Título original: El Prisionero del Cielo
Ano da edição original: 2011
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Tradução: Sérgio Coelho
Editora: Editorial Planeta
"Barcelona, 1957, Daniel Sempere e o amigo Fermín, os heróis de A Sombra do Vento, regressam à aventura, para enfrentar o maior desafio das suas vidas.Quando tudo lhes começava a sorrir, uma inquietante personagem visita a livraria Sempere e ameaça revelar um terrível segredo, enterrado há duas décadas na obscura memória da cidade. Ao conhecer a verdade, Daniel vai concluir que o seu destino o arrasta inexoravelmente a confrontar-se com a maior das sombras: a que está a crescer dentro de si.
Transbordante de intriga e de emoção, O Prisioneiro do Céu é um romance magistral, que o vai emocionar como da primeira vez, onde os fios de A Sombra do Vento e de O Jogo do Anjo convergem através do feitiço da literatura e nos conduzem ao enigma que se esconde no coração do Cemitério dos Livros Esquecidos. Este romance de Carlos Ruiz Zafón é um verdadeira promessa de felicidade."
Livro lido nas férias de Verão de há uns dois anos atrás. Os pormenores já se desvaneceram na memória, é certo mas, conservo a mística de Barcelona e as personagens que
Carlos Ruiz Zafón tão bem sabia criar. Misteriosas e assustadoras.
O Prisioneiro do Céu, traz-nos Daniel Sempere, à frente da livraria, casado, com um filho e feliz. Os dias passam sem grandes sobressaltos, para além dos que atormentam todos os donos de livrarias. Não serão os negócios mais rentáveis e estáveis do mundo. :)
Um dia, um estranho homem, entra na vida do casal e, com ele traz a dúvida e o medo. Daniel Sempere descobre dentro dele sentimentos que não sabia serem possíveis. Torna-se um homem inseguro, desconfiado e agressivo. Fica obcecado por este homem que de repente tornou a sua vida num inferno.
E quem será este homem misterioso que parece trazer a desgraça para os Sempere? O que vamos conhecendo desta personagem e a sua história foi o que mais me cativou no livro. As descrições, o mistério, a dualidade - será bom? será mau?, foi o que mais me manteve interessada na leitura.
Julgo que não é novidade que a personagem do Daniel Sempere, sempre me irritou um bocadinho. Essa impressão não se alterou, agora que é um homem adulto. :)
Com a ajuda de Fermín, o amigo de sempre, e que parece estar, de alguma forma envolvido na história que o homem misterioso está a querer desenterrar, Daniel vai percorrendo as ruas e ruelas de Barcelona para tentar descobrir o que trouxe aquela personagem para a sua vida.
A história está bem escrita, outra coisa não seria de esperar do
Carlos Ruiz Zafón. Consegue manter uma aura de mistério, quase terror, que nos mantém em suspenso até ao fim. Foi muto bom voltar a estar com Fermín. Acho que é uma das personagens mais bem conseguidas deste universo do Cemitério dos Livros Esquecidos.
Recomendo sem reservas.
Boas leituras!
Excerto (pág. 95):
"A cela era um rectângulo escuro e húmido, com um pequeno orifício aberto na rocha, por onde entrava ar frio. As paredes estavam cobertas de mossas e marcas gravadas pelos inquilinos anteriores. Alguns gravavam os seu nomes, datas ou deixavam algum indício de que haviam existido. (...)
Fermín estava ali há meio hora, quando reparou, no outro extremo da cela, num vulto na sombra. Levantou-se e aproximou-se devagar, acabando por descobrir tratar-se de uma saca de serapilheira suja. O frio e a humidade haviam começado a penetrar-lhe nos ossos e, por mais que o cheiro emanado daquele fardo salpicado de manchas escuras não augurasse agradáveis conjecturas, Fermín pensou que talvez a saca tivesse uma farda de prisioneiro, que ninguém se dera ao trabalho de lhe entregar e, com um pouco de sorte, um cobertor para se aquecer. Ajoelhou-se em frente à saca e desatou o nó que atava uma das extremidades.
Ao abri-la, a iluminação das candeias que cintilavam trémulas no corredor revelou o que, por momentos, julgou tratar-se do rosto de um boneco, de um manequim como os que os alfaiates colocavam nas montras para exporem os fatos. O fedor e a náusea fizeram-no compreender que não se tratava de um boneco. Cobrindo o nariz e a boca com uma das mãos, retirou o resto do tecido e atirou-se para trás, contra a parede da cela.
O cadáver parecia ser de um adulto de idade indeterminada, entre os quarenta e os setenta e cinco anos, que não deveria pesar mais do que cinquenta quilos. Os cabelos compridos e a barba branca cobriam-lhe uma boa parte do tronco esquelético. As mãos ossudas, de unhas compridas e retorcidas, assemelhavam-se às garras de uma ave. Tinhas os olhos abertos e as córneas pareciam ter-se-lhe enrugado, como frutos maduros. A boca estava entreaberta e a língua, inchada e enegrecida, ficara presa entre os dentes apodrecidos.
- Tire-lhe a roupa antes que o levem - entoou uma voz de uma cela do outro lado do corredor. - A si, ninguém lhe vai dar outras roupas até ao próximo mês."
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