dezembro 29, 2009

Mataram o Chefe do Posto - E. S. Tagino

"Nesse Domingo, à tarde, apareceu Eibi. Também ela parecia ter perdido a graça de outrora. Os cabelos loiros estavam baços e os olhos azuis fundos e pisados. As calças que vestia eram largas e a blusa, aos quadrados, demasiado masculina. Mesmo assim, noutros tempos, teria provocado uma dúzia de torcicolos no aquartelamento. Mas ela entrou e tudo pareceu natural. E, até, ao alferes lhe pareceu natural levá-la para o quarto e despi-la sem palavras. E, em seguida, possuí-la, com desespero e raiva, debruçado sobre a secretária metálica, as pernas flectidas como um animal, enquanto ela chorava, em silêncio, a dor dos últimos dias."

Foi durante as minhas deambulações pelo site da Saída de Emergência que tomei conhecimento deste escritor português premiado, com este mesmo livro, com o "Prémio Literário Cidade de Almada" em 2006. Aproveitando uma daquelas promoções 2=3 da editora mandei vir este livro, por me parecer suficientemente interessante.

O alferes Ferreira é o comandante do Destacamento 343, enviado numa missão de reconhecimento e mapeamento da região de Kimbali, Moçambique, onde uma guerrilha de turras se instalara há mais de três anos. O Destacamento é enviado para o local sem saber muito bem ao que vai. As ordens superiores vão chegando a conta-gotas sem que se vislumbre qual será o objectivo das mesmas. O alferes Ferreira é um militar honesto, trabalhador e respeitado pelas suas tropas. Chegados a Kimbali deparam-se com uma zona aparentemente pacífica onde a comunidade vive, de certa forma, afastada da guerra que assola o país. Em todo o tempo de permanência na região o contacto com elementos da guerrilha é nulo, como se eles não existissem. Nem mesmo quando a grande ofensiva, Operação Nó Górdio, é lançada há qualquer sinal de vida dos temidos guerrilheiros.
O chefe máximo da comunidade é o Chefe de Posto, um representante da metrópole portuguesa na região. Homem de trato afável, é ele quem controlo tudo na região, demonstrando desde início que não é apenas aquilo que aparenta, escondendo alguns segredos. É com certo orgulho que informa o alferes Ferreira que não tem problemas com a guerrilha instalada na outra margem do rio Kimbali. Fica incomodado pela presença dos militares, mas depressa encontra formas de beneficiar com isso, ou não fosse ele um verdadeiro político. É dele esta ideia: "Meu caro comandante, há muito tempo que aprendi uma coisa muito simples: nas relações humanas, o que verdadeiramente conta são os interesses. E um bom político é aquele que consegue conciliar o máximo de interesses individuais e transformá-los em interesses comuns. A isso é que chamo o verdadeiro interesse público." :)
A sua morte, ou assassinato, é anunciada logo no prólogo, "O chefe do posto moreste...!", pelo moleque Formiga. O livro vai desvendando o que se passou antes, guiando-nos até ao trágico fim do Chefe do Posto.

Embora a curiosidade em querer saber quem será responsável pela morte do Chefe do Posto esteja sempre presente, o livro não vive apenas disso. É um livro sobre os homens que fizeram a guerra colonial. Sobre os milhares de homens, muitos deles ainda uns miúdos, analfabetos, que morreram em nome de uma pátria que amavam mas que não compreendiam e que os esquecia. Morreram lutando numa guerra que não sentiam como sua, sem glória e sem reconhecimento.
É um livro sobre as relações que se criam em situações difíceis, sobre o amor mas é sobretudo sobre os esforços que se fazem para se manterem as aparências; o general que na metrópole anunciava que a guerra estava ganha quando se perdiam batalhas atrás de batalhas e homens atrás de homens; o pai que afinal era tio e o marido que afinal era cunhado ou primo; morria-se em serviço e não por incompetência ou por simples azar. Nesse sentido o livro é muito interessante.

De uma forma geral gostei do livro, está bem escrito e a história é interessante, embora não traga nada de muito novo. No início torna-se fastidioso estar sempre a consultar as notas de rodapé, que não estão no rodapé mas sim no fim do livro, pois ele usa muitas expressões africanas, à semelhança de autores como o Pepetela e o Mia Couto. Equanto lia lembrou-me muito o Pepetela, não sei se é uma referência para o E. S. Tagino (pseudónimo literário de António José da Costa Neves) mas a escrita pareceu-me semelhante. Mais limpa e menos rica, mas de certa forma semelhante.

Como fiquei com vontade de ler outros livros dele, sobre outros temas, acho que se pode dizer que é um livro recomendado, se vos interessar o tema da guerra. :)

dezembro 25, 2009

Prendinhas de Natal

Este ano o Pai Natal foi generoso e trouxe-me uns quantos livrinhos. Livrinhos, salvo seja porque alguns estão mais para livrões que para livrinhos! :)

Oferecidos pelo meu mais que tudo:

Caim - José Saramago
"Pela fé, Abel ofereceu a deus um sacrifício melhor do que o de Caim. Por causa da sua fé, deus considerou-o seu amigo e aceitou com agrado as suas ofertas. E é pela fé que Abel, embora tenha morrido, ainda fala." (Hebreus, II,4)

Fúria Divina - José Rodrigues dos Santos
"Uma mensagem secreta da Al-Qaeda faz soar as campainhas de alarme em Washington. Seduzido por uma bela operacional da CIA, o historiador e criptanalista Tomás Noronha é confrontado em Veneza com uma estranha cifra.
Ahmed é um menino egípcio a quem o mullah Saad ensina na mesquita o carácter pacífico e indulgente do islão. Mas nas aulas da madrassa aparece um novo professor com um islão diferente, agressivo e intolerante. O mullah e o novo professor digladiam-se por Ahmed e o menino irá fazer uma escolha que nos transporta ao maior pesadelo do nosso tempo."

Oferecidos pelos manos e cunhados:

A Sombra do que Fomos - Luís Sepúlveda
"Num velho armazém de um bairro popular de Santiago do Chile, três sexagenários esperam impacientes pela chegada de um quarto homem. Cacho Salinas, Lolo Garmendia e Lucho Arencibia, antigos militares de esquerda derrotados pelo golpe de estado de Pinochet e condenados ao exílio, voltam a reunir-se trinta e cinco anos depois, convocados por Pedro Nolasco, um antigo camarada sob cujas ordens vão executar uma arrojada acção revolucionária. Mas quando Nolasco se dirige para o local de encontro é vítima de um golpe cego do destino e morre atingido por um gira-discos que insolitamente é lançado por uma janela, na sequência de uma desavença conjugal..."

O Planalto e a Estepe - Pepetela
"Do encontro entre um estudante angolano e uma jovem mongol, nos anos 60, em Moscovo, nasce um amor proibido.
Baseada em factos verídicos, ficcionados pelo autor, esta história põe em evidência a vacuidade de discursos ideológicos e palavras de ordem, que se revelam sem relação com a prática. Política internacional, guerra, solidariedade e amor, numa rota que liga a um ponto perdido de África a outro da Ásia, passando pela Europa e até por Cuba. Uma viagem no tempo e no espaço, o de uma geração cansada de guerra num mundo cada vez mais pequeno.
Maravilhoso e comovente, este é um romance sobre o triunfo do amor, contra todas as vontades e todas as fronteiras."

