Título original: The Day of Atonement
Ano da edição original: 2014
Autor: David Liss
Tradução: Inês Castro
Editora: Clube de Autor
Ano da edição original: 2014
Autor: David Liss
Tradução: Inês Castro
Editora: Clube de Autor
"Lisboa é o palco desta história fascinante narrada por um dos principais romancistas históricos norte-americanos.
O Dia da Expiação combina minuciosos pormenores de época com a história de um homem que deseja justiça e vingança.
1755. Um homem regressa do exílio determinado em vingar-se da Inquisição, que lhe havia destruído a família. Mas numa cidade marcada pela pobreza, injustiça e intolerância religiosa, não será fácil distinguir os aliados dos inimigos."
Tenho um carinho especial por David Liss. Não sei porquê, talvez por fazer tantas referências a Portugal, não sei, mas desde que Benjamin Weaver entrou na minha vida com A Conspiração do Papel, David Liss ganhou um lugarzinho especial no meu coraçãozinho de leitora.
O Dia da Expiação, passa-se numa altura em que a Inquisição ainda aterrorizava Portugal, com muita atividade, especialmente em Lisboa.
Os novos cristãos (judeus convertidos) eram o alvo preferido dos inquisidores da Santa Fé, tinham algumas posses e, também por isso, acabavam por criar à sua volta alguns inimigos que os iam denunciando pela prática proibida do judaísmo, mesmo que isso não fosse verdade. Ao serem presos e condenados, toda a sua fortuna e todos os seus bens eram transferidos para a Inquisição.
O nosso protagonista, Sebastião Raposa, é filho de novos cristãos, denunciados à Inquisição por praticarem a fé judaica. Os pais acabam por morrer nas masmorras da Inquisição, não sem antes assegurarem que o único filho, uma criança de 12 anos, consegue fugir para Londres, ficando ao cuidado no nosso já conhecido Benjamin Weaver.
Londres, na altura era o refúgio de muitos cristãos-novos e de judeus praticantes. Era uma cidade tolerante nesse sentido. Desde que os negócios não fossem prejudicados, todas as religiões eram toleradas. Para além disso, Londres era um refúgio porque muitos ingleses viviam em Lisboa onde tinham negócios muito lucrativos. Os ingleses e seu protestantismo eram tolerados em Lisboa porque, enfim mais uma vez havendo dinheiro envolvido tudo se vai resolvendo.
Benjamin Weaver vai ensinar tudo o que sabe ao nosso protagonista e o nosso protagonista vai aprender tudo, nunca esquecendo o nome do padre que prendeu os pais. Não consegue ultrapassar o ódio que sente e, é por isso que, assim que pode, regressa a Lisboa com uma identidade falsa, para se vingar do padre Pedro Azinheiro, o mais temível inquisidor do país.
Sebastião parte para Lisboa com o coração cheio de raiva e com sede de vingança mas parte também com o desejo de reencontrar parte da sua infância. Tem esperança de reencontrar Gabriela, a namorada na época e que a separação forçada não permitiu esquecer.
Em Lisboa, Sebastião vai encontrar muito mais do que aquilo que o levou até lá, vai conhecer novas pessoas, reencontrar outras, vai ser enganado e vai enganar e as suas ações vão provocar reações que ultrapassam as suas intenções.
Quando confrontado com a possibilidade de cumprir as sua vingança, destruindo Pedro Azinheiro, Sebastião hesita porque o Sebastião que decidiu regressar a Lisboa não é o mesmo que fugiu dela com 12 anos e, todas as peripécias que viveu desde que desembarcou na cidade, colocaram em causa muito do que o movia antes. Irá Sebastião dar ouvidos à sua raiva e ao seu ódio pela Inquisição ou, o regresso a Lisboa acabou por apaziguar a sua dor?
Este O Dia da Expiação, talvez por não ser um livro de Benjamin Weaver, embora ele tenha um papel breve mas importante na história, não me encheu as medidas. Achei-o um pouco aborrecido porque a história se estendeu e tornou-se repetitivo e previsível. No entanto, gostei bastante da descrição da Lisboa do século XVIII, antes de ser dizimada pelo terramoto de 1755, evento que faz parte da história contada no livro.
Gosto de David Liss e, por isso só posso recomendar. É um livro bastante interessante e que se lê muito bem.
Boas leituras!
Excerto (pág. 47):
"Desviei o olhar. Abandonara o meu pai na prisão da Inquisição. Deixara a minha mãe sozinha. A sobrevivência não era, em si mesma, heroica. A mera sugestão enraiveceu-me e, para minha surpresa, dei por mim a abraçar a raiva. Era a primeira vez desde que me escondera no porão do paquete que sentia outra coisa para além de medo ou tristeza. Queria agarrar-me àquela raiva, alimentá-la como a faísca que se torna chama, porque talvez queimasse e fizesse desaparecer tudo o resto."