junho 26, 2017

Palácio da Lua - Paul Auster

Título original: Moon Palace
Ano da edição original: 1989
Autor: Paul Auster
Tradução: José Vieira de Lima
Editora: Edições ASA

"Foi no Verão em que o Homem caminhou pela primeira vez na Lua. Eu era muito jovem nessa altura, mas não acreditava que viesse a haver um futuro. Queria viver perigosamente, pegar em mim e levar-me tão longe quanto possível e, depois, quando lá chegasse, logo veria o que me aconteceria.
Assim começa a inesquecível narrativa de Marco Stanley Fogg - órfão e aventureiro por natureza. Palácio da Lua é a sua história - um romance que atravessa três gerações, desde o início do século XX à chegada à Lua, e serpenteia entre os desfiladeiros de betão de Manhattan e a beleza cruel do Oeste Americano.
Como Marco Polo rumo ao Extremo Oriente e Phileas Fogg nos seus 80 dias à descoberta do mundo, Marco enceta uma viagem de etapas essenciais marcada pela exultação e pela tragédia, por estranhas coincidências e maravilhosos rasgos de lirismo e erudição."

Estou com alguma dificuldade em dar a minha opinião sobre este livro de Paul Auster. Não tem a ver com o ter gostado ou não, porque gostei, tem mais a ver com a dificuldade em passar para aqui, aquilo que o livro é, sem deturpar e deixar aqui, uma imagem daquilo que o livro não é.

Marco Fogg é um jovem adulto que toda a vida viveu com a perda, o abandono do pai ou a inexistência de um pai, a morte prematura da mãe, a separação do tio, o homem que o acabou de criar quando a mãe morreu, e a recente morte do mesmo, sem qualquer aviso.
Marco Fogg parece sentir que não merece nada de bom, tem um instinto auto-destrutivo que não conseguimos perceber. Quando o tio morre, algo se quebra nele. Passa a vaguear pela vida, não a vive. Afasta todos, inclusive os poucos que lhe são próximos. Vive anestesiado e sem saber como fazer diferente. Deixa de comer, para poupar dinheiro, mas não lhe passa pela cabeça arranjar um trabalho que lhe permita pagar a renda, as contas e alimentar-se. Para sobreviver vai vendendo a única herança que o tio lhe deixou, os livros, centenas de livros.
Um dia bate no fundo do poço, sem casa, sem comer há dias, é salvo pelo único amigo, que o encontra meio morto em Central Park e o leva para casa.

Aos poucos Fogg recupera e começa a vislumbrar alguma esperança na sua vida. Apaixona-se e começa a trabalhar para o misterioso Effing. Effing é uma personagem estranha e misteriosa. É um senhor idoso e paraplégico, cego e com muito dinheiro, que contrata Fogg, quando o seu criado de muitos anos morre. Precisa de alguém que lhe faça companhia, que o leve a passear e lhe leia. Precisa também de alguém que lhe escreva a história que tem para contar, antes de morrer.

O livro acaba por estar dividido em duas partes, a vida de Fogg antes de Effing entrar na sua vida e a vida de Effing antes de se tornar a pessoa misteriosa que Fogg conhece. E que história de vida Effing tem para contar e que pequeno é o mundo, uma autêntica ervilha. E mais não digo.

Gostei muito deste livro. Como é habitual em Auster, a escrita é natural, sem grandes floreados e subterfúgios. É também um livro que tem uma angústia crescente, em que temos dificuldade em compreender Fogg e a sua forma de pensar. Tememos por ele, por sentirmos que está doente, ao mesmo tempo que o queremos abanar para que desperte do sono pesado onde se encontra.
À medida que a história vai decorrendo, o ambiente pesado vai-se dissipando e, fazemos figas para que tenha um fim à Paul Auster, cheio de esperança de que dias melhores virão!

Recomendo!

Boas leituras! :)

Excerto (pág. 75):
"Com o passar do tempo, comecei a reparar que as coisas boas só me aconteciam quando eu deixava de as desejar. Se isso era verdade, então o inverso teria também de o ser: desejar demasiado determinada coisa impedi-la-ia de acontecer. Essa era a consequência lógica da minha teoria, pois se eu provava a mim mesmo que era capaz de atrair o mundo, então teria forçosamente de concluir que também poderia repeli-lo. Por outras palavras: uma pessoa só alcançava aquilo que desejava não o desejando. Não fazia sentido nenhum, mas o que me agradava nesta ideia era precisamente a sua total incompreensibilidade. Se as minhas necessidades só podiam ser satisfeitas se eu não pensasse nelas, então todos os pensamentos acerca da minha situação eram necessariamente contraproducentes."