2666 - Roberto Bolaño

"O que liga quatro germanistas europeus (unidos pela paixão física e pela paixão intelectual pela obra de Benno von Archimboldi) ao repórter afro-americano Oscar Fate, que viaja até ao México para fazer a cobertura de um combate de boxe? O que liga este último a Amalfitano, um professor de filosofia, melancólico e meio louco, que se instala com a filha, Rosa, na cidade fronteiriça de Santa Teresa? O que liga o forasteiro chileno à série de homicídios de contornos macabros que vitimam centenas de mulheres no deserto de Sonora? E o que liga Benno von Archimboldi, o secreto e misterioso escritor alemão do pós-guerra, a essas mulheres barbaramente violadas e assassinadas? 2666.
Para se ler sem rede, como num sonho em que percorremos um caminho que nos poderá levar a todos os lugares possíveis."




Oferecido a mim mesma:

A Caixa em Forma de Coração - Joe Hill
"Judas Coyne colecciona o macabro: um livro de receitas para canibais... uma corda usada num enforcamento... um filme snuff. Uma lenda do death metal de meia-idade, o seu gosto pelo bizarro é tão conhecido entre a sua legião de fãs como os excessos da sua juventude. Mas nada do que ele possui é tão inverosímil ou tão medonho como a sua última descoberta, um artigo à venda na Internet, uma coisa tão estranha que Jude não consegue resistir a pegar na carteira.
"Vendo" o fantasma do meu padrasto a quem fizer a licitação mais alta.
Por mil doláres, Jude tornar-se-à o orgulhoso dono do fato de um homem morto que se diz estar assombrado por um espírito inquieto. Ele não tem medo. Passara a vida a lidar com fantasmas - o fantasma de um pai violento, o fantasma das amantes que abandonara sem compaixão, o fantasma dos companheiros de banda que traíra. Que importância teria mais um? Mas o que a transportadora entrega à sua porta numa caixa preta em forma de coração não é um fantasma imaginário ou metafórico, não é um benigno motivo de conversa. É real."

À excepção do Roberto Bolaño e do Joe Hill (filho do Stephen King), são todos escritores que já li e que adoro.

O que fazer a tantos livros?! Lê-los, pois claro! ;)

dezembro 24, 2009

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!!!


Desejo a todos os que seguem este espaço e, a todos os que aqui vieram parar por engano, ou não, um Feliz Natal. Desejo que estejam rodeados das pessoas que realmente importam e que amam.

Entrem em 2010 com convicção e com vontade de fazer do mundo um mundo melhor!

E, como não podia deixar de ser, que o ano que vem vos traga muitas e boas leituras! ;)

dezembro 21, 2009

O Leito Celestial - Irving Wallace

" Num romance altamente provocador, Irving Wallace explora o mundo da terapia "especializada" que caracteriza um dos aspectos mais singulares da revolução sexual nos Estados Unidos. Mas, o que de facto impressiona no novo livro de Wallace é a denúncia que deixa em suspenso sobre os que, à custa de um tipo próprio de medicina, se colocam à margem da lei, utilizando, para alcançar os seus objectivos, os mais variados subterfúgios que, inclusivamente, podem recorrer à prostituição. É essa a base da intriga que decorre numa dispendiosa clínica da Califórnia. Pela mão de Wallace, o leitor penetra nas zonas obscuras e interditas de um mundo de que nem sequer suspeita e no qual a sexologia não passa de um simples pretexto, de um negócio ou, afinal, da forma nova como se exercem costumes tão velhos como o mundo."

Antes de mais nada, esta sinopse dá uma ideia errada do livro. Atrevo-me a dizer que pouco tem a ver com o livro. Dá a ideia de que vamos ler sobre pessoas sem escrúpulos, que sob a capa da medicina praticam o crime de proxenetismo e prostituição. Na realidade Wallace não deixa denúncia sobre nada. Aliás a mim parece-me que ele concorda com a utilização de delegadas sexuais como complemento ao tratamento psiciológico de problemas sexuais - impotência, ejaculação precoce, etc. A denunciar alguma coisa, ele denúncia o preconceito sobre estas técnicas polémicas. Feito o esclarecimento, passemos ao livro, do qual não gostei nem um bocadinho.

O Leito Celestial fala-nos do Dr. Arnold Freeberg, um terapeuta sexual, que recorre à utilização de delegadas sexuais, por achar que existem problemas que não se curam apenas com conversa. As delegadas sexuais são mulheres (e homens, embora com menor expressão) formadas para ajudarem homens (e mulheres) a ultrapassarem os seus problemas sexuais. Aprendem uma série de técnicas que têm como objectivo fazer com que os pacientes se sintam à vontade com o próprio corpo e a pensar menos no acto em si. O Dr. Freeberg instala a sua clínica em Hillsdale, Califórnia, depois de ter sido intimado a desistir da utilização de delegadas, em Tucson, Arizona. Parte para a Califórnia esperando encontrar um ambiente menos conservador que entenda a utilidade da terapia que faz. No entanto também aqui surge a acusação de que estará a cometer um crime, pois as delegadas serão prostitutas e ele, como consequência, o seu chulo.

É basicamente isto... Ou seja quase nada. O livro é enfadonho, previsível, não estando particularmente bem escrito. Wallace passa 80% do livro a descrever as sessões de dois dos delegados, Gayle Miller e Paul Brandon, com os respectivos pacientes. Descrições demasiado repetitivas e roçando a literatura pornográfica de má qualidade. Desde o início sabemos que um dos pacientes tem na verdade a intenção de expor o que se passa, denunciando a prática de prostituição para, desta forma, ser promovido no jornal para o qual trabalha. Também não é difícil de adivinhar que no fim se arrependerá e não denúncia nada. O relacionamento amoroso que surge entre Gayle e Paul é infantil e irritante, com diálogos e situações tão pouco verosímeis que em nada contribuem para melhorar a história.

Comprei-o porque tinha lido O Maior Espectáculo do Mundo onde gostei muito da maneira como ele descreve a ascenção do P.T. Barnum, o maior showman que a América já conheceu. O livro é divertido e, não sendo sobre um tema que me interesse especialmente, fiquei surpreendida por o ter lido com agrado. Agrado esse que pensei dever-se às qualidades literárias do Wallce, pelo que fiquei curiosa para ler um romance dele. Saiu-me o tiro pela culatra... Espero que ele tenha livros melhorzinhos ou seria estranho toda a fama que carrega.

