"Romance inédito que conta a história de António Roque, homem atormentado, possesso do demónio de funestas memórias. As imagens do passado que regularmente se apoderam dele transformam-no num monstro capaz dos piores actos. Mas a obscura história da irmã e do homem abastado que se servia dela e que, apesar de morto, continua a instigar-lhe um ódio devastador não é exatamente como ele pensa que se lembra.
Depois de anos emigrado na Alemanha, o Meças regressa à sua aldeia de origem. Com ele vivem o filho (a quem detesta) e a nora (a quem deseja, mas inferniza a vida), atemorizando de resto a todos os que com ele se cruzam.
Uma história de violência, em que a progressiva definição dos contornos da memória revelará novas e dolorosas verdades."
O Meças não esquece o passado, vive com ele diariamente. Regressado da Alemanha depois de anos emigrado, à aldeia onde nasceu e cresceu e onde o passado lhe parece estar ainda mais presente.
O Meças é um homem violento, de fraco carácter, que sentimos ser muito revoltado, com tudo e com todos. Odeia o filho que, entretanto veio viver com ele. Aparentemente odeia a nora, mas tem com ela uma relação doentia, com comportamentos completamente inadmissíveis.
Tudo em Meças é desrespeito, possessão, chantagem, violência, agressividade e raiva.
Quando conhecemos o passado do Meças, conseguimos contextualizar, de alguma forma, estas atitudes, no entanto, nada justifica aquilo em que Meças se transformou.
O Meças é um livro violento em muitos aspetos e tem muito do que é comum a outros livros de J. Rentes de Carvalho, a crítica social, a forma de viver em Portugal, num Portugal rural, pouco instruído e com alguma tendência para a violência.
Mais uma vez J. Rentes de Carvalho leva-nos para uma pequena localidade onde toda a gente se conhece e onde, toda a gente sabe da vida de toda a gente mas ninguém se mete na vida de ninguém.
Estranhei um pouco a forma como está escrito, que me deixou confusa no início, mas gostei bastante embora não seja um livro muito fácil de ler.
Recomendo!
Boas leituras!
Excerto (pág. 66):
"A história alheia pode ser agradável leitura, à leitura da minha só me dou quando como agora as circunstâncias obrigam, pois me faz encarar o que prefiro esquecer e leva a juízos que, sei-o de antemão, apenas servem para tornar mais espessa a carapaça com que me guardo dos outros.
Não é caso de que vá alargar-me em confidências ou detalhes, pois nem os factos são sempre como se contam ou o que parecem, e dentro da família, nas relações que mantemos, o que sentimos e mostramos ou não, as palavras que nos saem da boca, tudo é sujeito a incompreensíveis mudanças. A realidade de hoje vemo-la amanhã como tonta fantasia, mostra-se de pechisbeque o que pareceu genuíno.
Talvez parte da tragédia da vida se deva a que nenhum artista iguala o tempo no mudar de ângulos e perspectivas, no fundir dos coloridos, nenhum como ele nos leva por tão enganosos bastidores ou cria máscaras de perfeição igual."
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