fevereiro 27, 2012

Lituma nos Andes - Mario Vargas Llosa

Título original: Lituma en los Andes
Ano da edição original: 1993
Autor: Mario Vargas Llosa
Tradução: Miguel Serras Pereira
Editora: Publicações Dom Quixote (Colecção Autor Nobel - Revista Sábado)

"Sob a ameaça constante dos guerrilheiros maoístas do Sendero Luminoso, o cabo Lituma e o seu adjunto Tomás vivem num acampamento mineiro das montanhas do Peru, onde inexplicáveis e obscuros desaparecimentos lhes prendem o interesse. Paralelamente, a vida pessoal de ambos - sobretudo o reaparecimento de um antigo amor de Tomás -, intrometer-se-à profundamente na investigação. O drama real das comunidades peruanas, nos anos 80, reféns da organização paramilitar de esquerda, e as dúvidas pessoais dos personagens cruzam-se durante todo o romance, tornando Lituma nos Andes uma obra ímpar no percurso literário de Mario Vargas Llosa, mas também umas das suas mais ferozes críticas à violência estrutural que afectou o Peru durante tantas décadas. Uma obra obrigatória em qualquer biblioteca."


Lituma nos Andes é o meu segundo livro de Mario Vargas Llosa e começo a familiarizar-me com a sua escrita. Sim, porque os livros dele não são fáceis de ler, a forma como ele encadeia as diversas histórias em diversos tempos exige concentração. Neste livro, à semelhança do outro que li dele (A Festa do Chibo, já aqui comentado), a minha primeira reacção é de estranheza e penso sempre que não gosto muito dele. No entanto, a verdade é que, em ambos os livros, fui sendo conquistada, sem que me apercebesse disso, e no fim... no fim gosto e muito dos livros dele. Não é um escritor fácil, não é um escritor vulgar e óbvio. O que ele é, é um escritor inteligente, criativo e cativante.
Agora que já elogiei o criador, vamos lá falar do livro. :)

A história que Llosa nos conta passa-se na década de 80, no Peru, mais especificamente nos Andes, como titulo do livro indica. Esta foi uma década marcada pelas acções violentas de um grupo revolucionário, considerado hoje como terrorista, os Sendero Luminoso, oficialmente denominados por Partido Comunista do Peru. Este grupo que professava a igualdade e a melhoria das condições de vida dos camponeses, fazia passar a sua mensagem de forma extremamente violenta e pouco coerente.
É neste clima de terror que o cabo Lituma e o seu adjunto, Tomás Carreño (mais conhecido por Tomasito ou Carreñito) chegam ao posto da Guardia Civil de Naccos, uma antiga aldeia mineira, isolada na serra andina. Lituma e Carreñito têm como missão supervisionar a construção da estrada há muito ansiada pela população local, geradora de emprego e a última esperança de uma vida melhor para aqueles que permaneceram depois de a exploração mineira ter terminado na região.

Lituma sente muita dificuldade em ambientar-se à serra, tendo nascido e sido criado na zona costeira do Peru, não entende o carácter desconfiado dos serranos e as suas crenças e superstições. Vive, juntamente com Carreñito e o resto da população, com receio do ataque dos terrucos (guerrilheiros do Sendero). Dão por certa a sua vinda, só não sabem quando e ambos têm a certeza de que não sairão dali com vida. Para piorar a vida de Lituma e de Carreñito, quando três pessoas desaparecem sem deixar rasto, todos se fecham em copas e em nada contribuem para a resolução do mistério que acaba por se tornar numa obsessão para Lituma. O único momento de paz que o cabo Lituma experimenta naquele fim do mundo é à noite, quando Carreñito, partilha com ele  história do seu amor com a bailarina Mercedes, a mulher que o levou ao desterro em Naccos. :)

Mais uma vez neste livro, Llosa cria uma rede de histórias, todas contadas ao mesmo tempo, que muitas vezes se tocam, onde conhecemos todas as personagens, não só o seu presente mas também o seu passado e o que as levou ali. Curiosamente, de todas as personagens aquela de quem acabamos por saber menos é Lituma, que sendo a personagem principal tem um papel mais de aglutinador, de ligação entre as diversas histórias e não um papel desencadeador dos acontecimentos.

