Ano da edição original: 2001
Autor: Yann Martel
Tradução: António Pescada
Editora: Editorial Presença
"Filho do administrador do jardim zoológico de Pondicherry, na Índia, Pi Patel possui um conhecimento enciclopédico sobre animais e uma visão da vida muito peculiar. Quando Pi tem dezasseis anos, a família decide emigrar para a América do Norte num navio cargueiro juntamente com os habitantes do zoo. Porem, o navio afunda-se logo nos primeiros dias de viagem. Pi vê-se na imensidão do Pacífico a bordo de um salva-vidas acompanhado de uma hiena, um orangotango, uma zebra ferida e um tigre de Bengala. Em breve restarão apenas Pi e o tigre, e a única esperança de sobreviverem é descobrirem, de alguma forma, que ambos precisam um do outro... Já considerado uma das mais extraordinárias criações literárias da última década, A Vida de Pi é um livro mágico, onde o real e o absurdo se misturam numa história intemporal."
Confesso que estou a sentir alguma dificuldade em escrever a minha opinião sobre este livro. O meu problema está em ter gostado muito do livro e querer transmitir tudo aquilo que me encantou na história de Pi. Não me sinto capacitada para, com as minhas palavras, dar-vos uma pequena ideia da beleza subjacente a tudo o que está escrito, nem para descrever os sentimentos fortes que me provocou a história da vida de Pi. Enfim, não sei se sou capaz de fazer com que vão a correr para a livraria mais próxima... ;)
Vou ter em conta que, se calhar alguns de vocês vão de facto a correr para a livraria mais próxima, e vou tentar não esmiuçar muito o livro, para que possam sentir o mesmo prazer que eu senti na leitura deste livro. Vai ser uma opinião livre de spoilers (pelo menos assim espero)! :p
A Vida de Pi é um livro que no início me deixou de pé atrás. A religião é um assunto recorrente e importante na vida de Pi, o rapazinho indiano que se torna praticante de três religiões, o hinduísmo, o cristianismo e o islamismo, de forma natural, porque encontrou nas três, formas válidas para estar próximo de Deus. No início tive receio que todo o livro fosse concentrar-se muito nos dilemas religiosos de Pi, mas felizmente isso apenas acontece na primeira parte do livro. Felizmente, na primeira parte do livro, a religião não foi o único tema. Gostei muito da descrição da vida no Jardim Zoológico de Pondicherry e da forma como ele desconstrói as teorias de que os animais selvagens são infelizes fora do seu habitat natural. confinados a espaços pequenos. É um ponto de vista interessante e, que serve essencialmente para justificar alguns comportamentos e acções no barco salva-vidas.
Na primeira parte ainda não estava a perceber o porquê de tantas opiniões extraordinárias acerca deste livro e estava a começar a pensar que alguma coisa se passava de errado comigo. :)
A segunda parte descreve a luta pela sobrevivência que Pi teve de travar quando, após o naufrágio do navio onde seguia com a família e alguns dos animais do zoo, vai sem saber muito bem como, parar a um barco salva-vidas tendo por companhia uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre de Bengala. Nesta estranha arca de Noé a lei da sobrevivência é a única a prevalecer porque o comportamento de um animal é o mesmo, quer esteja na selva, no zoo ou num barco no meio do pacífico.
