agosto 25, 2011

[ebook] Uglies - Scott Westerfeld

Título original: Uglies
Ano da edição original: 2005
Autor: Scott Westerfeld
Editora: Simon & Schuster Lda

"Tally is about to turn sixteen and she can't wait. Not for her license — for turning pretty. In Tally’s world, your sixteenth birthday brings an operation that turns you from a repellent ugly into a stunningly attractive pretty and catapults you into a high-tech paradise where your only job is to have a really great time. In just a few weeks Tally will be there. But Tally's new friend Shay isn’t sure she wants to be pretty. She’d rather risk life on the outside. When Shay runs away, Tally learns about a whole new side of the pretty world — and it isn’t very pretty. The authorities offer Tally the worst choice she can imagine: find her friend and turn her in, or never turn pretty at all. The choice Tally makes changes her world forever."

Este foi um livro que me despertou, desde o início, alguma curiosidade, pelo tema. Sabendo de antemão que era um livro direccionado para leitores mais juvenis, parti para esta leitura sem muitas expectativas. Queria que fosse uma leitura que entretivesse e que fosse uma alternativa ao livro que trago na mala. Este foi também o primeiro ebook lido na íntegra no meu telemóvel e fez-me muita companhia nas paragens de autocarro, no metro e até antes de dormir. Só por isso, já posso dizer que a experiência foi positiva. :)

Quanto ao livro e à história, acho que cumpriu as expectativas iniciais. É uma história claramente juvenil, escrita sem grandes floreados. É, portanto um bom livro para se ler em formato digital e em inglês. :)

Tally, a protagonista desta história, anseia pelo dia em que irá fazer 16 anos e deixar de ser Ugly (aquilo a que a edição em português chama de Imperfeitos). No mundo de Tally, os 16 anos são para todos os adolescentes, sinónimo de crescimento e de mudança. Nesse dia todos os adolescentes são submetidos uma operação plástica que lhes transforma completamente os traços físicos, não apenas do rosto, tornando-os a todos Pretties. Os olhos grandes e irresistíveis, a boca carnuda e rasgada, um rosto de proporções perfeitas e o corpo é moldado até ser encontrado equilíbrio perfeito, onde até o esqueleto pode ser "esticado". :) A partir desse dia deixam de ser Uglies e passam a ser New Pretties, passando a viver em New Pretties City onde, aparentemente, a única exigência que é feita é que se divirtam e não pensem muito na vida e no que os rodeia.

No mundo de Tally, os Rusties (antepassados longínquos, nós portanto) quase destruíram o planeta, esgotando os recursos naturais, travando guerras sem sentido. Tally vive num mundo controlado até ao mais ínfimo pormenor. É um mundo onde todos acreditam que tornar toda a gente bonita e perfeita é a solução para acabar com as invejas, os ciúmes e mantendo toda a população satisfeita elimina-se na humanidade a necessidade de lutar, de argumentar, de se queixar e de pensar. Tally não é a excepção e nunca pensou de outra forma até ao dia em que conhece Shay, também ela à espera da operação que as vai tornar pessoas melhores. :/
Shay não quer ser operada, acha estranho que todos os Pretties se pareçam, que passem o dia em festas, que sejam fúteis. Não deseja isso para ela e tenta convencer Tally a fugir com ela, para o Smoke, uma comunidade de Uglies foragidos que, como ela, não se sentem confortáveis com o que lhes é imposto. Tally não a leva a sério mas, no dia em que supostamente deveria ser operada, Shay desaparece deixando a Tally indicações para que esta a possa encontrar caso mude de ideias até ao dia da sua operação.
Tally fica dividida mas acaba por se decidir pela operação, não concebe a ideia de ficar Ugly para sempre. Mas no mundo nem sempre as coisas correm como planeadas e Tally acaba por se ver obrigada a procurar Shay. Esta é a condição que lhe é imposta por um grupo de Pretties cruéis, uma espécie de polícia secreta lá do sítio. Para poder ser Pretty, Tally deve procurar e trazer de volta Shay. Para que possa um dia vir a ser Pretty é exigido a Tally que traia a promessa que fez a Shay, de que nunca iria revelar onde era o Smoke. Esta é uma viagem que mudará a vida de Tally para sempre.

