dezembro 29, 2009

Mataram o Chefe do Posto - E. S. Tagino

"Nesse Domingo, à tarde, apareceu Eibi. Também ela parecia ter perdido a graça de outrora. Os cabelos loiros estavam baços e os olhos azuis fundos e pisados. As calças que vestia eram largas e a blusa, aos quadrados, demasiado masculina. Mesmo assim, noutros tempos, teria provocado uma dúzia de torcicolos no aquartelamento. Mas ela entrou e tudo pareceu natural. E, até, ao alferes lhe pareceu natural levá-la para o quarto e despi-la sem palavras. E, em seguida, possuí-la, com desespero e raiva, debruçado sobre a secretária metálica, as pernas flectidas como um animal, enquanto ela chorava, em silêncio, a dor dos últimos dias."

Foi durante as minhas deambulações pelo site da Saída de Emergência que tomei conhecimento deste escritor português premiado, com este mesmo livro, com o "Prémio Literário Cidade de Almada" em 2006. Aproveitando uma daquelas promoções 2=3 da editora mandei vir este livro, por me parecer suficientemente interessante.

O alferes Ferreira é o comandante do Destacamento 343, enviado numa missão de reconhecimento e mapeamento da região de Kimbali, Moçambique, onde uma guerrilha de turras se instalara há mais de três anos. O Destacamento é enviado para o local sem saber muito bem ao que vai. As ordens superiores vão chegando a conta-gotas sem que se vislumbre qual será o objectivo das mesmas. O alferes Ferreira é um militar honesto, trabalhador e respeitado pelas suas tropas. Chegados a Kimbali deparam-se com uma zona aparentemente pacífica onde a comunidade vive, de certa forma, afastada da guerra que assola o país. Em todo o tempo de permanência na região o contacto com elementos da guerrilha é nulo, como se eles não existissem. Nem mesmo quando a grande ofensiva, Operação Nó Górdio, é lançada há qualquer sinal de vida dos temidos guerrilheiros.
O chefe máximo da comunidade é o Chefe de Posto, um representante da metrópole portuguesa na região. Homem de trato afável, é ele quem controlo tudo na região, demonstrando desde início que não é apenas aquilo que aparenta, escondendo alguns segredos. É com certo orgulho que informa o alferes Ferreira que não tem problemas com a guerrilha instalada na outra margem do rio Kimbali. Fica incomodado pela presença dos militares, mas depressa encontra formas de beneficiar com isso, ou não fosse ele um verdadeiro político. É dele esta ideia: "Meu caro comandante, há muito tempo que aprendi uma coisa muito simples: nas relações humanas, o que verdadeiramente conta são os interesses. E um bom político é aquele que consegue conciliar o máximo de interesses individuais e transformá-los em interesses comuns. A isso é que chamo o verdadeiro interesse público." :)
A sua morte, ou assassinato, é anunciada logo no prólogo, "O chefe do posto moreste...!", pelo moleque Formiga. O livro vai desvendando o que se passou antes, guiando-nos até ao trágico fim do Chefe do Posto.

Embora a curiosidade em querer saber quem será responsável pela morte do Chefe do Posto esteja sempre presente, o livro não vive apenas disso. É um livro sobre os homens que fizeram a guerra colonial. Sobre os milhares de homens, muitos deles ainda uns miúdos, analfabetos, que morreram em nome de uma pátria que amavam mas que não compreendiam e que os esquecia. Morreram lutando numa guerra que não sentiam como sua, sem glória e sem reconhecimento.
É um livro sobre as relações que se criam em situações difíceis, sobre o amor mas é sobretudo sobre os esforços que se fazem para se manterem as aparências; o general que na metrópole anunciava que a guerra estava ganha quando se perdiam batalhas atrás de batalhas e homens atrás de homens; o pai que afinal era tio e o marido que afinal era cunhado ou primo; morria-se em serviço e não por incompetência ou por simples azar. Nesse sentido o livro é muito interessante.

De uma forma geral gostei do livro, está bem escrito e a história é interessante, embora não traga nada de muito novo. No início torna-se fastidioso estar sempre a consultar as notas de rodapé, que não estão no rodapé mas sim no fim do livro, pois ele usa muitas expressões africanas, à semelhança de autores como o Pepetela e o Mia Couto. Equanto lia lembrou-me muito o Pepetela, não sei se é uma referência para o E. S. Tagino (pseudónimo literário de António José da Costa Neves) mas a escrita pareceu-me semelhante. Mais limpa e menos rica, mas de certa forma semelhante.

