outubro 16, 2015

Nenhum Olhar - José Luís Peixoto

Título original: Nenhum Olhar
Ano da edição original: 2000
Autor: José Luís Peixoto
Editora: Bertrand Editora

"Numa aldeia do Alentejo, com um pano de fundo de uma severa pobreza, o autor vai tecendo histórias de homens e mulheres, endurecidos pela fome e pelo trabalho, de amor, ciúme e violência: o pastor taciturno que vê o seu mundo desmoronar-se quando o diabo lhe conta que a mulher o engana; o velho e sábio Gabriel, confidente e conselheiro; os gémeos siameses Elias e Moisés, cuja terna comunhão se degrada no momento em que um deles se apaixona; ou o próprio Diabo. As suas personagens são universais, assim como a sua esperança face à dificuldade.«... a partir da segunda ou terceira sequência ficamos seguros de que a inclinação é fatal: vamos embater num limite, num muro, num enigma, na origem do mundo e no desastre final...»"
"«Hoje o tempo não me engana. Não se conhece uma aragem na tarde. O ar queima, como se fosse um não quente de lume, e não ar simples de respirar, como se a tarde não quisesse já morrer e começasse aqui a hora do calor. Não há nuvens, há riscos brancos, muito finos, desafiados de nuvens. E o céu, daqui parece fresco, parece a água limpa de um açude. Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu.»"

Desde Livro (opinião aqui) que nunca mais tinha lido José Luís Peixoto e depois deste Nenhum Olhar, espero que não passe tanto tempo até ao próximo livro dele.

Nenhum Olhar é um livro imensamente triste, cheio de silêncios e olhares que dizem tudo. Conversa-se pouco na aldeia alentejana que o autor retrata. 
As personagens vivem uma vida desencantada, algumas presas a convenções e ao que se espera deles. Vivem com a consciência de que abdicaram de lutar pela felicidade para cuidarem dos outros, para não romperem com as regras instituídas e estabelecidas. Não perseguiram a felicidade por cobardia ou porque, simplesmente, não saberiam como fazê-lo.
Outros nunca encontraram a felicidade e quando esta aparece não hesitam em agarrá-la com todas as forças que possuem. Outros ainda, tendo nas mãos aquilo que desejaram, estragam tudo por causa de mal-entendidos, da má língua do povo e da maldade de algumas pessoas.

Surpreendeu-me a capacidade de amar em gente que tem tão pouco. A profundidade dos sentimentos em pessoas que quase nunca tiveram razões para sorrir. Surpreendeu-me, ao mesmo tempo, a dormência dos que abdicaram de ser felizes e a dor atroz de quem vê a felicidade escapulir-se por entre os dedos sem que nada possa fazer para mudar o destino. Surpreendeu-me a falta de esperança e a capacidade de amar e de sofrer. Surpreende-me a imutabilidade do tempo, como se a aldeia vivesse presa a um paradoxo temporal, onde geração atrás de geração a história está condenada a repetir-se ad eternum.
Acima de tudo, surpreendeu-me a capacidade de José Luís Peixoto nos fazer sentir toda esta panóplia de sentimentos através de palavras tão simples e com a criação de momentos tão tristes e ao mesmo tempo tão enternecedores.

Nenhum Olhar retrata uma realidade triste com que todos nós nos conseguimos identificar, de certa forma. A vida nas aldeias isoladas, onde o tempo parece seguir outras regras, onde todos se conhecem, ou pensam conhecer e onde o destino parace ser mais certo do que a morte.

