abril 21, 2013

Norwegian Wood - Haruki Murakami

Título original: ノルウェイの森 (Noruwei no mori)
Ano da edição original: 1987
Autor: Haruki Murakami
Tradução do Inglês: Alberto Gomes
Editora: Civilização Editora

"Ao ouvir a sua música preferida Beatles, Norwegian Wood, Toru Watanabe recorda-se do seu primeiro amor, Naoko, a namorada do seu melhor amigo Kizuki. Imediatamente regressa aos seus anos de estudante em Tóquio, à deriva num mundo de amizades inquietas, sexo casual, paixão, perda e desejo – quando uma impetuosa jovem chamada Midori entra na sua vida e ele tem de escolher entre o futuro e o passado."

Norwegian Wood é uma música do Beatles, uma das preferidas de Naoko e que despoleta a torrente de memórias em Toru Watanabe, anos mais tarde, sempre que a ouve. São essas memórias e a história que envolve estes dois adolescentes, na altura, que Haruki Murakami se propõe partilhar connosco.

Quando Toru conhece Naoko esta é a namorada de Kizuki, o seu melhor e único amigo. Kizuki funciona como o núcleo agregador do trio mantendo-o unido. Quando Kizuki, com dezassete anos e sem que nada o fizesse prever, se suicida, deixa a namorada e o melhor amigo sozinhos e perdidos. Naoko e Toru perdem o contacto, a relação dos dois sem Kizuki não parece fazer muito sentido. Anos mais tarde os dois voltam a encontrar-se, por acaso, e reatam a amizade.
Toru está na faculdade, não é a pessoa mais sociável do mundo, sendo, no entanto uma pessoa extremamente equilibrada e madura. No dia em que Kizuki morreu, houve algo que se quebrou dentro dele, algo que nunca voltou a recuperar, mas conseguiu, de alguma forma, seguir com a  sua vida e, embora não seja um estudante típico vai vivendo o dia  a dia de acordo com aquilo em que acredita.
Naoko conhecia Kizuki quase desde que nasceram, o terem-se tornado namorados foi algo natural e para eles quase inevitável. Quando Kizuki morre, Naoko perde-se para o mundo, e a sua já frágil saúde mental degrada-se, torna-se uma espécie de espectro com dificuldade em comunicar, em falar, escrever ou em expressar-se. Quando reencontra Toru sente, pela primeira vez em anos, reacender-se a vontade de viver, de ser compreendida e amada. É difícil mas parece estar disposta a tentar e Toru parece disposto a ajudá-la. Gosta dela e assume naturalmente a missão de ajudá-la a manter-se ligada à vida e a fortalecer esta ligação. Afinal ambos perderam algo com a morte de Kizuki, só os dois se podem ajudar um ao outro.
Por muito amor que existisse, entre os dois, desde o princípio que temos dificuldade em acreditar num final feliz para estes dois. Por muita boa vontade que exista, não passam de dois jovens, acabados de ser largados no mundo, às portas da idade adulta, e os traumas e as feridas com que têm de lidar são um fardo demasiado grande para qualquer um deles.
Naoko, num dos seus períodos mais negros decide afastar-se e internar-se numa instituição para pessoas que, não sendo loucos, são pessoas que em determinada altura das suas vidas perderam alguma capacidade de se manterem socialmente capazes e integradas. Toru é deixado novamente sozinho e a sofrer com a distância e falta de notícias de Naoko. É nessa altura que conhece Midori, uma rapariga cheia de vida, descontraída também ela com uma história familiar complicada, mas que consegue manter a sanidade. Midori é a antítese de Naoko, as duas são como o dia e a noite. Inicialmente Midori é apenas uma amiga para Toru, alguém com quem gosta de passar o tempo e com quem se identifica. Só se apercebe dos seus verdadeiros sentimentos quando quase a perde. Toru fica destroçado porque não era suposto apaixonar-se por outra pessoa. Encara o que sente por Midori como uma traição a Naoko e aos projectos que tinha traçado para os dois.
É como diz a sinopse, uma escolha entre o passado e o futuro, escolha que acaba por ser facilitada pelo destino...

Este é um livro triste, com muita dor e muitas cicatrizes mal saradas. A morte é uma constante ao longo de todo o livro, mais como uma ameaça que paira sobre todos eles e que, de vez em quando, atinge efectivamente alguém.
Para mim é um livro que capta muito bem alguns dos aspectos mais sombrios da adolescência e do difícil que é crescer. Capta muito bem a confusão, o medo, a tensão sexual (fala muito de sexo) e aquela sensação que todos o adolescentes têm de que o mundo parece conspirar contra eles, seres incompreendidos.
Fala muito de suícidio e de perda. É por isso um livro triste, essencialmente triste.

Haruki Murakami mesmo quando não é genial é muito bom. É o que acontece com este Norwegian Wood, é bom mas a genialidade que Murakami imprime a quase todas as suas obras não é tão evidente.

Gostei e recomendo!

Excerto:
"A voz serena da Midori rompeu por fim o silêncio: - Onde estás agora?
Onde estava eu agora?
Afastei o auscultador, levantei a cabeça e virei-me para ver o que havia para lá da cabina telefónica. Onde estava eu agora? Não fazia ideia. Não fazia a mínima ideia. Que lugar era este? Tudo o que perpassava pelos meus olhos eram os inúmeros vultos de pessoas caminhando para algures. Eu chamava uma e outra vez pela Midori do centro morto deste lugar que não era lugar nenhum."

