fevereiro 15, 2016

O Nome da Rosa - Umberto Eco

Título original: Il Nome della Rosa
Ano da edição original: 1980
Autor: Umberto Eco
Tradução: Jorge Vaz de Carvalho
Editora: Gradiva

"Um estudioso descobre casualmente a tradução francesa de um manuscrito do século XIV: o autor é um monge beneditino alemão, Adso de Melk, que narra, já em idade avançada, uma perturbante aventura da sua adolescência, vivida ao lado de um franciscano inglês, Guilherme de Baskerville.
Estamos em 1327. Numa abadia beneditina reúnem-se os teólogos de João XXII e os do Imperador. O objecto da discussão é a pregação dos Franciscanos, que chamam a igreja à pobreza evangélica e, implicitamente, à renúncia ao poder temporal.
Guilherme de Baskerville, tendo chegado com Adso pouco antes das duas delegações, encontra-se subitamente envolvido numa verdadeira história policial. Um monge morreu misteriosamente, mas este é apenas o primeiro dos sete cadáveres que irão transtornar a comunidade durante sete dias. Guilherme recebe o encargo de investigar esses prováveis crimes. O encontro entre os teólogos fracassa, mas não a investigação do nosso Sherlock Holmes da Idade Média, atento decifrador de sinais, que através de uma série de descobertas extraordinárias, conseguira no final encontrar o culpado nos labirintos da Biblioteca."

E aqui está, Umberto Eco, um dos meus autores favoritos. Não sei do que gosto mais, se da escrita, das histórias, do sentido de humor discreto, ou do desafio constante que é cada livro dele, a nível mental. 
O Nome da Rosa é uma releitura. Li-o há muitos anos e foi um daqueles livros de que gostei, adivinhando apenas uma ínfima parte da grandeza do autor que tinha acabado de conhecer. Foi um daqueles livros, à semelhança do primeiro que li de Saramago, Memorial do Convento, que me fez pensar, provavelmente tropecei em ti demasiado cedo. No entanto, deixaram-me uma impressão tal que olho para eles, até hoje, como sendo dos principais responsáveis pela leitora que sou hoje. :)

Esta reedição, do primeiro romance de Umberto Eco, com uma nova tradução (chancela Gradiva) de uma edição revista pelo próprio autor, pareceu-me uma óptima oportunidade para colmatar esta lacuna nas minhas estantes, e para voltar a reler um livro que me tinha deixado muito boas impressões.

O Nome da Rosa é, à semelhança de outros do autor, um livro pesado, em termos históricos e culturais, que nos inunda com conhecimento e factos até ao último ponto final. Não nego que às vezes o achei demasiado denso, mais maçudo que os outros que já li dele, estes sobre temas ou épocas até mais obscuras para mim do que a que é retratada neste. No entanto, e mais uma vez, a escrita de Umberto Eco leva-nos de um extremo ao outro, aliviando a pressão na leitura de forma hábil e, quando damos por ela, estamos na última página e de sorriso no rosto. :)

Como diz na sinopse, a ação de O Nome da Rosa passa-se em plena idade média numa abadia beneditina, numa altura em que a inquisição reinava. A abadia foi o lugar escolhido para uma histórica reunião entre os teólogos do Papa João XXII e do Imperador Luís IV. Nela, os seguidores de João XXII e do Imperador esgrimem argumentos sobre os Franciscanos, para uns - os seguidores de João XXII - não passam de hereges que devem arder na fogueira, para outros - os do lado do Imperador - um grupo de homens que pregam a pobreza, a abnegação e a ajuda ao próximo como forma de viver a religião e o amor a Deus.
Guilherme de Baskerville, ele próprio um franciscano chega à abadia, acompanhado de Adso de Melk, um adolescente curioso, seu discípulo e escrivão e o narrador desta história. Guilherme viaja até à abadia com a missão de mediar a reunião que vai ocorrer e acaba envolvido numa investigação policial. No dia em que chegam, os monges lidam com a morte misteriosa de um dos seus jovens monges. Conhecendo o poder de dedução de Guilherme de Baskerville, o abade pede-lhe que tente trazer alguma luz à misteriosa morte de um dos seus irmãos, antes que toda a delegação chegue para a reunião. Mas, nem Guilherme, com o seu extraordinário raciocínio, e muito menos Adso de Melk, poderiam prever a dimensão da tragédia que está para se abater sobre a abadia...

Todas as mortes violentas que ocorrem na abadia, parecem estar ligadas à biblioteca, uma das maiores e mais ricas bibliotecas do mundo. O acesso à biblioteca era muito restrito. Existem livros perigosos, o conhecimento deve ser partilhado apenas com alguns, e de acordo com o critério de poucos. Existem livros que nunca deveriam ter sido escritos porque podem pôr em causa toda a religião e a forma como é pregada e praticada. Existem outros livros cujos ensinamentos devem ser mantidos no seio de um grupo restrito e privilegiado para que não seja diminuída a importância destes na sociedade. Existem pessoas capazes de tudo para defender um ideal, uma visão e, especialmente existem pessoas capazes de tudo quando acreditam estar a fazer a vontade de Deus.

O Nome da Rosa é muito mais do que um policial, e também o retrato de um época onde a Igreja tinha muito poder e lutava, com todas as armas, para manter e aumentar a influência que tinha sobre as pessoas. Uma época onde, ao mesmo tempo até se respirava algum desejo de mudança, com algumas correntes a pregarem uma maior aproximação às vidas dos fiéis, ao despojamento de bens materiais e a uma vida dedicada aos outros. 
Uma época onde a ciência ainda era vista como uma heresia, algo que punha em causa a existência de Deus. A luta interna dos homens de fé que, ao mesmo tempo, tinham sede de conhecimento, muitos deles forçados a uma vida eclesiástica como único meio para aceder a esse mesmo conhecimento.Um equilíbrio difícil de manter, principalmente de manter longe das fogueiras da Santa Fé. :/

Resumindo e baralhando, O Nome da Rosa é um livro que devem ler, numa altura da vossa vida em que tenham uma maior disponibilidade mental porque vai valer muito a pena. Umberto Eco é um autor que não podem deixar passar ao lado.

Boas leituras!

Excerto (pág. 174):
" - Digo que muitas destas heresias, independentemente das doutrinas que defendem, encontram sucesso entre os simples, porque lhes sugerem a possibilidade de uma vida diferente. Digo que, muito amiúde, os simples não sabem muito sobre doutrina. Digo que aconteceu frequentemente que turbas de simples confundiram a pregação cátara com a dos patarinos, e esta em geral com a dos espirituais. A vida dos simples, Abbone, não é iluminada pela sabedoria e pelo sentido vigilante das distinções que nos fazem sábios. E está obcecada com a doença, com a pobreza, tornada balbuciante pela ignorância. Muitas vezes, para muitos deles, a adesão a um grupo herético é apenas uma maneira, como outra qualquer, de gritar o próprio desespero. Pode-se queimar a casa de um cardeal seja porque se quer aperfeiçoar a vida do clero, seja porque se julga que o Inferno que ele prega não existe. Isso faz-se sempre porque existe o inferno terreno, em que vive o rebanho de que nós somos pastores."


Deixo-vos o trailer da adaptação para o cinema do livro de Umberto Eco, The Name of The Rose, com o fantástico Sean Connery. Do que me lembro é bastante fiel à história do livro.

2 comentários:

  1. É sem dúvida um grande livro em tamanho, densidade e informação sobre uma realidade do final da idade média, o filme limita-se quase só ao policial, mas o texto é de uma grande riqueza.

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