Como fiquei com vontade de ler outros livros dele, sobre outros temas, acho que se pode dizer que é um livro recomendado, se vos interessar o tema da guerra. :)

dezembro 25, 2009

Prendinhas de Natal

Este ano o Pai Natal foi generoso e trouxe-me uns quantos livrinhos. Livrinhos, salvo seja porque alguns estão mais para livrões que para livrinhos! :)

Oferecidos pelo meu mais que tudo:

Caim - José Saramago
"Pela fé, Abel ofereceu a deus um sacrifício melhor do que o de Caim. Por causa da sua fé, deus considerou-o seu amigo e aceitou com agrado as suas ofertas. E é pela fé que Abel, embora tenha morrido, ainda fala." (Hebreus, II,4)

Fúria Divina - José Rodrigues dos Santos
"Uma mensagem secreta da Al-Qaeda faz soar as campainhas de alarme em Washington. Seduzido por uma bela operacional da CIA, o historiador e criptanalista Tomás Noronha é confrontado em Veneza com uma estranha cifra.
Ahmed é um menino egípcio a quem o mullah Saad ensina na mesquita o carácter pacífico e indulgente do islão. Mas nas aulas da madrassa aparece um novo professor com um islão diferente, agressivo e intolerante. O mullah e o novo professor digladiam-se por Ahmed e o menino irá fazer uma escolha que nos transporta ao maior pesadelo do nosso tempo."

Oferecidos pelos manos e cunhados:

A Sombra do que Fomos - Luís Sepúlveda
"Num velho armazém de um bairro popular de Santiago do Chile, três sexagenários esperam impacientes pela chegada de um quarto homem. Cacho Salinas, Lolo Garmendia e Lucho Arencibia, antigos militares de esquerda derrotados pelo golpe de estado de Pinochet e condenados ao exílio, voltam a reunir-se trinta e cinco anos depois, convocados por Pedro Nolasco, um antigo camarada sob cujas ordens vão executar uma arrojada acção revolucionária. Mas quando Nolasco se dirige para o local de encontro é vítima de um golpe cego do destino e morre atingido por um gira-discos que insolitamente é lançado por uma janela, na sequência de uma desavença conjugal..."

O Planalto e a Estepe - Pepetela
"Do encontro entre um estudante angolano e uma jovem mongol, nos anos 60, em Moscovo, nasce um amor proibido.
Baseada em factos verídicos, ficcionados pelo autor, esta história põe em evidência a vacuidade de discursos ideológicos e palavras de ordem, que se revelam sem relação com a prática. Política internacional, guerra, solidariedade e amor, numa rota que liga a um ponto perdido de África a outro da Ásia, passando pela Europa e até por Cuba. Uma viagem no tempo e no espaço, o de uma geração cansada de guerra num mundo cada vez mais pequeno.
Maravilhoso e comovente, este é um romance sobre o triunfo do amor, contra todas as vontades e todas as fronteiras."

2666 - Roberto Bolaño

"O que liga quatro germanistas europeus (unidos pela paixão física e pela paixão intelectual pela obra de Benno von Archimboldi) ao repórter afro-americano Oscar Fate, que viaja até ao México para fazer a cobertura de um combate de boxe? O que liga este último a Amalfitano, um professor de filosofia, melancólico e meio louco, que se instala com a filha, Rosa, na cidade fronteiriça de Santa Teresa? O que liga o forasteiro chileno à série de homicídios de contornos macabros que vitimam centenas de mulheres no deserto de Sonora? E o que liga Benno von Archimboldi, o secreto e misterioso escritor alemão do pós-guerra, a essas mulheres barbaramente violadas e assassinadas? 2666.
Para se ler sem rede, como num sonho em que percorremos um caminho que nos poderá levar a todos os lugares possíveis."




Oferecido a mim mesma:

A Caixa em Forma de Coração - Joe Hill
"Judas Coyne colecciona o macabro: um livro de receitas para canibais... uma corda usada num enforcamento... um filme snuff. Uma lenda do death metal de meia-idade, o seu gosto pelo bizarro é tão conhecido entre a sua legião de fãs como os excessos da sua juventude. Mas nada do que ele possui é tão inverosímil ou tão medonho como a sua última descoberta, um artigo à venda na Internet, uma coisa tão estranha que Jude não consegue resistir a pegar na carteira.
"Vendo" o fantasma do meu padrasto a quem fizer a licitação mais alta.
Por mil doláres, Jude tornar-se-à o orgulhoso dono do fato de um homem morto que se diz estar assombrado por um espírito inquieto. Ele não tem medo. Passara a vida a lidar com fantasmas - o fantasma de um pai violento, o fantasma das amantes que abandonara sem compaixão, o fantasma dos companheiros de banda que traíra. Que importância teria mais um? Mas o que a transportadora entrega à sua porta numa caixa preta em forma de coração não é um fantasma imaginário ou metafórico, não é um benigno motivo de conversa. É real."

