agosto 03, 2013

Gritos do Passado - Camilla Läckberg

Título original: Predikanten
Ano da edição original: 2004
Autor: Camilla Läckberg
Tradução do inglês: Ricardo Gonçalves
Editora: Publicações Dom Quixote

"Numa manhã de um Verão particularmente quente, um rapazinho brinca nas rochas em Fjällbacka - o pequeno porto turístico onde decorreu a acção de A Princesa do Gelo - quando se depara com o cadáver de uma mulher. A polícia confirma rapidamente que se tratou de um crime, mas o caso complica-se com a descoberta, no mesmo sítio, de dos esqueletos.
O inspector Hedström é encarregado da investigação naquele período estival em que o incidente poderia fazer fugir os turistas mas, sem testemunhas, sem elementos determinantes, a polícia não pode fazer mais do que esperar os resultados das análises dos serviços especiais.
Entretanto, Erica Falk, nas últimas semanas de gravidez, decide ajudar Patrick pesquisando informações na biblioteca local e novas revelações começam a dar forma ao quadro: os esqueletos são certamente de duas jovens desaparecidas há mais de vinte anos, Mona e Siv. Volta assim à ribalta a família Hult, cujo patriarca, Ephraim, magnetizava as multidões acompanhado dos dois filhos, os pequenos Gabriel e Johannes, dotados poderes curativos. Depois dessa época, e de um estranho suicídio, a família dividiu-se em dois ramos que agora se odeiam.
Ao mesmo tempo que Patrick reúne as peças puzzle, sabe-se que Jenny, uma adolescente de férias num parque de campismo, desapareceu. A lista cresce..."

Camilla Läckberg é uma escritora de quem tenho ouvido falar muito e na maioria coisas positivas. Não sendo uma leitora assídua de policiais, tenho sempre alguma curiosidade com o que se anda a ler por aí, dentro do género. E percebo o sucesso que tem encontrado junto dos leitores. Gostei bastante, é uma leitura leve, essencialmente porque a escrita é acessível, sem ser simplista ou básica, e porque as personagens são bem-humoradas e a atmosfera, psicopatas e miúdas mortas à parte, que emana do livro é muito "boa onda", à falta de melhor definição. :)

A forma como a escritora nos conta a história, mantém-nos curiosos, embora o desfecho seja mais ou menos esperado, a curiosidade por saber o que levou aquela pessoa a optar por um caminho tão desviante, é o que mantém o livro aberto quando já deveríamos estar a dormir. ;)

Não sei se devo entrar muito na história em si, até porque a sinopse já diz praticamente tudo, só não diz quem é o assassino! :p
Basicamente o enredo gira em torno da investigação da morte de uma turista alemã, cujo corpo foi encontrado por uma criança. Junto dela, encontraram-se mais dois esqueletos, que se vem a descobrir pertencerem a duas adolescentes, filhas da terra, desaparecidas há mais de vinte anos e que nunca tinham sido encontradas.
Fjällbacka é uma pequena vila turística, sem qualquer historial de crimes violentos. A polícia local vai ter de fazer o melhor que sabe para resolver estes crimes macabros, com a pressão adicional de haver mais uma adolescente que desaparece durante as investigações e que todos querem encontrar antes que pereça às mãos do tresloucado que cometeu tamanhas atrocidades com as outras três miúdas.
A investigação vai permitir um ajuste de contas com o passado, vai desvendar segredos há muito escondidos e vai revelar valor onde menos se esperava.

E mais não digo acerca da história, acrescento apenas que a religião, mais uma vez, pode ser uma coisa perigosa, mesmo que as intenções sejam as melhores do mundo. Nunca sabemos o resultado de se mexer com a crença e a fé das pessoas... Principalmente quando essas pessoas, mentalmente não estão preparadas para ilusões fantásticas!

De uma forma geral, gostei bastante do livro, gostei das personagens e da forma como o novelo vai sendo desenlaçado. Normalmente o que me leva a não ler muitos policiais é o facto de os achar pouco credíveis. Este Gritos do Passado talvez peque por ser credível demais. :) Não sei, por vezes achei que lhe faltou alguma emoção, algum suspense... As personagens que foram sendo consideradas suspeitas ao longo do livro foram sempre tão bem educadas. Será por ser um livro sueco? Não sei, mas sinto que lhe faltou uma pitadinha de sal. :) Não deixa de ser um bom livro mas, acho que tinha potencial para ser bem melhor.

Embora tenha gostado de Erica e Patrick, como personagens estão bem desenvolvidas, não lhes achei muita piada como casal. A relação pareceu-me forçada, por serem demasiado... fofinhos e simpáticos e bem-educados. Como dupla não me conquistaram completamente. Acredito que com a continuação dos livros a empatia vá surgindo naturalmente.
Não posso deixar de referir o exagero e o deslocado que me pareceram as histórias com os hóspedes indesejados. Foram partes da história que me desviaram do que realmente interessava, cujo propósito pareceu ser apenas e só, dar alguma visibilidade à gravidissíma Erica.

Como vêem, nada de muito grave a apontar a este policial sueco, género tão em voga nos dias de hoje. Aos pontos menos bons acho que os posso "classificar" como sendo consequência do choque cultural, nada mais! ;) 

Resumindo e baralhando, fiquei com muito boa impressão da escritora e certamente que irei ler mais livros dela. Gostei e recomendo!

Boas leituras!

Excerto:
"A mão continuou o seu caminho ao longo do seu corpo, e ela estremeceu na escuridão. Por um segundo, ocorreu-lhe que deveria oferecer alguma resistência ao estranho sem rosto. O pensamento desvaneceu-se tão depressa como tinha surgido. A escuridão era demasiado esmagadora, e a força da mão que a acariciava penetrava-lhe a pele, os nervos, a alma. A submissão era a única opção, soube-o com um discernimento aterrorizador.
Quando a mão deixou de a acariciar para começar a forçar e a torcer, a puxar e a arrancar, ela não ficou nada surpreendida. De certa forma agradeceu a dor. Era mais fácil lidar com a certeza da dor que com o terror do desconhecido."