março 16, 2014

A Glória dos Traidores - George R. R. Martin


Título original: A Storm of Swords (part 2)
Ano da edição original: 2000
Autor: George R. R. Martin
Tradução: Jorge Candeias
Editora: Saída de Emergência

"O bafo cruel e impiedoso do Inverno já se sente. Quando Jon Snow consegue regressar à Muralha, perseguido pelos antigos companheiros do Povo Livre, não sabe o que irá encontrar nem como será recebido pelos irmãos da Patrulha da Noite. Só tem uma certeza: há coisas bem piores do que a hoste de selvagens a aproximarem-se pela floresta assombrada.   O Jovem Lobo também está em viagem, na companhia da mãe e do tio, numa tentativa de reconquistar duas coisas fundamentais para os Stark: a aliança da Casa Frey e o Norte. A primeira parece bem encaminhada, mas é sabido como o velho Walder Frey é traiçoeiro. Quanto à segunda, é uma incógnita, pois a tarefa que lhe cabe é quase impossível: conquistar Fosso Cailin a partir do sul.   Em Porto Real, há dois casamentos em perspectiva, qual deles o mais importante para o destino dos Sete Reinos. Mas quem sabe o que os caprichos do destino têm reservado para os noivos? Jaime Lannister, agora mutilado, regressa para junto dos seus sem saber o que o aguarda. E do outro lado do mar, o poder dos dragões renasce, com Daenerys à cabeça de uma hoste de eunucos treinados para a guerra e finalmente rodeada de amigos. Mas serão esses amigos... dignos de confiança?"

*Pode conter spoilers*

Oh boy! Oh boy! Ohhh boy!!! É o que apetece dizer depois de terminar o 3º volume (6° nas edições da Saída de Emergência) da saga As Crónicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin. Este é, até agora, dos melhores da saga. Cheguei a pensar que não ia sobrar ninguém vivo e a mexer... :)
Nem sei bem o que posso dizer aqui sem estragar todos os acontecimentos do livro... Vou ser sucinta.

Em Porto Real todos se preparam para o casamento de Joffrey com Margeary Tyrell uma união que os Lannister desejam e necessitam para ganhar a guerra e manterem Joffrey no trono de ferro. 
Tyrion ainda não se adaptou ao papel que o pai lhe reservou e anda meio perdido até ao dia em que... tudo muda e o Lannister mais novo se vê outra vez, entre a vida e morte, a lutar para manter a cabeça agarrada ao corpo.
Jaime Lannister regressa, são e salvo, para os braços da sua Cersei mas não parece encontrar nisso grande conforto. Tudo aquilo por que passou parece tê-lo mudado mais do que seria de esperar. À semelhança do irmão Tyrion, sente alguma dificuldade em reencontrar o seu lugar em Porto Real e em seguir aquilo que o pai espera dele.

A, até agora, gloriosa caminhada do Jovem Lobo até à vitória, parece estar prestes a terminar. Os homens do norte vão sofrer um inesperado golpe que parece acabar definitivamente com as pretensões dos Stark ao trono dos Sete Reinos. E sobre os Stark mais não digo. O autor George R. R. Martin parece ter desenvolvido uma aversão qualquer aos Senhores de Winterfell. Por mais voltas que o mundo dê, para os Stark não existem segundas oportunidades. :/

Sammy e Gilly, na sua fuga aos Outros, com dificuldade em encontrar o caminho que os levará até à Muralha de gelo, são salvos de um ataque das criaturas de olhos azuis, por um misterioso cavaleiro de mãos frias e vestido de negro. Quem é este homem que os leva até onde Bran e os seus jovens companheiros se encontram abrigados? Quem é este homem que pede a Sammy que traga Bran até ele?

Jon Snow enfrenta a desconfiança dos irmãos de negro quando regressa à Muralha, depois de ter viajado com os selvagens que seguem Mance, o Rei-para-lá-da-Muralha. No entanto, o tempo escasseia, pois hostes de selvagens e gigantes dirigem-se para a Muralha com a intenção de a atravessar. Nem eles querem continuar a viver do mesmo lado que os Outros. A batalha vai ser sangrenta e Jon, sem nunca esquecer Ingrid, vai ter oportunidade de provar aos irmãos de que nunca os traiu.