As mudanças bruscas de história, muitas vezes sem qualquer a estrutura no texto que indique essa mudança de tempo ou mesmo de narrador, deixou-me baralhada no início, no entanto foi algo a que me fui habituando ao longo do livro.
Tal como no A Festa do Chibo, primeiro estranhei, depois entranhou-se e na verdade acho que posso dizer que gosto de Mario Vargas Llosa. Gosto que ele conte a história de forma pouco óbvia, conseguindo manter uma narrativa coerente e onde todas as ligações acabam por bater certo. Gosto da forma como escreve e das personagens que cria. Gosto dos temas, gosto que fale da América Latina e dos seus povos culturalmente tão interessantes e ricos. Enfim, gosto deste senhor! :)

Recomendo sem qualquer reserva!

Boas leituras!

Excerto:
"(...) mal e quando, como agora em Naccos, em toda a serra e talvez no mundo inteiro, só se sofre e já ninguém se lembra do que era gozar. Antigamente as gentes atreviam-se a fazer frente aos grandes estragos através das expiações. Era assim que se mantinha o equilíbrio. A vida e a morte como uma balança de dois pratos com o mesmo peso, como dois carneiros com a mesma força que marram um no outro sem que nenhum deles avance e nenhum recue."

fevereiro 21, 2012

[ebook] Ultimate Short Stories (Wattpad)

Ultimate Short Stories
Ultimamente tenho ponderado se devo ou não adquirir um e-reader ou um tablet que também me permita ler ebooks. A minha dúvida reside, preços à parte, na utilidade que poderei dar ao dispositivo. Os livros em português não são muitos, não leio assim tanto em inglês e os preços dos ebooks são ridículos (sendo politicamente correcta e pondo de parte a opção da pirataria). De dúvida em dúvida e enquanto não me decido, o telemóvel vai cumprindo também a função de e-reader. :) 
Recorrendo à aplicação Wattpad, que diz ser o youtube dos ebooks, deparei-me com esta colecção de contos, o ideal para ler no ecrã pequenino do telemóvel. Foi uma agradável surpresa e a descoberta  de alguns autores até então desconhecidos.

Desta colectânea fazem parte:

The Vendetta - Guy de Maupassant

Primeira incursão na escrita de Guy de Maupassant, autor sobejamente conhecido mas com o qual nunca me tinha cruzado.
O conto fala de vingança, como o próprio nome indica. Da vingança de uma mãe que perde o seu único filho e vê o culpado ser libertado e a continuar a sua vida como se nada fosse. Com a morte do filho a única companhia que lhe resta é o cão, companheiro inseparável do filho. Calmamente esta mãe prepara a sua vingança, seguindo o velho ditado de que a vingança deve ser servida fria. :)

História muito bem escrita e que me suscitou interesse pela obra do escritor.

The Telephone Call - Dorothy Parker

Uma mulher aguarda ansiosamente uma chamada de telefone que nunca chegará...
Os estados de espírito pelos quais esta mulher passa enquanto aguarda que o homem lhe ligue são angustiantes. Começa por pedir encarecidamente a Deus que ele ligue, passa para uma fase de fúria em que deseja a morte do rapaz e termina a rezar a Deus que lhe dê forças para não lhe ligar ela. 

Gostei! :)

A Haunted House - Virginia Woolf

Nunca li nada de Virginia Woolf e este conto foi portanto uma estreia com a escritora. Na realidade não percebi nada... e  por isso nem sei muito bem o que dizer quanto a ele, a não ser que não fiquei com especial vontade de voltar a ler alguma coisa de Virginia Woolf. :(

A Slander - Anton Tchékhov

Este é um conto bem divertido de como se geram os boatos. Muitas vezes, numa tentativa de justificar algo que não tem de ser justificado acabamos por, de certa forma, fazer com que os outros acreditem nos boatos e não no que dizemos. :) Enquanto lia, a banda sonora na minha cabeça era a "I Started a Joke", original dos Bee Gees embora na minha cabeça quem cantasse fosse o genial Mike Patton. :)

Mais uma vez Tchékhov não desilude.

The Monkey's Paw - W. W. Jacobs

Este conto é assustadoramente bom! 
A pata de um macaco, como amuleto, que tem o poder de conceder três desejos a quem a possuir. Todos sabemos que estas coisas raramente acabam bem, e este caso não é excepção. 