E sem nada ter dito sobre a história em si, acho que não preciso dizer mais nada, a não ser que recomendo sem qualquer hesitação. :)

Boas leituras

Excerto (pág. 209):
"A dor: um silêncio de sentido sobre todos os gestos, um abismo a calar o significado de todas as palavras, um véu a tornar o tempo inútil. A mulher que amara mesmo, que amara mesmo, e que não era mais nada no mundo. E a solidão era um céu maior que a noite e onde não havia mais que a noite e frio, era um lugar negro que o olhar vida."

outubro 11, 2015

O Rapaz de Pijama às Riscas - John Boyne

Título original: The Boy in the Striped Pyjamas
Ano da edição original: 2006
Autor: John Boyne
Tradução do castelhano: Cecília Faria e Olívia Santos
Editora: "Colecção BIIS" da Leya

"Bruno, de nove anos, nada sabe sobre a Solução Final e o Holocausto. Não tem consciência das terríveis crueldades que são infligidas pelo seu país a vários milhões de pessoas de outros países da Europa. Tudo o que ele sabe é que teve de se mudar de uma confortável mansão em Berlim para uma casa numa zona desértica, onde não há nada para fazer nem ninguém para brincar. Isto até ele conhecer Shmuel, um rapaz que vive do outro lado da vedação de arame que delimita a sua casa e que estranhamente, tal como todas as outras pessoas daquele lado, usa o que parece ser um pijama às riscas."

Bruno é um rapaz de nove anos, filho de um militar importante na estrutura criada por Hitler. Vive em Berlim, sem nunca ter conhecido outra realidade, protegido dos horrores que estão a ser perpetrados mesmo ao seu lado, contra os judeus. Quando o pai é promovido, pelo Führer, e é enviado para dirigir um dos campos de concentração mais infames do Holocausto, Auschwitz, decide levar toda a família, a mulher e os dois filhos, Bruno e Gretel. De um momento para o outro, todo o pequeno mundo de Bruno desaba. Fica perturbado com a ideia de abandonar a sua casa de cinco andares em Berlim e de não poder viver todas as aventuras que tinha planeadas para o Verão que se aproxima com os seus melhores amigos. Angustia-o não saber quanto tempo irá ficar longe de Berlim e nem sequer tem noção da distância que irá percorrer até Auschwitz, nome que nem sabe dizer, julgando todo o tempo que lá permanece que está  em Acho-Vil.

Quando chegam a Acho-Vil, Bruno fica chocado com a sua nova casa, velha, muito mais pequena que a mansão de Berlim. Não tem vizinhos e por isso, aparentemente não tem nenhuma criança com quem brincar. Fica intrigado com a vedação que consegue ver da janela do seu quarto e com o facto de todos, com excepção dos militares, daquele lado da vedação vestirem pijamas às riscas. Não consegue perceber e sente-se pessoalmente atingido por ter de ficar deste lado da vedação sozinho, sem ninguém com quem brincar enquanto do outro lado existem tantas crianças, que de certeza têm imensas coisas para fazer e espaços para explorarem.

Um dia decide explorar a floresta que circunda a casa, caminhando junto à vedação. Nesse dia conhece Shmuel, um menino do outro lado da vedação, com a mesma idade de Bruno e, imagine-se a coincidência, que faz anos no mesmo dia de Bruno. A amizade entre os dois desenvolve-se e Bruno encontra em Shmuel alguém com quem partilhar as suas angústias ao mesmo tempo que tem alguma dificuldade em perceber as do amigo. Um dia surge a oprtunidade de Bruno conhecer o outro lado da vedação, algo que sempre pediu a Shmuel e que foi sempre recusado. O que o espera Bruno do outro lado terão de ser vocês a descobrir lendo o livro.

