Ano da edição original: 1891
Autor: Anton Tchékhov
Tradução do Russo: Nina Guerra e Filipe Guerra
Editora: Relógio D'Água
"O Duelo, de Anton Tchékhov, é uma novela narrada a partir do ponto de vista de diversas personagens reunidas no mesmo objectivo: esquecer os dias que perderam e aproveitar da melhor forma os que ainda têm para viver. Tchékhov coloca em confronto, numa pequena cidade do Cáucaso, um funcionário e a sua jovem mulher, um médico militar, um zoólogo de ideias radicais e um diácono dado ao riso. A história é contada através dos olhos de cada protagonista, conseguindo o leitor entender que qualquer um deles, independentemente da sua relação com os outros, procura apenas uma forma de escapar ao rotineiro dia-a-dia. É nesse ambiente que o ódio crescente entre o zoólogo e o funcionário culmina num duelo e este numa espécie de redenção. E quando o zoólogo deixa a cidade, as oscilações do seu barco são transformadas por Tchékhov numa metáfora da vida."
Gosto de Tchékhov. Gosto das histórias que ele conta e da forma como as conta. Gosto das personagens que cria e da forma como interagem umas com as outras. Gosto sobretudo da simplicidade com que ele expõe os dilemas das personagens. Portanto, volto a repetir: gosto de Tchékhov! :)
A história contada no O Duelo, passa-se numa pequena localidade do Cáucaso, onde os habitantes vivem a sua vida, sem grandes percalços e com a certeza de que o dia de amanhã será em tudo semelhante ao de hoje.
A esta pequena localidade chegou, há uns anos, um jovem casal, vindo de S. Petersburgo: Laévski e Nadejda Fiódorovna. Ele é funcionário público e ela é casada com outro homem. ;)
Laévski é um típico homem da sociedade que, embora tenha um cargo público, não se pode dizer que alguma vez tenha feito alguma coisa na vida. É o tipo de pessoa que desperta simpatias com facilidade, o que lhe permite viver mais ou menos às custas dos outros, endividando-se. É o tipo de pessoa que parece culta, que gosta de citar escritores e de encontrar pontos em comum entre a sua vida e a das personagens desses mesmo escritores. Vive um pouco deslumbrado consigo mesmo. É um bon vivant que, apaixonado pela jovem mulher de outro homem, não teve qualquer problema em cortejá-la e fugir com ela para os fins do mundo.
A esta mesma localidade regressa todos os anos Von Koren, um zoólogo. Von Koren passa todos os anos uma longa temporada, supostamente a estudar a escassa biodiversidade da região. Regressa todos os anos com as suas ideias radicais acerca de tudo e de todos. É daquelas pessoas que apenas tem certezas e nunca se engana, cujas opiniões acerca de qualquer assunto estão mais que cimentadas sem qualquer margem para discussão. É, no entanto, uma personagem acarinhada por todos na pequena cidade. E parece gostar de todos, excepto de Laévski, que para ele personifica tudo aquilo que ele abomina. Odeia a sua forma de viver e odeia a forma como é tratado por todos.
Como é natural em alguém com a personalidade de Laévski, este acaba por ser aborrecer da vida pacata que é forçado a levar no remoto Cáucaso. Começa a olhar para Nadejda com enfado e o amor começa a desvanecer. Laévski torna-se então o tema de conversa de todos os que com ele privam, ao mesmo tempo que Laévski vive angustiado por não saber como, e se vai conseguir sair da situação em que meteu.
Só von Koren não se compadece com os problemas de Laévski, no entanto, é ele quem, no final, acaba por lhe dar a solução, transformando-o num homem honesto e, deixando von Koren sem saber mais em que acreditar. Todas as suas convicções acabam fortemente abaladas.
Num livro em que, à primeira vista, nada acontece, é na escrita simples e nas personagens bem estruturadas que se encontram razões para querer continuar a leitura. No fim, como é óbvio, o livro é muito mais do que uma história moralista sobre os benefícios da honestidade na forma como vivemos a nossa vida. O tom empregue é divertido e descontraído mas, do que mais gostei foi mesmo das personagens. De todas sem grandes distinções.
Gostei bastante e, por isso, só posso recomendá-lo.
Boas leituras!