Concluindo: livro não aconselhado. :/

dezembro 17, 2009

Blueyedboy - Joanne Harris

Adoro tudo é que é livros da Joanne Harris e sempre que sei que ela tem um novo, espero e desespero até que seja editado em Portugal, já devidamente traduzido.
Parece que para o ano vou poder deliciar-me novamente com as histórias desta fantástica escritora! :)

http://www.joanne-harris.co.uk/pages/bookpages/blueyedboy.htm

Já estou em pulgas, mas é melhor nem pensar mais nisto... Só em Abril de 2010 é que vai ser editado, pelo que estará em Portugal lá para o final do ano que vem, na melhor das hipóteses. Bem, hei-de sobreviver! :p

P.S. As capas do livros da Joanne Harris são de encher o olho! Das mais bonitas que andam pelas livrarias. :)

dezembro 14, 2009

A Ilha dos Porcos - Mo Hayder

"O jornalista Joe Oakes ganha a vida a desmascarar fraudes sobrenaturais. Como céptico que é, acredita que tudo tem uma explicação racional. Porém, quando visita uma reservada comunidade religiosa numa remota ilha escocesa, tudo o que tem como certo é posto em causa. As questões acumulam-se: porque foi a comunidade acusada de satanismo? O que aconteceu ao seu guia espiritual, o Pastor Malachi Dove? E, mais importante ainda, porque motivo ninguém fala da estranha aparição vista a vaguear nas praias da Ilha dos Porcos? O confronto, e as consequências sangrentas, é tão catastrófico que obriga Oakesy a questionar a natureza do mal, e se pode ou não ser responsável pelo terrível crime prestes a acontecer. Neste assombroso novo livro, Mo Hayder desafia os leitores a enfrentar os seus medos mais íntimos e a olharem para lá da banalidade que jaz subjacente à normalidade do dia-a-dia. A Ilha dos Porcos aborda as coisas inomináveis que as pessoas são capazes de fazer umas às outras. Prepare-se para uma leitura mesmo forte."

Com Mo Hayder nunca é demais o aviso, "prepare-se para uma leitura mesmo forte". Isto porque ela tem uma escrita muito... gráfica, no mínimo. Descreve ao pormenor cenas que depois de lidas nos fazem desejar não o ter feito mas, que nos fazem continuar a ler e a querer saber mais. Neste tipo de literatura, uma espécie de policial psicológico (detesto etiquetar o que quer que seja) isso é muito positivo. :)
Se nunca leram nada desta autora e, ao pegarem no Ilha dos Porcos, repararem na fotografia dela que aparece na dobra da capa, vão pensar que não parece nada ter "uma profunda capacidade para chocar e surpreender os seus leitores", pois aparenta ser o estereótipo da mulher moderna americana. Ou seja, imaginamos, quando a vemos, que provavelmente andará a escrever romances e não livros que nos deixam profundamente chocados. Não sendo este o meu primeiro livro dela, já li o Tóquio e Os Pássaros da Morte, que não tinham uma fotografia da autora, fiquei chocada. Na minha cabeça esta senhora nunca poderia ter escrito estes livros que, devo dizer, são perturbadores. Um pouco à semelhança do que me acontece com a Rosa Lobato de Faria, onde tenho sempre alguma dificuldade em dissociar a imagem de avó extremosa, autora de tudo o que é canção da Eurovisão, da escritora. Nos seu livros, a Rosa Lobato de Faria não se coíbe de utilizar palavrões e em descrever cenas de sexo, mais ou menos tórridas. Como se vê, ninguém está imune ao preconceito e, a imagem da Mo Hayder em nada muda o talento que tem. Não posso, no entanto, deixar de tomar uma nota mental de que, por via das dúvidas, devo evitar ficar sózinha com esta senhora numa ilha selvagem, pois desconfio sempre de mentes que produzem livros tão perturbadores! :)

Falando do livro. Joe Oakes, Oakesy para os amigos, é um jornalista, especialista em desmascarar fraudes sobrenaturais. Joe viaja, juntamente com a sua mulher, Lexie para a Escócia. O objectivo da viagem é por termo ao boato de que o diabo andará pela Ilha dos Porcos, missão que se revelará mais perigosa do que o esperado, porque o diabo é dissimulado, podendo tomar várias formas, manifestando-se das mais variadas maneiras. A Ilha do Porcos é pertença de um grupo religioso, os Ministros do Tratamento Psicogénico, sendo habitada pelos seus membros e famoso líder, o Pastor Malachi Dove. A história é narrada a duas vozes, pelo próprio Oakes e pela mulher, dando-nos desta forma uma perspectiva diferente do que se vai passando. A leitura torna-se, também por isso, ainda mais interessante, pois ajuda a adensar o mistério e a manter a tensão que está presente em quase todo o livro.
No caso do A Ilha dos Porcos tudo que se possa dizer poderá ser demais e estragar a história a quem ainda não leu, pelo que, acrescento apenas, que é um livro onde nem tudo é o que parece e onde nem todos são o que aparentam. É também um livro que se lê de seguida, onde se pára, única e exclusivamente, para comer e dormir. :)

Mais uma vez ao ler os livros da Mo Hayder fiquei fascinada/horrorizada com o que o ser humano é capaz de fazer, mais ainda quando estamos a falar de pessoas que aparentam ser genuinamente boas. Embora sejam histórias ficcionadas, a verdade é que, infelizmente, poderiam ser reais e é nessa proximidade com a feia realidade que a Mo Hayder se consegue destacar e ser uma escritora excepcional.

Para quem gosta deste género de literatura, recomendo vivamente a leitura desta escritora.

dezembro 10, 2009

Mutação Polar - Clive Cussler & Paul Kemprecos

" No final da Segunda Guerra Mundial, um genial cientista húngaro chamado Kovacs descobriu uma forma artificial de despoletar a mutação polar, mas o seu trabalho desapareceu. Hoje, Jordan Gant, um líder de uma organização anti -globalização, planeia recuperar esse trabalho para ameaçar as nações mais industrializadas do mundo.
E esta é uma ameaça que ninguém pode ignorar. A mutação polar provocará alterações climáticas devastadoras: vulcões, terramotos, furacões e tsunamis por todo o mundo. Será que a humanidade vai extinguir-se às mãos de um fanático?
Apenas um homem pode impedir esta tragédia: Kurt Austin. Acidentalmente envolvido neste enredo maquiavélico, Austin entra numa corrida contra o tempo que o vai levar dos EUA, ao Rio de Janeiro, e do Atlântico à Sibéria. Com a ajuda de Karla, a neta do cientista húngaro, Austin enfrenta o seu maior desafio de sempre. E se falhar... é o fim de todos nós."

Este foi o meu primeiro livro deste autor. Não fazia ideia do que iria encontrar por isso, foi de mente aberta que o iniciei. O autor suscitou-me curiosidade porque há uma catrefada de livros dele à venda no site da Saída de Emergência, do qual sou visitante assídua, e achei que valia a pena experimentar. Foi uma boa aposta.

Neste livro, Kurt Austin director da Equipa de Missões Especiais para a National Underwater and Marine Agency - NUMA (fundada pelo Clive Cussler), vê-se envolvido numa missão quase impossível, onde falhar poderá significar o fim do mundo como o conhecemos, quiça a extinção da própria humanidade. Aparentemente alguém anda a "brincar" com o campo electromagnético da terra, provocando alterações estranhas e perigosas nos oceanos - ondas gigantes e sorvedouros. O pior é que não pretendem ficar por aí, uma vez que estas alterações são apenas a consequência dos ensaios que culminarão na mutação, artificial, dos polos magnéticos da terra. Ou seja, norte passa a ser sul e o sul a ser norte, com todas as repercusões catastróficas que isso terá no planeta. Basicamente a história é esta.

