Título: Luanda, Lisboa, Paraíso
Ano da edição original: 2018
Autor: Djaimilia Pereira de Almeida
Editora: ´Companhia das Letras
Ano da edição original: 2018
Autor: Djaimilia Pereira de Almeida
Editora: ´Companhia das Letras
"Chegados a Lisboa, Cartola e Aquiles descobrem-se pai e filho na desventura. Até que num vale emoldurado por um pinhal, nas margens da cidade mil vezes sonhada pelo velho Cartola, encontram abrigo e fazem um amigo. Será esta amizade capaz de os salvar?
«Se o entendimento entre duas almas não muda o mundo, nenhuma ínfima parte do mundo é exactamente a mesma depois de duas almas se entenderem.»
Luanda, Lisboa, Paraíso, o segundo romance de Djaimilia Pereira de Almeida, é o balanço tocante de três vidas obscuras, em que esperança e pessimismo, desperdício e redenção, surgem lado a lado."
Cartola e Aquiles, pai e filho, partem de Luanda para Lisboa para que Aquiles seja operado ao calcanhar que nasceu torto.
Chegados a Lisboa, o pai Cartola, apesar de achar que tinha tudo planeado, é surpreendido pela dimensão da cidade e pela indiferença das pessoas. Sente-se perdido e desorientado.
Depois a operação acaba por não correr tão bem como esperavam, o tempo vai passando e o regresso a Luanda parece cada vez mais distante.
Em Luanda deixaram Glória (mulher e mãe), doente, e Justina (filha e irmã). Em Luanda, Cartola era completamente dedicado a Glória. Em Lisboa sente pouca vontade de regressar a casa e, não é só por vergonha de as coisas não terem corrido como planeado. A verdade é que, apesar das dificuldades que sente em Lisboa não quer regressar para Glória e a sua doença.
Aquiles, adolescente, vê-se preso a uma deficiência que o atormenta, numa cidade que não conhece e que estranha, e a ter de cuidar do pai que parece estar, lentamente, a enlouquecer. Sente vergonha de Cartola por ser tão "estrangeiro" em Lisboa e, sente pena do pai.
É uma história triste que é, certamente, a história de muitos dos que chegam a Lisboa, sem ninguém que os receba, e que os ajude, acabam por ser engolidos pela cidade, empurrados para guetos, condenados à mera sobrevivência.
Gostei bastante da escrita, da história e das personagens e por isso só posso recomendar.
Voltarei, certamente a Djaimilia Pereira da Almeida.
Boas leituras!
Excerto:
"O rapaz sorriu. O pai pareceu-lhe jovem. Aquela era a sua segunda juventude. Continuava com a ilusão de que podia começar do princípio. A chuvada dera-lhe uma esperança pasmada, infantil. Não podia impedi-lo de se atirar nos braços de Lisboa e de se magoar. Mas ninguém tinha ensinado a Aquiles como se lidava com um adulto que recomeça, o que fazer diante dele. Ao olhar para a cara do pai, os olhos de Cartola atingiram o filho com uma ingenuidade que o assustou. Parecia ter regredido décadas e ser agora mais novo do que ele. Um horizonte reabria-se para Cartola numa imensidão ponte Aquiles não cabia. O homem que tinha à sua frente não era simplesmente um velho, como começara por lhe parecer no avião, mas um jovem em início de vida, um velho doente, nascido de novo. Aquiles abraçou o pai para o aquecer. Tremia de medo. «Poça, faz frio em Lisboa, Papá.» O pai, ensopado, estava quente por dentro. Tinha os lábios secos contornados num sorriso inocente. Quase dava para ver na cara dele o menino que um dia tinha sido. Aquiles soube que estava sozinho. Ele era o coxo e a bengala. "
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