Ano da edição original: 1866
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução do russo: Nina Guerra e Filipe Guerra
Editora: Editorial Presença
Autor: Fiódor Dostoiévski
Tradução do russo: Nina Guerra e Filipe Guerra
Editora: Editorial Presença
"«O Jogador» foi publicado em 1866, ano em que saiu também «Crime e Castigo», volume que inaugurou esta colecção das obras de Fiódor Dostoiévski, sendo também a primeira a ser traduzida directamente do russo. Passado na Alemanha, num ambiente de casinos, Aleksei Ivánovitch destaca-se como figura principal - um jovem com um forte sentido crítico em relação ao mundo que o rodeia, mas carente de objectivos, que descobre em si a paixão compulsiva pelo jogo. Dostoiévski expõe as personagens nas suas motivações mais íntimas, com humor e ironia, criando uma obra simultaneamente viva e profunda, na melhor tradição dostoievskiana. O fascínio torturado dos jogadores adequa-se genialmente ao tratamento de temas caros ao autor, e ainda o descontrolo e o desespero, as paixões que raiam a loucura e a solidão sem perspectivas, além de uma análise social impiedosa, por vezes satírica. O Jogador, uma das obras mais lidas deste autor, tem muito da experiência do próprio Fiódor Dostoiévski, que também foi um jogador compulsivo durante vários anos."
Aleksei Ivánovitch trabalha como preceptor na família de um General russo que se encontra a passar uma temporada na Alemanha, numa zona de termas, cuja atracção principal é o casino.
O General encontra-se numa situação financeiramente complicada, falido e muito endividado deposita todas as suas esperanças na morte de uma tia velha, supostamente muito doente, para receber em herança toda a sua fortuna. É com desespero que o General se apercebe de que, não só a tia não está a morrer, como continua intratável e muito senhora do seu nariz, ou do seu dinheiro, o que para o caso vai dar no mesmo. :) Toda a história gira à volta de dinheiro, de ganhar e perder dinheiro. Em como gastá-lo e ganhá-lo sem esforço e na futilidade que traz para a vida daquelas pessoas.
A história é contada na perspectiva de Aleksei Ivánovitch, um jovem descontraído, que dá a toda a narrativa um tom divertido e leve. A única coisa que angustia Aleksei, para além do francês que ronda o General, é o facto de a sua amada, Polina Aleksándrovna, e enteada do General, menosprezar os sentimentos que ele nutre por ela.
Tudo o que se passa com a família do General e com a tia supostamente moribunda parece diverti-lo muito, e é com olhar crítico que analisa toda aquela gente e a forma como vivem as suas vidas. Existe, no entanto, algum despeito ou talvez alguma mágoa por não pertencer ao mesmo mundo que Polina e, dessa forma poder aspirar a subir na consideração da jovem, conquistando o seu amor.
Aleksei nunca jogou no casino mas sente pelo jogo uma forte atracção e, a certeza que tem de que será numa mesa de jogo que a sua vida mudará drasticamente, só torna este fascínio ainda mais perigoso. Aleksei sente que, na primeira vez que jogar para si, a sua vida mudará e irá ganhar muito dinheiro.
Aleksei conhece de perto o que o jogo faz com as pessoas, a loucura que provoca, a destruição que traz mas, conhece também o lado apetecível do jogo, a probabilidade que existe de ficar milionário em apenas uma jogada na roleta.
Quando a oportunidade aparece, será o seu comportamento muito diferente do dos outros jogadores? Ou o que ele tanto critica na família do General esconde afinal a vontade de pertencer a esse mundo fascinante e irresistível? As repostas são óbvias, mas não é por isso que a rapidez da degradação deixa de surpreender. :) A velocidade com que as certezas de ontem passam a coisas do passado e estranhamente distantes, é elevada.
O que posso dizer acerca deste livro é que é bom, muito bom! Sem grandes pretensões, Dostoiévski consegue transformar uma história, onde pouco ou nada acontece e onde o único tema é o jogo, num livro que se lê por puro prazer. Gostei das personagens, porque são divertidas e porque nos preocupamos com o seu destino. Sofremos com as opções pouco sensatas que tomam, exultamos quando ganham, e sofremos quando perdem. A escrita é de tal maneira próxima e eficiente que é fácil sentirmos que estamos naquele casino a observar o fazer e desfazer de vidas como se uma e outra coisa fossem iguais. E mesmo assim, o desejo que sentimos de nos juntarmos a eles, de sermos nós a apostar, não diminui porque sentimos, tal como eles, que vamos ganhar, que aquela vai ser a jogada que vai virar a sorte. :)
Conseguir transmitir tudo isto, de forma clara, num livro que e é relativamente pequeno é algo que só os grandes escritores, como Dostoiévski, conseguem fazer. :)
Gostei muito e só posso recomendá-lo!
Boas leituras!
Excerto:
"- Le jeu est fait! - gritou o croupier. A roleta girou e saiu o treze. Perdemos!
- Mais, mais, mais! Põe mais! - gritava a avó. Eu já não a contrariava e, encolhendo os ombros, apostei mais doze fredericos no zéro. A roleta girou demoradamente. A avó tremia ao seguir o movimento da roleta. «Estará a pensar que sai outra vez o zéro?» - pensava enquanto olhava espantado para ela. Do rosto dela irradiava a profunda convicção de que ia ganhar, a esperança certa de que iam já gritar zéro! A bolinha imobilizou-se numa casa.
- Zéro! - gritou o croupier.
- Viste!!! - a avó estava voltada para mim num triunfo louco.
Também eu era jogador - senti-o nesse mesmo instante. Tremiam-me as mãos e as pernas, andava-me a cabeça à volta."
Gosto imenso do Dostoievski.
ResponderEliminarDesculpa a intromissão, apenas descobri este blog e acho que vou vir com frequência. Sou espanhola e estudo português há um ano, e de certeza adoro a literatura... Portanto, é claro que adorei o teu blog!
Beijinhos, e boas leituras!
Tens de ler para breve "Crime e Castigo" e "O Duplo". Dostoievski é mesmo genial! Do autor quero ler este ano "Os Irmãos Karamazov".
ResponderEliminarAnónimo: Bem-vinda e espero que regresses mais vezes. :)
ResponderEliminartonsdeazul: Pois tenho... Talvez aproveite os vales de Natal da Wook para baixar o preço de um desses clássicos. :)
boa noite!
ResponderEliminarPerdi o meu livro e preciso de uma informação, para fazer um trabalho.
O meu livro chama se O JOGADOR de Dostoievski. Pode me so dizer o número da edição e o local, da mesma, do livro apresentado na fotofrafia?
obrigado um abraço
Muito boa tarde,
ResponderEliminarEstive aqui no seu blog e deixe-me que lhe dê os parabéns por conseguir mostrar, os que são de facto, os pontos fortes deste obra!
Escrevo também porque pelo meio da leitura do livro, me perdi e gostava de perceber qual o verdadeiro destino dos personagens quando o livro acaba.
Obrigada
Recentemente li ' Crime e Castigo'. Comecei a me interessar por outras obras de Fiodor pelo fato dele conseguir criar histórias e fazer análises dela, esmiuçando a personalidade de cada personagem e ao mesmo tempo nos colocando na situação, fazendo com que possamos refletir sobre nós mesmos, sobre a sociedade e sobre o mundo.
ResponderEliminarEspero podet tirar proveito de O Jogador (Fiodor), pois assim como Aleksi sou uma viciada em jogos (video games, jogos de estratégia, quebra-cabeça), e não consigo me desvencilhar até alcançar o objetivo. :)
Parabéns pela síntese do livro!