Está muitíssimo bem escrito. Mal acabei de o ler fui logo pesquisar este autor de quem nunca tinha ouvido falar. Nada traduzido para português, mas muita coisa disponível na internet, já sem os famigerados direitos de autor.

Gostei muito!

The Minister's Black Veil - Nathaniel Hawthorne

Um jovem padre começa, de um dia para o outro, a usar um véu preto que lhe cobre o rosto e que não tira nem no dia em que morre. Porquê? É o que toda a gente questiona...

É uma história engraçada. :)

The Fiddler - Herman Melville

Deste também gostei muito, pese embora o Moby Dick estar entre os poucos livros que não consegui ler até ao fim. Este pequeno conto de Herman Melville fala de um poeta frustrado e de um génio sem fama, aparentemente vulgar, que por isso mesmo é feliz. 

O escritor subiu uns pontos na minha consideração com este conto. :)

The Elephant's Child - Rudyard Kipling

Conto a puxar para a fábula do escritor que apenas conheço por ser o autor do O Livro da Selva, que nunca li mas, que à semelhança de muito boa gente conheço das muitas adaptações cinematográficas feitas até hoje.

Conta de uma forma muito original a origem da tromba do elefante, que teve origem numa cria de elefante possuidor de uma curiosidade insaciável.

Gostei bastante, tanto que estou a ponderar conhecer melhor o Mogli... ;)

The Baron of Grogzwig - Charles Dickens

Um barão que tem tudo, no dia em que perde quase tudo pensa em acabar com a sua vida. À semelhança do Scrooge, é visitado pelo espírito do suicídio que não está ali para o convencer a viver, mas para garantir de que ele se mata e sem perder muito tempo com o assunto. Será bem sucedido?

Apenas digo que, quando parece que não existe solução para os problemas que nos vão surgindo ao longo da vida, devemos fazer como o barão da conto de Dickens, parar para fumar um cigarro, beber um copo, olhar para as diversas opções dando maior importância às que são positivas e, tal como o barão, mandar o espírito do suicídio dar uma volta ao bilhar grande! :)


Ultimate Short Stories está disponível, gratuitamente, aqui:

fevereiro 19, 2012

[Filme] A Solidão dos Números Primos

Título Original: La Solitudine dei Numeri Primi 
Realização: Saverio Costanzo
Duração: 118 min
Origem: Itália

Sinopse:
Alice e Mattia. Torino. Duas crianças da mesma idade cujas consciências são marcadas por um trauma profundo que de nunca se libertarão. Conhecem-se. Poderiam amar-se. Separam-se (ele aceita um emprego na Alemanha e ela casa-se). Poderiam voltar a encontrar-se se permitissem a si próprios o que, de uma forma ou de outra, sempre se proibiram.

Depois de ler o livro, já opinado aqui, que adorei, fiquei com curiosidade para ver como tinha sido feita a adaptação para o cinema desta história, porque achava que seria complicado passar para o grande ecrã uma história feita de coisas que se sentem e adivinham e não tanto de coisas que se vêm ou dizem.

Gostei do filme e acho que os actores foram muitíssimo bem escolhidos. É uma história, à semelhança do que acontece no livro, feita de silêncios, olhares que dizem mais do que as palavras poderiam dizer. O filme transmite uma aura de irrealidade que se adequa à irrealidade do mundo em que Mattia e Alice vivem, afastados dos outros e um do outro, mesmo quando estão juntos. 
Embora o filme se tenha mantido fiel ao livro no essencial, o final foi diferente e não sei ainda se o prefiro ao do livro. Para além disso acho que se deu pouco ênfase à personalidade amargurada de Mattia, a paixão pela matemática e pelos números primos, o cuidado que tem para perturbar o menos possível o mundo à sua volta para que nunca mais uma acção sua transforme de forma irreversível a vida dos que o rodeiam. 
No geral acho que se aprofundou pouco a personalidade dos dois, no entanto gostei muito do filme. Se não tivesse lido o livro acho que o teria achado mais confuso. O livro ajudou a interpretar algumas reacções e, pessoalmente deu uma outra dimensão ao filme.