E, basicamente a história é esta. A ideia é interessante e está relativamente bem desenvolvida, as explicações que suportam a realidade descrita são credíveis e por isso a leitura é agradável. As personagens, quase todas adolescentes, são isso mesmo, adolescentes, com comportamentos e conversas de adolescentes. :) Sendo o tema interessante fiquei com uma certa pena de que o livro acabasse por ser superficial, ele próprio um pouco fútil, como todos os Pretties que por ele vagueavam. É também um pouco repetitivo na mensagem que pretende passar.
Uglies não é uma obra-prima mas é um livro que cumpre, e isso é positivo. :) A verdade é que é um livro em que, ao chegar ao fim, encolhi os ombros e pensei: it's ok... Normal portanto, sem nada que se destaque.
Não sei quando, ou se irei ler os outros livros da série - Pretties, Specials e Extras - é provável que o faça um dia destes, até porque, como disse, é um bom livro para ler no telemóvel, não exigindo muita concentração. :)

Excerto:
" - You can’t change it just by wishing, or by telling yourself that you’re pretty. That’s why they invented the operation.
- But it’s a trick, Tally. You’ve only seen pretty faces your whole life. Your parents, your teachers, everyone over sixteen. But you weren’t born expecting that kind of beauty in everyone, all the time. You just got programmed into thinking anything else is ugly.
- It’s not programming, it’s just a natural reaction. And more important than that, it’s fair. In the old days it was all random—some people kind of pretty, most people ugly all their lives. Now everyone’s ugly…until they’re pretty. No losers."

agosto 24, 2011

No Coração desta Terra - J. M. Coetzee

Título original: In The Heart of the Country
Ano da edição original: 1977
Autor: J. M. Coetzee
Tradução: Maria João Delgado
Editora: Publicações Dom Quixote (Colecção Autor Nobel - Revista Sábado)

"Numa fazenda remota da África do Sul, a protagonista deste romance lança um olhar sobre a vida de onde foi excluída. Ignorada por um pai duro, desprezada e temida pelos criados, é uma mulher amarga e inteligente, cuja docilidade aparente esconde uma vontade desesperada de não se tornar «um dos esquecidos da história». Quando o pai arranja uma amante africana, essa vontade vai precipitar uma vingança que lembra uma reacção química entre o colonizador e o colonizado e entre os anseios europeus e a vastidão e solidão de África. No Coração desta Terra é uma obra de uma força irresistível. J. M. Coetzee transformou, com uma enorme segurança e uma visão penetrante, um romance de uma família num espelho da experiência colonial."

Gostei bastante deste livro. É um livro intenso, com uma personagem muitíssimo bem construída e das mais interessantes que já encontrei na literatura. Magda é uma mulher, de uma idade indefinida, por vezes parece um rapariga, outras aparenta ser uma mulher mais velha. A maioria das vezes a impressão que passa é que Magda nunca foi criança pois a infância é uma lembrança confusa e perdida no meio de todas a histórias que esta foi inventando para tornar a vida menos dolorosa.
Magda vive com o pai e alguns criados numa fazenda isolada do resto do mundo. Cresceu no deserto total, quer em termos de paisagem quer em termos de afectos. O pai é um homem duro que a ignorava, dispensando-lhe menos atenção do que aquela que dedicava aos criados e aos trabalhos na fazenda. Ignorada pelo pai, temida e desprezada pelos criados, é uma mulher que toda a vida viveu aprisionada a uma vida triste, rotineira e, sem qualquer contacto com o mundo civilizado, viveu toda a vida sozinha. Torna-se, por isso, uma pessoa rancorosa, amargurada e cheia de ódio, um ódio imensurável por tudo e por todos os que a rodeiam, especialmente por ela própria. Ao mesmo tempo sente-se nela uma vontade enorme de viver, de ser feliz e de amar e ser amada. Sente-se nela uma vontade imensa de sentir, o que quer que seja... apenas sentir, algo para além do ódio e do desespero.