Daenerys, a Mãe dos Dragões, continua a sua caminhada até Westeros, conquistando cidade atrás de cidade e reunindo um batalhão impressionante de fiéis seguidores. A traição espreita e ronda mas nada parece travar a ascensão dela. Entretanto os dragões continuam a crescer... :)

Esta segunda parte do 3º volume está cheia de surpresas, de segredos revelados e de mortes violentas e inesperadas. É um volume que nos deixa com o coração nas mãos, sempre à espera que uma das "nossas" personagens deixe de existir... :) 
Este deve ser dos mais importantes para a evolução da história e todas as personagens, sem excepção, evoluem de forma abismal.

Este, acho que chega às 5 estrelas! É muito bom... :)

Termino como comecei: Oh boy! Isto promete...

Boas leituras!

Excerto:
" - És um verdadeiro rei? - perguntou Jon de súbito. - Nunca tive uma coroa na cabeça nem sentei o cu na porcaria de um trono, ser é isso que estás a perguntar - respondeu Mande. - O meu nascimento é tão baixo como poderia ser, nenhum septão me besuntou a cabeça com óleos não sou dono de castelos, e a minha rainha usa peles e âmbar, e não seda e safiras. Sou o meu próprio campeão, o meu próprio bobo, e o meu próprio harpista. Não te tornas Rei-para-lá-da-Muralha por causa de quem foi o teu pai. O Povo Livre não seguirá um nome, e não se importam com qual dos irmãos nasceu primeiro. Seguem lutadores. Quando abandonei a Torre Sombria, havia cinco homens a fazer ruído acerca de como podiam ser do material de que são feitos os reis. Tormund era um, Magnar outro. Matei os outros três, quando tornaram claro que preferiam lutar a seguir-me. - Podes matar os tais inimigos - disse Jon sem rodeios - mas serás capaz de governar os teus amigos? Se deixarmos o teu povo passar, és  suficientemente forte para os fazer manter a paz do rei e obedecer às leis? - Às leis de quem? Às leis de Winterfell e de Porto Real? - Mande soltou uma gargalhada. - Quando quisermos leis, faremos as nossas. Podes fixar também com a tua real justiça e os teus reais impostos. Estou a oferecer-te o corno, não a nossa liberdade. Não nos ajoelharemos perante vós."

março 09, 2014

El Cuaderno de Maya - Isabel Allende

Título original: El Cuaderno de Maya
Ano da edição original: 2011
Autor: Isabel Allende
Editora: Debols!llo

"Soy Maya Vidal, diecinueve años, sexo femenino, soltera, sin un enamorado, por falta de oportunidades y no por quisquillosa, nacida en Berkley, California, pasaporte estadoudinense, temporalmente refugiada en una isla al sur del mundo. Me pusieron Maya porque a mi Nini le atrae la India y a mis padres no se les ocurrió otro nombre, aunque tuvieron nueve meses para pensarlo. En hindi, maya significa «hechizo, ilusión, sueño». Nada que ver con mi carácter. Atila me calzaría mejor, porque donde pongo el pie no sale más pasto."

Sou fã da Isabel Allende não só porque a escrita me agrada e as histórias são sempre diferentes, mas também porque se sente que ela trabalha muito para chegar ao produto final, para que tudo o que lemos, faça de uma forma ou de outra sentido, para que as personagens sejam credíveis e os acontecimentos realistas. Gosto principalmente das personagens que cria, normalmente mulheres que ficam connosco depois de lermos a última palavra e fecharmos os livros. El Cuaderno de Maya (edição portuguesa: O Caderno de Maya - Porto Editora) não é uma excepção e nesse aspecto é definitivamente um livro típico da Isabel Allende, a novidade está na época. A história que Maya Vidal escreve no seu caderno é actual. No mundo de Maya existem telemóveis e internet e não se anda a cavalo, mas sim de carro e de avião. :)