À excepção do Roberto Bolaño e do Joe Hill (filho do Stephen King), são todos escritores que já li e que adoro.

O que fazer a tantos livros?! Lê-los, pois claro! ;)

dezembro 24, 2009

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!!!


Desejo a todos os que seguem este espaço e, a todos os que aqui vieram parar por engano, ou não, um Feliz Natal. Desejo que estejam rodeados das pessoas que realmente importam e que amam.

Entrem em 2010 com convicção e com vontade de fazer do mundo um mundo melhor!

E, como não podia deixar de ser, que o ano que vem vos traga muitas e boas leituras! ;)

dezembro 21, 2009

O Leito Celestial - Irving Wallace

" Num romance altamente provocador, Irving Wallace explora o mundo da terapia "especializada" que caracteriza um dos aspectos mais singulares da revolução sexual nos Estados Unidos. Mas, o que de facto impressiona no novo livro de Wallace é a denúncia que deixa em suspenso sobre os que, à custa de um tipo próprio de medicina, se colocam à margem da lei, utilizando, para alcançar os seus objectivos, os mais variados subterfúgios que, inclusivamente, podem recorrer à prostituição. É essa a base da intriga que decorre numa dispendiosa clínica da Califórnia. Pela mão de Wallace, o leitor penetra nas zonas obscuras e interditas de um mundo de que nem sequer suspeita e no qual a sexologia não passa de um simples pretexto, de um negócio ou, afinal, da forma nova como se exercem costumes tão velhos como o mundo."

Antes de mais nada, esta sinopse dá uma ideia errada do livro. Atrevo-me a dizer que pouco tem a ver com o livro. Dá a ideia de que vamos ler sobre pessoas sem escrúpulos, que sob a capa da medicina praticam o crime de proxenetismo e prostituição. Na realidade Wallace não deixa denúncia sobre nada. Aliás a mim parece-me que ele concorda com a utilização de delegadas sexuais como complemento ao tratamento psiciológico de problemas sexuais - impotência, ejaculação precoce, etc. A denunciar alguma coisa, ele denúncia o preconceito sobre estas técnicas polémicas. Feito o esclarecimento, passemos ao livro, do qual não gostei nem um bocadinho.

O Leito Celestial fala-nos do Dr. Arnold Freeberg, um terapeuta sexual, que recorre à utilização de delegadas sexuais, por achar que existem problemas que não se curam apenas com conversa. As delegadas sexuais são mulheres (e homens, embora com menor expressão) formadas para ajudarem homens (e mulheres) a ultrapassarem os seus problemas sexuais. Aprendem uma série de técnicas que têm como objectivo fazer com que os pacientes se sintam à vontade com o próprio corpo e a pensar menos no acto em si. O Dr. Freeberg instala a sua clínica em Hillsdale, Califórnia, depois de ter sido intimado a desistir da utilização de delegadas, em Tucson, Arizona. Parte para a Califórnia esperando encontrar um ambiente menos conservador que entenda a utilidade da terapia que faz. No entanto também aqui surge a acusação de que estará a cometer um crime, pois as delegadas serão prostitutas e ele, como consequência, o seu chulo.

É basicamente isto... Ou seja quase nada. O livro é enfadonho, previsível, não estando particularmente bem escrito. Wallace passa 80% do livro a descrever as sessões de dois dos delegados, Gayle Miller e Paul Brandon, com os respectivos pacientes. Descrições demasiado repetitivas e roçando a literatura pornográfica de má qualidade. Desde o início sabemos que um dos pacientes tem na verdade a intenção de expor o que se passa, denunciando a prática de prostituição para, desta forma, ser promovido no jornal para o qual trabalha. Também não é difícil de adivinhar que no fim se arrependerá e não denúncia nada. O relacionamento amoroso que surge entre Gayle e Paul é infantil e irritante, com diálogos e situações tão pouco verosímeis que em nada contribuem para melhorar a história.

