Título original: A Desumanização
Ano da edição original: 2013
Autor: valter hugo mãe
Editora:Porto Editora
Ano da edição original: 2013
Autor: valter hugo mãe
Editora:Porto Editora
"«Mais tarde, também eu arrancarei o coração do peito para o secar como um trapo e usar limpando apenas as coisas mais estúpidas.»
Passado nos recônditos fiordes islandeses, este romance é a voz de uma menina diferente que nos conta o que sobra depois de perder a irmã gémea. Um livro de profunda delicadeza em que a disciplina da tristeza não impede uma certa redenção e o permanente assombro da beleza."
valter hugo mãe é, parece-me, um daqueles escritores que, ou se ama ou se odeia. Eu comecei por amar, com a máquina de fazer espanhóis (comentário aqui). Neste momento estou longe, muito longe de odiar, mas também já não estou propriamente a amar. Os últimos livros que tenho lido dele têm sido, menos cativantes, não sinto a espontaneidade dos primeiros que li. E tendo a achar as histórias propositadamente chocantes. Não sei. Confesso que tenho ganho alguns anti-corpos ao valter hugo mãe. :/
A história de A Desumanização passa-se na Islândia, numa vila pequena e isolada. Dá ideia até de se passar num tempo diferente do nosso, talvez num tempo que nunca existiu.
É a história de duas irmãs, Halla e Sigridur, irmãs gémeas, inseparáveis, as melhores amigas uma da outra. Sigridur mais espontânea, mais extrovertida e criativa, Halla mais contida, menos participativa a viver mais na sombra da irmã. Um dia Sigridur morre. Num dia estava tudo bem, no outro começa a ficar doente e passado pouco tempo acaba por morrer.
É a história de duas irmãs, Halla e Sigridur, irmãs gémeas, inseparáveis, as melhores amigas uma da outra. Sigridur mais espontânea, mais extrovertida e criativa, Halla mais contida, menos participativa a viver mais na sombra da irmã. Um dia Sigridur morre. Num dia estava tudo bem, no outro começa a ficar doente e passado pouco tempo acaba por morrer.
Halla vê-se sozinha pela primeira vez, sem conseguir libertar-se da presença da irmã, que imagina viva debaixo da terra onde foi enterrada. Sem a orientação da irmã e atormentada pela mãe que enlouqueceu um bocadinho com a morte da filha. A mãe culpa Halla por não ter morrido com a irmã. Que sentido faz, sendo gémeas, que uma tenha morrido e a outra tenha o descaramento de não morrer a seguir? Halla quase concorda com a mãe.
Para além das gémeas, dos pais destas, temos Einar, um homem com a mente de uma criança, num corpo de adulto. Vive com o pároco da vila e é obcecado pelas irmãs, diz que vai casar com elas. As miúdas não devem ter mais de 10 anos e Einar tem um atraso mental, embora tenha sido uma criança normal. Diz-me na vila que um trauma de infância o deixou assim. As duas sempre resistiram às investidas de Einar. Halla sozinha acaba por encontrar em Einar um bocadinho da irmã, alguém que a compreende e que demonstra uma sensibilidade e sensatez que a surpreendem.
Não vou avançar com mais pormenores da história porque acabaria por contá-la toda.
Acho que A Desumanização é sobre a desumanização de todos. A desumanização dos pais de Halla e Sigridur e a desumanização de toda uma comunidade. Existe, pelo contrário, uma espécie de humanização de Einar e da relação deste com Halla.O isolamento e a solidão que parecem esbater as fronteiras do que é certo ou errado. Crianças que não parecem crianças e que pensam e sentem como adultos. Adultos que se comportam com a imaturidade de uma criança, na forma de sentir e de agir.
É um livro triste, que não é fácil de ler. Não me consegui abstrair da pouca idade de Halla o que tornou algumas partes da história difíceis de ler e acabei por não perceber o propósito de alguns dos acontecimentos. Fiquei com a sensação de que se trata de uma espécie de fábula, no entanto não tive capacidade para me abstrair da realidade que saltava das páginas e isso acabou por tornar o livro, para mim, de certa forma penoso.
Não vou avançar com mais pormenores da história porque acabaria por contá-la toda.
Acho que A Desumanização é sobre a desumanização de todos. A desumanização dos pais de Halla e Sigridur e a desumanização de toda uma comunidade. Existe, pelo contrário, uma espécie de humanização de Einar e da relação deste com Halla.O isolamento e a solidão que parecem esbater as fronteiras do que é certo ou errado. Crianças que não parecem crianças e que pensam e sentem como adultos. Adultos que se comportam com a imaturidade de uma criança, na forma de sentir e de agir.
É um livro triste, que não é fácil de ler. Não me consegui abstrair da pouca idade de Halla o que tornou algumas partes da história difíceis de ler e acabei por não perceber o propósito de alguns dos acontecimentos. Fiquei com a sensação de que se trata de uma espécie de fábula, no entanto não tive capacidade para me abstrair da realidade que saltava das páginas e isso acabou por tornar o livro, para mim, de certa forma penoso.
É certo que continuo a gostar muito da escrita de valter hugo mãe, continuo a achar impressionante o à vontade que demonstra com personagens femininas, de todas as idades. No entanto parece-me que as histórias deixaram de me impressionar. Não sei se deixaram de se credíveis, não sei se fui eu que deixei de me identificar, não sei. Só sei que não têm sido aquilo de que tanto gostei na máquina de fazer espanhóis.
Estou dividida. Não sei se recomendo ou não este livro. Acho que vale a pena ler valter hugo mãe, que não é um escritor para as massas e tem uma escrita e uma forma de contar histórias que pode ser muito envolvente e realista. A Desumanização não é um livro para todos e não é um livro que se possa recomendar sem reservas.
Reservas feitas, acho que o recomendo. Vai valer a pena, se não for pela história, é por se passar na Islândia. Morro de curiosidade de conhecer o país desde que li O Sino da Islândia de Halldór Laxness (meu comentário aqui).
Boas leituras!
Estou dividida. Não sei se recomendo ou não este livro. Acho que vale a pena ler valter hugo mãe, que não é um escritor para as massas e tem uma escrita e uma forma de contar histórias que pode ser muito envolvente e realista. A Desumanização não é um livro para todos e não é um livro que se possa recomendar sem reservas.
Reservas feitas, acho que o recomendo. Vai valer a pena, se não for pela história, é por se passar na Islândia. Morro de curiosidade de conhecer o país desde que li O Sino da Islândia de Halldór Laxness (meu comentário aqui).
Boas leituras!
Excerto (pág. 11):
"Éramos gémeas. Crianças espelho. Tudo em meu redor se dividiu por metade com a morte.
Ao deitar-me, naquela noite, lentamente senti o formigueiro da terra na pele e o molhado alagando tudo. Comecei a ouvir o ruído em surdina dos passos das ovelhas. Assim o expliquei, assustada. Disseram-me que talvez a criança morta tivesse prosseguido no meu corpo. Prosseguia viva por qualquer forma. E eu acreditei candidamente que, de verdade, a plantaram para que germinasse de novo. Podia ser que brotasse dali uma rara árvore para o nosso canto abandonado nos fiordes. Poderia ser que desse flor. Que desse fruto. A minha mãe, combalida e sempre enferma, tocou-me na mão e disse: tens duas almas para salvar ao céu. Assustei-me tanto que lhe tive ternura. A minha mãe não me perdoaria qualquer falha."
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