junho 03, 2023

A Breve Vida das Flores - Valérie Perrin

Título: 
Changer l'eau des Fleurs
Ano da edição original: 2018
Autor: Valérie Perrin
Tradução: Maria de Fátima Carmo
Editora: Editorial Presença

"Íntimo, poético e luminoso.
O romance protagonizado por uma mulher que, contra tudo e contra todos, nunca deixa de acreditar na felicidade.
Violette Toussaint é guarda de cemitério numa pequena vila da Borgonha. A sua vida é preenchida pelas confidências - comoventes, trágicas, cómicas - dos visitantes do cemitério e pelos seus colegas: três coveiros, três agentes funerários e um padre. E os seus dias pareciam ser assim para sempre. Até à chegada do chefe de polícia Julien Seul, que quer deixar as cinzas da mãe na campa de um desconhecido.
A história de amor clandestino da mãe daquele homem afeta de tal forma Violette, que toda a dor que tentou calar vem ao de cima. É tempo de descobrir o responsável pela tragédia que afetou a sua vida.
Atmosférico, tocante e - tantas vezes - hilariante, este é um romance de vida: dos que partiram e vivem em nós, da luz que se pode revelar mesmo na mais plena escuridão. Porque às vezes basta a simplicidade de um gesto, basta a frescura da água viva para nos devolver ao mundo, a nós mesmos e aos outros."

A Breve Vida das Flores é um livro que tem andado nas bocas do mundo literário e do qual toda a gente fala. 

Não quero alongar-me muito sobre a história porque teria dificuldade em não contar demais. Corro o risco de estragar a vossa viagem pela vida de Violette Toussaint. Por isso, digo apenas que é um romance, cheio de tristezas, desgostos, lágrimas, desespero, de raiva e de dor mas, que ao mesmo tempo, está cheio de esperança, de bondade, amizade, aromas reconfortantes e cor. 
Tudo isto, tendo como pano de fundo, uma passagem de nível e um cemitério. Digamos que são os sítios menos prováveis para servirem de abrigo a todos estes sentimentos e, muito menos para serem os sítios onde há encontros e desencontros e onde se iniciam verdadeiras histórias de amor, que é o que este A Breve Vidas das Flores acaba por ser. Dos vários tipos de amor e não apenas o amor romântico.

O livro está bem escrito, lê-se bem, não obstante ser um livro grande, lê-se rápido porque a escrita é fluida. A história é interessante e foge ao típico romance de mulher conhece homem perfeito, enfrentam desafios pelo meio e depois, vivem felizes para sempre. Achei que ia ser algo deste género e não é de todo esse tipo de romance.
Agora que penso sobre o livro, acho que está mais para o drama, uma daquelas histórias da vida real, ficcionada, para ser mais comercial.
Ou seja, Violette Toussaint, a ser real, poderia ser a convidada, de um qualquer programas das tardes televisivas, onde iria partilhar a sua história de superação e onde todos iríamos chorar muito. E acho que é por isso que, embora reconheça qualidades no livro, até alguma originalidade, não consegui gostar assim tanto dele. 
A verdade é que não me identifico com o género de história e, para além disso achei que às tantas, a história se tornou repetitiva.

Não tinha grandes expectativas, por isso, não me sinto defraudada e não dou por perdido o tempo que passei a lê-lo. De todo. Como disse, lê-se bem, está bem escrito e é suficientemente interessante para que continuasse a passar à página seguinte.
É um livro que me vai ficar na memória? Provavelmente não. Mas se tudo o que lêssemos nos ficasse gravado na memória, não teríamos espaço para mais nada. :)

Recomendo, porque dentro do género me pareceu bastante interessante e original.

Boas leituras!

Excerto (pág.10):

"Chamo-me Violette Toussaint, Era guarda de passagem de nível, agora sou guarda de cemitério.
Saboreio a vida, bebo-a em que pequenos goles como chá de jasmim com mel. E quando chega o final de tarde e os portões do meu cemitério se fecham e a chave se pendura à porta da minha casa de banho, fico no paraíso.
Não o paraíso dos meus vizinhos da frente, Não.
O paraíso dos vivos; um trago de porto - colheita de 1983 -, que me traz José-Luís Fernandez todos os dias 1 de setembro. Um resto de férias vertido num cálice de cristal, uma espécie de verão extemporâneo que desarrolho por volta das sete da tarde, faça chuva, neve ou vento.
Dois dedais de líquido rúbi. O sangue das vinhas do Porto. Fecho os olhos. E saboreio. Um único trago basta para me alegrar o serão. Dois dedais porque adoro a embriaguez, mas não o álcool.
José-Luís Fernandez põe flores na campa de Maria Pinto, nome de casada Fernandez (1956-2007), uma vez por semana, exceto em julho, que é quando faço eu o turno. Daí o porto, para me agradecer.
O meu presente é um presente do céu. É o que digo a mim mesma todas as manhãs, quando abro os olhos.
Eu estava muito infeliz; aniquilada, mesmo. Inexistente. Vazia. Estava como os meus vizinhos, mas para pior. As minhas funções vitais mantinham-se, mas sem que eu estivesse no interior. Sem o peso da alma, que pesa, ao que parece, quer sejamos gordos ou magros, altos ou baixos, jovens ou velhos, vinte e um gramas.
Contudo, como nunca tive gosto pela infelicidade, decidi que isso não iria durar. É necessário que a infelicidade acabe, um dia."

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