julho 10, 2013

A Letra Encarnada - Nathaniel Hawthorne

Título original: The Scarlet Letter
Ano da edição original: 1850
Autor: Nathaniel Hawthorne
Tradução: Fernando Pessoa
Editora: Publições Dom Quixote
"Um romance dramático e intenso, uma obra-prima.

«Embora eu prefira os seus inumeráveis rascunhos, apontamentos, esboços e pequenos textos de toda a ordem, "A Letra Encarnada" é um livro admirável daquele que foi, a par de Melville, o grande escritor americano do século dezanove. Aliás amigos íntimos (alguns insinuam que mais do que isso) professavam admiração recíproca. Hawthorne era um homem estranho. De beleza física invulgar foi um puritano toda a vida, sujeito a crises de desânimo e insegurança constantes. Valia-lhe o apoio da mulher, muito mais forte psicologicamente do que ele e que se manteve a seu lado numa dedicação inalterável. Este romance dramático e intenso é uma obra- -prima, como praticamente tudo o que o autor deixou. Curioso o facto de uma novela tão americana na sua trama essencial tocar o leitor de cultura muito diferente pelo jogo de emoções e temas. Apesar de, no fundo da alma, Hawthorne ser um moralista severo, é capaz de flagelar com arrebatamento a severidade essa parte de si mesmo, na autocrítica arrepiante a que procedeu toda a sua vida.»"

Este foi um livro muito difícil de ler, de continuar a ler, de acabar sem o deixar de parte... Logo no início, antes de o autor entrar na história de Hester Prynne, do reverendo Dimmsdale e da letra encarnada, há um prelúdio enfadonho sobre a vida numa alfândega algures no nenhures onde o autor foi parar e onde tropeça na letra encarnada de Hester. São páginas e páginas de uma escrita nada fluída, difícil de acompanhar e cujo tema pouco ou nada acrescenta ao que se vai contar. Confesso que não desisti de o ler porque não desisto de um livro com tão poucas páginas lidas e porque queria muito gostar dele... :-) 

Quando finalmente chegamos à história da letra encarnada de Hester o livro continua a não funcionar para mim. Percebe-se desde logo quem é o pai da pequena Pearl, filha do pecado, fruto de uma paixão proibida. Não havendo grandes revelações para contar, torna-se até irritante quando as coisas não são ditas abertamente, como se o leitor fosse burro... O ritmo da história é lento, e o livro poderia ter apenas dez páginas. Senti alguma dificuldade em situar-me na linha temporal da história, medida principalmente pela idade de Pearl que é uma criança estranha com comportamentos e pensamentos desadequados à idade que dizem ter

Enfim, pessoalmente estava à espera de algo mais inspirado, não me identifiquei com a escrita nem com a forma como a história é contada. As personagens até têm potencial mas perdem-se um pouco na história e acabam por ser todas muito bidimensionais e sem profundidade.

Deste não consigo dizer que gostei, será que toda a sua obra é assim? Espero que não... Se bem que, ao equipararem-no a Melville, não sei se Nathaniel Hawthorne é escritor para mim..

Boas leituras!

Excerto:
"O espaço em frente da cadeia, na travessa do mesmo nome, estava ocupado, em certa manhã de Verão, há não menos de duzentos anos, por um número razoavelmente grande de habitantes de Boston,todos eles com os olhos fitos na porta ferrada de carvalho. Entre qualquer outra população, ou em qualquer período posterior na história da Nova Inglaterra, a rigidez austera que petrificava os rostos barbados desta boa gente anunciaria que se tratava de qualquer assunto terrível. O menos que indicaria seria a antecipação da morte de qualquer criminoso célebre, a quem a sentença de  um tribunal legítimo não tinha senão confirmado a da opinião pública. Mas, naquela primitiva severidade do carácter puritano,uma conclusão desta ordem não podia ser tirada com segurança. Podia tratar-se de um servo mandrião, ou de uma criança desobediente, que os pais tivessem entregado às autoridades civis, para ser fustigada no pelourinho. Podia ser que o Antinomiano, um Quaker, ou qualquer outro membro de uma seita heterodoxa, estivesse para ser corrido às vergastadas para fora da cidade, ou que um índio vadio e vagabundo, que a aguardente do branco tivesse tornado turbulento, estivesse para ser devolvido pelo mesmo processo aos seio e à sombra das florestas.

6 comentários:

  1. Li-o há muitos anos e já não me lembro de quase nada, a não ser, um pouco da história e ter pensado que era triste.

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    1. Triste sim, um pouco, mas achei-o sobretudo enfadonho...

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  2. Se é o livro da vida do A.Lobo Antunes está tudo dito - uma pastilha!

    Neste já não toco.

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    1. Pois... Aliado ao facto de o equiparerem a Melville, confesso-me pouco surpreendida por não ter resultado comigo. :-) Aliás, se não tivesse já lido um conto dele o mais provável era nunca ter comprado este livro!

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    2. Mas atenção ao enorme/imortal/Kafkiano "BARTLEBY" de Herman Melville, absolutamnte divino!

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    3. O extenso prefácio é um primor. Um exercício original de auto análise. Hawthorne descreve com elegância o processo de escrita do romance. A obra é uma peça de arte irretocável. Uma crítica severa aos moralismos opressores de uma época. Este é um romance que nos conecta com uma época e que deve ser lido com esse critério. Um clássico deve ser reverenciado.

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