O interessante no livro é o autor pegar em factos reais e extrapolar para a ficção. A mutação polar é um fenómeno conhecido dos cientistas, uma vez que se acredita já ter ocorrido umas quantas vezes desde que a terra é terra. Muitos acreditam, ainda, que este fenómeno poderá estar para acontecer outra vez, pois existem provas científicas de que um dos polos está a enfraquecer, sendo natural que ocorra uma inversão, pois a mãe natureza gosta muito que haja equílibrios e simetrias. É uma mania como outra qualquer... :)

Quando o comprei não fazia ideia de que era 6º livro de uma série de livros sobre a NUMA, com o Kurt Austin. Descobri-o depois de começar a ler e fiquei de pé atrás, porque sempre achei que escrever livros onde a personagem principal é sempre a mesma revela alguma falta de imaginação, e corre-se o risco de os livros serem todos muito semelhantes. Aquela coisa de que "em equipa que ganha não se mexe", na literatura, nunca me cativou.
O livro fez-me lembrar um pouco a série 24 onde o Jack Qualquer-Coisa, em todos os episódios, tem a árdua tarefa de salvar o mundo de ataques terroristas. A diferença é que, neste caso o herói da saga, Kurt Austin, para além de ser destemido, é também um tipo simpático e divertido. :)

Posto isto, o livro tinha tudo para que eu não gostasse dele. Não sou mesmo fã de histórias à James Bond, muito menos se este for um herói tipicamente americano com uma história facilmente adaptável pela máquina de Hollywood (pelo que sei o 2012 fala de algo semelhante). Mas a verdade é que gostei do livro, está bem escrito e a história é interessante. Para além disso, o livro não é puro entretenimento, uma vez que me fez sentar em frente ao computador e pesquisar umas quantas coisas. Está decidido que vou ler outros livros dele! :)

Um Filho do Circo - John Irving

" Muito mais do que escrever um romance sobre a Índia, que não conheço, John Irving apresenta em Um Filho do Circo a história de um médico - indiano sem ser indiano... - que, tendo assistido vinte anos atrás a um duplo homicídio cometido em Goa, procura agora empenhadamente desvendar a verdade. Todavia, através da acção é revelado ao leitor o autêntico âmago da psicologia indiana, toda ela impregnada do intenso perfume de Bombaim, constituído por uma mescla de sexo, morte e flores. Muitas vezes comparado a Charles Dickens, John Irving utiliza um estilo seguro e fácil na descrição dos diversos episódios dramatizados e justifica, sem dúvida, esta apreciação publicada em The Times: A procura da verdade por parte do Dr. Daruwalla é a base do livro (...) Um escritor que tem a coragem de acompanhar esta díficil jornada ao mesmo tempo que comenta as situações de pobreza, racismo e doença num romance tão cheio de humor é um escritor que vale um tesouro."

O John Irving é um escritor fantástico. Um Filho do Circo foi o primeiro livro que li dele, comprei-o numa daquelas "feiras do livro" que o Continente (passe a publicidade) faz periodicamente para se livrar das velharias que tem em armazém. Custou-me 5€ ou coisa que o valha e, foi uma pechincha tendo em conta o quanto me diverti a lê-lo.

Quando comecei a ler, franzi a testa e pensei "ainda bem que não foi caro" porque as primeiras páginas são sobre anões e a obsessão do Dr. Daruwalla por eles, especialmente pelo seu sangue. E não, nada tem a ver com vampiros, o interesse é puramente académico, embora o Dr. Daruwalla seja ortopedista... :) Por estas e por outras é que o livro é, no mínimo surpreedente.
Embora tenha estranhado no início, a verdade é que depois o estilo do John Irving se entranhou. O sentido de humor do autor é fora de série e dei umas boas garagalhadas enquanto lia o livro e, acreditem quando digo que isso nunca me aconteceu com outro livro. Não sou de gargalhada fácil. :)

Para que não sejam induzidos em erro pela sinopse, convém dizer que o livro não é de todo um policial, embora os homicídios tenham de facto ocorrido e o livro tenha como base a investigação levada a cabo pelo Dr. Daruwalla. No decorrer das investigações o autor vai fazendo referências à cultura indiana, à gigantesca indústria de Bollywood e à descriminação provocada pelo sistema de castas instituído na Índia, mas fá-lo de forma leve e mostrando com humor o rídiculo das situações. É, como nas outras obras que já li dele, um livro com muitas referências sexuais e personagens sexualmente ambíguas.
Como não quero correr o risco de aqui contar mais do que devia e estragar as surpresas da história, limito-me a dizer que o livro é, como já disse, surpreendente. O resto fica por vossa conta. :)

Fiquei fã do John Irving e, foi com muita pena que verifiquei que este autor tem muito poucos livros traduzidos para português e que, os que estão traduzidos, são muito difíceis de encontrar porque, regra geral deixaram de ser editados. Restam-me os livros em inglês que, embora não tenha dificuldade em ler, não estão em português e, por isso tenho sempre a sensação de estar a perder alguma subtileza linguística que os bons tradutores fazem o favor de transportar para a tradução. Mas, pensando positivo...pior era se ele fosse francês! :p

Boas leituras!

novembro 27, 2009

Bem Me Quer, Mal Me Quer - Pearl S. Buck

"A jovem Peony é vendida como serva a uma rica casa chinesa - um papel estranho, pois é mais do que uma criada, mas menos do que uma filha. Ao crescer, desabrocha numa mulher encantadora e provocante, e apaixona-se pelo filho único da família, Contudo, a tradição impede-os de casar. Esta história profunda, baseada em factos verídicos ocorridos na China, evolui para o confronto entre o amor de Peony pelo rapaz e a sua devoção à família adoptiva."

A Pearl S. Buck é uma Danielle Steel ou uma Nora Roberts (agora tão na moda) com personalidade e com estilo. Escreve romances, puros e duros, onde existem grandes paixões, olhares embevecidos e onde o amor dói de verdade. Então porque gosto dos livros dela? Simplesmente porque não são romances previsíveis, a menina nem sempre fica com o príncipe encantado, pelo menos não da forma arrebatadoramente típica de outros romances. As personagens são interessantes e cheias de particularidades. No fundo são mais reais com histórias de vida mais próximas do comum dos mortais. Acho que gosto deles por não serem romances que apelem à lamechice (existe esta palavra?!) gratuita. Além disso a autora, já falecida, é de outra época e por isso, os livros dela têm um "cheirinho" antigo e gostoso, para além de exóticos, uma vez que a autora viveu muitos anos na China e, transporta para as suas histórias um pouco dessa vivência.