Maya Vidal é uma jovem que foi criada pelos avós, o seu Popo e a sua Nini. A mãe deixou-a nos braços do avô com poucos meses de vida, e partiu para a Europa. O pai é piloto e passa temporadas sem vir a casa. Embora goste muito da filha, não existem dúvidas em relação a isso, não tem grande vocação para as coisas de pai. 
Maya cresce protegida pela excentricidade da avó, Nidia Vidal e pelo  amor incondicional do avô, Paul Ditson II. 
Nidia Vidal é chilena, uma das muitas pessoas que abandonaram o Chile após o golpe de estado que matou Salvador Allende e deu início ao período negro de Pinochet. É uma mulher aguerrida e cheia de superstições, que luta para poder dar ao filho um futuro melhor. Encontra o amor da sua vida, Paul Ditson, no Canadá, um professor e astrónomo que não resiste aos encantos da explosiva chilena. Partem para os EUA, casam-se e só a morte os irá separar muitos anos depois.
Maya cresce rodeada de amor, de atenção e de liberdade. É uma miúda inteligente, sonhadora e é nitidamente uma criança feliz. Ninguém poderia sequer imaginar os problemas em que se vai meter...

Quando, o avô morre com um cancro, Maya perde o norte. O seu Popo era a sua vida, o seu pilar. Ele tinha prometido que nunca a iria deixar sozinha... A agora adolescente, enraivecida e a sofrer, começa a consumir drogas, a mentir, a enganar, a perder-se. A avó, também ela alienada pela morte do marido, não se apercebe do que está a acontecer com a neta, uma miúda sempre tão doce e equilibrada.
De alhada em alhada, Maya acaba numa clínica de reabilitação em Oregón, de onde foge acabando sozinha em Las Vegas, a cidade do dinheiro e do vício. Em Las Vegas, Maya conhece Brandon Leeman, um traficante conhecido da zona para quem começa a trabalhar, traficando para ele. Numa descida alucinante aos infernos Maya, bate no fundo e quando a avó finalmente a encontra, a neta está irreconhecível.
Envolvida em actividades ilícitas em Las Vegas, e cúmplice num caso de falsificação de notas, Nidia manda Maya, depois de recuperada das suas dependências químicas, para Chiloé, para junto de um amigo de longa data para que a neta possa recuperar e restabelecer-se e não ser encontrada pelas autoridades e criminosos que julgam andar atrás dela.
Isolada do mundo, em Chiloé, a rapariga vai reaprender a viver e a conhecer-se a si própria. Manuel, o amigo da avó que a acolhe é um sexagenário reservado e austero, ele próprio com traumas por resolver, vê a sua vida virar-se do avesso com a chegada de uma jovem, de cabelo rapado e muito intrometida. A relação destes dois é enternecedora e estas duas personagens juntas, são das melhores duplas que Isabel Allende já criou.
Chiloé e as suas gentes parecem mágicos. Chilóe é um lugar onde todos se conhecem e todos se ajudam e tudo se resolve e é lá que Maya vai encontrar o seu lugar no mundo.

Resumindo e baralhando, El Cuaderno de Maya é um livro com muitas passagens feias e duras de ler, mas é na realidade um livro com uma história humana bem bonita. :)

Recomendo sem reservas!

Boas leituras!

Excerto:
" - Mi Nini siempre ha sido ruda, Manuel, pero mi Popo era un caramelo, él fue el sol de mi vida. Cuando Marta Otter me llevó a la casa de mis abuelos, él me sostuvo contra su pecho con mucho cuidado, porque no había tomado a un recién nacido. Dice que él cariño que sintió por mí lo transtornó. Así me lo contó y nunca he dudado de ese cariño. (...) La inmensa presencia de mi Popo, con su humor socarrón, su bondad ilimitada, su inocencia, su barriga para acunarme y su ternura, llenó mi infancia. Tenía una risa sonora, que nacia en las entrañas de la tierra, le subía por los pies y lo sacudía entero. «Popp, júrame que no te vas a morir nunca», le exigía yo al menos una vez por semana y su respuesta era invariable: »Te juro que siempre estaré contigo»."