Todo o livro é sofrimento, um sofrimento atroz que desespera, porque Magda, enredada numa relação estranha com o pai, praticamente a única pessoa que conhece, oscila entre o respeito, o ciúme e o ódio irracional, quando lhe imagina as mais diversas mortes, todas elas perpetradas por ela. Magda é claramente desequilibrada, doente, o que torna muitas vezes a narrativa confusa, porque é muito difícil de distinguir o que realmente aconteceu daquilo que é fruto da sua prodigiosa imaginação. Mais difícil ainda se torna distinguir as duas realidades quando o discurso de Magda é tudo menos incoerente é, pelo contrário, extremamente lúcido e articulado, pelo que conseguir descortinar o que realmente se passou na vida desta mulher é praticamente impossível. Tanto pode ter assassinado o pai logo nas primeiras páginas e, tudo o que se passou a partir daí não ser mais do que a alucinação de uma louca, como este pode ter sido morto quando decidiu levar uma escrava para a sua cama ou, pode até ser que o pai tenha morrido de velhice, tendo Magda cuidado dele até que a morte decidiu levar um deles.

A única coisa certa neste livro é a solidão extrema de Magda que esta tenta atenuar com uma imaginação descontrolada, vivendo uma vida e idealizando cenários, acontecimentos e conversas, que apenas existem na sua cabeça e, que acabam por levá-la à loucura. Uma loucura consciente, mas um loucura mesmo assim.

Gostei bastante deste livro, principalmente porque gostei muito da personagem da Magda. É ela alma de todo o livro, que consegue manter o interesse, quase exclusivamente recorrendo a conversas com ela própria, expondo-se completamente perante o leitor, ao não esconder os seus desejos mais secretos. É uma personagem desarmante e que dificilmente vou esquecer.

Gostei também da escrita de Coetzee, que conseguiu manter-me interessada na leitura de um livro cuja estrutura narrativa se assemelha muito à de um diário. O livro não tem capítulos e sim notas, registos numerados de 1 a 266, ao longo das quais Magda vai arrumando a sua história. Não sou de diários e esta estrutura deixou-me instantaneamente de pé atrás mas, mérito para o escritor (e este foi o seu primeiro livro!), foi por pouco tempo porque a leitura foi, em certas alturas, quase compulsiva.

Recomendo, como é óbvio! :)

Excerto:
"A minha raiva fica tolhida entre quatro paredes. Fazendo ricochete nas placas de estuque, nos azulejos, nas tábuas e no papel de parede, as minha explosões de raiva são-me devolvidas, colam-se à minha pele, impregnam-se na minha pele. Embora eu possa parecer uma máquina com dois polegares móveis que faz trabalhos domésticos, na realidade sou uma esfera que gira com uma energia violenta, pronta a explodir mal algo me toque. E embora haja, dentro de mim, um impulso que me incita a ir lá para fora explodir, inofensivamente, no meio do nada, receio que haja um outro impulso - sou cheia de contradições - dizendo-me para me esconder num canto com uma aranha, a viúva negra, e lançar o meu veneno a quem passar por perto. «Toma, pela juventude que nunca tive!», cicio eu e cuspo, se é que as aranhas sabem cuspir."

agosto 20, 2011

Os livros e a Praia

Quem é que anda a descobrir as coisas boas de se ler na praia? Parece que o post que publiquei aqui há uns tempos atrás acerca da minha incapacidade de ler na praia está em vias de se tornar mentira.

Este ano tenho lido bastante na praia e tenho visto muita gente a ler na praia. Bem, na realidade, acho que cada vez vejo mais pessoas a ler, principalmente no metro.
O que mudou para este ano estar a aproveitar para pôr as leituras em dia na praia? Acho que não mudou nada, as razões que referi no post do ano passado continuam a existir: o riso das crianças, o barulho das ondas, o namorado a precisar de atenção. :) Tudo isso continua lá... Nem sequer tenho ido para praias mais desertas. O que mudou então? Se calhar fui eu ou então tenho levado para a praia livros que se enquadram melhor no ambiente... Não sei e na verdade interessam-me pouco as razões que me levaram a agora o conseguir fazer.