Bem Me Quer, Mal Me Quer, narra a história de uma família de judeus a viver na China há algumas gerações. Ezra, um comerciante próspero, é descende de judeus por parte do pai, mas a mãe era chinesa, uma concubina. É casado com Naomi, uma judia orgulhosa de ser uma judia pura. Sempre se sentiu, ou fez questão de se sentir, estrangeira na China. Sonha regressar à terra prometida, na Palestina, de onde o seu povo foi expulso. É boa pessoa, apenas muito zelosa dos seus deveres religiosos e do dever que sente em manter as tradições judaicas vivas na sua família e comunidade. Tem receio de que, se nada fizer, o seu povo seja completamente assimilado pela alegria e tolerância dos chineses. Toda a sua esperança reside no seu único filho David, rapaz alegre e despreocupado. Quando a mãe decide casá-lo com a filha do rabino, este apercebe-se de que tem uma escolha a fazer; ceder à vontade da mãe e, com isso abraçar a religião do seu povo assumindo a responsabilidade de a manter viva, ou casar com a filha de um importante comerciante chinês, por quem se encantou e, esquecer as suas raízes judaicas. No meio disto tudo existe, Peónia, a rapariguita que foi comprada ainda criança para fazer companhia a David e para o servir. Como é natural Peónia apaixona-se perdidamente por David. Sabendo que não poderá nunca ser sua esposa, pois os pais deste nunca o permitiriam, tudo faz para se manter na sua vida , tornando-se indispensável para ele e o pilar da família. Embora seja apenas uma criada, é uma mulher muito inteligente, culta e sábia. Para poder ficar junto de David, anula-se como mulher e como pessoa, existindo apenas para servir o homem que ama.

Em Bem Me Quer, Mal Me Quer, Pearl S. Buck fala-nos da posição das mulheres na sociedade chinesa, submissas e pouco instruídas, mas essenciais nos seus papéis. No livro, as mulheres são as responsáveis por quase todos os acontecimentos. Os homens são manipulados, sem o saberem, por elas.

Embora tenha gostado mais do Há Sempre Um Amanhã, da mesma autora, o Bem Me Quer, Mal Me Quer é, também ele, muito bom. Por não ser uma pessoa religiosa, não me identifiquei com as dúvidas que assombravam as personagens e, por não ser uma mulher chinesa, ou de outra nacionalidade, de outros tempos, também tenho dificuldade em assimilar a forma de amar de Peónia. Mas na história tudo isto faz sentido e o livro também é bom por nos mostrar como são diferentes as mulheres do nosso século, e como nos devemos sentir agradecidas a todas as nossas antecessoras por terem lutado pelos direitos das mulheres que nos permitem, hoje em dia, tomar decisões sobre tudo nas nossas vidas.

É um bom livro. :)

novembro 17, 2009

A Casa da Rússia - John Le Carré


"John Le Carré arrasta-nos, uma vez mais, para o seu mundo secreto e faz dele o nosso mundo. Em Moscovo, Leninegrado, Londres e Lisboa, numa ilha da costa do Maine que pertence à CIA, e no coração do próprio Barley Blair, Carré desenvolve não apenas uma história de espionagem, mas uma alegoria do amor individual confrontado com atitudes colectivas de beligerância."

Já li uns quantos livros do John Le Carré mas quando começo um livro novo dele, nunca sei se vai ser dos bons ou dos mais ou menos bons. Gostei muito do Amigos Até ao Fim e do Espião que Veio do Frio. O Fiel Jardineiro tem uma história interessante, sobre o aproveitamento, por parte das grandes farmacêuticas, da pobreza dos países africanos para experimentarem medicamentos antes de os comercializarem. A história, embora seja boa, não prende muito, acaba por ser até um pouco óbvia e, no fim fiquei com a sensação de que a montanha tinha parido um rato. Não gostei de O Canto da Missão, não só porque neste também a montanha pare um rato, mas porque a história é confusa e achei as personagens pouco reais, exageradas, mesmo. Quanto ao A Casa da Rússia, é uma história típica de espionagem e contra-espionagem, bem ao jeito do autor.

Barley Blair vê-se envolvido com os Serviços Secretos Britânicos e Americanos quando um físico russo, Goethe, o incube de publicar o livro que escreveu. No livro são expostas algumas das fragilidades existentes no programa de defesa russo. Goethe é um idealista que quer libertar a Rússia da opressão em que vive e, de certa forma, redimir-se por ter posto os seus conhecimentos, como físico, ao serviço dos propósitos bélicos da Rússia. Barley por seu lado é um editor inglês, sendo descrito como um homem misterioso, amistoso, um bom-vivant, que aceita tornar-se espião com o objectivo de saber até que ponto é verdade o que Goethe escreveu nos cadernos que lhe entregou. Os Serviços Secretos Britânicos são retratados como sendo um serviço formado por pessoas normais, é verdade que são espiões, mas não deixam de ser normais. Têm dúvidas e têm medos, como todos nós. John Le Carré, coloca os Serviços Secretos Britânicos como sendo subservientes dos Americanos e os Americanos como sendo... Americanos. Poderosos e com muito dinheiro. Basicamente os Ingleses são bonzinhos e os Americanos menos bonzinhos. A Rússia é descrita como sendo um país onde não existe liberdade, mas onde o povo é culto, corajoso e muito leal.

Mais uma vez acho os livros do John Le Carré um bocado óbvios, sem grandes surpresas, onde ao longo das páginas vamos confirmando o que já desconfiávamos. Neste A Casa da Rússia, incomodou-me a exaltação exagerada da beleza da personagem feminina, Katya. Esta adoração e idolatração da mulher amada, da maneira como foi feita, é mais comum em escritores do século XIX, num livro de espionagem do século XX fica de certa forma deslocado. Se calhar foi propositado por parte do Le Carré, homenageando desta forma os grandes escritores russos do século XIX, mas não me pareceu adequado.

Embora não seja, na minha opinião, nada de especial é um livro que se lê relativamente bem e, para os fans deste tipo de histórias concerteza será melhor do que o que eu achei. :)

novembro 09, 2009

Leituras (quase) inacabadas

Todos nós temos livros que pura e simplesmente não conseguimos acabar de ler. Uns porque não era a altura certa para pegar neles, ou por serem de difícil leitura ou porque o tema não é o adequado para a altura. Outros, porque simplesmente não gostamos deles.
Quando era mais nova, não me lembro de alguma vez ter deixado um livro a meio. Houve uns que me custaram mais a ler, mas nunca os deixei a meio, fazia um esforço para os acabar. Não sei porque não os abandonava, se não estava a gostar da história... talvez porque livros novos não fossem assim tão frequentes cá em casa. Hoje a minha atitude perante a leitura mudou um pouco. Quando não estou a ter prazer na leitura, ponho de lado, mas não de ânimo leve. Com tanta coisa boa para se ler, sei que não vale a pena perder tempo com coisas que não nos dizem nada, mas resisto sempre mais do que devia. :)

Quando, pela primeira vez, não consegui acabar um livro fiquei aborrecida. Ainda por cima era um clássico sobre o qual tinha ouvido maravilhas, o Moby Dick do Herman Melville. O livro é enorme (o que para mim é sempre um ponto a favor) e começa muito bem, divertido, interessante. A páginas tantas torna-se tão aborrecido que só não parei de o ler mais cedo porque... porque era o Moby Dick e tive algum pudor em não lhe dar uma, duas, três oportunidades! :) Li-o quase todo, mas por pura carolice, até que um dia desisti, não aguentei mais... :p Aconteceu-me o mesmo com o Vale de Abraão da Agustina Bessa-Luís, autora que tinha muita curiosidade de ler. Achei o livro muito chato, não se passava nada... Foi com pena que o pus de lado, talvez um dia mais tarde já o saiba apreciar.