Gostava de ver o filme - Norwegian Wood - acho que, neste caso é capaz de ser uma mais valia para o livro:

abril 04, 2013

Os Malaquias - Andréa del Fuego

Título original: Os Malaquias
Ano da edição original: 2010
Autor: Andréa del Fuego
Editora: Porto Editora
"Serra Morena. Um raio esturrica o casal, em luz e carne. Os filhos ficam órfãos, com destinos diferentes. António, o menino que não cresce. Nico, o patriarca engolido por um bule de café. Júlia, a menina em fuga permanente. Um lugar onde as sombras da terra e da água convivem. Onde a morte e a vida são o mesmo mundo. Um poema seco à humanidade de cada um de nós."

Já não sei muito bem porque é que decidi comprar este livro... Não me lembro de ter lido críticas especialmente elogiosas à obra de Andréa del Fuego. Estava, inclusive, convencida de que a senhora era colombiana ou algo parecido, não fazia ideia de que era brasileira. Isto apenas para reforçar o meu total desconhecimento sobre o livro. Acredito que deve ter sido a capa apelativa e o facto de ter ganho o Prémio Literário José Saramago de 2011 que me convenceu a comprá-lo. 
Esforços de memória à parte, a verdade é que veio parar-me às estantes e agora que foi lido... Bem, agora que foi lido, foi lido. :)

Os Malaquias começam por ser pai, mãe e três filhos, Adolfo, Donana, Nico, Antônio e Júlia. Passadas três páginas, os Malaquias são apenas os três filhos. Os pais são atingidos por um raio enquanto dormem descansados na sua cama e morrem "esturricados".
Nico o mais velho é acolhido pelo fazendeiro local que vê nele potencial para trabalhar. Antônio e Júlia são entregues a uma instituição de religiosas francesas que acolhe crianças para adopção. Júlia fica uns anos na instituição a receber educação para depois ser entregue a uma mulher muçulmana que a leva para sua casa como sua empregada/filha adoptiva. Antônio, o menino que não cresce, vai ficando junto das freiras, a quem se afeiçoa.
Os três irmãos crescem separados sem nunca se esquecerem uns dos outros, com Nico a lutar para que se possam voltar a  reunir.

Uns anos mais tarde, no dia de casamento de Nico, Antônio vai viver com o jovem casal e Júlia foge de casa da patroa/mãe adoptiva para ir ao casamento do irmão. Júlia nunca chega a Serra Morena. Parece que no seu destino não está escrito o seu regresso à terra onde nasceu. A sua vida nunca mais será a mesma...

Por essa altura a electricidade e a promessa do progresso chegam a Serra Morena, com a entrada em produção de uma barragem. Como consequência, Serra Morena irá ser inundada, e todos o seus habitantes e respectivas habitações têm de ser transferidos para um novo lugar, mais elevado. Um preço que quase todos estão dispostos a pagar. Quem não deseja o progresso e o desenvolvimento? A expectativa de todos é grande.

E sobre a história não sei muito bem que mais dizer. A verdade é que não achei o livro muito interessante... Costumo gostar de livros como este, com frases e capítulos muito curtos, com a presença de algum surrealismo e com personagens que tinham tudo para me cativarem. No entanto, neste caso pareceu não resultar para mim. Nem sei bem dizer porquê. Achei a história pouco desenvolvida, as personagens idem e os acontecimentos pouco interligados... No todo, o livro surgiu-me pouco coeso, demasiado fragmentado. Não sei se captei bem a mensagem que se quis passar, se é que havia alguma... 
As muitas reticências que usei ao longo deste post espelham bem o sentimento que o livro me deixou.

O livro lê-se bem, uma vez que os capítulos são pequenos e as personagens são-nos naturalmente simpáticas e, tal como a história, são até certo ponto intrigantes, mantendo-se a curiosidade que nos vai fazendo ler mais uma página.

Não sei se voltarei a ler alguma coisa dela. É provável que não. Tenho a sensação de que Andréa del Fuego é uma candidata a constar na minha lista de escritores que, embora lhes reconheça mérito, simplesmente não consigo criar a química necessária para gostar deles. Nesta lista estão escritores como Ernest Hemingway, Ken Follett, Martin Amis e Agustina Bessa-Luís, entre outros. 

Posto isto, recomendo, porque sei que a química que cada leitor cria com o livro que está a ler é muito subjectiva e tão pessoal que a minha opinião vale o que vale. ;)

Boas leituras!

Excerto:
"Um gato esticou as pernas, as paredes se retesaram. A pressão do ar achatou os corpos contra o colchão, a casa inteira se acendeu e apagou, uma lâmpada no meio do vale. O trovão soou comprido até alcançar o lado oposto da serra. Debaixo da construção a terra, de carga negativa, recebeu o raio positivo de uma nuvem vertical. As carga invisíveis se encontraram na casa dos Malaquias. 
O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta se fecha. Com a via contraída, a descarga não pôde atravessá-los e aterrar-se. Na passagem do raio, pai e mãe inspiraram, o músculo cardíaco recebeu o abalo sem escoamento. O clarão acendeu o sangue em níveis solares e pôs-se a queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração, cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo."