janeiro 02, 2014

La Coca - J. Rentes de Carvalho

Título original: La Coca
Ano da edição original: 2011
Autor: J. Rentes de Carvalho
Editora: Quetzal Editores

"Manuel Galeano - que sempre tivera "o contrabando no sangue" - desapareceu inesperadamente antes de um segundo encontro. O primeiro, em Amesterdão, fora uma conversa saborosa no bar de um hotel (memórias de juventude e certas confidências sobre o presente), e é o ponto de partida para uma longa evocação e uma viagem sentimental: cinco décadas de história do tráfico entre o Minho e a Galiza. Negócios de cigarros, uísque, barras de ouro, gado, café e, mais recentemente, droga. Com a história seguem também os seus deliciosos protagonistas (Diogo Romano, El Min, Sítio Minanco, o Pardal, o Pepe Mustafá e o Laurestim), que compõem o imaginário pícaro da região que o autor revisita para lembrar a sua primeira idade adulta."

Gosto muito de J. Rentes de Carvalho, não é novidade para ninguém. Mas este La Coca não me encheu as medidas. Achei-o um pouco desligado e a história pouco fluída. Está lá o cunho de J. Rentes de Carvalho, que não existam duvidas em relação a isso, não deixou de ser um livro que se leu muito bem e com gosto, só não será dos mais inspirados dele. :-)

Feita esta parte difícil da opinião, a de dizer que não amamos um livro de um escritor que nos diz muito, passemos ao livro propriamente dito. 

La Coca é, à semelhança de outros livros de J. Rentes de Carvalho, um livro de memórias, nostálgico por natureza e, por isso, muito mais do que um livro sobre os contrabandistas minhotos e galegos do século passado e dos narcotraficantes deste século. A história inicia-se quando o nosso escritor, a viver em Amesterdão, reencontra um amigo de longa data, um daqueles que fazem parte das nossas brincadeiras de infância. Desse encontro inesperado, nasce no narrador (que supomos ser o próprio escritor) uma vontade de revisitar os lugares que o viram crescer. Sob o pretexto de um trabalho de investigação acerca do novo contrabando praticado na fronteira, parte para Portugal. Lá encontra, para além do rastro perdido e incerto dos amigos de outrora, as memórias das paixonetas, as angústias da adolescência e lugares que já não são exactamente como se recorda deles. Mudanças que doem, que quase põem em causa toda uma vida estruturada em função de memórias que sempre acreditou serem concretas e reais. 
J. Rentes de Carvalho vai, desta forma, relatando as vivências dos minhotos y sus hermanos galegos numa época onde quase tudo era proibido. Recorre às suas próprias recordações e às conversas que vai tendo com quem faz, hoje em dia, a história da região.


Enfim, gostei mais uma vez da escrita de J. Rentes de Carvalho, da familiaridade que os lugares nos transmitem e da história. Não me identifiquei muito com a forma como é contada, achei-a menos envolvente, talvez porque ele acaba por não aprofundar o tema do narcotráfico e este acaba por ser pouco mais do que o fio condutor das memórias do escritor.

Recomendo por ser um livro de J. Rentes de Carvalho, o que quer dizer que, mesmo menos inspirado, vale a pena ler! ;-)

Boas leituras!

Excerto:
"Seguindo ao longo da margem refaço, pois, o que foi o caminho de casa. Mas chegado ao pequeno jardim fronteiro ao convento de Corpus Christi - o convento das freiras, como ainda se diz - paro num banco, sem vontade de me meter calçada acima e subir a escadaria medieval feita de pedras grosseiras e desiguais. Também, de facto, sem vontade de rever o largo onde nasci, porque todas as vezes que lá volto, e por muito que me esforce por reter a sua imagem actual, por mais atentamente que procure captar os rostos das pessoas, o aspecto das casas, dos armazéns de vinhos, a cor dos muros dos quintais, a amplidão do panorama, mal me vou embora logo essa imagem se desfaz. Como se a memória, ao filtrar as impressões, desdenhe das recentes e prefira aquelas sobre que pesa a recordação."

9 comentários:

  1. Feliz 2014!
    Deixei um selo no meu blog: http://souojose.blogspot.pt/2014/01/the-versatile-blogger-award.html

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  2. Tenho de ler isso. Até porque sou minhoto e tenho um apreço muito especial pela Galiza

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    1. Qualquer desculpa é boa para se ler Rentes de Carvalho. :-)

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  3. Já li quase todos da sua obra, o "Ernestina" é uma delícia.

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    1. Até ver é também o meu preferido, embora os A Amante Holandesa tenha o encanto de ter sido o primeiro que li dele. ;-)

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  4. J. Rentes de Carvalho é um autor que nunca li. Quem sabe se não é este ano que descubro a sua escrita! Uma vez que este não te encheu as medidas, qual o que me recomendarias para iniciar?
    Beijinho e um ano cheio de cor, saúde e leituras.

    Ah! Coetzee é sempre uma boa opção para iniciar o ano. Eu iniciei com "Ivanhoe" de Walter Scott.

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    1. Acho que o Ernestina é, dos que li dele, aquele que mais gostei.
      Estou a gostar da Desgraça do Coetzee. :-)

      Um Ano cheio disso tudo para ti também! Bjs!

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  5. Já comprei, por sugestão tua. Vou lê-lo daqui a poucos dias :)

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