O Bom Inverno (comentado no post anterior), do João Tordo foi um dos que me fez companhia na ida à praia, a semana passada. Li bastante nesse dia porque o livro é muito bom, mas também porque tinha a secreta esperança de que o título inspirasse o Sol a aparecer e a dar um ar da sua graça, o que acabou por acontecer e tornar aquele dia de praia num dos melhores do ano. Isto numa praia em que normalmente o sol gosta de se esconder atrás das nuvens, afastado por ventos que na, maior parte das vezes, não são nada veranis.
Obrigada João Tordo pelo excelente dia de praia e não tanto pelo pequeno escaldão que resultou do excesso de confiança na protecção das nuvens. :)

E para ver se isto de influenciar o tempo também funciona com a música, deixo-vos aqui uma música que me anda a "perseguir" e me põe bem disposta. Esta é uma das músicas que moram na minha cabeça, as outras são quase todas infantis... Essas sim, verdadeiros pega-monstros! :)


Dave Matthews Band - Funny The Way It Is


Boas leituras e bons dias de praia!!!

O Bom Inverno - João Tordo


Título original: O Bom Inverno
Ano da edição original: 2010
Autor: João Tordo
Editora: Publicações D. Quixote

"Quando o narrador - um escritor frustrado e hipocondríaco - se desloca a Budapeste para um encontro literário, está longe de imaginar até onde a literatura o pode levar. Planeando uma viagem rápida e sem contratempos, acaba por conhecer um escritor italiano mais jovem, mais enérgico e muito pouco sensato, que o convence a ir com ele até Sabaudia, em Itália, onde o famoso produtor de cinema Don Metzger reúne um leque de convidados excêntricos numa casa escondida no meio de um bosque. O cinema não é, porém, a única obsessão de Don: da sua propriedade em Sabaudia levantam voo balões de ar quente estranhamente vazios, construídos como obras de arte por Andrés Bosco, um catalão cuja relação com o produtor permanece um enigma. Nada, aliás, na casa de Metzger é o que parece; e, depois de uma primeira noite particularmente agitada, o narrador acorda com a pior notícia possível: Don foi encontrado morto no seu próprio lago. Bosco toma nas suas mãos a tarefa de descobrir o culpado e de o castigar, isolando o grupo de convidados na casa e montando-lhes um verdadeiro cerco. Confrontados com os seus piores medos, assustados, frágeis e egoistas, estes começarão a atraiçoar-se e a acusar-se mutuamente, num pesadelo que parece só poder terminar quando não sobrar ninguém para contar a história."

Depois de ter lido, mais precisamente devorado, o As Três Vidas (comentado aqui) as minhas expectativas para uma próxima leitura de João Tordo eram, naturalmente, elevadas. Embora estas não tenham sido totalmente satisfeitas, também estão longe de terem sido goradas. O livro acabou por ser diferente do que eu estava à espera mas bom na mesma. :)

Este livro, à semelhança do As Três Vidas, é um daqueles livros em que não faz muito sentido discorrer acerca da história porque é complicado deixar alguma coisa de fora. Tudo tem um contexto e, ou se refere sem contextualizar, o que não faz muito sentido, ou corre-se o risco de transcrever o livro para aqui e, também não é isso que se pretende. ;)

Livros assim são os que mais me custam a opinar, porque acho que só lendo se tem uma ideia correcta do que são. São histórias, mas não são apenas um relato de uma sucessão de acontecimentos. João Tordo é definitivamente um excelente contador de histórias, tem uma imaginação e uma capacidade de interligar os acontecimentos que é fora de série. As personagens são todas únicas, cada uma com as suas particularidades e com a sua devida importância para a história. Tanto a história como as personagens estão extremamente bem construídas e a curiosidade pelo desenrolar dos acontecimentos é uma constante. O que também é constante é a dificuldade em catalogar o livro. É um policial, cheio de suspense, quase a roçar o terror. Está cheio de coisas bizarras, um pouco nonsense às vezes, com diálogos fantásticos, alguns com uma profundidade desconcertante e personagens sui generis que o autor explora e expõe tornando-as a todas, de diferentes formas, interessantes e psicologicamente densas, mesmo Don Metzger o morto que apenas conhecemos pelas palavras dos outros.