Gostei e aconselho, tanto o livro como o filme! 

E, já agora a banda sonora também merece um destaque, mais que não seja porque é do extraordinário Mike Patton! :)
http://youtu.be/JyofAXy6gT8


Fica o trailer do filme:

fevereiro 12, 2012

A Estrela de Gonçalo Enes - Rosa Lobato de Faria

Título original: A Estrela de Gonçalo Enes
Ano da edição original: 2007
Autor: Rosa Lobato de Faria
Editora: Quasi Edições
 
"Trata-se de uma obra leve e descontraída sobre a vida e aventuras de dois personagens quase esquecidos da História de Portugal, mais especificamente da Época das Descobertas. São personagens reais se bem que quase todo o enredo seja ficcionado.
Gonçalo Enes ficou na História pela descoberta das grutas de Tassili N’Ajjer.
Trata-se de um jovem órfão de pai, nascido e criado na aldeia algarvia de Bensafrim.
Encantado pela estrela Sirius, que o ilumina e encanta durante toda a vida, o jovem Gonçalo, desiludido por um amor impossível, abre o seu destino às incríveis aventuras do Império que El-rei D. Afonso sonhava construir.
Pelas aldeias indígenas de África, pelas cidades encantadas de Marrocos, pelas areias misteriosas do deserto, Gonçalo leva consigo o espírito de aventura e coragem que transformou este pequeno país num mundo inteiro de esperança e riqueza.
"

Gosto de Rosa Lobato de Faria, já o disse mas, também já o disse que os primeiros livros que escreveu são aqueles que mais me encantam. As suas últimas obras têm-me deixado sempre com a sensação de que falta alguma coisa e de que não é aquela a Rosa Lobato de Faria que encontro em obras como O Prenúncio das Águas, O Sétimo Véu, A Trança de Inês e Os Pássaros de Seda. Não sei o que mudou, se eu se a escrita dela mas, qualquer que seja a razão, a estranheza que sinto nos últimos livros dela é algo do qual não me consigo abstrair. 
A Estrela de Gonçalo Enes foi escrito em 2007 e, portanto acabou por ser um dos que me deixou desconfortável, a procurar durante a leitura algo que me lembrasse porque gosto de ler Rosa Lobato de Faria...

A Estrela de Gonçalo Enes tem como personagem central, Gonçalo Enes, uma figura importante da história portuguesa, que viveu na época dos descobrimentos. Gonçalo Enes nasceu e cresceu em Bensafrim, criado pela mãe, viúva com quem mantinha uma relação muito cúmplice. Um dia apaixona-se pela rapariga mais bonita da aldeia, Balbina, e esta corresponde aos sentimentos do rapaz. Começam a namorar, às escondidas, pois o pai de Balbina não é para brincadeiras. E é às escondidas que se amam, nos campos de Bensafrim, livremente, descobrindo-se mutuamente, entregado-se de forma irreversível. Nasce entre eles um amor que durará a vida toda, sem nunca esmorecer.
Quando o pai de Balbina se apercebe de que andará mouro na costa a sondar a sua menina, decide apressar o casamento desta com Barnabé, a quem havia prometido a menina quando esta era ainda uma criança. Contrariada e sem coragem para enfrentar o pai, Balbina casa-se com Barnabé e Gonçalo, destroçado, parte à aventura, pelos mares fora a descobrir o mundo.
A partir daqui viajamos com Gonçalo Enes e, mais tarde, Pero de Évora, por África, onde este dois vivem aventuras atrás de aventuras, acabando por descobrir as grutas de Tassili N’Ajjer, na Argélia, conhecidas pela sua importância arqueológica.

E basicamente é isto, Gonçalo Enes anda pelo mundo a divertir-se, não esquecendo nunca a sua amada e Balbina vive amargurada presa a um casamento que não desejou junto a um homem que não ama e a quem não consegue dar um filho.
A história acaba por ser contada de uma forma muito simplista, sem aprofundar nada em particular, excepção feitas às inúmeras descrições dos encontros sexuais que Gonçalo Enes tem ao longo da sua vida... Rosa Lobato de Faria abusou neste livro, fiquei com a impressão de que todo o livro gira à volta do sexo e que tudo o resto é secundário.Sexo à parte, o livro tem momentos em que é possível reencontrar algum do encanto presente nos seus primeiros livros, com as descrições simples mas bonitas e cheias de significado e com personagens fortes com quem nos conseguimos identificar, no entanto esse momentos não estão em maioria.