Comprei-o porque tinha lido O Maior Espectáculo do Mundo onde gostei muito da maneira como ele descreve a ascenção do P.T. Barnum, o maior showman que a América já conheceu. O livro é divertido e, não sendo sobre um tema que me interesse especialmente, fiquei surpreendida por o ter lido com agrado. Agrado esse que pensei dever-se às qualidades literárias do Wallce, pelo que fiquei curiosa para ler um romance dele. Saiu-me o tiro pela culatra... Espero que ele tenha livros melhorzinhos ou seria estranho toda a fama que carrega.

Concluindo: livro não aconselhado. :/

dezembro 17, 2009

Blueyedboy - Joanne Harris

Adoro tudo é que é livros da Joanne Harris e sempre que sei que ela tem um novo, espero e desespero até que seja editado em Portugal, já devidamente traduzido.
Parece que para o ano vou poder deliciar-me novamente com as histórias desta fantástica escritora! :)

http://www.joanne-harris.co.uk/pages/bookpages/blueyedboy.htm

Já estou em pulgas, mas é melhor nem pensar mais nisto... Só em Abril de 2010 é que vai ser editado, pelo que estará em Portugal lá para o final do ano que vem, na melhor das hipóteses. Bem, hei-de sobreviver! :p

P.S. As capas do livros da Joanne Harris são de encher o olho! Das mais bonitas que andam pelas livrarias. :)

dezembro 14, 2009

A Ilha dos Porcos - Mo Hayder

"O jornalista Joe Oakes ganha a vida a desmascarar fraudes sobrenaturais. Como céptico que é, acredita que tudo tem uma explicação racional. Porém, quando visita uma reservada comunidade religiosa numa remota ilha escocesa, tudo o que tem como certo é posto em causa. As questões acumulam-se: porque foi a comunidade acusada de satanismo? O que aconteceu ao seu guia espiritual, o Pastor Malachi Dove? E, mais importante ainda, porque motivo ninguém fala da estranha aparição vista a vaguear nas praias da Ilha dos Porcos? O confronto, e as consequências sangrentas, é tão catastrófico que obriga Oakesy a questionar a natureza do mal, e se pode ou não ser responsável pelo terrível crime prestes a acontecer. Neste assombroso novo livro, Mo Hayder desafia os leitores a enfrentar os seus medos mais íntimos e a olharem para lá da banalidade que jaz subjacente à normalidade do dia-a-dia. A Ilha dos Porcos aborda as coisas inomináveis que as pessoas são capazes de fazer umas às outras. Prepare-se para uma leitura mesmo forte."

Com Mo Hayder nunca é demais o aviso, "prepare-se para uma leitura mesmo forte". Isto porque ela tem uma escrita muito... gráfica, no mínimo. Descreve ao pormenor cenas que depois de lidas nos fazem desejar não o ter feito mas, que nos fazem continuar a ler e a querer saber mais. Neste tipo de literatura, uma espécie de policial psicológico (detesto etiquetar o que quer que seja) isso é muito positivo. :)
Se nunca leram nada desta autora e, ao pegarem no Ilha dos Porcos, repararem na fotografia dela que aparece na dobra da capa, vão pensar que não parece nada ter "uma profunda capacidade para chocar e surpreender os seus leitores", pois aparenta ser o estereótipo da mulher moderna americana. Ou seja, imaginamos, quando a vemos, que provavelmente andará a escrever romances e não livros que nos deixam profundamente chocados. Não sendo este o meu primeiro livro dela, já li o Tóquio e Os Pássaros da Morte, que não tinham uma fotografia da autora, fiquei chocada. Na minha cabeça esta senhora nunca poderia ter escrito estes livros que, devo dizer, são perturbadores. Um pouco à semelhança do que me acontece com a Rosa Lobato de Faria, onde tenho sempre alguma dificuldade em dissociar a imagem de avó extremosa, autora de tudo o que é canção da Eurovisão, da escritora. Nos seu livros, a Rosa Lobato de Faria não se coíbe de utilizar palavrões e em descrever cenas de sexo, mais ou menos tórridas. Como se vê, ninguém está imune ao preconceito e, a imagem da Mo Hayder em nada muda o talento que tem. Não posso, no entanto, deixar de tomar uma nota mental de que, por via das dúvidas, devo evitar ficar sózinha com esta senhora numa ilha selvagem, pois desconfio sempre de mentes que produzem livros tão perturbadores! :)

