outubro 15, 2009

A Filha do Capitão - José Rodrigues dos Santos


"O Capitão Afonso Brandão mudou a vida, quase sem o saber, numa fria noite de boleto, ao prender o olhar numa bela francesa de olhos verdes e voz de mel. O oficial comandava uma companhia da Brigada do Minho e estava havia apenas dois meses nas trincheiras da Flandres quando, durante o período de descanso, decidiu pernoitar num castelo perto de Armentiéres. Conheceu aí uma deslumbrante baronesa e entre eles nasceu uma atracção irresistível.
Mas o seu amor iria enfrentar um duro teste. O Alto Comando Alemão, reunido em segredo em Mons, decidiu que chegara a hora de lançar a grande ofensiva ara derrotar os aliados e ganhar a guerra e escolheu o vale de Lys como palco do ataque final. À sua espera, ignorando o terrível cataclismo prestes a desabar sobre si, encontrava-se o Corpo Expedicionário Português."

Vou abrir as hostilidades com este grande livro, não me estando a referir apenas às magníficas 629 páginas que o compõem. Ultimamente tenho tido algum azar com os livros que escolho para ler e A Filha do Capitão do José Rodrigues dos Santos foi definitivamente uma lufada de ar fresco. É o primeiro livro que leio deste jornalista/escritor. Já o admirava com jornalista e fiquei curiosa quando os livros dele começaram a surgir nas livrarias.

É de longe um livro como não lia há muito tempo. Muitíssimo bem escrito, com uma história de amor simples e bonita, muito ao estilo de Eça de Queirós, sem a fantástica ironia do mesmo e completamente contemporâneo. O que mais me surprendeu neste livro foi a envolvente histórica, a descrição quase perfeita de uma época, de costumes e mentalidades, como se o autor tivesse vivido nos fins do Séc. XIX, inícios do Séc. XX. Seria de esperar que tanto pormenor sobre a época em questão, que tanta descrição de factos históricos tornassem o livro maçador mas, isso não acontece. Antes pelo contrário, os factos são de tal forma integrados na ficção que tudo se conjuga de forma perfeita.

Com este livro, aprendi imenso sobre a história de Portugal, sobre a Instauração da Républica e da participação de Portugal na 1ª Guerra Mundial. O porquê de termos entrado na guerra, a falta de condições dadas aos soldados, o quase abandono a que foram votados. Acho que é um livro que só poderá ser inteiramente compreendido por nós, portugueses, por vivermos diariamente num pais cheio de contradições e por vezes tão ingrato para quem o defende. Ao ler o livro, identificamo-nos muito com as personagens portuguesas, com as suas frustações, desesperos e desejos porque, embora tenham passado tantos anos, não somos assim tão diferentes como povo.

A sensação com que fiquei depois de acabar de o ler é que, é definitivamente um livro escrito por um português, sobre Portugal, porque ficamos com a sensação que os nossos avós poderiam ser uma das personagens do livro. As expressões usadas pelos soldados da Brigada do Minho, reforçam ainda mais essa sensação, são hilariantes!

Resumindo, vale a pena ler e fiquei com curiosidade para ler as outras obras dele, já cá tenho A Fórmula de Deus. A ver se é tão refrescante como A Filha do Capitão. :)

2 comentários:

  1. Interessante, tenho este livro há anos e tenho tido sempre algumas reticências para o ler... talvez este post tenha ajudado a lê-lo.
    De JRS li apenas os dois livros que procuram mostrar Calouste Gulbenkian, achei o primeiro volume com excesso de figuras de estilo para dar um ar de um escritor de qualidade, mas o segundo volume era muito mais equilibrado e rico, o conjunto vale a pena ler mesmo sem ser uma obra-prima literária tem muitas informações interessantes sobre o homem e o que foi o genocídio armémio e o império otomano nos tempos que culminaram com a 1.ª grande guerra.

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    1. Este foi o primeiro que li do JRS e surpreendeu-me pela positiva. A história é equilibrada e na realidade não existem muitos livros sobre a participação portuguesa na I Guerra Mundial. Depois li "Fúria Divina" e, sinceramente fiquei com algum receio de voltar a ler JRS. Tenho pena, porque em termos de conhecimento e de interesse ele escolhe sempre temas muito bons. A parte do romance em si é que me aborrece um pouco. :)

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