"Chico Buarque, compositor, cantor, poeta, escritor e dramaturgo é uma das figuras mais populares da cultura brasileira. Conhecido pelas suas canções, é no entanto um ficcionista de indiscutível talento. Narrativa simultaneamente poética e alucinante, Estorvo constitui uma grande metáfora do Brasil e porventura do mundo contemporâneo. Uma das mais sólidas obras da literatura brasileira dos últimos tempos, e um livro de grande sucesso em Portugal."
Primeiro livro que leio do Chico Buarque e, embora não o tenha achado extraordinário deixou-me com vontade de ler outros dele. Mais do que da história, gostei da escrita, é próxima e permite uma leitura muito serena e tranquila, embora a história não o seja.
O livro fala-nos de um homem de quem nada sabemos, nem o nome e, de quem a história não irá revelar muito mais. O livro é uma sequência de acontecimentos por onde este homem vagueia de forma quase fantasmagórica e aparentemente sem qualquer lógica, como que perdido dentro de um sonho do qual não consegue despertar. Todas as acções dele são estranhas e todos os sítios por onde passa são bizarros e repletos de personagens estranhas e desconcertantes.
Tudo começa quando um homem de fato e gravata toca à campainha do nosso homem sem nome. Ele não o conhece, não faz ideia do que está ali a fazer mas, como não conhece ninguém que use fato e gravata, acha que não pode ser coisa boa e foge. Assim, sem mais nem menos, espera que ele se vá embora e sai de casa para não mais voltar.
O resto do livro é uma viagem repleta de regressos a sítios esquecidos há muitos anos, de reencontros embaraçosos e de recordações que sentimos serem dolorosas mesmo não sabendo o porquê. Este homem é extremamente solitário, preso a uma vida que parece não compreender e da qual percebe cada vez menos. Nunca percebemos porque faz o que faz, porque decide fugir, porque decide roubar a irmã, porque fala constantemente de uma mãe que parece não existir a não ser na cabeça dele e porque é que ao ao longo do livro ele vai parecendo cada vez menos real. Estará a enlouquecer? Será ele real? Não sabemos, e a verdade é que a história está escrita de uma maneira tal que isso não importa. O que se retira da história são sentimentos. Sentimentos que eu identifico com a alienação que vivemos hoje em dia, afastados das pessoas que nos amam e que magoamos sem querer, inseridos numa sociedade cada vez mais violenta, exigente e corrupta.
Ele vê-se envolvido em algo que não pediu mas que também não repeliu. A mente dele é uma confusão permanente e temos dificuldade em distinguir o que está realmente a acontecer daquilo que apenas está na cabeça dele. Vive cheio de remorsos e tem pavor de enfrentar e assumir as responsabilidades pelo que fez no passado.
No início achei o livro difícil e confuso. Estava a gostar da escrita mas a história estava-me a deixar baralhada. No início este homem pareceu-me demasiado esquisito para me prender à história mas, à medida que ele vai ficando cada vez mais perdido, comecei a gostar muito de ler. A páginas tantas sentimos uma inevitabilidade na vida deste homem sem nome, como se nada do que ele fizesse pudesse parar o decorrer dos acontecimentos, ele é cada vez mais um espectador na sua própria vida, uma marioneta.
O facto de o Chico Buarque conseguir fazer passar com as palavras sentimentos tão complexos é de louvar e, o livro vale por isso, pela força que se sente em cada palavra e frase escrita.
Vale a pena ler, mas por favor façam-no numa edição de qualidade. Esta tinha gralhas imperdoáveis por serem escandalosamente fáceis de detectar e, se calhar até de corrigir. Em todo o livro, nas palavras com "ó" este aparece substituído por um "ú" e vice-versa. Por exemplo, em todo o livro "último" é "óltimo", "dúvida" é "dóvida" e "ónibus" à vezes é "únibus"... Mais para a frente, também os "É" passam a ser "Ú"... Porquê?! Não faço ideia, mas acho estranho porque esta edição, da revista Visão, não deixa de ser uma edição Dom Quixote. Quer isto dizer que o livro "oficial" da Dom Quixote também está cheio destas gralhas?! É óbvio que não. Mas, então como é possível que fazer uma edição mais barata altere a grafia do que já está bem escrito?! Não percebo...
