setembro 09, 2011

O Último Cabalista de Lisboa - Richard Zimler

Título original: The Last Kabbalist of Lisbon
Ano da edição original: 1996
Autor: Richard Zimler
Tradução: José Lima
Editora: "Colecção BIIS" da Leya

"Em Abril de 1506, durante as celebrações da Páscoa, cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos num progrom em Lisboa e os seus corpos queimados no Rossio, O Último Cabalista de Lisboa, best-sellers em onze países, incluindo os Estados Unidos da América, Inglaterra, Itália, Brasil e Portugal, é um extraordinário romance histórico tendo como pano de fundo os eventos verídicos desse mês de Abril de 1506."

É inegável que os livros de Richard Zimler são historicamente perfeitos. A forma como ele retrata épocas passadas, os costumes e as pessoas que nela viveram é fascinante. E é fascinante porque ele consegue, através de histórias, regra geral não muito complicadas, enquadrar-nos na época e nas vivências das pessoas comuns, não precisando de recorrer a reis, rainhas e glamours que tais. Pessoas normalíssimas apanhadas em acontecimentos que as ultrapassam completamente e lhes muda a vida para sempre.

O Último Cabalista de Lisboa retrata a Lisboa de 1506, no calendário cristão, e a crescente pressão que os judeus da cidade viviam, com o cerco da Inquisição a apertar cada vez mais devido à pressão vinda do Reino de Castela. Forçados a converter-se ao cristianismo e a renegarem as suas origens, os cristãos-novos de Lisboa são surpreendidos, durante a discreta e secreta celebração da Páscoa, pelos tumultos que levaram à morte de milhares de pessoas suspeitas de serem judias, acusadas de serem responsáveis pela seca, fome e peste que alastrava na capital. Em Abril de 1506, os frades dominicanos incentivaram e participaram na perseguição, tortura e morte de milhares de judeus, queimando-os na praça do Rossio, com o apoio da população e a complacência da corte, exilada em Abrantes, fugida da peste. Um país preso às vontades de Roma, um povo criado segundo a moral do Papa e sem um resquício da tão aclamada piedade cristã, levou a cabo um dos mais vergonhosos acontecimentos da história portuguesa, o Pogrom de Lisboa.

Berequias é o sobrinho do último cabalista de Lisboa, Abraão Zarco, um homem iluminado e sábio, assassinado durante os tumultos, na sua própria casa. Depois da morte do tio a única coisa que move Berequias é descobrir quem matou o seu mestre e vingá-lo. Fica cego de ódio e, obcecado pela procura, coloca a sua vida, e a das pessoas que o rodeiam em perigo, pois os tempos que correm obrigam a que muita gente viva por detrás de uma máscara, e nem todos são aquilo que aparentam.

Um livro historicamente muito bom e que vale sobretudo pela descrição histórica dos acontecimentos, porque pessoalmente achei a história de Berequias e da sua busca incessante por justiça, um pouco cansativa. Não simpatizei com ele, achei-o irritante, infantil e irresponsável, o que me impediu de gostar mais do livro. Não me identificando com a personagem principal, não me interessando especialmente pela luta dele, só me restou o gosto de ler sobre Lisboa, embora os acontecimentos retratados em nada favoreçam a cidade e os lisboetas. Valeu também por ter ficado a conhecer umas quantas coisas que ignorava. :)

Embora tenha gostado bastante mais do outro livro do autor que li, Os Anagramas de Varsóvia (já aqui comentado), não posso deixar de recomendar este O Último Cabalista de Lisboa porque o tema é muito interessante. E, porque embora tenha embirrado um pouco com o Berequias, gostei bastante do seu amigo de infância Farid e, Richard Zimler é um autor que mesmo quando está menos inspirado vale a pena ler. :) Além disso, acho que o meu menor entusiasmo com o livro se deveu também ao facto de ultimamente os livros que leio terem, quase todos, como tema subjacente a religião. Confesso-me um pouco cansada do assunto...

Concluindo: Leiam! Tenho a certeza de que não darão o tempo como perdido. :)

Boas leituras!


Excerto:
"Uma pira. Chamas crepitantes. Gavinhas de fogo laranja e verdes desenrolando-se em direcção ao telhado da igreja. No campanário, um frade dominicano com uma grande papada empunhava uma espada com uma cabeça decepada na ponta e enxortava a populaça com uma voz irosa:
- Morte aos heréticos! Matai esses judeus do demónio! Que a justiça do Senhor caia sobre eles! Fazei-os pagar pelos crimes contra as crianças cristãs! Fazei-os...
O fogo causava um calor infernal, alimentado pela massa dos corpos dos judeus que lhe tinham sido lançados."

3 comentários:

  1. olá,
    Eu gostei bastate. Não te esqueças que este foi um dos primeiros livros do escritor.
    Bjs

    ResponderEliminar
  2. Patrícia: Eu também gostei, só não foi bastante como tu. :) Para primeiro está muito bom e, acho que é um bom sinal eu ter gostado mais dos Anagramas de Varsóvia. É sinal de que ele tem evoluído na forma como escreve. :)

    ResponderEliminar
  3. Qual é a página desse excerto?
    Obrigada

    ResponderEliminar