo mãe e é por ser de valter hugo mãe que o recomendo sem reservas.
Boas leituras!
Excerto (pág. 56):
"áquela hora, a maria da graça levava as mãos ao pescoço e começava a perceber que morreria. a vida não lhe duraria interminavelmente e aos quarenta anos, era verdade, estaria quase no fim. o senhor ferreira, vindo-lhe ao de cima todo o suspeitado lado obscuro, atirava-se a ela com um punhal longo e afiado. abria-lhe o corpo de cima a baixo enquanto ela pedia ao são pedro que visse tal acto e medisse tal fúria para se apiedar da sua alma. o santo homem, preocupado com as admissões à porta do céu, ouvia pouco o que a mulher lhe gritava, ou não fazia caso, e o senhor ferreira investia mais e mais, até impossivelmente o corpo dela resistir. até que a sua própria consciência percebesse que o sonho exagerava no efeito cruel, porque ninguém sobreviveria tanto tempo a tantos e tão duros golpes. sentido-se ser morta, a maria da graça sabia não estar a morrer, mas garantia-se de que o aviso estava feito e, de olhos abertos na escuridão, o suor no rosto por tão grande susto, decidia mais uma vez depositar-se nos braços do maldito, o seu amado futuro assassino. não sorria, começava a chorar por acreditar que o amor era sempre igual à morte."
Este ainda não li, mas dele o livro que mais gostei foi "O filho de mil homens" e recomendo.
ResponderEliminarHá quem me tenha dito que o melhor de VHM é o remorso de baltazar serapião que já vi que leu e gostou. A última obra dele feita na islândia não me despertou ainda interesse de a ler.
Dele o que mais gostei até aos foi "a máquina de fazer espanhóis". É muito certeiro. " o remorso de baltazar serapião" é violento. Não o considero uma leitura para toda a gente.
EliminarAinda não li este do autor, talvez por ser um dos que sempre tive receios de pegar nele... E nem sei bem o porquê... ;)
ResponderEliminarBoas leituras!
Experimenta "a máquina de fazer espanhóis". Olha que és capaz de gostar. ☺
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