setembro 09, 2018

[Kindle] Alias Grace - Margaret Atwood

Título original: Alias Grace
Ano da edição original: 1996
Autor: Margaret Atwood
Editora: Anchor

"It's 1843, and Grace Marks has been convicted for her involvement in the vicious murders of her employer and his housekeeper and mistress. Some believe Grace is innocent; others think her evil or insane. Now serving a life sentence, Grace claims to have no memory of the murders. An up-and-coming expert in the burgeoning field of mental illness is engaged by a group of reformers and spiritualists who seek a pardon for Grace. He listens to her story while bringing her closer and closer to the day she cannot remember. What will he find in attempting to unlock her memories? Captivating and disturbing, Alias Grace showcases bestselling, Booker Prize-winning author Margaret Atwood at the peak of her powers."

Acho que nunca me tinha cruzado com nada de Margaret Atwood até ter começado a ver Handmaid's Tale, uma adaptação do livro, com o mesmo nome, desta escritora canadiana. A série é muito boa e por ser tão boa achei por bem tentar conhecer a escritora. Tendo em conta a vasta obra de Margaret Atwood, pareceu-me redundante estar a ler Handmaid´s Tale, A História de uma Serva, na edição portuguesa e praticamente dos únicos livros editados por cá e por isso acabei por comprar este Alias Grace para ler no Kindle.


Tendo em conta a história de Handmaid's Tale, acho que estava à espera que Alias Grace fosse semelhante. Na verdade é diferente do que estava à espera e, embora não tenha sido o que, por algum motivo, achei que ia ser, foi muito bom ter descoberto Margaret Atwood.

Alias Grace é a história de uma rapariga, Grace Marks, irlandesa e a filha mais velha de uma família numerosa. Conhecemos Grace quando toda a família parte para a América em busca de uma vida melhor do que a que a Irlanda do século XIX tinha para lhes oferecer. Partem de barco, naquela que iria ser a viagem que mudou a vida da pequena Grace para sempre.
A mãe não resiste à viagem até ao Canadá e Grace vê-se, num país estranho, responsável por cuidar dos irmãos mais pequenos e por aguentar o temperamento difícil do pai.
Para fugir a uma vida miserável onde o pai lhe ficava com todo o dinheiro que ganhava como criada, Grace aceita servir numa casa mais afastada da família. Ali acaba por conseguir ganhar alguma independência e conhece Mary Whitney, que se torna a sua primeira e única amiga. Mary Whitney, pouco mais velha que Grace, acaba por ser a única referência feminina na vida de Grace, depois da morte da mãe.
Grace é apenas uma miúda, bonita, responsável, educada, inocente e sem grandes ambições. Procura ganhar a vida de forma honesta e talvez a única coisa que sabe que não quer para si é uma vida igual à da sua mãe. Não pensa em casar, muito menos com um homem como o pai.
Os dias vão passando sem grandes sobressaltos, entre o trabalho e as gargalhadas com Mary, e Grace sente-se quase feliz. Até que um dia alguma coisa muda em Mary e, sem contar demasiado sobre a história, Grace vê-se novamente sozinha, sem a sua única amiga e, sem nada que a prenda àquela cidade. É por isso que aproveita a visita de uma ex-criada da casa, Nancy Montgomery, e parte com esta para servir na quinta de Thomas Kinnear, onde Nancy trabalha como governanta.

Nesta fase da leitura, já sabemos que Grace Marks se encontra presa, acusada de ter sido cúmplice no assassinato de Nancy Montgomery e Thomas Kinnear e é a própria que conta a sua história ao Dr, Simon Jordan, um médico interessado em aprofundar conhecimentos sobre saúde mental.
Embora muita gente acredite que Grace foi efetivamente culpada pela morte violenta de Nancy e Thomas, muitos outros têm dificuldade em aceitar que a doce Grace tenha sido capaz de tamanho acto de violência. A própria Grace não se recorda de praticamente nada do que aconteceu naquele dia.
O que aconteceu naquele dia e, será Grace Marks inocente ou culpada, são as perguntas que nos perseguem durante a leitura, A primeira será, mais ou menos respondida. A segunda não terá uma resposta taxativa. Para além de a culpa e inocência poderem ser conceitos muito subjectivos, acho que Margaret Atwood deixou, propositadamente, essa ambiguidade no ar, porque na realidade não é um tema fácil de se julgar e para o qual não existem, mesmo à luz dos conhecimentos atuais, regras que definem sem margem para dúvidas que alguém é culpado ou inocente, podendo até ser ambos.
Gostei bastante da escrita de Margaret Atwood, da forma como foi desenrolando a história de Grace, contada por ela própria, sendo que, ao longo de praticamente todo o livro não sabemos os pormenores da condenação de Grace e se ela é culpada ou inocente. Às vezes achamos que é culpada, outras achamos que é inocente e no fim... bem, no fim continuamos sem saber ao certo no que acreditar.
O livro faz um retrato interessante da época, do papel que a mulher ocupava na sociedade, principalmente as mulheres de classes sociais, ditas inferiores, as que circulam nos bastidores da alta sociedade. As crenças e o desejo que estas mulheres tinham de uma vida melhor, de querer fugir ao destino das suas mães e das suas avós e de todas as mulheres que viveram antes delas, como se a pobreza fosse uma doença crónica e hereditária da qual não se consegue escapar.
A abordagem às doenças mentais, pouco estudadas na época, e ao funcionamento da nossa memória quando expostos a situações traumáticas e de grande stress, é muito interessante e leva-nos a olhar para este caso em particular de uma outra perspectiva. 

Em boa hora descobri esta escritora. Vou de certeza ler mais livros dela e por isso só posso recomendar.
Recomendo este Alias Grace e Handmaid's Tale, a série, porque ainda não li o livro, se tiverem oportunidade de ver não deixem de o fazer, porque é genuinamente e assustadoramente boa.

Boas Leituras!

Nesta minha opinião não vos vou deixar um excerto, deixo-vos antes três extras: :)

 - Descobri que existe uma mini-série, do Netflix, baseada neste livro, Alias Grace:



 - O próprio livro é baseado em factos reais. Em 1843, Thomas Kinnear e Nancy Montgomery foram assassinados por dois dos seus criados, Grace Marks e James McDermott. Toda a narrativa que Margaret Atwood constrói é ficcionada, mas estas pessoas efectivamente existiram.

 - Não deixem de ver Handmaid's Tale. É uma série da Hulu. A 1ª temporada, segundo sei, é uma adaptação fiel do livro de Margaret Atwood. A 2ª temporada, que estreou este ano, continua a história de June onde a escritora a deixou, na última página do livro.



2 comentários:

  1. Conheço quase tudo de Atwood, para mim faz parte dos quatro magníficos da literatura do Canada, meu país natal: Atwood, Alice Munro, Robertson Davies e Michael Ondaatje.´Sou fã dos 3 primeiros.

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    1. Vou pesqusiar os outros. Conheço Alice Munro, mas nunca li nada dela e os outros são completos desconhecidos para mim. Obrigada pelas "sugestões". :)

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