Queria só dizer, para terminar, que é ao ler livros de autores lusófonos que me apercebo da inutilidade do acordo ortográfico na literatura. A língua portuguesa é tão mais rica desta forma. Eu pelo menos vivo bem com as diferenças. E gosto delas! :)
O livro fala-nos de um homem de quem nada sabemos, nem o nome e, de quem a história não irá revelar muito mais. O livro é uma sequência de acontecimentos por onde este homem vagueia de forma quase fantasmagórica e aparentemente sem qualquer lógica, como que perdido dentro de um sonho do qual não consegue despertar. Todas as acções dele são estranhas e todos os sítios por onde passa são bizarros e repletos de personagens estranhas e desconcertantes.
Tudo começa quando um homem de fato e gravata toca à campainha do nosso homem sem nome. Ele não o conhece, não faz ideia do que está ali a fazer mas, como não conhece ninguém que use fato e gravata, acha que não pode ser coisa boa e foge. Assim, sem mais nem menos, espera que ele se vá embora e sai de casa para não mais voltar.
O resto do livro é uma viagem repleta de regressos a sítios esquecidos há muitos anos, de reencontros embaraçosos e de recordações que sentimos serem dolorosas mesmo não sabendo o porquê. Este homem é extremamente solitário, preso a uma vida que parece não compreender e da qual percebe cada vez menos. Nunca percebemos porque faz o que faz, porque decide fugir, porque decide roubar a irmã, porque fala constantemente de uma mãe que parece não existir a não ser na cabeça dele e porque é que ao ao longo do livro ele vai parecendo cada vez menos real. Estará a enlouquecer? Será ele real? Não sabemos, e a verdade é que a história está escrita de uma maneira tal que isso não importa. O que se retira da história são sentimentos. Sentimentos que eu identifico com a alienação que vivemos hoje em dia, afastados das pessoas que nos amam e que magoamos sem querer, inseridos numa sociedade cada vez mais violenta, exigente e corrupta.
Ele vê-se envolvido em algo que não pediu mas que também não repeliu. A mente dele é uma confusão permanente e temos dificuldade em distinguir o que está realmente a acontecer daquilo que apenas está na cabeça dele. Vive cheio de remorsos e tem pavor de enfrentar e assumir as responsabilidades pelo que fez no passado.
No início achei o livro difícil e confuso. Estava a gostar da escrita mas a história estava-me a deixar baralhada. No início este homem pareceu-me demasiado esquisito para me prender à história mas, à medida que ele vai ficando cada vez mais perdido, comecei a gostar muito de ler. A páginas tantas sentimos uma inevitabilidade na vida deste homem sem nome, como se nada do que ele fizesse pudesse parar o decorrer dos acontecimentos, ele é cada vez mais um espectador na sua própria vida, uma marioneta.
O facto de o Chico Buarque conseguir fazer passar com as palavras sentimentos tão complexos é de louvar e, o livro vale por isso, pela força que se sente em cada palavra e frase escrita.
Vale a pena ler, mas por favor façam-no numa edição de qualidade. Esta tinha gralhas imperdoáveis por serem escandalosamente fáceis de detectar e, se calhar até de corrigir. Em todo o livro, nas palavras com "ó" este aparece substituído por um "ú" e vice-versa. Por exemplo, em todo o livro "último" é "óltimo", "dúvida" é "dóvida" e "ónibus" à vezes é "únibus"... Mais para a frente, também os "É" passam a ser "Ú"... Porquê?! Não faço ideia, mas acho estranho porque esta edição, da revista Visão, não deixa de ser uma edição Dom Quixote. Quer isto dizer que o livro "oficial" da Dom Quixote também está cheio destas gralhas?! É óbvio que não. Mas, então como é possível que fazer uma edição mais barata altere a grafia do que já está bem escrito?! Não percebo...
Queria só dizer, para terminar, que é ao ler livros de autores lusófonos que me apercebo da inutilidade do acordo ortográfico na literatura. A língua portuguesa é tão mais rica desta forma. Eu pelo menos vivo bem com as diferenças. E gosto delas! :)
Ainda não li este de Chico Buarque, mas comprei-o por ter gostado imenso de "Budapeste". :)
ResponderEliminarAcabei de ler "Parábola do Cágado Velho", de Pepetela e isto para dizer que também concordo contigo, não faz sentido um acordo ortográfico!
Parto agora à descoberta da escrita de Ondjaki, com "o assobiador".
