março 26, 2017

O Tempo Entre Costuras - María Dueñas

Título original: El Tiempo Entre Costuras
Ano da edição original: 2009
Autor: María Dueñas
Tradução: Carlos Romão
Editora: Porto Editora

"«O Tempo entre Costuras» é a história de Sira Quiroga, uma jovem modista empurrada pelo destino para um arriscado compromisso; sem aviso, os pespontos e alinhavos do seu ofício convertem-se na fachada para missões obscuras que a enleiam num mundo de glamour e paixões, riqueza e miséria mas também de vitórias e derrotas, de conspirações históricas e políticas, de espias.

Um romance de ritmo imparável, costurado de encontros e desencontros, que nos transporta, em descrições fiéis, pelos cenários de uma Madrid pró-Alemanha, dos enclaves de Tânger e Tetuán e de uma Lisboa cosmopolita repleta de oportunistas e refugiados sem rumo."

O Tempo Entre Costuras narra a história de uma costureira, Sira Quiroga, na Espanha de Franco, que acabou por se ver envolvida na luta contra Franco e Hitler.

Sira parte para Tânger, mesmo antes de rebentar a Guerra Civil Espanhola. Parte para viver um grande amor. Quando esse grande amor se transforma num pesadelo, Sira vê-se sozinha e sem dinheiro. Com a guerra em Espanha, não tem como voltar para junto da mãe e acaba por ficar retida em Tânger. Ferida e doente, Sira abandona Tânger e acaba por encontrar abrigo em Tetuán.
Pouco a pouco e com a ajuda de Candelaria, uma marroquina cujo principal meio de sobrevivência era o contrabando, Sira reergue-se das cinzas e começa a costurar para ganhar algum dinheiro. A costura era o que fazia antes de sair de Madrid. Aprendeu a manejar as agulhas e as linhas com a mãe e era algo a que não dava grande importância. Descobre em Tetuán que é muito boa no que faz e a sua arte é muito valorizada, mais ainda quando, está rodeada de mulheres, da alta sociedade europeia - espanholas, francesas e alemãs que também ficaram retidas em Marrocos por causa da guerra.
Sira começa a criar um nome na alta-costura e no seu atelier em Tetuán, conhece aquela que vai ser a maior responsável pela reviravolta na sua vida, Rosalinda Fox, uma inglesa extrovertida que mantém uma relação com Beigbeder, o alto-comissário de Espanha em Marrocos. É Rosalinda quem mais tarde, consegue tirar a mãe de Sira de Espanha e trazê-la para junto dela, em Tetuán. É também por intermédio de Rosalinda que Sira regressa a Madrid para montar um atelier onde se pretende se fazer muito mais do que vestidos de alta-costura. :)

O Tempo Entre Costuras é um romance histórico? Sim, também é um romance histórico. É um romance cor-de-rosa? Sim, também é um romance cor-de-rosa, mas de um rosa muito levezinho, não é nada lamechas e não é arrebatadoramente romântico. O que O Tempo Entre Costuras é, é um romance bem escrito e com personagens que cativam, bem desenvolvidas. É sobretudo, um romance que sabe conjugar bem a parte histórica com a parte ficcional, e que sabe criar muito bem a envolvência da época e dos diversos sítios por onde Sira passa.

Posto isto, é um livro que se lê bem e que nos mantém interessados no destino das personagens e que nos permite conhecer um pouco mais da história recente da Europa e do Mundo, no entanto, confesso que não fiquei muito impressionada com este livro. Acho que a parte da história que é passada em Marrocos poderia ter sido contada em menos tempo, uma vez que, é quando Sira regressa a Madrid que tudo acontece. O livro ganha outro ritmo e outro interesse e, tudo acaba por acontecer em 250 páginas, num livro que tem mais de 600.

É um livro que recomendo, sem grandes hesitações e sem grandes explicações. Não é de todo tempo perdido.

Boas leituras!

Excerto (pág. 138):
"Desatei a correr. Às cegas, furiosamente. Protegida pelo negrume da noite e arrastando o saco com as armas; surda, insensível, sem saber se me seguiam e sem querer interrogar-me sobre o que teria sido feito do homem de Larache em frente da espingarda do soldado. Perdi uma babucha e uma das últimas pistolas acabou por se desatar do meu corpo, mas não me detive por nenhumas das perdas. Limitei-me a continuar a corrida na escuridão, seguindo o traçado da linha, meio descalça, sem parar, sem pensar. Atravessei um campo plano, hortas, canaviais e pequenas plantações. Tropecei, levantei-me e continuei a correr sem um descanso, sem calcular a distância que as minhas passadas percorriam. Nem um ser vivo saiu ao meu encontro e nada se interpôs no ritmo desengonçado dos meus pés até que, entre as sombras, consegui divisar uma placa cheia de letras. Apeadeiro de Malalien, dizia. Seria aquele o meu destino."