Acho que não vale a pena acrescentar mais nada porque para perceber só mesmo lendo. :)

Acrescento que, autores como João Tordo, Saramago, João Aguiar, José Luís Peixoto (só me saíram Jotas, as outras letras que me desculpem) e muitos outros, tornam o prazer da leitura, em português, num prazer que é diferente daquele que se sente com um livro traduzido. A forma como brincam com uma língua que é tão nossa torna os livros muito mais próximos e, isso é algo que começo a valorizar cada vez mais. A literatura portuguesa tem vindo a ganhar cada vez mais espaço nas minhas estantes.

Quanto a este livro em particular e ao autor em geral, só posso aconselhar a leitura, sem qualquer reserva.

Boas leituras! ;)


Excerto:
"Foi assim que o Bom Inverno começou. Foi em Sabaudia, foi há uns meses (embora me pareça ter sido há muito mais tempo), foi por acaso e, ainda assim, sempre que penso nas coisas que me aconteceram, coloco a possibilidade de não ter existido qualquer acaso e de tudo poder ser explicado para depois, com um sorriso e um abanar frouxo da cabeça, dizer a mim próprio que e escusado estar a adiantar-me porque o melhor é começar pelo início."

agosto 08, 2011

A Vida de Pi - Yann Martel

Título original: Life of Pi
Ano da edição original: 2001
Autor: Yann Martel
Tradução: António Pescada
Editora: Editorial Presença

"Filho do administrador do jardim zoológico de Pondicherry, na Índia, Pi Patel possui um conhecimento enciclopédico sobre animais e uma visão da vida muito peculiar. Quando Pi tem dezasseis anos, a família decide emigrar para a América do Norte num navio cargueiro juntamente com os habitantes do zoo. Porem, o navio afunda-se logo nos primeiros dias de viagem. Pi vê-se na imensidão do Pacífico a bordo de um salva-vidas acompanhado de uma hiena, um orangotango, uma zebra ferida e um tigre de Bengala. Em breve restarão apenas Pi e o tigre, e a única esperança de sobreviverem é descobrirem, de alguma forma, que ambos precisam um do outro... Já considerado uma das mais extraordinárias criações literárias da última década, A Vida de Pi é um livro mágico, onde o real e o absurdo se misturam numa história intemporal."

Confesso que estou a sentir alguma dificuldade em escrever a minha opinião sobre este livro. O meu problema está em ter gostado muito do livro e querer transmitir tudo aquilo que me encantou na história de Pi. Não me sinto capacitada para, com as minhas palavras, dar-vos uma pequena ideia da beleza subjacente a tudo o que está escrito, nem para descrever os sentimentos fortes que me provocou a história da vida de Pi. Enfim, não sei se sou capaz de fazer com que vão a correr para a livraria mais próxima... ;)
Vou ter em conta que, se calhar alguns de vocês vão de facto a correr para a livraria mais próxima, e vou tentar não esmiuçar muito o livro, para que possam sentir o mesmo prazer que eu senti na leitura deste livro. Vai ser uma opinião livre de spoilers (pelo menos assim espero)! :p

A Vida de Pi é um livro que no início me deixou de pé atrás. A religião é um assunto recorrente e importante na vida de Pi, o rapazinho indiano que se torna praticante de três religiões, o hinduísmo, o cristianismo e o islamismo, de forma natural, porque encontrou nas três, formas válidas para estar próximo de Deus. No início tive receio que todo o livro fosse concentrar-se muito nos dilemas religiosos de Pi, mas felizmente isso apenas acontece na primeira parte do livro. Felizmente, na primeira parte do livro, a religião não foi o único tema. Gostei muito da descrição da vida no Jardim Zoológico de Pondicherry e da forma como ele desconstrói as teorias de que os animais selvagens são infelizes fora do seu habitat natural. confinados a espaços pequenos. É um ponto de vista interessante e, que serve essencialmente para justificar alguns comportamentos e acções no barco salva-vidas.
Na primeira parte ainda não estava a perceber o porquê de tantas opiniões extraordinárias acerca deste livro e estava a começar a pensar que alguma coisa se passava de errado comigo. :)