Excerto:
" - Deixemos de falar nisto - disse o zoólogo. - Lembra-te apenas de uma coisa, Aleksandr Davíditch: a humanidade primitiva estava protegida dos indivíduos como o Laévski com a luta pela sobrevivência e a selecção natural; hoje, a cultura levou a um enfraquecimento considerável da luta pela sobrevivência e da selecção natural, e somos nós mesmos quem tem de tratar da liquidação dos débeis e dos imprestáveis, de outro modo, se os Laévski se multiplicarem, a civilização vai perecer e a humanidade ficará absolutamente degenerada. E a culpa será nossa"
Saiu, em 2010, um filme baseado neste livro: Anton Chekhov's The Duel. Fica aqui o trailer:
Gosto de Tchékhov. Gosto das histórias que ele conta e da forma como as conta. Gosto das personagens que cria e da forma como interagem umas com as outras. Gosto sobretudo da simplicidade com que ele expõe os dilemas das personagens. Portanto, volto a repetir: gosto de Tchékhov! :)
A história contada no O Duelo, passa-se numa pequena localidade do Cáucaso, onde os habitantes vivem a sua vida, sem grandes percalços e com a certeza de que o dia de amanhã será em tudo semelhante ao de hoje.
A esta pequena localidade chegou, há uns anos, um jovem casal, vindo de S. Petersburgo: Laévski e Nadejda Fiódorovna. Ele é funcionário público e ela é casada com outro homem. ;)
Laévski é um típico homem da sociedade que, embora tenha um cargo público, não se pode dizer que alguma vez tenha feito alguma coisa na vida. É o tipo de pessoa que desperta simpatias com facilidade, o que lhe permite viver mais ou menos às custas dos outros, endividando-se. É o tipo de pessoa que parece culta, que gosta de citar escritores e de encontrar pontos em comum entre a sua vida e a das personagens desses mesmo escritores. Vive um pouco deslumbrado consigo mesmo. É um bon vivant que, apaixonado pela jovem mulher de outro homem, não teve qualquer problema em cortejá-la e fugir com ela para os fins do mundo.
A esta mesma localidade regressa todos os anos Von Koren, um zoólogo. Von Koren passa todos os anos uma longa temporada, supostamente a estudar a escassa biodiversidade da região. Regressa todos os anos com as suas ideias radicais acerca de tudo e de todos. É daquelas pessoas que apenas tem certezas e nunca se engana, cujas opiniões acerca de qualquer assunto estão mais que cimentadas sem qualquer margem para discussão. É, no entanto, uma personagem acarinhada por todos na pequena cidade. E parece gostar de todos, excepto de Laévski, que para ele personifica tudo aquilo que ele abomina. Odeia a sua forma de viver e odeia a forma como é tratado por todos.
Como é natural em alguém com a personalidade de Laévski, este acaba por ser aborrecer da vida pacata que é forçado a levar no remoto Cáucaso. Começa a olhar para Nadejda com enfado e o amor começa a desvanecer. Laévski torna-se então o tema de conversa de todos os que com ele privam, ao mesmo tempo que Laévski vive angustiado por não saber como, e se vai conseguir sair da situação em que meteu.
Só von Koren não se compadece com os problemas de Laévski, no entanto, é ele quem, no final, acaba por lhe dar a solução, transformando-o num homem honesto e, deixando von Koren sem saber mais em que acreditar. Todas as suas convicções acabam fortemente abaladas.
Num livro em que, à primeira vista, nada acontece, é na escrita simples e nas personagens bem estruturadas que se encontram razões para querer continuar a leitura. No fim, como é óbvio, o livro é muito mais do que uma história moralista sobre os benefícios da honestidade na forma como vivemos a nossa vida. O tom empregue é divertido e descontraído mas, do que mais gostei foi mesmo das personagens. De todas sem grandes distinções.
Gostei bastante e, por isso, só posso recomendá-lo.
Boas leituras!
Excerto:
" - Deixemos de falar nisto - disse o zoólogo. - Lembra-te apenas de uma coisa, Aleksandr Davíditch: a humanidade primitiva estava protegida dos indivíduos como o Laévski com a luta pela sobrevivência e a selecção natural; hoje, a cultura levou a um enfraquecimento considerável da luta pela sobrevivência e da selecção natural, e somos nós mesmos quem tem de tratar da liquidação dos débeis e dos imprestáveis, de outro modo, se os Laévski se multiplicarem, a civilização vai perecer e a humanidade ficará absolutamente degenerada. E a culpa será nossa"
Saiu, em 2010, um filme baseado neste livro: Anton Chekhov's The Duel. Fica aqui o trailer:
Um autor que quero muito ler.
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