Não posso dizer que não gostei mas é, sinceramente e por muito que me custe dizê-lo, um livro que não me ficará na memória por muito tempo porque, na realidade, não trouxe nada de significativo ao mundo da literatura. 

Recomendo porque é da Rosa Lobato de Faria e porque sei que muita gente não partilha deste meu desencanto com as obras mais recentes da escritora falecida em 2010.

Boas leituras!

Excerto:
"Foi a estrela de Sirius que o levou até ao mar.
Gonçalo Enes vivia no campo com a mãe, mas tinha aquele enlevo de levantar os olhos da terra, que trabalhava de dia, para o céu que o atraía de noite.
Quando a mãe dormia, se o tempo era quente e a noite serena, vinha sentar-se no escabelo do alpendre a ouvir os ralos e a tentar decifrar aquela imensidão de estrelas que pareciam falar-lhe. Foi o Padre Palma que lhe disse que aquela estrela se chamava Sirius e era a mais brilhante da abóbada celeste (...) E então concentrou o seu amor pelas estrelas naquela ali, tão formosa, que o fazia pensar se a veriam outros em outras paragens, ou se só ele, no seu palmo de terra, do alpendre da sua casinha caiada, era capaz de enxergar."

Nota: Não sei se por nabice minha ou por não existir mesmo, mas não consigo encontrar na Internet informação sobre a personagem Gonçalo Enes a não ser a que vem associada a este livro da Rosa Lobato de Faria. Está a escapar-me algum pormenor? :/

fevereiro 05, 2012

A Muralha de Gelo - George R. R. Martin

Título original: A Game of Thrones (part 2)
Ano da edição original: 1996
Autor: George R. R. Martin
Tradução: Jorge Candeias
Editora: Saída de Emergência

"Estes são tempos negros para Robert Baratheon, rei dos Sete Reinos. Do outro lado do mar, uma imensa horda de selvagens começa a formar-se com o objectivo de invadir o seu reino. À frente deles está Daenerys Targaryen, a última herdeira da dinastia que Robert massacrou para conquistar o trono. E os Targaryen sempre foram conhecidos pelo seu rancor e crueldade...
Mais perto, para lá da muralha de gelo que se estende a norte, uma força misteriosa manifesta-se de maneira sobrenatural. E quem vive à sombra da muralha não tem dúvidas: os Outros vêm aí e o que trazem com eles é bem pior do que a própria morte...
Ainda mais perto, na Corte, as conspirações continuam. O ódio entre as várias Casas aumenta e desta vez o sangue mancha os degraus dos palácios e o veludo dos cadeirões dourados. E quando parece que nada poderia piorar, o rei é ferido mortalmente numa caçada. Terá sido um acidente ou um assassinato? Seja como for, uma coisa é certa: a guerra civil vem aí!"

Reservei este livro na Biblioteca depois de ter visto a primeira temporada de Game of Thrones porque, ao contrário do que é usual, gostei mais do que vi do que daquilo que li no primeiro volume da saga de George R. R. Martin, A Guerra dos Tronos, lido há mais de um ano (já comentado aqui). Fiquei com a impressão de que este segundo volume poderia mudar a minha opinião acerca da saga e... mudou! Começo a gostar desta gente dos Sete Reinos e arredores! ;)