Há qualquer coisa que falha neste livro e não sei dizer bem o quê. Não sei se é o excesso de ignorância de Bruno sobre o mundo que o rodeia - um miúdo alemão, filho de um proeminente militar alemão - nunca ter ouvido falar em judeus não é credível. Ou em casa ou na escola, é praticamente impossível que não tivesse sido, de uma forma ou de outra, doutrinado nesse sentido. Acho que foi principalmente isso que falhou nesta história. A personagem de Bruno não é credível e como tal, pareceu-me até, algumas vezes ofensiva a falta de conhecimento, a falta de alcance em perceber que, nitidamente Shmuel não era feliz, passava fome e estava ali contra a sua vontade. Achei algumas vezes ofensiva esta falta de sensibilidade de Bruno, mais concentrado nos seus problemas e na sua vida, parecendo que Shmuel nada mais era do que uma distracção e um divertimento que o ajudava a ultrapassar a solidão que foi encontrar em Acho-Vil.
Não esqueço, no entanto, que O Rapaz de Pijama às Riscas é um livro direccionado para um público mais jovem e que assume aqui um carácter mais genérico, não sendo assumidamente uma história sobre o Holocausto. Diria que acaba por ser uma espécie de alegoria aos horrores da intolerância, da discriminação, da violência gratuita, por um lado e, colocando no seu oposto, a inocência de duas crianças que se aproximam independentemente da cor da pele, das crenças religiosas, da educação e das suas vivências actuais. Portanto, a mensagem que passa é muito bonita, é enternecedora. Não acho que a escrita de John Boyne tenha conseguido passar de forma clara esta mensagem, percebemo-la, mas não a sentimos. Não posso deixar de pensar que, esta mesma história escrita por Pepetela ou Mia Couto teria um impacto completamente diferente. Quem leu este e já leu um dos dois que refiro, perceberá o que quero dizer.

Resumindo e baralhando, não é que não tenha gostado, como disse a mensagem subjacente é pertinente e ao envolver duas crianças no contexto em que viveram, teria de ter um coração de pedra para dizer categoricamente que não gostei. No entanto, é por envolver duas crianças, que nunca se deveriam ter conhecido com aquela vedação a separá-los que sinto que faltou alguma coisa a este livro.

Recomendo pelo tema e porque acaba por ser uma leitura interessante.

Boas leituras!

Excerto (pág. 157):
"- Quer dizer que não sabes? - perguntou ela.
 - Não - disse Bruno. - Não percebo porque é que não podemos passar para o outro lado. Que mal é que nós fizemos para não podermos ir para o outro lado brincar?
Gretel olhou-o e, de repente, desatou a rir, só parando quando reparou que Bruno estava a falar a sério.
 - Bruno - disse ela num tom de voz infantil, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo -, a vedação não está ali para nos impedir de passar para o outro lado. É para os impedir a eles de passarem para este.
Bruno pôs-se a pensar naquilo, mas continuava a não perceber.
 - Mas porquê? - insistiu.
 - Porque eles têm de os manter juntos - explicou Gretel.
 - Com as suas famílias, queres tu dizer?
 - Bem, sim, com as sua famílias. Mas também com os da sua espécie.
 - O que queres dizer com «os da sua espécie»?
Gretel suspirou e abanou a cabeça.
 - Com os outros judeus, Bruno. Não sabias? É por isso que eles têm de os manter todos juntos. Eles não se podem misturar connosco.
 - Judeus - disse Bruno, experimentando a palavra. Gostava bastante da maneira como soava. - Judeus - repetiu ele. - Todos os que vivem daquele lado da vedação são judeus.
 - Sim, é isso - disse Gretel.
 - E nós, somos judeus?
Gretel ficou boquiaberta, como se tivesse acabado de levar um estalo na cara.
 - Não, Bruno - disse ela. - Não, claro que não somos. E tu nem sequer devias dizer uma coisa dessas.
 - Mas porquê? Então, o que é que nós somos?
 - Somos... - começou Gretel, mas depois teve de parar e pensar antes de responder: - Somos... - repetiu ela, mas não estava muito certa de qual seria a resposta a esta pergunta. - Bem, nós não somos judeus - disse ela por fim.
 - Eu sei que não - disse Bruno frustrado. - O que eu quero saber é: se não somos judeus, então o que é que somos?
 - Somos o oposto - respondeu Gretel muito depressa, parecendo bem mais satisfeita com esta resposta. - Sim, é isso mesmo. Somos o oposto.
 - Está bem - disse Bruno, satisfeito por ter finalmente tudo esclarecido na sua cabeça. - Os opostos vivem desta lado da vedação e os judeus vivem daquele.
 - Isso mesmo, Bruno.
 - Então os judeus não gostam dos opostos?
 - Não, estúpido, somos nós que não gostamos deles. (...)
 - Então, porque é que nós não gostamos deles? - perguntou ele.
 - Porque eles são judeus - disse Gretel.
 - Estou a ver. E os opostos e os judeus não se dão muito bem.
 - Não, Bruno - disse Gretel."