Felizmente a minha lista de livros inacabados não é muito extensa, mas tenho a noção de que deveriam estar lá mais uns quantos que me deram "água pelas barbas", o que só prova a minha teimosia! :) É o caso do Boa Tarde Às Coisa Aqui Em Baixo do António Lobo Antunes. Livro difícil... Nunca me senti tão burra a ler um livro. Foi das experiências mais frustrantes que já me aconteceram na leitura. Foi daqueles livros em que tive de voltar atrás uma data de vezes, a ver se conseguia apanhar o fio à meada. Quando ia para desistir, lá apanhei qualquer coisa, que voltei a perder não muito depois e, sinceramente fiquei com fobia ao senhor desde essa altura! Já tinha lido o Manual dos Inquisidores uns anos antes e, tinha achado o livro interessante, diferente de uma forma positiva por isso, quando encontrei tantas dificuldades para acompanhar o Boa Tarde Às Coisa Aqui Em Baixo fiquei surpreendida. Só de pensar nisso já estou a ficar com "borboletas no estômago". :/
Experiência semelhante tive com Os Versículos Satânicos do Salman Rushdie, que parei de ler, porque tive dificuldades em entrar na história. No entanto, tenciono tentar lê-lo daqui as uns anos, porque acho que foi um problema de timing, mais do que do livro em si. Quanto ao outro senhor, o António Lobo Antunes, não digo nunca, mas... acho que será muito difícil apanharem-me com outro livro dele nas mãos. :)
Outro autor que tenho alguma dificuldade em gostar é do Ernest Hemingway, li O Velho e o Mar, Por Quem os Sinos Dobram e deixei a menos de meio As Verdes Colinas de África, porque o tema da caça incomoda-me... Tenho pena de não conseguir ver nele o que milhões de pessoa vêem mas, não me consigo identificar com a escrita dele.

Depois tenho daqueles livros que acabei, mas que não gostei. Não por serem difíceis, mas por serem maus, com histórias absurdas e mal contadas. Foi o caso do A Ruína da Jennifer Egan, do O Autenticador do William Valtos, From a Buick 8 e Tommyknockers do Stephen King, de quem gosto muito, mas estes dois fizeram-me algumas comichões no cérebro... :)



Tendo em conta que já devo ter lido mais de uma centena de livros na minha vida, acho que as coisas não me têm corrido mal. Mesmo quando não estão especialmente bem escritos o que interessa é que o livro nos divirta, nos faça pensar e que nos deixe a pensar depois de acabado, que nos ensine alguma coisa e que nos faça pensar que valeu a pena o tempo que lhe dedicámos.
De certeza que tenho no meu futuro muitos livros que não vou conseguir ler. O que eu gostaria é que fossem daqueles que eu ponho de lado a pensar: "Talvez quando for velhinha já tenha a sabedoria necessária para os entender".

Boas leituras.

novembro 02, 2009

Jesusalém - Mia Couto

"Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor no auge das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este mundo"

Gosto muito dos livros do Mia Couto, porque estão cheios de fantasia, parecem fábulas dos tempos modernos, mas com personagens muito reais. Jesusalém não foge a isso, embora ache o livro um pouco mais terra a terra do que os outros que li dele, o que não é necessariamente mau, apenas diferente. Já o Venenos de Deus, Remédios do Diabo, me pareceu diferente nesse sentido.

Jesusalém fala-nos de um pai, Silvestre Vitalício, de dois filhos, Ntunzi e Mwanito (o narrador da história) e de Zacaria Kalash, o militar. Embora existam outras personagens importantes na história, estas constituem o núcleo central da narrativa.
O livro começa com Mwanito a dizer que "A primeira vez que vi uma mulher tinha onze anos e me surpreendi subitamente tão desarmado que desabei em lágrimas", o que nos prende logo desde o início. O pai de Mwanito, Silvestre Vitalício, depois da morte da mulher, Dordalma, pegou nos filhos e no fiel amigo Zacaria Kalash e instalou-se num pedaço de terra, a que chamou de Jesusalém, longe de tudo e de todos. Para ele "o mundo terminara e nós éramos os últimos sobreviventes", tal foi o desgosto de perder a mulher.
Mwanito, o filho mais novo não se lembra de nada do "Lado de lá", para ele o mundo resume-se ao homens que com ele vivem em Jesusalém, e ao Tio Aproximado que lhes leva o necessário para sobreviverem. O irmão mais velho, Ntunzi, pelo contrário, tem memórias claras de como era a vida antes e sente-se, por isso, preso e frustrado.

É uma história bonita, cheia de sentimentos contraditórios, porque embora Mwanito se sinta roubado, por o pai o ter afastado do mundo, tem por ele muito respeito e amor. E quando este mais precisa dele não o abandona porque, por mais mágoas que existam, pai é pai.
É também uma história que fala de culpa e do que somos capazes de fazer para expiar essa culpa, de maneira a podermos seguir em frente.

É sempre complicado descrever e classificar os romances do Mia Couto mas, Jesusalém é a história de um homem ferido e envergonhado de tal forma que se isola do mundo levando com ele aquilo que lhe resta. Um homem que, de tão infeliz, impede a felicidade dos filhos protegendo-os das crueldades da vida e do mundo. Qualquer pai gostaria de o poder fazer, afastar os filhos das brigas, dos desgostos, da infelicidade mas, é virtualmente impossível, porque sem esses dissabores eles nunca aprenderão a ser felizes.

Tudo isto é contado ao estilo de Mia Couto, com alguma loucura à mistura. Eu gostei muito! :)

outubro 25, 2009

As Brumas de Avalon - Marion Zimmer Bradley

Excertos do prólogo:
" Fala Morgaine...
No meu tempo chamaram-me muitas coisas: irmã, amante, sacerdotisa, maga, rainha. Agora, em verdade, acabei por me tornar uma maga, e pode vir um tempo em que estas coisas precisem de ser conhecidas. Mas em perfeita verdade, penso que serão os cristãos a ter a última palavra. O mundo das Fadas está a afastar-se definitivamente do mundo em que Cristo governa. Não tenho nada contra Cristo, apenas contra os seus sacerdotes que chamam à Grande Deusa um demónio e negam que ela alguma vez tenha tido poder neste mundo. Dizem que, no máximo, o poder dela era o de Satanás. Ou então vestem-na com o manto azul da Senhora de Nazaré - que, de facto, à sua maneira, também teve poder - e dizem que foi sempre virgem. Mas o que é que uma virgem pode saber da labuta e dos sofrimentos da humanidade?
E agora que o mundo mudou e Arthur - meu irmão, meu amante, rei que foi e rei que será - jaz morto (o povo diz que dorme) na Ilha Sagrada de Avalon, deve-se contar a história de como era antes dos padres de Cristo Branco chegarem e cobrirem tudo com os seus santos e lendas."

"E assim Arthur jazia finalmente com a cabeça no meu colo, vendo em mim não a irmã, não a amante, não a inimiga, mas apenas a maga, a sacerdotisa, a Senhora do Lago; e assim descansou no seio da Grande Mãe de quem veio quando nasceu e para quem, no fim, como todos os homens, terá de ir. E talvez, enquanto eu dirigia a barca que o levava, desta vez não para a Ilha dos Padres, mas para a verdadeira Ilha Sagrada no mundo das trevas por trás do nosso, essa Ilha de Avalon onde agora poucos, exceptuando eu, podem ir, ele se tenha arrependido da inimizade que nascera entre nós."