Em A Muralha de Gelo, o que não falta é acção, muitas lutas, muitas cabeças cortadas, muito sangue e muita morte! Terrível? Nem por isso, a guerra é assim, feia e sórdida! E é neste livro que a guerra tem início, com a morte do rei dos Sete Reinos, Robert Baratheon e as esperadas lutas pelo trono ao qual muitos acham ter direito. 
No meio da conspiração e das traições que se cozinham nos bastidores, Ned Stark, acaba por ser arrastado para o meio desta luta pelo poder e, demasiado honesto e honrado, acaba por ficar em maus lençóis por ter confiado nas pessoas erradas. Por ser um guerreiro e não um político e por amar a família acaba por se ver de pés e mãos atados, colocando-se a si e aos que ama em perigo.
Para salvar o pai e as irmãs das mãos de Cersei Lannister, a rainha calculista, Robb o filho mais velho de Ned Stark, parte de Winterfell com os seus aliados, declarando guerra ao reinado dos Lannister. Rebenta assim uma guerra civil que ameaça dividir a região de forma definitiva, com alianças que se formam e quebram ao sabor do vento gelado e planos que se adivinham e se temem.
Enquanto os Sete Reinos andam distraídos na luta pelo poder, a norte, para lá da Muralha de Gelo, começam a surgir notícias inquietantes sobre o regresso dos Outros, sobre aldeias desertas, não se sabendo para onde foram os seus habitantes, sobre criaturas de olhos azuis, vindas de um mundo do qual não deveria ser possível regressar: o mundo dos mortos. :p
Enquanto o povo no sul luta pelo trono de ferro, a Patrulha da Noite, os guardiões da muralha de gelo, enfraquecida por anos de paz e pela dificuldade de recrutamento de novos irmãos de Negro, luta por se manter como a única barreira entre o mundo das trevas, que traz consigo o Inverno depois de gerações inteiras de Verão, e o resto do reino.

Para ajudar, parece que os Dragões afinal não foram extintos e poderão regressar... :)

Gostei bastante deste livro. É um livro que tem poucos elementos fantásticos, a fantasia resume-se aos dragões, aos lobos gigantes e a um mundo inventado na íntegra pelo autor. A fantasia acaba aí. Não existe magia, não existem super poderes, as cabeças são cortadas e são cortadas mesmo que a personagem que a tinha em cima dos ombros fosse uma das mais importantes na história... Gostei que o autor não tenha receio de matar as suas personagens, o que só é possível porque todas elas são muito fortes, muito bem caracterizadas e com um enorme potencial de crescimento na história. Só desta forma se conseguiria manter uma saga deste tamanho interessante durante tanto tempo, o que parece ser o caso.
Achei que neste livro a escrita é mais adulta e por isso, para mim, a história acabou por me prender mais.
Tal como no primeiro livro, acho que a forma como a história nos é contada, cada capítulo tem um narrador diferente, torna-a mais rica por permitir diferentes pontos de vista e vozes tão diferentes resultam numa leitura mais dinâmica.

Personagens favoritas: 
Nesta segunda parte da história, a Arya não tem tanto protagonismo, mas continua a ser uma presença muito forte. Continuo a gostar muito de Tyrion Lannister, o anão e, ganhei um carinho especial por Catelyn Stark. Na realidade neste livro não houve nenhuma personagem com a qual tenha embirrado especialmente, até os maus tem o seu encanto. O único que me chegou a irritar, por ser tão crédulo, foi mesmo o Ned Stark... :/

Recomendo a leitura e recomendo a série. Ter visto a série não me atrapalhou muito a leitura, acabou por ajudar a situar todas as personagens, no entanto, vou tentar, a partir de agora, ler primeiro os livros e só depois acompanhar a série. :)

Boas leituras!

Excerto:
"Mais tarde, não poderia afirmar que vira a batalha. Mas ouviu-a, e vale ressoou com ecos. O crac de uma lança quebrada, o tinir das espadas, os gritos de "Lannister", "Winterfell" e "Tully! Correrrio e Tully!". Quando compreendeu que nada mais havia a ver, fechou os olhos e escutou. A batalha ganhou vida à volta dela. Ouviu batidas de cascos, botas de ferro a chapinhar em água pouco profunda, o som de madeira de espadas a bater em escudos de carvalho e o raspar de aço contra aço, os silvos das setas, o trovejar dos tambores, os gritos aterrados de mil cavalos. Homens berravam pragas e suplicavam pela mesircórdia, e recebiam-na (ou não), e sobreviviam (ou morriam). As vertentes pareciam fazer truques estranhos com o som. Uma vez, ouviu a voz de Robb, tão claramente como se estivessem em pé a seu lado, gritando "A mim! A mim!". E ouviu o seu lobo gigante, a rosnar e a roncar, escutou o estalar daqueles longos dentes, o rasgar da carne, gritos de medo e de dor tanto de homem como de cavalo. Haveria apenas um lobo? Era difícil dizer com certeza."