Falando do livro. Joe Oakes, Oakesy para os amigos, é um jornalista, especialista em desmascarar fraudes sobrenaturais. Joe viaja, juntamente com a sua mulher, Lexie para a Escócia. O objectivo da viagem é por termo ao boato de que o diabo andará pela Ilha dos Porcos, missão que se revelará mais perigosa do que o esperado, porque o diabo é dissimulado, podendo tomar várias formas, manifestando-se das mais variadas maneiras. A Ilha do Porcos é pertença de um grupo religioso, os Ministros do Tratamento Psicogénico, sendo habitada pelos seus membros e famoso líder, o Pastor Malachi Dove. A história é narrada a duas vozes, pelo próprio Oakes e pela mulher, dando-nos desta forma uma perspectiva diferente do que se vai passando. A leitura torna-se, também por isso, ainda mais interessante, pois ajuda a adensar o mistério e a manter a tensão que está presente em quase todo o livro.
No caso do A Ilha dos Porcos tudo que se possa dizer poderá ser demais e estragar a história a quem ainda não leu, pelo que, acrescento apenas, que é um livro onde nem tudo é o que parece e onde nem todos são o que aparentam. É também um livro que se lê de seguida, onde se pára, única e exclusivamente, para comer e dormir. :)

Mais uma vez ao ler os livros da Mo Hayder fiquei fascinada/horrorizada com o que o ser humano é capaz de fazer, mais ainda quando estamos a falar de pessoas que aparentam ser genuinamente boas. Embora sejam histórias ficcionadas, a verdade é que, infelizmente, poderiam ser reais e é nessa proximidade com a feia realidade que a Mo Hayder se consegue destacar e ser uma escritora excepcional.

Para quem gosta deste género de literatura, recomendo vivamente a leitura desta escritora.

dezembro 10, 2009

Mutação Polar - Clive Cussler & Paul Kemprecos

" No final da Segunda Guerra Mundial, um genial cientista húngaro chamado Kovacs descobriu uma forma artificial de despoletar a mutação polar, mas o seu trabalho desapareceu. Hoje, Jordan Gant, um líder de uma organização anti -globalização, planeia recuperar esse trabalho para ameaçar as nações mais industrializadas do mundo.
E esta é uma ameaça que ninguém pode ignorar. A mutação polar provocará alterações climáticas devastadoras: vulcões, terramotos, furacões e tsunamis por todo o mundo. Será que a humanidade vai extinguir-se às mãos de um fanático?
Apenas um homem pode impedir esta tragédia: Kurt Austin. Acidentalmente envolvido neste enredo maquiavélico, Austin entra numa corrida contra o tempo que o vai levar dos EUA, ao Rio de Janeiro, e do Atlântico à Sibéria. Com a ajuda de Karla, a neta do cientista húngaro, Austin enfrenta o seu maior desafio de sempre. E se falhar... é o fim de todos nós."

Este foi o meu primeiro livro deste autor. Não fazia ideia do que iria encontrar por isso, foi de mente aberta que o iniciei. O autor suscitou-me curiosidade porque há uma catrefada de livros dele à venda no site da Saída de Emergência, do qual sou visitante assídua, e achei que valia a pena experimentar. Foi uma boa aposta.

Neste livro, Kurt Austin director da Equipa de Missões Especiais para a National Underwater and Marine Agency - NUMA (fundada pelo Clive Cussler), vê-se envolvido numa missão quase impossível, onde falhar poderá significar o fim do mundo como o conhecemos, quiça a extinção da própria humanidade. Aparentemente alguém anda a "brincar" com o campo electromagnético da terra, provocando alterações estranhas e perigosas nos oceanos - ondas gigantes e sorvedouros. O pior é que não pretendem ficar por aí, uma vez que estas alterações são apenas a consequência dos ensaios que culminarão na mutação, artificial, dos polos magnéticos da terra. Ou seja, norte passa a ser sul e o sul a ser norte, com todas as repercusões catastróficas que isso terá no planeta. Basicamente a história é esta.

O interessante no livro é o autor pegar em factos reais e extrapolar para a ficção. A mutação polar é um fenómeno conhecido dos cientistas, uma vez que se acredita já ter ocorrido umas quantas vezes desde que a terra é terra. Muitos acreditam, ainda, que este fenómeno poderá estar para acontecer outra vez, pois existem provas científicas de que um dos polos está a enfraquecer, sendo natural que ocorra uma inversão, pois a mãe natureza gosta muito que haja equílibrios e simetrias. É uma mania como outra qualquer... :)