outubro 04, 2015

Casa de Campo - José Donoso

Título original: Casa de Campo
Ano da edição original: 1978
Autor: José Donoso
Tradução do castelhano: Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu
Editora: Cavalo de Ferro

"Romance escrito, segundo a crítica «com mão de mestre e cabeça de génio», Casa de Campo é um dos livros fundamentais na Obra de José Donoso e na literatura sul-americana.
A história narra os acontecimentos vividos durante alguns dias numa grande casa senhorial. A ausência temporária dos proprietários adultos origina que as crianças assumam o controlo da casa e a transformem, juntamente com os servos, em domínio erótico e febril.
Construída pela rica família Ventura, a casa, com os seus salões, quartos e caves labirínticas é um lugar de magnificência, mas também de convite à transgressão. Esta festiva irrupção de pulsões reprimidas propiciará durante alguns dias uma ruptura radical com a ordem social e a instauração de um novo mundo mágico, anárquico, exuberante, mas igualmente doloroso."

Não me recordo como foi que este livro acabou nas estantes aqui de casa. Gostei da capa, do preço mas principalmente acho que gostei da comparação com a obra máxima de William Golding, O Deus das Moscas (opinião aqui), e com o facto de ser um autor sul-americano. :)

Casa de Campo é uma metáfora ao Chile de Pinochet e Salvador Allende. José Donoso, procurou de forma metafórica, recriar nesta história uma parte da história do Chile, da sociedade chilena e da forma como se viveram os anos da ditadura de Pinochet.

Os Venturas, são uma família antiga, tradicional e muito rica. Fizeram e fortuna com a exploração de minas de ouro num lugar isolado, com mão de obra nativa. É para controlar a exploração e recolher os dividendos das minas, que todos os anos passam os três meses de Verão em Marulanda, na Casa de Campo. Reúnem toda a família, os adultos e os filhos, mais de trinta crianças e adolescentes, e um séquito impressionante de criados.
Os Ventura são um grupo estranho... Vivem numa espécie de mundo alternativo, afastados da realidade, condicionando todas as conversas e acontecimentos às suas próprias interpretações, por mais absurdas que estas sejam. Vivem uma farsa, que se transmite às crianças Ventura, praticamente ignoradas pelos pais durante os três meses que permanecem na Casa de Campo. São controlados pelos criados, um grupo comandado pelo Mordomo, escolhido todos os anos pelos Ventura de forma criteriosa. Este tem autorização para castigar todas as crianças que quebrarem as regras impostas pelos adultos, embora não seja incorruptível, é uma figura que todos aprendem a temer desde muito cedo. As crianças surgem, no príncipio, como um grupo mais ou menos homogéneo, sendo difícil muitas vezes distinguirem-se-lhes traços particulares. Tal como o núcleo dos adultos, são todos de certa forma iguais e formatados.

