novembro 23, 2017

As Aventuras de Ngunga - Pepetela

Título original: As Aventuras de Ngunga
Ano da edição original: 1972
Autor: Pepetela
Editora: Publicações Dom Quixote

"Escrito em 1972, numa época em que Angola vivia sob o jugo colonial, esta é a história de um jovem guerrilheiro do MPLA, de caráter determinado e reto, que se faz homem aprendendo a pensar pela própria cabeça. Uma história pungente é terna que não deixará nenhum leitor indiferente."


No dia em que Pepetela me desiludir vou ficar perdida.

Este é mais um pequeno grande livro de Pepetela que se lê num instante e nos enche o coração de angústias mas também de esperança no Homem e nas nossas capacidades.
Numa Angola em plena guerra com Portugal, Ngunga é um jovem guerrilheiro do MPLA. Ngunga é orfão,  como muitos naquela época. É querido por todos e é reconhecido pela rectidão, pela honestidade e pela boa-vontade. Não se limita a obedecer e questiona o que se passa à sua volta, sem ter medo da resposta.
As Aventuras de Ngunga é uma espécie de conto que se foca em temas como a importância da educação e da necessidade de todos questionarmos a verdade instituída. A importância do espírito crítico e de pensarmos pela nossa cabeça e não pela cabeça da pessoa com a patente mais elevada. Não devemos nunca perder a vontade de mudar o mundo, mesmo que seja apenas o mundo na nossa "aldeia".

Gostei muito como já seria de esperar e, naturalmente que recomendo.

Boas leituras!

Excerto:

(pág. 102)
"Oh, este Mundo está todo errado! Nunca se pode fazer o que se quer!
- Hei de lutar para acabar com a compra das mulheres - gritou Ngunga, raivoso. - Não são bois!
- Para isso precisas de estudar. Eu não sei sobre o alambamento. Se se faz, os meus avós ensinaram-me isso. Mas, se achas que está mal e que é preciso acabar com ele, então deves estudar. Como aceitarão o que dizes, se fores um ignorante como nós?"

(pág. 110)
"Talvez Ngunga tivesse um poder e esteja agora em todos nós, nós os que recusamos viver no arame farpado, nós os que recusamos o mundo dos patrões e dos criados, nós os que queremos o mel para todos.
Se Ngunga está em todos nós, que esperamos então para o fazer crescer?
Como as árvores, como o massango e o milho, ele crescerá dentro de nós se o regarmos. Não consigo água do rio, mas com ações. Não com água do rio, mas com a que Uassamba em sonhos oferecia a Ngunga: a ternura."

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