"Ao contar esta história, falarei por vezes de coisas que aconteceram quando era ainda demasiado jovem para as compreender ou de coisas que aconteceram quando não estava presente, e talvez o meu ouvinte se retraia e diga: Isto é a magia dela. Mas tive sempre o dom da Visão e de ver dentro do espírito dos homens e das mulheres; e durante todo este tempo estive perto de todos eles. E assim, às vezes, de uma forma ou de outra, sabia tudo o que eles pensavam. E assim contarei esta história.
Pois um dia os padres também contarão como a conhecem. Talvez entre as duas se consiga ver qualquer vislumbre da verdade."

"E assim, talvez a verdade gire algures entre a estrada para Glastonbury, Ilha dos Padres, e a estrada para Avalon, perdida para sempre nas brumas do Mar do Verão.
Mas esta é a minha verdade. Eu que sou Morgaine, conto-vos estas coisas, Morgaine a quem mais tarde chamaram Morgan Le Fay."

Quando me falam de As Brumas de Avalon sorrio, porque gosto mesmo muito dos livros. Já os li mais que uma vez e, agora por estar a escrever sobre eles, tenho vontade de reler tudo outra vez! É para verem quão fantástica é a história. :)
Adoro os livros da Marion Zimmer Bradley, uns mais do que outros, como é natural. Quando começo a ler um livro dela tenho a certeza absoluta que vai ser tempo bem gasto, excepto os do Poder Supremo, que sinceramente não me convenceram. As Brumas de Avalon são, no entanto, os meus favoritos.

Nos quatro volumes que constituem esta saga, a autora dá-nos uma versão diferente da Lenda do Rei Artur. A história é contada sempre na perspectiva das mulheres, são elas quem tem o poder, são elas as responsáveis por muitos dos acontecimentos, provocado-os deliberadamente ou não. É uma história cheia de magia, de misticismo e de beleza. Conta um pouco da história da mítica Ilha Sagrada de Avalon, onde as mulheres são iniciadas nos segredos da vida e da Deusa. Do aparecimento dos primeiros cristãos com o seu Deus Único, castigador e castrador. Nessa altura, as mulheres começam a ser vistas como figuras secundárias da sociedade, servindo para pouco mais que procriar. As sacerdotisas de Avalon começam a ser consideradas feiticeiras, bruxas que servem Satanás.
É evidente uma crítica ao cristianismo, no entanto a imagem que se passa da Deusa, suposta Mãe de todos nós é também ela de uma entidade vingativa, intolerante, segregadora que não olha a meios para atingir objectivos e que, para continuar a ser adorada é capaz de tudo. Não vejo grandes diferenças entre o Deus dos padres e a Deusa da sacerdotisas. Embora a figura da Deusa seja muito mais apelativa por invocar a beleza da mulher, a harmonia e o respeito pela natureza. Existe magia, existe liberdade, não é castradora dos desejos humanos. Talvez por isso a ideia de uma Deusa em vez de um Deus seja mais simpática e enquanto lemos, torcemos sempre pelas mulheres de Avalon. :)

Muito bem escrito, como seria de esperar, é sem dúvida daqueles livros que se têm que ler antes de morrer e, reler sempre que nos apetecer. Li, emprestados pela minha prima linda, mas quando os apanhei aos quatro nesta edição especial da Difel, tive de os comprar e valeram cada cêntimo que custaram (e não foram assim tão poucos como isso).

Se tivesse que os classificar, dar-lhes-ia cinco estrelas! :)

outubro 19, 2009

O Deus Das Moscas - William Golding

"Um grupo de rapazes abandonados numa ilha deserta desfruta da liberdade total festejando a ausência de adultos. Porém, à medida que o frágil sentido de ordem dos jovens começa a colapsar, também os seus medos começam a tomar sinistras e primitivas formas. De repente, o mundo dos jogos, dos trabalhos de casa e dos livros de aventuras perde-se no tempo. Agora, os rapazes confrontam-se com uma realidade muito mais urgente - a sobrevivência - e com o aparecimento de um ser terrível que lhes assombra os sonhos."

Este é um livro perturbador. É a primeira coisa que me ocorre quando penso nele. Já o li há uns meses, mas continuam na minha cabeça imagens dos últimos capítulos do livro. A subtil alteração que vai ocorrendo com estes rapazes, pré-adolescentes, que se vão tornando cada vez mais primitivos, territoriais, guerreiros de palmo e meio que lutam pelo poder como gente grande.

Um avião cheio de rapazes, entre os 6 e 12 anos, ingleses despenha-se numa ilha deserta. Nenhum adulto sobrevive. Temos pois, um bando de rapazes que se vêm livres de qualquer controlo parental e de todas as regras impostas pelos adultos. Com a certeza de que serão salvos mais cedo ou mais tarde, decidem que devem aproveitar e divertirem-se à grande. O que poderá correr mal? Pelos vistos muita coisa...
Corre mal o facto de que o ser humano, quando se encontra livre de regras e de alguém que julgue os seus actos, ser capaz de coisas atrozes.
Corre mal quando na ânsia de acalmar medos primitivos e de encontrar um sentido para as coisas, procuramos ajuda nos sítios errados, procuramos liderança e deixamos de ser indivíduos e passamos a ser ovelhas num rebanho cego e obediente. Entregamos o poder nas mãos de quem não merece e idolatramos as pessoas erradas. Entramos numa histeria de grupo que não é complacente com o que nos distingue dos outros animais, a racionalidade e a consciência.
Isso torna-se ainda mais perturbador quando tudo isso é exemplificado num bando de miúdos que, em pouco mais de uns dias, perde toda e qualquer noção do bem e do mal e do respeito pela vida humana e não humana.
Apenas duas das crianças demonstram bom-senso, uma delas é morta pelos colegas, a outra vive atormentada pelo facto de não ter sido capaz de os manter mentalmente sãos, por ter perdido o controlo e por sentir medo. Medo de perder a pouca sanidade que lhe resta e tornar-se num deles, medo de não ser salvo, medo de morrer.

No fim são salvos mas a inocência e a infância ficam na ilha, agora meio destruída, onde descobriram a capacidade de matar, para alguns até o gosto de matar.

O livro vale sobretudo pela história. O que parece inicialmente um livro para adolescentes ao estilo de Robinson Crusoé ou A Ilha do Tesouro, torna-se em algo completamente diferente. Está cheio de cenas arrepiantes e bem conseguidas. Não está especialmente bem escrito, principalmente quando o autor tenta descrever os vários sítios da ilha, torna-se confuso e é difícil situar geograficamente a acção. Mas é definitivamente um daqueles livros que se devem ler. Foi-me sugerido pelo meu mais que tudo, que embora não o tivesse lido, ouviu falar dele e, como sempre foi uma óptima sugestão! Gostei muito de o ler.

outubro 17, 2009

Shalimar O Palhaço - Salman Rushdie

"Los Angeles, 1993. Maximilian Ophuls é brutalmente assassinado pelo seu motorista muçulmano, Noman Sher Noman, também conhecido por Shalimar o Palhaço. O que à primeira vista parece ser um crime político - Ophuls tinha sido embaixador dos Estado Unidos na Índia e depois chefe do contraterrorismo americano - é afinal um caso passional. Shalimar o Palhaço é uma obra profundamente humana que junta as paixões mais ferozes e os conflitos mais graves do nosso tempo. Uma história de amor. Uma fábula mágica onde os mortos falam."