Esta segunda parte oscila entre o absurdo e o real onde, conscientemente, senti necessidade de ajustar o meu cérebro para o "modo de leitura de Fantasia", pois estava a parecer-me um livro mais próximo da fantasia do que de outro género literário qualquer. No entanto, e talvez esteja aí uma das razões para este livro me ter deixado tão surpreendida, nunca me foi possível "sintonizar" o cérebro para a fantasia, porque de repente aconteciam coisas tão reais e descritas de uma forma tão vívida, que acabavam por camuflar as partes em que o livro me parecia virado para um público mais juvenil, a lembrar-me As Viagens de Gulliver. Andei o livro todo ora de sobrolho franzido, sem saber muito bem o que pensar, ora de coração aos pulos e estômago embrulhado, sem saber o que a próxima página me traria, fantasia ou a dura realidade. Esta segunda parte provocou, por isso, um misto de emoções que me deixou à beira da bipolaridade. :)
Por último, sobre a terceira parte apenas vou dizer que a senti como um murro no estômago e a li com um aperto quase constante da garganta, e mais não digo! :)
Gostei muito da escrita de Yann Martel e da forma como a história se foi desenvolvendo. Uma história que, sendo original, é ao mesmo tempo banal, expondo necessidades primárias e medos primitivos que aproximam o Homem do animal, quando o que está em causa é a sobrevivência. É um livro que parecendo simples é na verdade complexo. É um livro que maltrata o leitor porque não respeita a nossa paz de espírito. É um livro que convida a uma reflexão sobre a vida, o nosso lugar no mundo, o lugar dos outros nesse mesmo mundo, os sonhos, a perda e tantas outras coisas mais...
Um livro que não me fez acreditar em Deus, que não tem qualquer intenção de converter, mas que me mostrou uma visão da fé e da forma como a religião pode ser vivida que achei bonita. E, acreditando ou não em Deus, também eu prefiro a história com animais. ;)
Recomendo, como é óbvio!
Boas leituras!
Excerto:
"Mantendo uma expressão profundamente triste e lastimosa, começou a olhar em volta, virando lentamente a cabeça de um lado para o outro. A figura dos macacos perdeu instantaneamente o seu carácter divertido. Ela tinha dado à luz dois filhotes o jardim zoológico, dois machos robustos, de cinco de oito anos que eram o seu (e o nosso) orgulho. Eram, sem dúvida, eles que ela tinha na sua mente ao procurar sobre a água, imitando sem intenção aquilo que eu tinha feito durante as últimas trinta e seis horas. Reparou em mim e isso não lhe provocou qualquer expressão. Eu era apenas mais um animal que tinha perdido tudo e estava votado à morte. O meu ânimo caiu a prumo."
Autor: Yann Martel
Tradução: António Pescada
Editora: Editorial Presença
"Filho do administrador do jardim zoológico de Pondicherry, na Índia, Pi Patel possui um conhecimento enciclopédico sobre animais e uma visão da vida muito peculiar. Quando Pi tem dezasseis anos, a família decide emigrar para a América do Norte num navio cargueiro juntamente com os habitantes do zoo. Porem, o navio afunda-se logo nos primeiros dias de viagem. Pi vê-se na imensidão do Pacífico a bordo de um salva-vidas acompanhado de uma hiena, um orangotango, uma zebra ferida e um tigre de Bengala. Em breve restarão apenas Pi e o tigre, e a única esperança de sobreviverem é descobrirem, de alguma forma, que ambos precisam um do outro... Já considerado uma das mais extraordinárias criações literárias da última década, A Vida de Pi é um livro mágico, onde o real e o absurdo se misturam numa história intemporal."
Confesso que estou a sentir alguma dificuldade em escrever a minha opinião sobre este livro. O meu problema está em ter gostado muito do livro e querer transmitir tudo aquilo que me encantou na história de Pi. Não me sinto capacitada para, com as minhas palavras, dar-vos uma pequena ideia da beleza subjacente a tudo o que está escrito, nem para descrever os sentimentos fortes que me provocou a história da vida de Pi. Enfim, não sei se sou capaz de fazer com que vão a correr para a livraria mais próxima... ;)
Vou ter em conta que, se calhar alguns de vocês vão de facto a correr para a livraria mais próxima, e vou tentar não esmiuçar muito o livro, para que possam sentir o mesmo prazer que eu senti na leitura deste livro. Vai ser uma opinião livre de spoilers (pelo menos assim espero)! :p
A Vida de Pi é um livro que no início me deixou de pé atrás. A religião é um assunto recorrente e importante na vida de Pi, o rapazinho indiano que se torna praticante de três religiões, o hinduísmo, o cristianismo e o islamismo, de forma natural, porque encontrou nas três, formas válidas para estar próximo de Deus. No início tive receio que todo o livro fosse concentrar-se muito nos dilemas religiosos de Pi, mas felizmente isso apenas acontece na primeira parte do livro. Felizmente, na primeira parte do livro, a religião não foi o único tema. Gostei muito da descrição da vida no Jardim Zoológico de Pondicherry e da forma como ele desconstrói as teorias de que os animais selvagens são infelizes fora do seu habitat natural. confinados a espaços pequenos. É um ponto de vista interessante e, que serve essencialmente para justificar alguns comportamentos e acções no barco salva-vidas.
Na primeira parte ainda não estava a perceber o porquê de tantas opiniões extraordinárias acerca deste livro e estava a começar a pensar que alguma coisa se passava de errado comigo. :)
A segunda parte descreve a luta pela sobrevivência que Pi teve de travar quando, após o naufrágio do navio onde seguia com a família e alguns dos animais do zoo, vai sem saber muito bem como, parar a um barco salva-vidas tendo por companhia uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre de Bengala. Nesta estranha arca de Noé a lei da sobrevivência é a única a prevalecer porque o comportamento de um animal é o mesmo, quer esteja na selva, no zoo ou num barco no meio do pacífico.
Esta segunda parte oscila entre o absurdo e o real onde, conscientemente, senti necessidade de ajustar o meu cérebro para o "modo de leitura de Fantasia", pois estava a parecer-me um livro mais próximo da fantasia do que de outro género literário qualquer. No entanto, e talvez esteja aí uma das razões para este livro me ter deixado tão surpreendida, nunca me foi possível "sintonizar" o cérebro para a fantasia, porque de repente aconteciam coisas tão reais e descritas de uma forma tão vívida, que acabavam por camuflar as partes em que o livro me parecia virado para um público mais juvenil, a lembrar-me As Viagens de Gulliver. Andei o livro todo ora de sobrolho franzido, sem saber muito bem o que pensar, ora de coração aos pulos e estômago embrulhado, sem saber o que a próxima página me traria, fantasia ou a dura realidade. Esta segunda parte provocou, por isso, um misto de emoções que me deixou à beira da bipolaridade. :)
Por último, sobre a terceira parte apenas vou dizer que a senti como um murro no estômago e a li com um aperto quase constante da garganta, e mais não digo! :)
Gostei muito da escrita de Yann Martel e da forma como a história se foi desenvolvendo. Uma história que, sendo original, é ao mesmo tempo banal, expondo necessidades primárias e medos primitivos que aproximam o Homem do animal, quando o que está em causa é a sobrevivência. É um livro que parecendo simples é na verdade complexo. É um livro que maltrata o leitor porque não respeita a nossa paz de espírito. É um livro que convida a uma reflexão sobre a vida, o nosso lugar no mundo, o lugar dos outros nesse mesmo mundo, os sonhos, a perda e tantas outras coisas mais...
Um livro que não me fez acreditar em Deus, que não tem qualquer intenção de converter, mas que me mostrou uma visão da fé e da forma como a religião pode ser vivida que achei bonita. E, acreditando ou não em Deus, também eu prefiro a história com animais. ;)
Recomendo, como é óbvio!
Boas leituras!
Excerto:
"Mantendo uma expressão profundamente triste e lastimosa, começou a olhar em volta, virando lentamente a cabeça de um lado para o outro. A figura dos macacos perdeu instantaneamente o seu carácter divertido. Ela tinha dado à luz dois filhotes o jardim zoológico, dois machos robustos, de cinco de oito anos que eram o seu (e o nosso) orgulho. Eram, sem dúvida, eles que ela tinha na sua mente ao procurar sobre a água, imitando sem intenção aquilo que eu tinha feito durante as últimas trinta e seis horas. Reparou em mim e isso não lhe provocou qualquer expressão. Eu era apenas mais um animal que tinha perdido tudo e estava votado à morte. O meu ânimo caiu a prumo."
Simplesmente um dos meus livros preferidos! Li-o quando saiu graças ao circulo de leitores e devorei-o em 2 dias. Fantástico e com um final surpreendente. Convenci quase todas as minhas amigas a lê-lo só para podermos comparar as interpretações finais e foi giro ver que cada uma fez a sua. Parabens pela critica, está muito bem escrita e deu-me vontade de o reler.
ResponderEliminarLeninha: Obrigada! :)
ResponderEliminarPara mim foi um livro surpreendente, não sabia nada acerca da história e não sabia muito bem o que esperar e acabei por adorar!
Também sendo um dos meus livros preferidos, importa notar que este livro é baseado numa história veridica!
ResponderEliminarAnónimo: Não sabia que se baseava numa história verídica... Isso torna o livro ainda mais "assustador".
ResponderEliminarAnónimo: Penso que não se trata de uma história verídica. A "Nota de Autor" faz-nos pensar que sim, porém penso que até a "Nota de Autor" deste livro é ficcionada, coisa que não acontece com a maioria dos livros, penso eu. Acho muito improvável ser baseado em factos reais. ehehehe
ResponderEliminarAgora vai sair o filme! O Trailer já foi disponibilizado e está doutro mundo!
Parabéns pelo Blog, não sou muito ligado a literatura, sou mais a cinema, porém cada vez tenho lido mais, só neste verão comprei uns 6 livros para poder levar para o país onde vivo. Um deles é o Life of Pi :)
Soul: Os livros são uma óptima companhia. :) E este A Vida de Pi é exemplo disso. Obrigada pela visita e pelos parabéns! :)
ResponderEliminarLi depressa, com a minha filha, pois queria acabar o livro antes de estrear o filme. Adorámos, as duas o livro. Ela tem 11 e eu 45!É um livro fantástico, maravilhoso, desconcertante... Estive algum tempo a explicar-lhe a parte final. Ela preferia e via a história com Pi e o tigre, dois amigos inseparáveis e que respeitavam o espaço um do outro e, no final, não percebeu e não queria perceber a mensagem. Foi difícil fazê-la perceber que há fantasias que ESCONDEM realidades cruéis demais para serem vividas no meio de tanta adversidade.
ResponderEliminarResumindo: é um ótimo livro, mas não se esqueçam de ler até ao final e depois voltar atrás e reler os capítulos escritos a itálico. Ajudam a perceber melhor a mensagem.
Boas leituras! Hoje vou ver o filme!
Olá! Vi o filme ontem e fiquei encantada... então, corri para a internet para saber mais sobre essa alucinante história. Será que realmente é verídica? Fico na expectativa!!! Agora, depois de seus comentários, vou correr para a livraria! Preciso ler este livro. Obrigada e até breve! ;) Anna.
ResponderEliminarO livro não é baseado em uma história verídica. Depois de ter sido considerado um plágio do livro do escritor brasileiro Moacyr Scliar "Max e os felinos", Yann Martel confirmou que a história do autor brasileiro teria servido de "inspiração" para "A vida de Pi".
ResponderEliminarNão cheguei a ler "A vida de Pi", li Max e os felinos - de Moacyr Scliar e confesso que pelo filme achei as duas histórias análogas, por isso houve a polêmica do plágio, mas A vida de Pi chamou-me a atenção, procurá-lo-ei ler.
ResponderEliminarNão conheço a historia de Moacyr Scliar, mas se já viu o filme e encontrou semelhanças, percebo o porquê da acusação de plágio. Gostei muito do livro. Não tinha qualquer expectativa relativamente a ele e acho que isso ajudou a tê-lo achado surpreendente.
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