Também tenho essa edição :(
ResponderEliminarAinda não li o livro, está na minha lista...talvez entretanto consiga arranjar outra edição :)
um beijinho e uma boa semana :)
Na altura em que "Estorvo" saiu com a Visão, na semana seguinte a Impresa fez um "mea culpa". Houve um erro no processo de impressão do livro, que provocou essas gralhas todas. Já no final da colecção, foi colocada nas bancas uma edição corrigida do livro, para que quem comprou a edição com gralhas pudesse trocar por uma edição decente.
ResponderEliminarredonda: Se puderes faz isso, porque incomoda e muito, por ser tão ridículo. :)
ResponderEliminarBoa semana.
Isabel: Pois, essa informação passou-me ao lado... Mas, de qualquer maneira é um erro muito estranho. E por isso agora estou de pé atrás com estas edições mais baratas. Não sei se vou comprar algum desta nova colecção da Visão. Até porque os livros publicados nem são assim tão caros. Boa semana. :)
tonsdeazul: Nunca li nada do Ondjaki mas, não sei se é pelo nome exótico, pego sempre nele quando ando pelas livrarias. Nunca trouxe nenhum, mas um dia, um dia vou trazer um comigo. :) Espero que as histórias sejam tão boas como o nome. Gosto mesmo do nome Ondjaki... :)
ResponderEliminarN.Martins, infelizmente na grande maioria dos livros de bolso encontra-se uma gralhazita ou outra, mas nada de muito escandaloso. O "Estorvo" foi um erro técnico, só detectado quando os livros já estavam prontos.
ResponderEliminarCom isto eu quero dizer para não desistires dos livros a que eu chamo "low cost". A tua carteira agradece, e muito!!
Falavas de Ondjaki com a tonsdeazul. Recomendo às duas "Os da minha rua". É um livro lindíssimo, não só pela história, como pela escrita dele.
N. Martins, por um lamentável erro meu, há dias parei de seguir este blog. Só poderia tratar-se de um erro, né?
ResponderEliminarEstá reposta a verdade e aproveito para dizer que Chico Buarque é, para mim, um herói. Isto como músico mas também pela trajectória de vida, pela luta pela democracia n seu país e pelo caracter de grande homem que, realmente, é.
Como escritor não me posso pronunciar porque, de facto, não li :(
A informática tem destas coisas e, por isso não entrei em pânico quando vi que tinha perdido um seguidor. :p
ResponderEliminarÉ sempre reconfortante saber que quem escreve é alguém que merece a nossa admiração, admiração que vai para além das letras.
Bem-vindo de volta.
N. Martins, eu sou meio suspeito para falar de Chico Buarque, porque enorme é minha admiração por ele. Ele é um ícone popular do meu país, e antes disso um gênio. Se eu já o amava como compositor, muito mais o amor como escritor, confesso que não li Estorvo, mas Budapeste e Leite Derramado extasiaram-me, e recomendo-te como boas obras que são, N. Martins. Já vou às livrarias à procura de um exemplar do Estorvo.
ResponderEliminarJá estive, por diversas vezes, com um dos que fala na mão para trazer comigo para casa e acabam sempre por ficar na loja. Agora, por causa do seu comentário, reli a minha opinião e acho que é na próxima compra que um deles vem comigo. :-)
EliminarVale ressaltar que pelo menos três romances do Chico Buarque ganharam uma representação nos cinemas, com os filmes Estorvo, Benjamim e Budapeste.
EliminarBudapeste é um daqueles livros que já na primeira linha você se encanta e não sossega enquanto não o terminar. Abaixo transcrevo o parecer do ilustre José Saramago acerca do livro:
ResponderEliminar"Chico Buarque ousou muito, escreveu cruzando um abismo sobre um arame e chegou ao outro lado. Ao lado onde se encontram os trabalhos executados com mestria, a da linguagem, a da construção narrativa, a do simples fazer. Não creio enganar-me dizendo que algo novo aconteceu no Brasil com este livro."
Favor trocar o fundo para que a leitura de seu interessantíssimo texto possa ser realizada,
ResponderEliminargrato desde já
Rafael Oliva
ABS
Aqui no Brasil a imprensa adotou a nova ortografia em 2010,parece que Portugal ainda não aderiu a essa incrível bobagem,bem feito pra nós.Abraços.
ResponderEliminarInfelizmente por aqui também vivemos desde 2011 com o novo cordo ortográfico. Continua a fazer pouco sentido, mas não é facil fugir a ele.
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