Não sei bem o que pensar deste novo romance do Salman Rushdie. Li-o com algum prazer, a história é interessante e prende. Temos sempre vontade de passar ao capítulo seguinte para sabermos mais um pouco das vidas de Max Ophuls, India Ophuls e do Shalimar. De que forma as vidas deles se entrelaçaram para que o desfecho, indicado no próprio prólogo, seja a trágica morte de Max, um homem nos seus oitentas e aparentemente inofensivo.

Para além destas personagens, consideradas principais, somos também levados a conhecer a vida de duas aldeias e dos seus habitantes, Pachigan e Shirmal, em Caxemira. O vale de Caxemira surge aqui como um paraíso onde muçulmanos e hindus convivem num ambiente de verdadeira interajuda, onde a religião não é o mais importante. Prova disso é o casamento celebrado entre os protagonistas da história de amor que se conta no livro, segundo os rituais das duas religiões e com a aprovação de todos. No entanto, Caxemira com toda a sua tradição de tolerância e humanidade, torna-se pouco a pouco um osbtáculo para os interesses de dois países, Índia e Paquistão, bem como para os interesses ocultos de alguns, que tudo fazem para quebrar a paz no lugar. Salman Rushdie acaba por nos dar a visão dele sobre o conflito que dura há anos entre a Índia e o Paquistão.
É, como diz o prólogo, uma obra muito humana, sobre o que de melhor e pior o ser humano é capaz. De como o mais profundo amor se pode tornar no mais profundo ódio, sem no entanto deixar de ser amor... De como muitas vezes, debaixo da capa do pretenso bem maior, se escondem apenas e só os interesses e ódios pessoais.

Deu-me gozo ler este livro e cheguei ao fim com a sensação de que tinha lido um bom livro. Mais que não seja porque já tinha tentado ler Os Versículos Satânicos, do mesmo autor, e não o consegui acabar... Por isso foi a medo que comecei este. Acabá-lo foi uma vitória pessoal. :)
Senti alguma dificuldade porque o livro faz muitas referências à cultura indiana, com muitos termos indianos, nomes indianos que, por estarem tão afastados da nossa própria cultura e quotidiano me pareceram sempre complicados quebrando um pouco o ritmo da história. Mas pronto, isso é defeito meu e não do autor. :)

Depois de ter lido este livro, não ponho completamente de parte a possibilidade de voltar a ler outro livro dele. Quem sabe, tentar ler novamente Os Versículos Satânicos dando-lhe uma nova oportunidade.

outubro 15, 2009

A Filha do Capitão - José Rodrigues dos Santos


"O Capitão Afonso Brandão mudou a vida, quase sem o saber, numa fria noite de boleto, ao prender o olhar numa bela francesa de olhos verdes e voz de mel. O oficial comandava uma companhia da Brigada do Minho e estava havia apenas dois meses nas trincheiras da Flandres quando, durante o período de descanso, decidiu pernoitar num castelo perto de Armentiéres. Conheceu aí uma deslumbrante baronesa e entre eles nasceu uma atracção irresistível.
Mas o seu amor iria enfrentar um duro teste. O Alto Comando Alemão, reunido em segredo em Mons, decidiu que chegara a hora de lançar a grande ofensiva ara derrotar os aliados e ganhar a guerra e escolheu o vale de Lys como palco do ataque final. À sua espera, ignorando o terrível cataclismo prestes a desabar sobre si, encontrava-se o Corpo Expedicionário Português."

Vou abrir as hostilidades com este grande livro, não me estando a referir apenas às magníficas 629 páginas que o compõem. Ultimamente tenho tido algum azar com os livros que escolho para ler e A Filha do Capitão do José Rodrigues dos Santos foi definitivamente uma lufada de ar fresco. É o primeiro livro que leio deste jornalista/escritor. Já o admirava com jornalista e fiquei curiosa quando os livros dele começaram a surgir nas livrarias.

É de longe um livro como não lia há muito tempo. Muitíssimo bem escrito, com uma história de amor simples e bonita, muito ao estilo de Eça de Queirós, sem a fantástica ironia do mesmo e completamente contemporâneo. O que mais me surprendeu neste livro foi a envolvente histórica, a descrição quase perfeita de uma época, de costumes e mentalidades, como se o autor tivesse vivido nos fins do Séc. XIX, inícios do Séc. XX. Seria de esperar que tanto pormenor sobre a época em questão, que tanta descrição de factos históricos tornassem o livro maçador mas, isso não acontece. Antes pelo contrário, os factos são de tal forma integrados na ficção que tudo se conjuga de forma perfeita.

Com este livro, aprendi imenso sobre a história de Portugal, sobre a Instauração da Républica e da participação de Portugal na 1ª Guerra Mundial. O porquê de termos entrado na guerra, a falta de condições dadas aos soldados, o quase abandono a que foram votados. Acho que é um livro que só poderá ser inteiramente compreendido por nós, portugueses, por vivermos diariamente num pais cheio de contradições e por vezes tão ingrato para quem o defende. Ao ler o livro, identificamo-nos muito com as personagens portuguesas, com as suas frustações, desesperos e desejos porque, embora tenham passado tantos anos, não somos assim tão diferentes como povo.

A sensação com que fiquei depois de acabar de o ler é que, é definitivamente um livro escrito por um português, sobre Portugal, porque ficamos com a sensação que os nossos avós poderiam ser uma das personagens do livro. As expressões usadas pelos soldados da Brigada do Minho, reforçam ainda mais essa sensação, são hilariantes!

Resumindo, vale a pena ler e fiquei com curiosidade para ler as outras obras dele, já cá tenho A Fórmula de Deus. A ver se é tão refrescante como A Filha do Capitão. :)

Quero um Livro

Desde miúda que sempre gostei muito de livros e de ler. Ainda não sabia ler e, segundo a minha mãe, já andava de volta dela, com livros aos quadradinhos na mão, a contar-lhe a minha versão das histórias! Segundo ela, não falhava por muito... :)
Quando aprendi a ler, lembro-me de ter ficado fascinada pela quantidade de coisas que finalmente conseguia compreender, pela enormidade de coisas que até aí me estavam vedadas, incluindo o que raio dizia o MacGeyver. :) Tudo o que tivesse letras era devorado.
Mais do que ler, gostava dos livros em si, do cheiro e do toque do papel. Ainda hoje acho fantástico o facto de "gatafunhos" fazerem sentido em todo o mundo e podermos comunicar com as palavras.
Os livros sempre foram o melhor presente, e provavelmente os únicos que sobreviveram à passagem do tempo e aqueles que guardo com maior carinho. Lembro-me da excitação que senti quando recebi o meu primeiro livro a sério, sem bonecada em todas as páginas... :)
O "Quero Um Livro" surgiu porque muitas vezes, quando acabo de ler um livro, sinto necessidade de falar sobre ele, reflectir sobre o que li. As palavras escritas sempre me pareceram mais fáceis pelo que decidi entrar no maravilhoso mundo da blogoesfera. Vamos lá ver como corre! :)