Ano da edição original: 1978 (escrito em 1969)
Autor: Pepetela
Editora: Publicações Dom Quixote
Autor: Pepetela
Editora: Publicações Dom Quixote
"[...] Muana Puó uma história de amor num fundo de luta. Era ainda em abstracto, eu nunca tinha visto guerra na minha vida, por isso arranjei a simbologia com a máscara. [...] Vi a fotografia de um cartaz para um espectáculo da Miriam Makeba, com a Muana Puó... e fiquei fascinado. Foi amor à primeira vista. Fechei-me uma semana no quarto, todo branco, com o cartaz à frente e comecei a escrever sem saber o que ia escrever. [...] A estória é perfeitamente intemporal e muito simbólica. O livro foi escrito com a máscara à frente e é para ser lido assim, com a máscara à frente. A acção segue as linhas da máscara: o mundo oval, o rosto, o lago, a boca..."
Pepetela
Pepetela é dos escritores que ultimamente mais me tem surpreendido pela positiva. Os seus livros mais recentes são muito bons e as suas obras mais antigas são surpreendentes. Cada vez o acho mais versátil na forma como escreve, sem medo de evoluir. Muana Puó é o seu primeiro livro e é diferente de todos os que já li dele.
É uma obra cheia de metáforas, onde Pepetela conta uma história de amor, uma história de sonhos realizados e esquecidos. Uma história inquieta, de luta pelos sonhos, de luta por uma vida digna e pela felicidade. A realização de uma utopia, que nas palavras de Pepetela parece ao alcance de qualquer ser humano.
Muana Puó relata a dura subida ao topo da montanha, levada a cabo pelos morcegos, e a conquista de um lugar que, desde o início dos tempos, era pertença dos corvos.
Nesta parábola, os morcegos produzem o mel que os corvos consomem e, alimentam-se dos excrementos dos mesmos. Dos corvos apenas é esperado que grasnem, e isto apenas se eles o quiserem. Numa relação que pouco ou nada tem de simbiótica, os morcegos oprimidos pela soberba dos corvos, revoltam-se e iniciam uma luta pelo direito de verem o mundo aos seus pés, do topo da montanha.
Paralelamente a esta luta entre oprimidos e opressores, Pepetela relata a história de amor de dois jovens morcegos que participam na subida à montanha, na caminhada que mudará o mundo. Ao mesmo tempo que tentam lidar com os sentimentos confusos que os assaltam, tentam encontrar o seu lugar no mundo, mesmo que isso signifique cada um seguir o seu próprio caminho.
Muana Puó é um livro que se lê num piscar de olhos, não só por ser pequeno, mas principalmente porque a história, quase um conto, não convida a interrupções. Tem um ritmo muito próprio e que custa a quebrar quando se tem de deixar o livro de lado.
Está escrito numa linguagem muito africana e com momentos de verdadeira beleza literária, a fazer lembrar um pouco Mia Couto, não tanto na reinvenção da língua, típica deste escritor, mas na atmosfera de sonho que consegue criar com as palavras.
Gostei e recomendo, não só por ser do Pepetela, mas porque é um livro que continua tão actual como no ano em que Pepetela o escreveu, em 1969. Uma obra intemporal de um escritor que não pára de me surpreender.
Vale mesmo a pena reservar umas horinhas para leitura deste livro!
Boas leituras!
Excerto:
"Até que o pressentiu a seu lado. Bastaria virar-se prà direita, atravessar a montanha que os separava, e encontraria os seus olhos. Estremeceu. Não teve coragem de vencer a montanha, rompendo a igualdade de todos os dias. Sentia o abismo perto, ao lado da montanha. Nesta vertente , a tranquilidade e a monotonia. No cimo da montanha, onde o Sol brilhava em turbilhão de cores impossíveis, a angústia do desconhecido, a aurora."
Pepetela
Pepetela é dos escritores que ultimamente mais me tem surpreendido pela positiva. Os seus livros mais recentes são muito bons e as suas obras mais antigas são surpreendentes. Cada vez o acho mais versátil na forma como escreve, sem medo de evoluir. Muana Puó é o seu primeiro livro e é diferente de todos os que já li dele.
É uma obra cheia de metáforas, onde Pepetela conta uma história de amor, uma história de sonhos realizados e esquecidos. Uma história inquieta, de luta pelos sonhos, de luta por uma vida digna e pela felicidade. A realização de uma utopia, que nas palavras de Pepetela parece ao alcance de qualquer ser humano.
Muana Puó relata a dura subida ao topo da montanha, levada a cabo pelos morcegos, e a conquista de um lugar que, desde o início dos tempos, era pertença dos corvos.
Nesta parábola, os morcegos produzem o mel que os corvos consomem e, alimentam-se dos excrementos dos mesmos. Dos corvos apenas é esperado que grasnem, e isto apenas se eles o quiserem. Numa relação que pouco ou nada tem de simbiótica, os morcegos oprimidos pela soberba dos corvos, revoltam-se e iniciam uma luta pelo direito de verem o mundo aos seus pés, do topo da montanha.
Paralelamente a esta luta entre oprimidos e opressores, Pepetela relata a história de amor de dois jovens morcegos que participam na subida à montanha, na caminhada que mudará o mundo. Ao mesmo tempo que tentam lidar com os sentimentos confusos que os assaltam, tentam encontrar o seu lugar no mundo, mesmo que isso signifique cada um seguir o seu próprio caminho.
Muana Puó é um livro que se lê num piscar de olhos, não só por ser pequeno, mas principalmente porque a história, quase um conto, não convida a interrupções. Tem um ritmo muito próprio e que custa a quebrar quando se tem de deixar o livro de lado.
Está escrito numa linguagem muito africana e com momentos de verdadeira beleza literária, a fazer lembrar um pouco Mia Couto, não tanto na reinvenção da língua, típica deste escritor, mas na atmosfera de sonho que consegue criar com as palavras.
Gostei e recomendo, não só por ser do Pepetela, mas porque é um livro que continua tão actual como no ano em que Pepetela o escreveu, em 1969. Uma obra intemporal de um escritor que não pára de me surpreender.
Vale mesmo a pena reservar umas horinhas para leitura deste livro!
Boas leituras!
Excerto:
"Até que o pressentiu a seu lado. Bastaria virar-se prà direita, atravessar a montanha que os separava, e encontraria os seus olhos. Estremeceu. Não teve coragem de vencer a montanha, rompendo a igualdade de todos os dias. Sentia o abismo perto, ao lado da montanha. Nesta vertente , a tranquilidade e a monotonia. No cimo da montanha, onde o Sol brilhava em turbilhão de cores impossíveis, a angústia do desconhecido, a aurora."
Ainda no outro dia escrevi num outro blogue que gostaria de voltar a ler Pepetela. Não só por ter gostado do único livro que li, mas também pelas opiniões positivas que leio em diversos sítios. E este aqui então tu leste mesmo num ápice! ;) Pelas tuas descrições parece ser mesmo bom! Como ando em contenção e não tenho mais nenhuma obra do autor em casa, tenho mesmo de ver se dou um pulo à biblioteca...
ResponderEliminartonsdeazul: É como digo, Pepetela tem sido uma surpresa constante. Este em particular é mesmo para se ler sem interrupções porque os capítulos são muito pequenos, o maior deve ter um página apenas. É um bom livro para uma daquelas tardes em que não apetece fazer nada... :) Bom Domingo!
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