A segunda parte descreve a luta pela sobrevivência que Pi teve de travar quando, após o naufrágio do navio onde seguia com a família e alguns dos animais do zoo, vai sem saber muito bem como, parar a um barco salva-vidas tendo por companhia uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre de Bengala. Nesta estranha arca de Noé a lei da sobrevivência é a única a prevalecer porque o comportamento de um animal é o mesmo, quer esteja na selva, no zoo ou num barco no meio do pacífico.
Esta segunda parte oscila entre o absurdo e o real onde, conscientemente, senti necessidade de ajustar o meu cérebro para o "modo de leitura de Fantasia", pois estava a parecer-me um livro mais próximo da fantasia do que de outro género literário qualquer. No entanto, e talvez esteja aí uma das razões para este livro me ter deixado tão surpreendida, nunca me foi possível "sintonizar" o cérebro para a fantasia, porque de repente aconteciam coisas tão reais e descritas de uma forma tão vívida, que acabavam por camuflar as partes em que o livro me parecia virado para um público mais juvenil, a lembrar-me As Viagens de Gulliver. Andei o livro todo ora de sobrolho franzido, sem saber muito bem o que pensar, ora de coração aos pulos e estômago embrulhado, sem saber o que a próxima página me traria, fantasia ou a dura realidade. Esta segunda parte provocou, por isso, um misto de emoções que me deixou à beira da bipolaridade. :)

Por último, sobre a terceira parte apenas vou dizer que a senti como um murro no estômago e a li com um aperto quase constante da garganta, e mais não digo! :)

Gostei muito da escrita de Yann Martel e da forma como a história se foi desenvolvendo. Uma história que, sendo original, é ao mesmo tempo banal, expondo necessidades primárias e medos primitivos que aproximam o Homem do animal, quando o que está em causa é a sobrevivência. É um livro que parecendo simples é na verdade complexo. É um livro que maltrata o leitor porque não respeita a nossa paz de espírito. É um livro que convida a uma reflexão sobre a vida, o nosso lugar no mundo, o lugar dos outros nesse mesmo mundo, os sonhos, a perda e tantas outras coisas mais...

Um livro que não me fez acreditar em Deus, que não tem qualquer intenção de converter, mas que me mostrou uma visão da fé e da forma como a religião pode ser vivida que achei bonita. E, acreditando ou não em Deus, também eu prefiro a história com animais. ;)

Recomendo, como é óbvio!

Boas leituras!

Excerto:
"Mantendo uma expressão profundamente triste e lastimosa, começou a olhar em volta, virando lentamente a cabeça de um lado para o outro. A figura dos macacos perdeu instantaneamente o seu carácter divertido. Ela tinha dado à luz dois filhotes o jardim zoológico, dois machos robustos, de cinco de oito anos que eram o seu (e o nosso) orgulho. Eram, sem dúvida, eles que ela tinha na sua mente ao procurar sobre a água, imitando sem intenção aquilo que eu tinha feito durante as últimas trinta e seis horas. Reparou em mim e isso não lhe provocou qualquer expressão. Eu era apenas mais um animal que tinha perdido tudo e estava votado à morte. O meu ânimo caiu a prumo."

agosto 02, 2011

A Vida de Pi - Yann Martel - Breve comentário

Não tenho, por agora, tempo para partilhar a minha opinião acerca deste livro surpreendente, que acabei de ler há minutos. No entanto, a vontade de partilhar alguns dos sentimentos que este livro me provocou é demasiado grande para ser ignorada. São eles sentimentos de: repulsa, ternura, medo, alegria, tristeza, surpresa, incredulidade, estranheza, vontade de chorar e de desviar os olhos da página, revolta, ansiedade, amizade, fome, sede e muitas vezes uma vontade enorme de deitar o pequeno-almoço todo cá para fora. :/

Resumindo, é surpreendente e emocionalmente fortíssimo.

Quando tiver mais tempo livre, a opinião completa aparecerá por aqui. :)

Boas leituras!