Título original: A Zendülők
Ano da edição original: 1930Autor: Sándor Márai
Tradução do húngaro: Ernesto Rodrigues
Editora: Publicações Dom Quixote
"Mestre das paixões, neste romance Sándor Márai dedica-se não aos triângulos amorosos mas a outras questões igualmente susceptíveis de despertar emoções fortes: o que une um grupo de jovens revoltados contra tudo e a tudo dispostos.
E arrisca-se a levar o leitor ao centro de um enredo de erros e fúrias, cumplicidades e traições, sofrimento e cobardia - de inconfessáveis atracções e de ambíguas repulsas. Porque trata das vicissitudes e aventuras de um grupo de rapazes, ou melhor, um bando, como se definem a si próprios, no final da Primavera de 1918, numa pequena cidade da Hungria distante da frente e onde a vida, aparentemente calma, é profundamente abalada pela guerra.
Entregues a si próprios enquanto os pais combatem na frente, estes rapazes decidem libertar os demónios da sua revolta impelidos por um ódio ardente contra o mundo, pela sua imaginação e pela sua arrogância - e também por um erotismo, tão mais aceso quanto mais implícito -, deixando a guerra para o mundo dos adultos e inventando jogos demasiado perigosos. Um obscuro actor que se torna o seu mentor oculto, envolvendo-os nas suas perversas tramóias, acabará conduzindo-os a um trágico e inevitável epílogo."
Não sei que mais acrescentar à sinopse porque é um bom resumo do livro. Numa pequena cidade do interior, restam as mulheres, os idosos ou doentes e as crianças. Todos os jovens e homens em condições de lutar encontram-se na frente de guerra. A vida de quem fica, dos miúdos que ainda não têm idade para lutar e que ficam praticamente abandonados, sem supervisão, livres para fazer tudo o que a sua imaginação conceber é aquilo de que fala o livro. A rebeldia típica da idade, o constante desafiar da sorte, o desprezo pelos adultos que ficaram, as relações que se estabelecem entre si, as angústias próprias da idade e a certeza de que não regressarão com vida quando chegar o dia em que se juntarão aos pais para combater.
Os únicos adultos que admitem e incluem nos seus segredos é um agiota e um actor (da companhia de teatro que chegou à cidade).
Nunca é muito claro o que foi que fizeram, no entanto, acabado o liceu, este miúdos, na realidade praticamente adultos, parecem sentir que o dia em que se tornam adultos se aproxima e tentam, de certa forma, resolver alguns dos problemas que criaram na sua fase de rebeldia. Com a aproximação da idade adulta, o que quer que fosse que unia estes miúdos parece estar a desaparecer, o bando parece não fazer mais sentido e o destino diferente que se adivinha para cada um deles parece provocar algum desconforto, alguns segredos são desvendados e, o mais provável é que o mal que foi feito não possa nunca vir a ser remediado.
Gostava tanto de não ter achado este livro esquisito e confuso... Gostava de não ter de gostar menos de um livro do Sándor Márai. Percebo a história, gostei das personagens, mas achei a escrita confusa.
Embora não seja, de longe, o melhor livro que já li, não posso não recomendar um livro de Sándor Márai. Posso é avisar que, se nunca leram Sándor Márai podem sempre começar por um outro livro dele. :)
Boas leituras!
Excerto (pág. 21):
"Inclinou-se e esfregou a cara na cara do rapaz. Ficaram assim um momento. Uma pessoa vive ao lado de outra e não a conhece. Um dia, percebe que nada têm em comum. A tia, os móveis da mãe, o jardim, o pai, o violino, Júlio Verne e a visita ao cemitério, com a tia, no Dia dos Mortos, uma parte do seu mundo estava aqui. E esse mundo era tão poderoso, que nada, vindo do exterior, poderia destruí-lo, nem sequer a guerra. Mas, há um ano, algo inesperado irrompera nele, brutalmente. E soube, então, que existia outro mundo. Tudo se desconjuntou. O que até ali era doce fez-se amargo, o que era agre fez-se fel. A estufa fez-se selva. E a tia, morta, ou pior."