Quando o comprei não fazia ideia de que era 6º livro de uma série de livros sobre a NUMA, com o Kurt Austin. Descobri-o depois de começar a ler e fiquei de pé atrás, porque sempre achei que escrever livros onde a personagem principal é sempre a mesma revela alguma falta de imaginação, e corre-se o risco de os livros serem todos muito semelhantes. Aquela coisa de que "em equipa que ganha não se mexe", na literatura, nunca me cativou.
O livro fez-me lembrar um pouco a série 24 onde o Jack Qualquer-Coisa, em todos os episódios, tem a árdua tarefa de salvar o mundo de ataques terroristas. A diferença é que, neste caso o herói da saga, Kurt Austin, para além de ser destemido, é também um tipo simpático e divertido. :)

Posto isto, o livro tinha tudo para que eu não gostasse dele. Não sou mesmo fã de histórias à James Bond, muito menos se este for um herói tipicamente americano com uma história facilmente adaptável pela máquina de Hollywood (pelo que sei o 2012 fala de algo semelhante). Mas a verdade é que gostei do livro, está bem escrito e a história é interessante. Para além disso, o livro não é puro entretenimento, uma vez que me fez sentar em frente ao computador e pesquisar umas quantas coisas. Está decidido que vou ler outros livros dele! :)

Um Filho do Circo - John Irving

" Muito mais do que escrever um romance sobre a Índia, que não conheço, John Irving apresenta em Um Filho do Circo a história de um médico - indiano sem ser indiano... - que, tendo assistido vinte anos atrás a um duplo homicídio cometido em Goa, procura agora empenhadamente desvendar a verdade. Todavia, através da acção é revelado ao leitor o autêntico âmago da psicologia indiana, toda ela impregnada do intenso perfume de Bombaim, constituído por uma mescla de sexo, morte e flores. Muitas vezes comparado a Charles Dickens, John Irving utiliza um estilo seguro e fácil na descrição dos diversos episódios dramatizados e justifica, sem dúvida, esta apreciação publicada em The Times: A procura da verdade por parte do Dr. Daruwalla é a base do livro (...) Um escritor que tem a coragem de acompanhar esta díficil jornada ao mesmo tempo que comenta as situações de pobreza, racismo e doença num romance tão cheio de humor é um escritor que vale um tesouro."

O John Irving é um escritor fantástico. Um Filho do Circo foi o primeiro livro que li dele, comprei-o numa daquelas "feiras do livro" que o Continente (passe a publicidade) faz periodicamente para se livrar das velharias que tem em armazém. Custou-me 5€ ou coisa que o valha e, foi uma pechincha tendo em conta o quanto me diverti a lê-lo.

Quando comecei a ler, franzi a testa e pensei "ainda bem que não foi caro" porque as primeiras páginas são sobre anões e a obsessão do Dr. Daruwalla por eles, especialmente pelo seu sangue. E não, nada tem a ver com vampiros, o interesse é puramente académico, embora o Dr. Daruwalla seja ortopedista... :) Por estas e por outras é que o livro é, no mínimo surpreedente.
Embora tenha estranhado no início, a verdade é que depois o estilo do John Irving se entranhou. O sentido de humor do autor é fora de série e dei umas boas garagalhadas enquanto lia o livro e, acreditem quando digo que isso nunca me aconteceu com outro livro. Não sou de gargalhada fácil. :)

Para que não sejam induzidos em erro pela sinopse, convém dizer que o livro não é de todo um policial, embora os homicídios tenham de facto ocorrido e o livro tenha como base a investigação levada a cabo pelo Dr. Daruwalla. No decorrer das investigações o autor vai fazendo referências à cultura indiana, à gigantesca indústria de Bollywood e à descriminação provocada pelo sistema de castas instituído na Índia, mas fá-lo de forma leve e mostrando com humor o rídiculo das situações. É, como nas outras obras que já li dele, um livro com muitas referências sexuais e personagens sexualmente ambíguas.
Como não quero correr o risco de aqui contar mais do que devia e estragar as surpresas da história, limito-me a dizer que o livro é, como já disse, surpreendente. O resto fica por vossa conta. :)

Fiquei fã do John Irving e, foi com muita pena que verifiquei que este autor tem muito poucos livros traduzidos para português e que, os que estão traduzidos, são muito difíceis de encontrar porque, regra geral deixaram de ser editados. Restam-me os livros em inglês que, embora não tenha dificuldade em ler, não estão em português e, por isso tenho sempre a sensação de estar a perder alguma subtileza linguística que os bons tradutores fazem o favor de transportar para a tradução. Mas, pensando positivo...pior era se ele fosse francês! :p

Boas leituras!