Quando os adultos decidem passar um dia inteiro fora, deixando as trinta e três crianças entregues a si próprias o dia inteiro, muitas das crianças vêem a oportunidade de se rebelarem contra as regras rígidas da família e pôr em marcha planos antigos de fuga. Alguns acreditam que os adultos nunca mais voltarão e por isso vão tentar criar uma sociedade mais justa na Casa de Campo, com a ajuda dos nativos, os temidos antropófagos, com quem estavam proibidos de falar, por serem selvagens perigosos e cheios de doenças.
O único adulto que fica na casa é o tio Adriano, um Ventura por casamento, que há anos vive fechado e sedado num quarto da casa, fazendo a viagem para a Casa de Campo, todos os anos, fechado numa espécie de jaula, como se fosse um animal. Adriano teve a ousadia de questionar as regras dos Venturas. Médico de profissão, preocupava-se com os nativos e tinha por hábito visitá-los para cuidar deles. Depois de uma tragédia se abater sobre ele, foi enclausurado pelos restantes familiares. Quando os adultos partem para seu passeio, Wenceslau liberta o pai e é sobre a orientação débil de Adriano que alguns dos miúdos Ventura tentam criar uma nova ordem na Casa de Campo.
Nesta sociedade, como é natural, existem os que nada querem modificar, que são forças de bloqueio, que conspiram para manterem as regalias que acreditam ser suas apenas e só porque nasceram na família Ventura.
Sem querer entrar em pormenores para não contar demais sobre o desenvolvimento da história, um dia transforma-se num ano e os criados, sob o comando do Mordomo, regressam para a Casa de Campo, com o objectivo de colocar tudo nos eixos. Preparar o regresso dos patrões, não se sabe bem quando, e receber as boas das palmadinhas nas costas pelo bom serviço prestado à família Ventura. Com o Mordomo e os serviçais, vem o medo, a repressão e a violência gratuita. Algumas das crianças resistem, mas no fim de contas, não passam de crianças que apenas querem os pais de volta, por mais negligentes que estes tenham sido, por piores que sejam e mesmo que o amor que recebam de volta seja apenas uma ilusão. 
Estas crianças são como um povo que procura num pai protector, conforto e alimento, sem questionar como é que isso lhes é entregue. Cresceram castradas, sem qualquer liberdade e tornam-se adultos com dificuldade em decidir, em pensar, em fazer diferente. Adultos com pouca empatia pelos outros e pelo bem-estar dos que os rodeiam. Não sabem como fazer melhor ou fazer diferente, sem consultar o pai, a entidade protectora que, ilusoriamente os mantém aquecidos e alimentados. 
E, no fim, nada disso importa, porque por mais que o homem faça, por mais que tente controlar os acontecimentos e o seu semelhante, será a natureza a vencer. Só ela permanecerá, milhões de anos após a nossa extinção, sem qualquer lembrança da nossa existência, indiferente à nossa passagem pela terra. :)

Confesso que tinha algumas expectativas relativamente a este livro e foi por isso que o escolhi para companhia nas férias. Infelizmente não me senti muito sintonizada com a história e com a forma como é contada por José Donoso. Percebo onde ele quer chegar, consigo perceber as metáforas e o paralelismo com a história recente do Chile. Percebo isso, gosto do que tenta fazer, mas pessoalmente não me senti envolvida. Estranhei a forma como tudo aquilo se desenrola, não senti que o que se passava era credível e, eu que até gosto de narradores metediços e que nos provoquem ao longo da leitura, achei o narrador aborrecido e inconveniente, cortando o ritmo da narrativa, já de si, lento e estranho. Depois disto tudo, não posso dizer que tenha gostado. Não me deixo de sentir frustrada por não ter gostado... Não odiei, não amei... preferia que tivesse sido diferente.

Independentemente da minha opinião menos boa, acho que posso recomendar. A verdade é que só li críticas boas ao livro e por isso acho que lhe podem dar uma oportunidade. :)

Boas leituras!

Excerto (pág. 30):
"A biblioteca dos Venturas não podia satisfazer os empenhos de aprendizagem de ninguém, como tambén não o podiam as declarações dos grandes a respeitos dos livros: «Ler só serve para estragar a vista»; «os livros são coisas de revolucionários e de professorzecos pretensiosos»; «Através dos livros ninguém consegue adquirir a cultura que o nosso exaltado berço nos proporcionou». Por estas razões, proibiam o acesso das crianças à extensa sala de quatro pisos guarnecidos com balaustradas e remates de pau-santo. Esta proibição, no entanto, não passava de uma das muitas proibições retóricas que eram utilizadas para domar as crianças: sabiam que por trás daqueles milhares de lombadas de peles soberbas não existiam uma só letra de forma. O bisavô mandou construí-los quando, num debate do Senado, um liberal de meia-tigela e muito resplendor lhe chamou «ignorante, como todos os da sua casta»."