Título original: O Teu Rosto Será o Último
Ano da edição original: 2012
Autor: João Ricardo Pedro
Editora: "Colecção BIIS" da Leya
"Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta escrita de outro continente. Ou talvez nem aí. Parece, afinal, mais importante a história do doutor Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte, que um dia andou de bicicleta todo nu.
Através de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial.
Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?"
Através de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial.
Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?"
O Teu Rosto Será o Último é a história de Duarte e da sua família, do avô Augusto Mendes, médico numa pequena aldeia com nome de mamífero, do interior e do pai António, um ex-combatente na guerra colonial.
Conhecemos a família de Duarte através das memórias que ele tem das histórias que foi ouvindo ao longo do tempo.
Duarte fala-nos do avô Augusto, de como foi a vida dele, o que o levou mudar-se para o interior para praticar medicina e de como conheceu a avó.
Sobre o pai António acaba por não falar tanto, é mais o que se intui do que aquilo que é dito. Ex-combatente na guerra colonial, após a segunda comissão regressou diferente, igual a muitos que de lá regressaram diferentes. Só o conhecemos um pouco melhor mais para o fim, até lá parece-nos uma personagem distante, com conversas um pouco estranhas, alguém que ama a família, sem dúvidas, mas um pouco alheado do que se passa.
A mãe é uma personagem praticamente inexistente, até que, quase no fim, adquire dimensão e revela-se essencial para o equilíbrio mental do marido e do filho.
A Duarte não sei muito bem como defini-lo. É um miúdo diferente, filho único numa família marcada pelos anos da ditadura, pouco sociável e com um talento imenso e inesperado para tocar piano. Vive num mundo muito dele. É uma personagem difícil de resumir... :)
E da história julgo que não vale a pena dizer mais nada, até porque ela não é propriamente linear e é contada em pequenos capítulos, algumas vezes sem grande ligação entre si. É um daqueles livros que só lendo.
Parece que esta minha "maratona" (não planeada) de autores portugueses me está a correr muito bem. :)
João Ricardo Pedro foi o vencedor do prémio Leya de 2011 e só por isso valeria a pena dar uma espreitadela ao livro deste Engenheiro Electrotécnico. Felizmente as razões que fazem valer a pena conhecer a escrita de João Ricardo Pedro, nada tem a ver com o ter ganho um prémio com o seu primeiro livro. Vale a pena ler O Teu Rosto Será o Último porque a história e a forma como é contada são interessantes. Pode até haver no livro deste estreante algumas "orientações" editoriais que tenham tornado o livro mais "premiável", mas na verdade a qualidade de JRP, como escritor está lá, as personagens estão lá e, por isso será um escritor a manter debaixo de olho.
Gostei e recomendo.
Excerto:
"Para que, do altifalante, se ouvisse algum som, o órgão precisava de uma pilha de nove volts, mas pilhas de nove volts era coisa que não existia à venda na pequena aldeia com nome de mamífero.
Estranhamente, Duarte parecia não se importar com essa suposta contrariedade. Tratou de arranjar um assento apropriado, arregaçou as mangas do pulôver, baixou o rosto e, sobre as teclas mudas, começou a desenhar inesperados acordes e arpejos. Os dedos, silenciosos como as patas de uma aranha, movimentavam-se ora em lânguidos adágios, outra em rápidas semifusas, conforme as instruções inscritas na partitura que só Duarte parecia vislumbrar."